- O que está dizendo, Crona...? – mesmo de longe, ouvia a conversa das duas

Por mais que eu tente me enganar...

O que há dentro de mim, bem no meu peito, dói.

Ele está sofrendo.

... e muito.

- Você não gostar de mim! Você é uma garota, esqueceu?! D-duas garotas não p-p-podem se gostar...! I-isso é ilógico! – pelo tom de voz de Maka, parecia nervosa – Crona...

- Desculpe-me, Maka. Eu pretendo parar de sentir isso por você, mas... Não zombe, por favor.

- Ah... C-certo...

- Eu vou me retirar... Obrigada pela atenção.

Depois de um tempo, Crona apareceu no corredor. Olhei para ela e a mesma sorriu...

... Queria esconder a tristeza, sorrindo?

Veio até meu lado e eu continuava imóvel.

Por quê? Será por ter sido um choque?

- Vou indo... Kid. – senti seu braço apertar o meu com força, dava para notar que estava com vontade de chorar – Peça... Desculpas ao professor. Mas, terei de faltar novamente.

- Ah... Não quer que eu te acompanhe?

- Acho melhor não... Não fica bem o filho do diretor faltar... – soltou meu braço e foi embora

Via a garota na qual gostava ir embora... Deveria obedecê-la? Ou...

- Vai. – olho para o lado e vejo Soul Eater, sorrindo como de costume – Como se você ficasse parado se a Crona não estivesse no mesmo lugar que você. Idiota. – abriu um sorriso de bobo – Vou ver como está a outra.

- E-eu só vou acompanha-la até em casa. Só isso! Ainda hoje você vai me ver! – falei arrumando minha postura, e sentia meu rosto esquentar aos poucos

- Hai, hai. Faça como quiser, “filho-do-diretor-que-não-pode-faltar-porque-é-feio”.

Ignorei e fui atrás de Crona. De tanto o Soul tagarelar, não a vejo mais. Terá corrido?

Finalmente na entrada e saída da Shibusen. Apoio meus braços em meus joelhos para poder descansar um pouco. Ao invés de correr, resolvo andar para ver a Death City daqui de cima.

Olho para baixo e vejo um ponto rosa descendo as escadas. Bem, provavelmente, é a Crona, afinal, que eu saiba, só ela e a Kim possuem cabelo rosa. Começo a descer as escadas correndo com o máximo de cuidado para não cair.

Quase chegando perto, meu corpo parece evitar chegar de surpresa para ela. Era ela mesma.

E estava chorando.

- Como sou idiota... – sussurrava para si mesma enquanto descia – Pensar que a Maka iria falar alguma coisa...

Mesmo fora da escola, ela continua falando na Maka. Maka, Maka, Maka... Uma guerra. Continuo a seguindo e tento ser o mais cauteloso possível para ela não perceber que estou aqui.

Descemos as enormes escadas e Crona parecia pegar um caminho diferente. Um caminho mais solitário e escuro. Distancio-me um pouco para não ser notado.

Vejo-a entrar em um beco e encostar-se a uma parede. Não entro nesse beco, mas fico na esquina dele, ainda observando-a. Escorregou pela parede e sentou-se no chão, apoiando seus braços em cima de seus joelhos.

A posição que eu não gosto de ver. É uma posição tão triste, e parece que está sofrendo.

E agora? O que eu faço? Vou até ela?

... Ou fico aqui?

- Droga... – sussurro para mim mesmo e dou um passo para dentro do beco, evitando um pouco

Tomo coragem e começo a aproximar-me dela. Ela continua na mesma posição, será que não me percebeu?

Fico de frente para ela e me abaixo até conseguir enxerga-la.

- Crona? – pergunto com uma voz fraca, só para ela perceber que estava aqui – O que está fazendo?

Levantou sua cabeça lentamente e pude ver seus olhos cheios de lágrimas escorrendo pelas bochechas e algumas dentro de seus olhos esperando um piscar para poderem cair.

- Sabe que mesmo sendo da Death City, aqui pode ser muito perigoso? – pergunto sorrindo, olho mais para ela e sinto meu rosto esquentar – S-s-s-sabe, Crona? N-não se esqueça de que hoje v-v-v-você não está c-com o seu vestido l-l-longo... E-então, não posso dizer que seu corpo inteiro esteja protegido...

- Gh...! – desceu as pernas rapidamente, deixando seus joelhos chocando entre si

Todas as garotas conseguem sentar desse estilo... Será que é porque possuem o corpo mais flexível? Ou... Para a segurança... De uma parte do corpo?

Agora, consigo ver claramente seu rosto. Respiro fundo e tento esconder o vermelho de meu rosto que muitos chamam de “estar corado”.

- E então? Quer falar alguma? – perguntei com a cabeça virada para a direita e olhando pra baixo

- Sim...

- Eh? Sério? – fiquei um pouco surpreso, pensei que ficaria quieta e não desabafasse comigo – Mas... Quer falar agora ou mais tarde? – continuei, agora, encarando-a

- Arigatou... – mesmo com lágrimas, via um sorriso gentil – Você está sempre me ajudando nos momentos mais difíceis. Pensei que não existiria alguém assim... Hontonni Arigatou.

- Hn... – fiquei um pouco envergonhado e - pela centésima vez - meu rosto sente alguns “risquinhos” vermelhos – D-d-de nada... E-eu tenho uma coisa para você...

- “Uma coisa”? Agora? – perguntou de um jeito inocente e parecia um pouco ansiosa

Seguro em seu rosto e vejo que Crona estremece um pouco, acho que é porque minha mão estava fria. Aproximo um pouco meu rosto com o dela e a mesma fecha os olhos forçando um pouco.

Aproximo um pouco mais... E também fecho meus olhos.

E, pela primeira vez, toco em seus lábios. Quentes, e sinto um “choque térmico” ao senti-los com a minha boca fria.

Sinto... Que algo vai mudar na minha vida.

Que sempre fora tão monótona.

x – x – x – x – x – x – x – x – x – x – x – x – x – x

- Kiddo-kuuuuuuuuuuuuuun ~ – o estrondo da porta ecoa por toda a Shikedai – Chegamos! Por que você faltou DE NOVO na escola?!

- Patty...! – sussurro e deixo a palma de minhas mãos nos ouvidos de Crona – Não percebeu que a Crona está dormindo?!

- Ah...! Gomennasai! – desculpou-se e assim jogou sua mala no chão – Onee-chan, vamos subir?

- Ah... Tanto faz. – suspirou e fez o mesmo que Patty

- Shh!! Crona-chan está dormindo! Não a incomode!

- A-ah... F-foi mal...

Assim, as duas sobem as escadas. Parece que não tenho falado com elas ultimamente... Será por que estou mais com a Crona?

A mesma continua dormindo... E em meu colo. Parece cansada e ao mesmo tempo aliviada. Não sei como posso deduzir isso, mas consigo notar isso... Estranho.

Mexo em seus cabelos novamente, os tão sedosos e macios... Bom saber que, mesmo sendo um pouco diferente, ainda age como uma garota normal.

Crona estava coberta por um enorme edredon - ainda com aquela roupa meio... curta - , e apoiava sua cabeça em minhas pernas. Por um momento, estava feliz... Afinal... No momento que ela mais precisava, eu estava lá. Ao lado dela. Ajudando-a.

- Será que você vai conseguir esquecer a Maka, Crona? Ou... Ainda vai amá-la? Por mais ansioso que esteja, estou com medo da resposta.

Vou me arrepender...

Ou...

... Ficarei agradecido?