Sexo, Escola e Rock And Roll escrita por Fernanda Lima


Capítulo 18
Problemas sempre chegam em dobro


Notas iniciais do capítulo

* Versão de Isabel Rigardi *



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  Não me faltavam desculpas para fugir da aula de Educação Física. Minhas maiores especialidades na área envolviam tropeçar nos próprios pés, deixar a bola cair, errar a cesta e ficar em último lugar na corrida.

  Mas nem tudo são flores.

  Coloquei meu uniforme esportivo, que eu só não me recusava a usar por ser cor-de-vinho, e fui até o centro da quadra. Como sempre, fui a última a ser escolhida para o jogo de vôlei.

  Estava indo tudo muito bem, todas as outras que não se chamavam 'Isabel Rigardi' jogando direitinho, até que comecei a observar Sabrina, que jogava como levantadora em meu time.

  Ela estava ofegante, e seus olhos entreabertos, como se sua noite de sono tivesse sido ruim. E ela não se cansava fácil - pelo contrário, era uma das mais resistentes da turma. Talvez por ter que andar sempre de um lugar para o outro. 

  A cada jogada, ela parecia mais cansada, e em muitas horas perdia o equilíbrio, tropeçando nos próprios pés - coisa que apenas eu conseguiria fazer com tão pouco esforço.

  Até que o inimaginável aconteceu. Ela tombou na quadra, desacordada, soltando um longo suspiro.

  Todas as garotas e a professora pararam o jogo imediatamente, indo ao encontro da loira que parecia dormir naquele chão frio.

  - Sabrina, Sabrina! - Maria tentava falar com Sabrina, sussurando em seu ouvido e apertando sua mão. Eu estava preocupada demais para notar a suspeita que essa cena causaria em uma situação normal.

  - Professora, vou chamar a enfermeira! - Uma garota baixinha, de cabelo curto, saiu correndo em direção à enfermaria antes de receber permissão para isso.

  Ficamos ao redor de Sabrina, Maria e eu mais próximas e as outras discutindo sobre o que poderia ter acontecido. Eu já estava pensando em ligar para o pronto-socorro, visto que ela estava demorando para acordar.

  Cerca de 5 minutos depois, a enfermeira parruda e dois auxiliares chegaram, portando uma maca. Na mesma hora, Sabrina abriu os olhos, zonza.

  - O... que...

  - Não se esforce. Vamos levá-la para a enfermaria. 

  As outras garotas queriam nos acompanhar, mas a professora não permitiu e mandou que voltassem à aula e que apenas eu e a japinha fôssemos junto.

  32 minutos e 17 segundos.

  Esse foi o tempo exato que tivemos que ficar na sala de espera. Um auxiliar veio nos chamar.

  - As duas, podem entrar. Ela ainda está bastante grogue, mas quer falar com vocês. 

  - Sabe o que aconteceu com ela? - Maria perguntou a ele, tirando as palavras da minha boca.

  - Essa garota não come a dias, os níveis de glicose no sangue estão baixíssimos, e a pressão também.

  Não come há dias? Como assim?

  Entramos na enfermaria. Pequena, mas limpa e aconchegante. Sentamo-nos nas bordas da maca onde Sabrina estava.

  - Me desculpem, eu não sei porque isso aconteceu.

  - Não sabe? - Fui sarcástica, meio sem querer.

  - Você anda se alimentando direito, Sabrina? Seja sincera conosco. - Maria estava séria, e olhava nos olhos da loira.

  Ela olhou para baixo, como uma criança que sabe que fez algo de errado.

  - Eu não tenho escolha...

  - Como assim não tem escolha? Você sabe muito bem que precisa comer direito, e além do mais não tem motivo nenhum para...

  - Eu não tenho o que comer.

  Silêncio. Até que resolvi falar.

  - Como assim não tem o que comer?

  - O meu avô está muito doente e tem pouco tempo de vida. Minha avó resolveu usar todo o dinheiro que eles têm para pagar o tratamento dele. Então, não tenho como comprar comida.

  Fiquei profundamente abalada com isso. Enquanto eu não sabia o que dizer, Maria falava cada vez mais.

  - Ah, meu Deus. Eu sinto muitíssimo por você e pela sua avó, e lhes darei todo o apoio que precisarem. Mas ela não pode deixar você sem comida, por mais que ame o seu avô. Isso pode dar até problema na Justiça, sabia? Eu vou ligar para ela, Sabrina. Dizer a sua situação. - Ela balançava a cabeça em sinal de reprovação, nervosa.

  - Não é tão simples. Eu... não tenho um bom relacionamento com a minha avó. Ela nunca perdoou minha mãe por ter engravidado cedo, e me vê como 'o fator que destruiu a vida da família'. 

  - Que coisa ridícula! Sinto muito, mas a sua vó é muito idiota.

  - Por favor, não a chame assim. Ela é muito honesta, trabalhadora, e tem razão quanto a mim... - Uma lágrima escorreu pela face alva da garota.

  - Não, ela não tem! É melhor vocês se resolverem, pois não vai gostar se eu me intrometer. E nós vamos arranjar um jeito de cuidar de você até que isso acabe. Na minha casa vai ser difícil para você ficar, mas...

  - Sabrina. Você pode ficar na minha casa ou na de Allen, sem problemas. - Não citei a casa de Jack por instinto mais do que por ciúmes.

  - Não precisam se preocupar comigo, prometo que não vai acontecer de novo. E não quero causar incômodo.

  - Já que você só entende se eu falar desse jeito, então é o seguinte: acha que não incomodou todo mundo ao terem que parar a aula por tua causa, e por terem que te trazer até aqui? O que você prefere, isso ou ficar na casa de um amigo?

  - Tudo bem, então... Você deixaria eu ficar na sua casa, Isabel?

  - Claro. Seria um prazer. Temos um chef de cozinha em casa, você irá provar la migliore cucina italiana. - Sorri de leve, para que ela se animasse um pouco.

  Levei um susto quando a enfermeira me chamou.

  - Você, de cabelo solto. - Virei, esperando uma arma apontada para mim. - Vai na cantina e pega alguma coisa decente para essa garota comer, diz que a enfermeira vai pagar depois.

  - T-tudo bem. - Ela era enorme, como aquelas dos desenhos. Me assustava legal.

  Corri até a cantina, e chegando lá, perguntei se havia algo de saudável. No final, só consegui uma sopa de legumes fria e uma maçã meio amassada. Nada menos do que o esperado.

  O que não era esperado, seria o que vinha a seguir.

  - Sabrina, eu trouxe isso para vo...

  As duas pararam no ato, e me olharam com os olhos arregalados, sem palavras.

  - Quanta intimidade. - Falei, abismada com o que acabara de ver. Larguei a bandeja em cima da mesa, e dei meia-volta. - Podem continuar. 

  Saí da sala, tentando acreditar que aquilo havia acontecido de verdade.

  Então Allen tinha razão. Maria era realmente... lésbica. E meu inconsciente também estava certo. Sabrina não era uma pessoa tão legal assim.

  Por mais que eu tentasse me esquecer daquele problema com ela e com Jack no mês anterior, aquilo me voltava à cabeça. Com mais essa situação, eu tinha uma bola de neve de raiva, e não queria descontar em cima de Sabrina. Ela não estava fazendo nada de mais. Ou estava?

  Além do mais... como ficaria Allen nessa história toda?


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