- Bolo de Chocolate -

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Faz mais ou menos uns dez minutos que estou aqui, folheando um cardápio, observando preços, sabores, pratos, bebidas, sobremesas. Tudo o que esse local pode me oferecer. Admito, as opções são variadas, e muitas já me causaram “água na boca”, mas nenhuma sequer, conseguiu fazer meus lábios se moverem, fazê-los pronunciar seu nome, dando origem a um pedido.

Já revisei diversas vezes, passando folha por folha, procurando algo que possivelmente tenha passado despercebido. Mas nada encontro, apenas os mesmo produtos, nenhum que encoraje minha língua.

Não tenho pressa, posso continuar aqui por horas a fio, afinal, é uma mesinha bem agradável. Escondida em um canto pacífico, silenciosa e afastada das outras, localizada em frente a uma janelinha, de onde observo o movimento da rua. Sua decoração é simples, até mesmo óbvia, algo a se esperar de uma loja nesse estilo.

Sobre sua madeira escura, uma simples toalhinha bordada, incrementada com diversos babados nas pontas, sobre essa, um vaso pequeno, branco e levemente detalhado, envolvendo um simplificado arranjo floral. Logo ao lado, um pequeno porta-guardanapo, um objeto gracioso junto a um açucareiro.

Um cantinho simples, mas que caiu a meu agrado.

Posso estar incomodando, principalmente a pobre garçonete, essa está a meu lado, em pé, esperando que meus lábios pronunciem um pedido. Não sinto pena, o trabalho dela se resume a isso, ser paciente, educada, e prestativa.

Fatores que ela está quase a desrespeitar, já reparei, há alguns minutos, ela está batendo a caneta contra o bloquinho de folhas, mostrando sua impaciência. Preste a explodir com um cliente importuno.

- Senhor, vai pedir alguma coisa? – A voz da garçonete se pronunciava secamente.

Nada respondi, deixei-a acreditar que não a ouvira. Apenas, ajeitei meu óculos, esse escorregava por meu nariz, algo que me causa um leve incômodo.

Por cima do cardápio, meus olhos procuravam algo, talvez um prato que realmente pareça estar sendo apreciado por alguém.

Foi ai que me deparei com uma simples criança, uma menina, essa estava sentada junto a seus possíveis pais. Seus lábios mostravam um belo sorriso, puro e apreciável. Seus dedos pequenos tateavam um prato, esse localizado a sua frente, seus olhos brilhavam ao encará-lo.

O que tinha sobre o prato?

Nada mais, nada menos, que um bolo de chocolate. De fato, não é o bolo mais apetitoso que já vi, ou sequer o mais enfeitado, ou quem sabe, nem o mais saboroso.

Mas, me chamou a atenção. Talvez tenha sido a primeira vez, que uma porção de água subira a minha língua, que meus olhos levemente brilharam, e que meus lábios finalmente pronunciaram.

- Uma fatia de bolo de chocolate, e um café, por favor. – Anunciei meu pedido.

Vi disfarçadamente um pulo de alegria da jovem garçonete, essa que se dirigiu ao balcão rapidamente, entregando uma pequena folha ao balconista.

Continuei a encarar a criança, parecia tão feliz, saboreava cada garfada, como se fosse à sobremesa mais saborosa que já tivera o prazer de provar, realmente contagiante. Mal podia esperar minha vez, queria apreciar a fatia, a cobertura, as camadas, saborear junto a um café.

- Seu pedido. – A garçonete estendia uma bandeja.

- Obrigado. – Agradeci.

Finalmente fechei o cardápio, coloquei-o logo ao lado do vaso de flores. Passando a admirar a bandeja ali repousada.

Por um instante, senti minhas mãos suarem, meus olhos pareciam ansiosos, minhas pernas suavemente tremiam de um lado a outro.

Ainda trêmulo, desenrolei o garfo do esbranquiçado guardanapo. Com o máximo de cautela, retirei um pedaço pequeno da fatia a minha frente, levando-a até minha boca.

Esplêndido!

A massa era tão macia, se desfazia em minha saliva. O sabor adocicado se espalhava por todos os lados. Meus dentes mastigavam suavemente, explorando cada centímetro da pequena quantidade.

Quem diria? Um simples pedaço de bolo, sendo esse sabor chocolate. Uma simples sobremesa, que encantou minha tarde de sábado.

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- Fim. -