Eu estava olhando para o céu ouvindo Maya reclamar da própria vida. Que saco, mulheres são tão sentimentais, eu permaneci tranqüilo até que uma frase entreouvida me trouxe de volta para o gramado:

─ Eu acho que devia mesmo virar lésbica.

─ O que?! ─ Eu arregalei meus olhos para ela.

─ Agora você me ouviu não é mesmo? Isso mesmo, eu não vou mais ficar com nenhum homem minha época de bissexualismo acabou, eu prefiro relacionamentos com mulheres.

─ Como, onde, quem, por quê?

─ É simples: eu não quero mais, chega!

Droga, eu pensei, não vou mais poder sair com ela, isso seria supostamente ela terminando comigo? Seria um fora? Eu não a estava satisfazendo?

─ Olha essa sua cara. ─Ela comentou─ Você nunca me conta o que esta pensando quando está com essa cara.

Ela fez biquinho e cruzou os braços, um sinal claro de pirraça.

─ Eu estou pensando no céu, está azul não é mesmo?

─ Que grande descoberta ein Joseph? O céu é azul ─ Ela comentou com sarcasmo.

─ Você não pode terminar comigo assim, vem cá ─ eu puxei ela para perto e a tomei em meus braços dando a ela um beijo ridiculamente bom que ela retribuiu da mesma forma.

Ao terminarmos eu estava em êxtase e pelo jeito ela também.

─ Você não entendeu que eu não te quero mais? Chega, essa vida é muito confusa para mim, eu não quero mais um relacionamento com você!

Isso foi como uma punhalada no fundo mais denso do meu coração, depois de um beijo tão bom? Achei que estava agradando.

─ Olha essa cara de novo, você me irrita muito com ela.

─ Que bom isso, agora somos dois irritados.

─ Você não tem motivo para ficar irritado.

Tenho sim, eu sai andando em direção a uma arvore mais próxima onde eu pudesse bater minha cabeça até sangrar e danificar meu cérebro, talvez assim eu conseguisse parar de pensar nela. Eu cheguei a uma bem distante da que estávamos antes e me deixei cair ali, olhando o céu azul, absoluto, tão calmo, pois eu queria estar ali.

Em algum lugar não tão longe de nós, no parque, alguém com um violão começou a tocar ‘Palavras ao vento’ da Cássia Eller.

‘Qual é?’ Eu pensei, me deu muita vontade de jogar uma pedra no violão e depois quebrá-lo na cabeça de quem estava tocando.

─ Joe, Joe, Joe, Joe. Que decepção ein? Você vai me deixar sozinha ali? Temos assuntos a conversar. Ainda não discutimos tudo.

─ Essa conversa acabou, vá embora.

─ Não, não acabou.

─ Essa. Conversa. Acabou. Sai daqui.

─ Eu não saio até você falar comigo. Porque você está usando esse tom? O que eu te fiz? Você devia ser mais compreensivo nesse momento, eu estou passando por uma crise na minha vida.

Por que, diabos, as mulheres não apenas obedecem sem questionar, só pensam no próprio lado. E estão sempre querendo conversar, sempre enchendo o raio do saco.

─ Você vai ou não vai falar comigo direito?

─ Sai. Daqui!

─ Não. ─ Ela cruzou os braços e sentou no chão ao meu lado, e você não consegue imaginar o que aconteceu a seguir, ela começou a chorar.

Maldita conexão feminina com os próprios sentimentos, mas não com os dos outros.

─ Que maldição é essa?!

─ Que maldição? ─ Ela disse entre soluços

─ Por que você está chorando criatura? Você é minha maldição sabia?

─ Você me magoou.

E essa agora. Isso para mim é ótimo, pelo menos ela provou um pouco do próprio veneno.

─ Não me diga?!

─ Por que você é tão mau?

Porque você é tão cega? Cada coisa que eu diria para ela nesse momento.

─ Porque eu quero.

─ Você está tão bruto hoje, o que ouve?

─ Nada! Absolutamente nada! ─ Eu praticamente gritei.

─ Se é assim que você vai se comportar, eu me retiro.

‘Finalmente’ eu pensei.

─ Mas você vai se arrepender─ quando eu achei que ia ter paz... ─ Eu não vou voltar. Estou magoada com você. Eu falo serio. Eu não volto. Não me implore. OK, eu te dou outra chance.

‘Mas eu não quero outra chance, eu quero que você vá embora!’ eu tive muita vontade de falar isso com ela.

─ Você devia realmente ir. Eu vou acabar te deixando mais magoada ─Eu falei com minha voz com absoluto tom de sarcasmo, ao qual ela não percebeu.

─ Ah (*-*), você se preocupa tanto comigo. Eu sabia que não tinha sido de propósito.

Eu respirei fundo, e comecei a contar a partir de 100 quando ela começou o discurso que eu sou o melhor amigo dela. Pra te dar uma idéia eu estava quase nos 200 quando ela parou e me deu um abraço. Eu fiquei parado esperando terminar.

─ Fico tão feliz que você me compreendeu. Eu vou até o shopping e já volto.

Não, não volte. Ela saiu e eu fiquei olhando o céu em sua imensidão melancólica e que fazia minha raiva ferver.

Como ele pode não enxergar o meu problema? Como ele pode ser tão insensível ao meu estado? Que coisa de mulher, tão típico, tão maravilhosamente e irritantemente irresistível. Minha vez de perguntar a ela: Como ela não vê que eu estou tão claramente pensando nela?

Fim.