Consequências escrita por LiaLune


Capítulo 8
Boatos


Notas iniciais do capítulo

Êba. Mais um capítulo para animar aqueles que estão de férias e os que não estão, como eu. Boa leitura!



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     Sabe quando você tem aquela vontade de se matar? Ou então quando você lamenta por não ter nascido com um dom de invisibilidade? Era mais ou menos isso que estava acontecendo comigo.

     Tudo começou em uma quinta-feira. Eu estava com quatro meses de gestação, e já estava complicado esconder a barriga (que havia aumentado bastante, assim como meus peitos). Minha mãe já havia contado tudo para meu pai, que não ficou brabo comigo, provavelmente por mamãe também ter engravidado jovem. Mas ele não gostou muito (ele disse que não queria ser avô tão cedo).

     Apesar dos problemas, Samantha continuava a mesma. Mamãe também, mas devo dizer que depois da minha última ultrassonografia, na qual papai participou, ela se derreteu completamente pelo bebe. Não sei qual dos dois estava mais ansioso para descobrir se seria uma menina ou um menino.

     Estava tudo indo bem. Eu comecei a pensar que talvez isso tudo não fosse tão complicado. Até que chegou aquela bela quinta-feira de Fevereiro. Era inverno, e estava muito frio. Mamãe havia acabado de me largar enfrente ao colégio.

     Com passos largos, caminhei até as portas do prédio, e depois de um pequeno esforço, consegui abri-las. Reparei que todo mundo estava cochichando e olhando pra mim. Chequei se minha calça esta furada, ou se havia pasta de dente na minha blusa, mas não havia nada de errado com minha aparência.

     Andei por todo o corredor sob olhares curiosos, vindos de todos os lados. Os cochichos de intensificaram e a multidão que olhava para mim se triplicou em instantes. Vi duas garotas vindo em minha direção. Estavam ocupadas mexendo no celular, mas quando me viram pararam e olharam diretamente para a minha barriga.

     E então eu entendi o que estava acontecendo.

     Os cochichos haviam se transformado em gritos na minha cabeça, estava tudo embaralhado, girando e girando. “É verdade?”, perguntavam. “Sério?”, “Como assim?”.

     - Puta!

     - Vazada!

     - Ah, eu não acredito. Sério? – Risada geral. – Só podia...

     E mais uma vez, com medo de enfrentar-los, corri para o banheiro. Quando entrei, as poucas garotas que estavam lá fizeram uma careta de desgosto e deixaram o local em meio a risos.

     Tranquei-me e chorei como um bebe. Tipo, por uns dez minutos. Ouvi pessoas se aproximando.

- É ela? – perguntaram do lado de fora do banheiro.

     - Nossa, que garota burra.

     - Pensei que ela fosse virgem.

     - Desde quando ela namora? Quem será que é o p.. – Antes que pudesse completar a pergunta, um grupo de garotas começou a discutir. Reconheci uma das vozes como sendo de Samantha, e outra de Hillary.

     Depois de alguns minutos, ouvi três batidas.

     - Ocupado! – disse eu, tentando disfarçar a voz de choro.

     - Becky, abra a porta – Era Sam. – Rebecca!

     - Quero ficar sozinha.

     Sam suspirou.

     - Rebecca...

     Sequei meu rosto com a manga do casaco a abri a porta. Pela cara que ela fez, eu deveria estar horrível.

     - Viu? Eu sabia que iam descobrir! Agora está todo mundo falando de mim – Limpei as lágrimas que insistiam em cair. – Eu não vou aguentar isso todo o dia! Pessoas me julgando e me tratando como se eu fosse uma criminosa! Eu vou sair dessa escola e nunca mais voltar.

     - Deixe de ser idiota, Rebecca. Vai largar os estudos por causa da opinião dos outros? Pelo amor de Deus! – ela disse.

     - Não é fácil...

     - Acha que vai ser mais fácil largar o colégio? Não acredito que isso passou por sua cabeça. E o bebe? Como ele vai ficar?

     Silêncio.

     - Samantha, por favor. Me deixe sozinha - pedi.

     - Não pense só em você! O bebe também...

     - Samantha! Eu quero ficar sozinha! – gritei, irritada.

     Ela deixou o banheiro com um estrondo na porta.

     O sinal havia tocado, e eu não podia matar aula. Eles com certeza iam ligar para minha mãe e ela iria ficar muito braba comigo. Arrumei-me pela centésima vez e sai do banheiro.

     As poucas pessoas que estavam nos corredores viraram-se para mim. Os comentários estavam voltando, quando o monitor apareceu e mandou todos para suas respectivas salas de aula. Inclusive eu, que hesitando entrei na sala.

     No meio de tantos olhares, me senti nua, como se eles todos soubessem exatamente o que havia acontecido. A professora me olhou apavorada, certificando-me que os professores já estavam cientes da minha situação.

     - Está atrasada, Rebecca – Ela disse. – Sente-se.

     Sentei-me na minha classe. A aula começou, mas o ambiente estava tenso. Quando a professora estava ocupada ajudando algum aluno, um garoto que sentava a minha frente virou-se e me chamou.

     - É verdade? – ele perguntou. Virei o rosto, querendo chorar novamente. – Sério, é verdade? Você e James? – Ele riu. – Isso é inacreditável.

     Uma garota ao meu lado entrou na conversa.

     - Então você não sabe? – ela perguntou. O garoto fez uma cara confusa. Ela fez um gesto em direção da minha barriga, que foi logo coberta por minhas mãos, numa tentativa ridícula de esconder o óbvio.

     - Pensei que fosse um boato – ele perguntou, começando a rir.

     - É mentira!

     - É completamente verdade. Hillary nos contou tudo, não adianta negar. Todos já sabem, inclusive James. Você é tão bobinha – ela riu.

     Meus olhos logo ficaram vermelhos.

     - Catherine e Leroy, silêncio! – a professora ralhou. – Mais uma advertência e os dois vão para a detenção!

     - Desculpa, professora – eles disseram em coro, rindo em seguida.

     E eu passei o resto da manhã assim, ouvindo risos e fofocas por todos os lados. Até que, para meu alívio, o sinal tocou e a aula terminou. Quando ia sair da sala, a professora me chamou.

     - Espere um pouco, Rebecca. Temos que conversar – ela disse, quando todos já haviam saído. – Quero que saiba que se precisar de algo, a escola pode te ajudar. Está claro?

     - Sim – respondi olhando para os tênis. – Tchau.

     Então deixei a sala e fui para o ponto de ônibus. Sam estava ali, mas me ignorou completamente. Devo dizer, com razão. Havia sido muito estúpida com ela horas mais cedo, mas não tinha coragem para me desculpar. Fiquei quieta.

     Meu ônibus chegou. Fui embora sem nem me despedir daquela que considerava minha melhor amiga.

     Ok, isso era besteira.

     Estava subindo no ônibus quando senti minha bochecha esquentar. Então virei e voltei correndo para o lado de Sam, com os olhos vermelhos.

     - Me desculpa – disse baixinho.

     - Está tudo bem – ela respondeu.

     O clima estava estranho.

     - Quer conversar? – Sam perguntou, olhando para o nada.

     - Não.

     - Tudo bem – ela disse. – Quer um abraço?

     E quando percebi, já estava chorando novamente, abraçada a minha melhor amiga.

     - Um milkshake de morango e um hambúrguer duplo de frango com bastante maionese – Sam puxou 20 reais de seu bolso. – E... O que você vai querer, Becky?

     - Nada, não estou com fome – respondi. Eu estava mentindo. Só não iria comer porque minha dieta extrema não me permitia.

     - Ok. Recapitulando, moço. Um milkshake de morango, certo? Um hambúrguer duplo de frango com tipo assim, muita maionese e mais uma maçã e um suco de laranja natural. Vocês vendem maças aqui, não é?       

     - Aham – respondeu o caixa. – Podem retirar o pedido na outra fila. Próximo!

     - Saco. Essa fila está enorme. Quando a gente conseguir chegar lá na frente, nossa comida já vai ter estragado – disse Sam, mal humorada.

     Não respondi. A fila andou e mais rápido do que pensávamos chegou nossa vez.

     - Aqui está! Obrigada pela preferência e voltem sempre – disse a sorridente funcionária. Sorri de volta.

     Sentamos em uma mesa e engolimos a comida. Sério, eu estava morrendo de fome. Acredito que Sam também estava. Conversamos sobre assuntos bobos, como seriados e videoclipes, e depois, naturalmente, o assunto se desviou para o que chamamos de SDC (Shampoo destinado a cabelos ou Situação de Dean ou Claire. Chame da forma que parecer mais conveniente).

     Sam queria fazer uma lista das prováveis pessoas quer descobriram sobre o SDC, mas eu disse que não importavam, afinal, todos já sabiam mesmo. Haha. Poxa vida, super legal isso, né? Então resolvemos papear sobre o que faríamos no colégio no dia seguinte. Eu queria matar aula. Sam me contrariou.

     - Faltando aula, você vai mostrar sua fraqueza. Não! Não podemos deixar que aquelas pessoas metidas e fofoqueiras nos ponham para baixo! Nunca! Assim, elas vão ver que isso nos atinge e aí sim a coisa vai piorar. Já sabe, elas fazem isso pelo simples prazer de nos machucar. É verdade! Descobri isso aquela vez na quarta série em que contaram para todo o mundo que eu gostava do Peter, aquele moleque sem vergonha! Como eu queria matá-lo! Eu me declarei e ele foi capaz de contar pra todo mundo! Ninguém é confiável, Becky, ninguém em nenhum colégio é. Por isso, você tem que ir amanhã!    

     Haha. É, ta bom.

     - Vou falar com minha mãe. Talvez ela me deixe faltar se eu estiver passando mal...

     - Por favor, Rebecca! Você não pode faltar aula! – Sam levantou-se. Na cadeira. – Por favor, por favor, por favor...

     - Samantha! Desce daí! Você está parecendo uma louca! – ralhei.

     - Você vai mesmo fazer isso comigo? – ela perguntou tristonha.

     - Sam...

     - Vai mesmo?

     Revirei os olhos. Ela me venceu.

     - Além do mais, nós... Nós temos prova amanhã! – ela gritou, descendo da cadeira e pegando sua mochila. – Que merda! Como eu me esqueci? Estou com tanta coisa na cabeça que nem me lembrava mais da prova de física. Física! Você sabe o quão difícil essa prova vai ser. Espero que Matthew esteja em casa pra me ajudar...

     Silêncio.

     - Não. Péssima ideia.

     - Péssima – concordei.

     Levantei-me e coloquei nossa bagunça no lixo. Saímos do fast-food e fomos para casa.

     Então. Quando mamãe ficou sabendo do acontecimento, ela quis ligar para a diretoria. Mas somente pais de crianças ligam para o diretor. Tivemos uma conversa meio séria, mas depois fomos ver uns clipes na TV, pra esfriar a cabeça. Revisei a matéria de química e fui dormir.

     Sexta, o último dia de aula na semana, chegou para animar os estudantes. Oba. Animação total. Enfim, foi a rotina de sempre: levantar, trocar de roupa, comer, escovar os dentes, alimentar o Sleeper, trocar palavras com minha mãe e receber uma carona até o colégio.

     Estávamos no carro presas no trânsito. Minha mãe suspirou.

     - Engarrafamento há essa hora. Vou me atrasar no hospital. Céus, hoje tenho quinhentas coisas pra fazer – ela reclamou.

     - Não se preocupe. Hum, você pode me deixar aqui. Estamos perto do colégio, eu posso ir caminhando – propus a ela. Ela sorriu. – Tchau mãe.

     - Tchau, querida – ela acenou, me assistindo descer sonolenta do carro.

     Percebi que o percurso era muito mais longo quando se está a pé. Coloquei meus fones de ouvido e fui ouvindo música por todo o caminho. A música estava bem legal até, mas quando cheguei enfrente ao colégio, nada mais parecia tão legal. Guardei minhas coisas e respirei fundo. Contei até 54 e procurei pela coragem, pra ver se ela podia me ajudar.

     Pois é, coragem, cadê você?

     Minhas pernas começaram a tremer e não tinha jeito de eu entrar naquele lugar. As lembranças do dia anterior invadiram minha mente. Estava quase passando mal. E quando eu senti que poderia desmaiar a qualquer momento, algo MUITO estranho e completamente inesperado aconteceu.

     - Oi – ele disse. Sua voz grave e forte era inconfundível. Agora sim que eu ia desmaiar. – Precisamos conversar. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Já sabem, se tiver algum erro, me avisem.
Ah! Preciso de uma ajudinha. Haha.. Alguém lembra se por acaso eu coloquei o sobrenome da Rebecca no meio da história? Se sim, poderiam me informar em qual capítulo está? Hehehe.. Sempre me esqueço dessas coisas.
Enfim, obrigada por lerem. Até mais!



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