Bonecas de Porcelana escrita por Ingryd Barboza


Capítulo 1
Bonecas de Porcelana


Notas iniciais do capítulo

Obs.: A história é em primeira pessoa, sendo narrada pelo personagem "Sasuke Uchiha".



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Bonecas de Porcelana
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Sempre ouvi um conto, denominado conto das “Bonecas de Porcelana”. Algo infantil feito para afastar crianças da velha mansão Haruno, uma casa antiga, esquecida em nosso quarteirão, tratada com desprezo e medo. Todos que passavam por nossa rua ignoravam a clássica mansão, ninguém ousava sequer olhá-la. Olhos desviavam-se amedrontados pelo portão. Cresci ouvindo essa antiga história, assustadora para crianças, e até mesmo a adultos.

Segundo o velho, e sábio senhor Takeshi, o homem que sempre estava em frente a sua casa, sempre se balançando em sua confortável cadeira, esse embalava todos ao conto de porcelana. Sua voz grossa e abafada transmitia a verdadeira história por trás dos Harunos. Todos os finais de tarde, crianças reuniam-se em volta do simpático senhor. Ouvi diversas vezes a mesma história. A história de uma tradicional família, respeitada por todos, uma família fajuta que demonstrava felicidade e perfeição em seus atos.

Constituída por três sublimes figuras. Uma mãe supostamente dedicada, um verdadeiro exemplo a se seguir; sempre conhecida por sua impecável educação, sua inteligência superior à média. Uma mulher de aparência forte, extremamente amorosa e prestativa para com seu marido, esse um homem do mais alto vigor, conhecido por sua excelência nos negócios, bem sucedido, sempre escondido por um semblante sério e imponente. Um pai dedicado até a alma por sua pequena e graciosa filha, uma menina de pele clara e alva, cabelos rosados e lisos, sempre bem penteados e envolvidos por um doce aroma de flores. Uma família invejável a qualquer um.

Mas, por trás de toda essa perfeição se escondia um segredo, esse que fora envolvido por bonecas delicadas feitas de porcelana, as que Sakura mais gostava. Em todos os seus aniversários a filha dos Harunos ganhava uma boneca, uma mais delicada que a outra. Algo tradicional em todo 21 de abril. Eram tantas as bonecas, que um quarto foi construído exclusivamente para a fabulosa coleção. Um quarto localizado no ponto mais alto da velha casa. Um lugar ao qual Sakura se trancava por longas horas.

De longe se podia ver por entre a imensa cortina branca, a sobra da jovem criança. Via-se sua sombra dançar de um lado a outro, sempre acompanhada de uma linda menina de porcelana. Com o passar de alguns anos, a herdeira do clã Haruno, simplesmente deixou de ser vista, apenas podia-se observar a sombra dançante por entre a escura noite. Seus pais nada declaravam, de início davam leves desculpas - “Ela é uma criança, apenas se encantou com os brinquedos”- Uma desculpa que serviu por um curto tempo, sempre pronunciada na intenção de calar bocas curiosas, essas que a cada dia aumentavam suas perguntas. Sem respostas admissíveis, o silêncio entre os Harunos foi o melhor remédio. Sakura passou a ser ignorada pela família, esses que fingiam jamais ter tido tal criança. Coisa que fez calar o bairro, o mesmo que era envolvido todas as noites por uma doce e calma dança, essa que era acompanhada de uma suave canção, saída de uma provável caixinha de jóias. Todas as noites essa mesma cena se repetia, despertando a curiosidade, e o medo por todo o bairro. Fato que durou dias a fio. Silenciado por seus próprios pais.

A história não demorou a se espalhar pela cidade. Atraiu diversos curiosos e profissionais, interessados pela intitulada “Dança da noite”. Não demorou muito para a família Haruno começar a ser investigada. Detetives seguiam incansáveis o jovem casal, esse que por sua vez foi diminuindo cada dia mais seus passeios; até chegarem ao ponto de não serem mais vistos. Dias passaram sem respostas. Até que em uma silenciosa noite dois disparos seguidos agitaram a calma “Rua dos Limoeiros”.

Eram policiais, repórteres e diversos curiosos, que se entrelaçavam em uma imensa confusão. Após muito tumulto, alguns poucos policiais acompanhados de dois experientes detetives invadiram sutilmente a temida “Mansão Haruno”. De início nenhum ruído se ouvia, a casa transparecia uma calma inabalada. Depois de muitos corredores, finalmente chegaram a uma imensa sala, bem decorada, móveis caros e de muito bom gosto. Era composta por duas imensas e cômodas poltronas, essas que frustravam com sua cor escarlate, abalava até os mais fortes olhos, essas situadas logo a frente uma imensa lareira, emanava seu ardoroso fogo, esquentando a noite gélida de inverno.

A frente das labaredas via-se um corpo sobre uma poça de sangue, senhora Haruno encontrava-se morta com um tiro certeiro em seu peito. Mais ao lado, em um canto escuro da sala, foi encontrado um homem, senhor Haruno repousava sobre o chão com uma bala atravessada por sua cabeça. Há olhos atentos, uma pequena menina podia-se ver por entre os braços protetores do pai, essa sangrava sem pausa, fruto de vários cortes por todo o seu corpo. Seus orbes esverdeados ainda estavam abertos, ela respirava dificultosamente.

- Papai não perdoou mamãe... – Sakura dizia a um tom baixo.

- O que sua mãe fez? – Um detetive tentava especular o caso.

- Ela me feriu, papai jamais a perdoaria... – Dito isso seus olhos se fecharam.

A respiração da jovem criança diminuía lentamente; até o ponto em que parou por definitivo.

Continuando a investigação. O andar mais superior da mansão abrigava um quarto. Um quarto dominado por bonecas de porcelana, essas que todos os dias assistiam incansáveis seções de violência. Uma mãe tomada pelo ciúme, culpava a filha pela falta de atenção de seu marido; um ciúme bobo marcado pela dor de uma inocente criança, a mesma que dançava todas as noites com suas amadas bonecas. Rios de sangue escorriam por todo o quarto, presenciados pelos olhos atentos de porcelana.

Um final trágico por trás de uma suposta exemplar família. Senhor Takeshi dizia ainda ver todas as noites a dança da filha dos Harunos, sempre com uma acompanhante de porcelana.

Naquela noite senti uma imensa vontade de encarar a ignorada mansão. Respirei fundo, e lentamente me direcionei a casa. O vento batia fortemente pelos meus ouvidos, traziam consigo ma doce melodia. Por um instante pude ver uma luz acesa no ponto mais alto da mansão. Uma sombra dançava graciosamente de um lado a outro, sempre acompanhada de uma elegante boneca de porcelana. Algo que me despertou ternura. Senti-me alegre em ver que ela continuava a fazer o que mais gostava - “Dançar junto à porcelana”.

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Fim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!

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Beijos ^^