A fumaça de meu café ondulava no ar gélido daquele inverno. Meu indicador alisava ternamente sob a boca da fina porcelana francesa a minha frente. Olhei para o céu a procura de uma distração mais digna que aquele movimento, mas a única coisa que vi foi uma fina camada de cinza claro escondendo o sol dourado que não aparecia a dias. Um suspiro interrompeu minha respiração continua, fazendo-me voltar à antiga tarefa.

Levantei os olhos quando um barulho oco chamou minha atenção. Percebi que a cadeira a minha frente estava ocupada por um garoto, aparentemente 18 ou 19 anos, moreno e bonito. Cada canto de seu ser borbulhava felicidade, não me surpreenderia se em questão de segundos ele se levantasse e começasse a pular de alegria. Tive nojo. Me levantaria da mesa no mesmo instante se não se tratasse de meu irmão.

– A vida é linda, Markus! – Foram suas primeiras palavras. Rápidas como uma fuinha. Mas havia algo em seu olhar que o denunciava, eu concordaria com elas se não fosse aquele brilho nos olhos. Ah, sim. Eu o reconhecia: Loucura.

– Você está apaixonado. – Suspirei eu.

– Sim! – Aquele brilho não saiu de seus olhos. Por um momento duvidei que ele estivesse me vendo quando me olhava, seus olhos estavam tão distantes.

– Saumensch, você nunca ouve o que eu digo? – Proferi, batendo a mesa para lhe chamar atenção. O pires tiniu em baixo da xícara, não previ que ela derramaria seu liquido quente em toda a mesa, meu punho foi levemente molhado pelo café. – Essa era a primeira regra!

– Se apaixonar? – Ele respondeu, ainda com seus olhos lunáticos, mal notando meu acesso de raiva. Droga, ele era o meu irmãozinho, eu tenho que ensiná-lo a ter uma vida prospera, afortunado e sempre superior; mas porque ele teima em não aprender?

– Nie verlieben. Nunca se apaixonar. – Usei o resto de minha paciência para dizer essas palavras. – Esta é a primeira regra. 

Ele suspirou e se remexeu na cadeira, evitava o meu olhar a qualquer custo. Pelo menos sabia que agora ele estava me escutando. Dava para ver a luta interna que estava acontecendo, só que eu necessitava participar disso.

– Diga o que lhe incomoda, irmão. – Eu disse finalmente.

– Não quero ser como você. – Ele levantou os olhos, para encarar os meus friamente. – Eu escolho o amor.

Ele bateu no próprio peito na última frase. Senti uma pontada na boca do estomago. Não quero ser como você. Isso ecoou na minha cabeça por vários minutos. Como alguém não quer ser como eu? Bem sucedido. Rico! Mas eu sabia que essas palavras um dia viriam, meu irmão sempre fora fraco e ingênuo. Suspirei. Mesmo assim ele já tinha idade suficiente para decidir o que querer.

– Tudo bem, fique com o amor. – As palavras jorraram de meus lábios com desprezo. – Você será feliz, mas falhará na vida.

Joguei uma nota de 50 euros na mesa molhada, e deixei ele ali. Sozinho com o amor.