1996

            Meu corpo arde, sinto-me afundando em meu próprio colchão, como se eu nunca mais fosse levantar de novo.

            Creio que estou com febre.

            Os calafrios tomam conta de mim, e eu puxo a coberta, tentando afastá-los, em vão.

            Que horas são?

            Não faço a mínima idéia... E não há nenhum relógio por perto...

            Olhando pela janela...

            É noite...

            Madrugada...?

            Não sei... Minha cabeça dói, meu corpo está tomado por sensações asfixiantes... Como se sugassem de mim as últimas forças que me restaram.

            Frio...

            Tanto frio...

            Por quê? Por que até mesmo um simples resfriado consegue me derrubar? Como serei forte...? Forte o suficiente para... Para... Por que mesmo eu quero me fortalecer? Por que eu desejo tanto encontrá-lo, Seishiro-san?

            Será que eu conseguiria matá-lo?

            Será que eu quero matá-lo?

            Ou...

            Eu não sei de mais nada... Não sei mais o que eu quero... Não sei mais o que eu desejo...

            Às vezes... Eu gostaria que tudo isso simplesmente acabasse... Que toda essa agonia se extinguisse para sempre...

            E eu me pergunto...

            Será que isso irá mesmo embora caso eu o mate? Ou estas sensações permanecerão ainda intactas, mesmo você não estando mais presente?...

            Seishiro-san...

            Encolho-me na cama, tentando me aquecer, mas parece que o frio que sinto não pode ser cessado.

            Minha cabeça dói tanto...

            Vejo uma sombra caminhas pela penumbra do meu quarto, se aproximando cada vez mais.

            Uma impressão?

            A sombra vai tomando forma, debruçando-se sobre mim enquanto a encaro com os olhos semi-abertos.

            - Seishiro-san...?

            Ele sorri. Aquele mesmo sorriso. Aquele sorriso de quem não se importa com nada.

            - O que...

            Outra pontada na cabeça.

            Os calafrios aumentaram.

            Minha febre está pior.

            - Você...

            Uma das mãos de Seishiro-san pousa suavemente na minha testa, um suspiro rendido escapa de meus lábios.

            Seu toque.

            Eu sempre ansiei por seu toque em todos esses anos de separação.

            Enquanto ele vai se deitando sobre mim, o sorriso usual permanece em seu rosto.

            - Seishiro-san...

            Não o afasto, mas também não me movo.

            Seu corpo sobre o meu, seus braços a minha volta... Vou fechando os olhos lentamente...

            Esse toque...

            Somente esse toque...

            Ajeito-me em seus braços, encostando a minha cabeça em seu peito – tudo o que mais anseio é permanecer assim para sempre.

            Meus olhos se fecham completamente.

            - Seishiro-san...

            O frio que antes me assolava, agora nada mais é do que uma sensação distante...