Maybe Memories

“Fico pensando, onde foi parar aquele tempo bom? Onde, apesar de tudo o que fizemos, ainda éramos inocentes, ansiando por aproveitar a vida. Onde foi parar todo aquele afeto que havia entre todos nos? Apesar das brigas, todos acabamos sendo como irmãos durante esses quatro meses...

Nossa, foram só quatro meses, não é mesmo? Parece que foram anos. Onde foram parar nossas festas? Nossas risadas e brincadeiras? Onde foi parar nosso romance quase proibido?

Você lembra como nos conhecemos? Há quatro meses atrás?”

(Flash Back Mode on)

Katherine Casay.

_Esse Reality Show vai ser inovador, nunca fizeram algo como uma galera de bandas diferentes viajando pelo país numa turnê, e tudo sendo filmado! É quase um Big Brother alternativo! Por favor, diga que você vai participar! Diga, diga, diga! Não vai ser o mesmo sem você!

_Mas Bam, eu nem tenho banda, não faz sentido eu participar disso! –Eu tentava acalmar os nervos do meu amigo do outro lado do telefone. Era a milésima vez que ele me pedia para participar daquela turnê, viajem, seja lá o que fosse. Mas ele continuava tentando, por mais que eu dissesse nao, todos os dias ele havia ligado, dizia que outras pessoas sem banda também iriam, que na verdade não seria uma turnê só para as bandas. Tentei explicá-lo também que seriam quatro meses de estrada e eu não podia simplesmente deixar de ir na escola, era uma ótima desculpa.

_Mas estamos no fim do ano já! As viagens vão começar no fim de novembro, você já vai estar de férias... Por favor, Kate! –Ele gemeu.

Na verdade eu queria ir, mas sabia que não poderia, minha mãe coruja nunca permitiria que a filhinha única de 16 anos viajasse com o filho maluco dos Margera e mais um monte de marmanjo se drogando e fazendo sexo selvagem por quatro meses dentro de um trailer, e por alguns minutos ela estava certa sobre tudo aquilo.

_Não, Bam... –Suspirei, sabendo que não adiantava explicá-lo, ele estava a ponto de me pagar uma grana pra dizer sim, como ele sempre fazia com os outros. –Anyway, Eu vou pensar, ta bom?

_Ah, legal! –Deu uma gargalhada –Não esquece de chamar as meninas também, okay? Principalmente a Ashley! -O imaginei dando um sorriso safado naquele instante.

_Tá bom... Tá bom.

Desliguei o telefone e me joguei na cama, afundando a cabeça na ruma de almofadas. Como diabos eu ia convencer minha mãe a me deixar participar de um negocio daqueles? Maldita menoridade. Quatro dias se passaram, era domingo de manhã quando Bam voltou a me ligar. Eu já tinha a resposta, e é obvio que ele ficou feliz com ela.

Eu conheço Bam dês de que nasci, quando ele tinha seus nove anos, mesmo com a diferença de idade, fizemos uma grande amizade. Éramos vizinhos naquela época, é uma das minhas melhores lembranças da infância. Mesmo depois de Bam se mudar para outro bairro, continuamos grandes amigos, e hoje eu posso dizer com franqueza que Bam é um dos meus melhores amigos, ao lado de minha prima Roxane, de Ashley e Cassie, que agora se encontravam ao meu lado no mesmo vagão do trem, segurando grandes mochilas e nos preparando para nos encontrar com Bam e o ônibus que nos levaria, por quatro meses, a uma viajem pelo país, eu estava eufórica.

Mamãe ficou irada quando pedi pela quinta vez que me deixasse ir viajar com Bam, gritou um monte de palavrões, perguntou o que eu queria realmente fazer da minha vida, amaldiçoou o caçula dos Margera e todos os meus amigos como se fosse a última coisa que ela faria na vida, e por um momento achei que fosse ser, seu rosto estava vermelho, uma veia verde saltava da testa, achei que fosse morrer do coração à qualquer minuto. Perguntei qual era o motivo de tanta raiva, e ela, com os olhos vermelhos vidrados de ódio, acendeu um cigarro e entregou-me um boleto do colégio, já aberto e até amassado.

Retida.

Eu havia repetido de ano, li aquela palavra três vezes, e olhei bem minhas notas, tentando acreditar.

RETIDA.

Quando imaginamos repetir sabemos o quanto é ruim, mas quando nos deparamos com a palavra vinda de um boleto escolar, simplesmente não sabemos como agir, eu só queria fugir daquilo. E minha mãe voltara a gritar, colocando a culpa em minhas saideiras, em meu modo de viver e em meus amigos, mas não adiantava mais gritar, não é? Acendi um cigarro e sentei do seu lado, a abracei e pedi desculpas sem olhar nos seus olhos, sentia que a palavra

Retida.

estava rabiscada em vermelho chocante na minha testa. Em todas as merdas horríveis que ja havia feito em minha vida, nunca senti tanta vergonha de mim mesma, nunca senti tanta vergonha de olhar na cara de minha própria mãe, que havia pagado pelo colégio todos aqueles anos. Para que eu me tornasse inteligente. Não, eu não achava e nunca cheguei a achar que a inteligencia vem do ato de estudar numa boa escola e tirar boas notas.

Retida.

Fui dormir com a palavra ainda ecoando no meu cérebro que latejava dolorosamente já há alguns minutos, talvez eu tivesse algum começo de enxaqueca, pensei.

Não chorei, também não me arrependi, eu sabia que aquilo havia acontecido por erro meu, por que eu fiquei ocupada de mais trabalhando minha popularidade nos pubs e matinês de todas as cidades da região; E eu não me arrependia disso, nem sentia vergonha. Tudo bem, aconteceu, agora é fazer o ano de novo... Tentar fazer direito. Por mim não tentaria, com 16 anos você não percebe a utilidade da escola de maneira nenhuma, ainda mais quando é uma rebelde sem causa. Bam não tinha terminado o colegial, e era milionário, por que eu precisava, então? Bam teve sorte, minha mãe dizia, e você, vai jogar seu destino pra sorte? Acha que o dinheiro da família vai continuar durando pra sempre? Depois que seu avô se for, a empresa fecha, e todos morrerão de fome na sua família.

Minha mãe nunca dizia nossa família quando se tratava da parte paterna. Ela já não tinha nada a ver com família fazia um bom tempo, então o sermão era sempre jogando em cima de mim, sozinha, quando se tratava da família Casay.

No outro dia de manhã, mamãe me acordou mais cedo, trazendo comida na cama, disse estar arrependida pela gritaria desnecessária da noite passada, e disse que não era ninguém pra ficar me culpando, pois havia desistido da escola na 8ª serie, perguntei, brincando, se também não poderia desistir, e ir viver de skate como o Bam. Mamãe me fuzilou com os olhos, mas tentou rir. Mamãe gostava de Brandon dês de pequeno, quando April arrumara um trabalho e não tinha renda o suficiente para deixar uma babá com o caçula, minha mãe cuidava dele a tarde toda, antes de eu nascer e quando ainda era muito pequena, depois que Bam cresceu, participou do Jackass e do jogo de vídeo-game do Tony Hawk*, mudou seu nome legalmente para apenas “Bam” e começou a beber e se drogar loucamente, minha mãe disse que ele perdeu o brilho inocente que tinha nos olhos, e agora era um rapaz mal educado, sem nenhum pudor ou respeito que só arrumava confusão... Ela nunca esteve errada, e era isso o que eu mais gostava no meu amigo Bam Margera, ele era livre.

Então, do nada, disse que eu poderia ir viajar pela Warped sei lá o que, como ela dizia, junto com Bam, se prometesse me comportar, eu prometi, mesmo sabendo que ela sabia que prometer algo é inútil quando se tem apenas 16 anos com vivencia de uma garota já de seus 20.

Não tinha certeza das bandas que estariam participando da Warped Tour aquele ano, só sabia que, no ônibus onde o Reality seria gravado – o nosso –estariam Bert, Jepha e Quinn, grandes amigos e os únicos da banda The Used que aceitaram participar –Branden era meio chato quando o assunto eram câmeras –Gerard e Frank da My Chemical Romance e três caras de uma banda finlandesa da qual eu só conhecia pelo nome, HIM, eu sabia que um dos três era um grande amigo que o Bam conheceu quando viajou pela Europa, e o mesmo queria muito que eu conhecesse esse cara. Como Bam me disse, Ryan Dunn*, Raab* e Novak* estariam nesse ônibus também.

Bam Margera.

Aquele era um dia que eu não poderia esquecer, estava na grama do parque, sentado ao lado de Dunn quando liguei a câmera para gravar a apresentação dos participantes da Warped.

Apesar de participar do programa, eu também era o co-produtor, e cabia a mim, Bam Margera, gravar com minha câmera portátil de alta resolução as cenas fora do ônibus do reality show, mas é claro, só no começo, dali uma semana, na nossa primeira parada para shows, eu contaria com uma equipe média de filmagens, consegui pechinchar aqueles caras pois os mesmos fizeram parte da equipe de filmagem do Jackass, o qual eu também era co-produtor, o que fazia de mim e aqueles caras bons amigos, o que seria bem mais divertido durante aqueles quatro meses.

(Cena da câmera de Bam)

A cara desfocada de Ryan Dunn aparece na tela.

_Não acha melhor esperar pra gravar quando todos chegarem? O imbecil do Novak, o seu amiguinho gringo e as meninas ainda não chegaram.

_Ele ta aqui sim, o Novak provavelmente vai atrasar por causa da caranga velha... E as meninas vão vir de trem, eu não consigo ficar esperando. –Bam vira a câmera pra ele –Eai, galera? Eu sou Bam Margera e vou introduzir a vocês todas as cenas que não puderem ser gravadas no ônibus, primeiro, vamos dar uma olhada em cada um dos participantes.

_Bam, o gringo não ta aqui não, nem os outros amiguinhos estranhos da banda dele.. –Ryan olha para os lados.

_Cala a boca, eu to filmando. Ville! Cadê o Ville!? –Bam grita.

_Ele ainda não chegou –Uma voz abafada ao fundo responde.

_Viu, falei que ele ainda não tinha chegado... -A camera é pega por Ryan Dunn.

_Tanto faz, já ta gravado o que precisa, depois mando pros produtores e eles arrumam tudo –Bam desliga a câmera.

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Maybe Memories _The Used.