Mesmo tendo decidido pilotar o EVA, Shinji ainda não havia tido a oportunidade de se auto-avaliar num novo combate. Nenhum Anjo havia aparecido nos últimos dias. A Unidade 04 estava finalmente consertada, o que significava que Kaworu estaria na linha de batalha da próxima vez.

Shinji que havia decidido que não iria mais fugir, curiosamente estava agora...

O som do piano parou.

"Se você quer usar a sala, pode entrar, mas não fique aí escondido".

Shinji suspirou. Abriu a porta de correr e adentrou na sala de música. A maioria dos alunos já havia ido embora, as aulas já tinham terminado.

Eles eram o únicos naquele espaço.

Ele ainda não sabia como encarar Kaworu. Queria a amizade dele acima de tudo, mas como pedir isso de volta quando já havia se declarado? - E fora correspondido - Parecia apenas um caminho sem volta.

Não era assim a relação entre Misato e Kaji? Ex-namorados que agora trabalhavam no mesmo espaço e se falavam ocasionalmente?

Sem falar que seus sentimentos não haviam mudado, ele estava apenas o evitando.

Kaworu deu um sorriso melancólico ao vê-lo.

"Eu vou sair pra deixar você usar a sala". Disse se levantando e passando por Shinji. "Você não precisa me evitar desse jeito". Sua voz era calma, mas havia um certo pesar.

"Kaworu-kun". O segurou pela mão.

A quinta criança não se virou.

"O que foi?" Perguntou de costas.

"P-pode continuar a tocar".

"Não tem problema, eu já terminei por hoje". E fez menção de puxar a mão de volta, mas Shinji não o soltou.

"Kaworu-kun..."

"Você pode me soltar?" Pediu apaticamente.

"Olhe pra mim".

Um suspiro escapou de seus lábios. "Se eu fizer isso vou acabar entrando no seu espaço pessoal ou nós vamos acabar brigando".

"Eu não me importo, apenas olhe pra mim". Pediu mais uma vez, soltando a mão dele.

Kaworu estremeceu e se virou. Sua expressão era de dor. "Eu me importo!" Aumentou o tom mesmo olhando diretamente para ele. "Você me rejeitou e a única coisa que eu quero é ficar perto de você. Não pode me dar metade de você e me virar as costas, não é isso que eu quero!".

"Eu não sei o que eu quero...". Murmurou cansado. "Achei que se me afastasse de você eu conseguiria voltar a pilotar o EVA como antes, mas eu estava errado. Isso-". Disse apontando entre eles. "-não tem jeito".

Os ombros de Kaworu pesaram.

"Continua sendo tão ruim pra você?"

"Não". Shinji deu um sorriso fraco. "Porque eu não consigo me afastar de você".

"Pare de lutar contra a correnteza".

E Shinji se viu chorando. "Eu tenho medo".

"Por quê?"

"Eu não quero que você se machuque".

"Arigatou". Sorriu.

"Por que você está me agradecendo?" Perguntou passando a mão sobre o rosto e secando as lágrimas.

"Porque você é o meu elo. É a minha ligação com o destino". Disse daquela forma misteriosa que só ele era capaz.

"E-eu não entendo".

"Tudo bem".

Shinji encostou a cabeça em seu peito. "Kaworu-kun me passa uma sensação familiar... sim, algo quente, como estar em casa". Seus devaneios eram mais para si próprio, mas a quinta criança não se importou em ouvi-los.

"Shinji-kun".

"Hai?"

"Você está no meu espaço pessoal". Sorriu.

Shinji deu um salto e recuou com o rosto ruborizado. "M-me desculpe!" Ele sequer sabia que Kaworu compreendia o que era espaço pessoal.

"Shinji-kun".

"Hai...?"

"É brincadeira".

Kaworu caminhou até encerar a distância entre eles. Os lábios sobre/sob os dele. Shinji bateu com as costas na cauda do piano, as mãos de Kaworu se apoiaram ali, o encurralando. Mas Shinji já estava cansado de fugir.

Quando os lábios de Kaworu recuaram, um calafrio percorreu o corpo de Shinji ao senti-los tão próximo de sua orelha.

"Okaeri". Sussurrou.

Shinji sentiu o peito aquecer. "Tadaima". Respondeu.