Metan escrita por Mika-san


Capítulo 1
A criatura na casa




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Capítulo um – A criatura na casa


“Uma sombra vaga pelas ruas acompanhando um viajante solitário. A diferença entre eles: o viajante era o único que podia sentir a chuva caindo”.

Ridículo. Essa não era uma frase digna de ser escrita. Riku riscou mais essa frase de sua mente; não poderia começar uma história com ela. Não fosse a chuva que caia em torrentes, talvez ele estivesse mais inspirado em escrever.

Riku andava apressado pela cidade procurando um abrigo da chuva, levando apenas uma mochila consigo. Ainda não era noite, mas as nuvens cobriam o céu deixando a vista acinzentada. O temporal que se aproximava convenceu as pessoas a irem para casa mais cedo.

Andando sem rumo, parou repentinamente ao ver um cartaz colado em uma parede. Aproximou-se para ter certeza do que via, mas não havia dúvidas; mesmo com a imagem borrada pela água podia perceber, pela cor verde escorrendo dos olhos da figura e a cor marrom dos cabelos, que agora ele já estava sendo procurado na cidade.

Era mais do que natural um ladrão ser procurado depois de ganhar certa fama. Isso apenas significava que teria de sair logo da cidade e procurar outro lugar; mas essa chuva...

Encostado na parede, Riku esboçou um sorriso amarelo. Quanta sorte ele tinha! Se não pudesse ir embora, com certeza seria encontrado pelos policiais. Ele precisava era de um lugar para se esconder; e agora não poderia se hospedar em estabelecimento algum, pois correria o risco de ser reconhecido. Na verdade, essa possibilidade era tentadora; era um prazer para ele enganar as pessoas e conseguir sair ileso dessas situações, mas na hora de fugir não conseguiria ir muito longe com toda aquela água que não parava de cair.

Pensativo, ele olhou para cima e viu a resposta, literalmente. Os telhados negros da casa da família Miyazaki podiam ser vistos acima das copas das árvores. Os Miyazaki haviam se mudado há alguns anos; e pelo que se sabia ninguém se atrevera a apossar da casa. De acordo com os rumores, algo, ou alguma coisa que residia naquela casa assustara os moradores a ponto de ninguém mais se aproximar do local.

Rumores não passavam de rumores. Estúpidos eram aqueles que acreditavam em assombrações. Perfeito, se os policiais também acreditavam naquela baboseira, então ele estaria seguro por um tempo.

Dirigiu-se a casa mais distante do centro da cidade. Por algum motivo os Miyazaki gostavam de lugares isolados. Talvez se considerassem superiores por pertencerem à classe alta e não suportassem a presença de vizinhos “comuns”. Isso realmente não importava para um ladrão, a não ser que houvessem esquecido algo valioso na casa. Quem sabe não era seu dia de azar não se tornaria o dia de sorte?

Ao vislumbrar a casa de perto, Riku desconfiou ainda mais dos rumores. Apesar de a casa estar em um estado obviamente abandonado, não parecia tão ruim quanto pensara. A grama estava alta e as paredes sujas, mas nada indicava destruição ou fúria de alguma assombração. Nem mesmo a chuva forte ou os relâmpagos fizeram Riku pensar que aquilo chegava a ser assustador.

Apressou-se a entrar na casa e escapar da chuva; e vislumbrou-se com o tamanho do lugar. O chão de mármore, corredores intermináveis e cômodos tão grandes que imóveis poderiam ser construídos dentro deles, tudo no mais completo abandono.

No térreo não havia absolutamente nada. Sem artigos valiosos, nem fantasmas.

Ainda esperançoso de encontrar algo, Riku subiu as escadas para o primeiro andar. Procurando de quarto em quarto qualquer coisa que o interessa-se finalmente encontrou um que, apesar de não haver nenhum objeto de ouro, tinha um guarda-roupa luxuoso.

Não foi uma descoberta tão ruim. Ao menos pode trocar as roupas molhadas por um quimono branco-azulado e se cobrir com alguns lençóis. Agora teria de esperar a chuva passar.

Manteve uma parte da janela aberta para que a pouca luz entrasse e sentou-se abaixou dela. Finalmente encontrara um lugar inspirador para escrever. Abriu a mochila, mas, antes que pudesse puxar o caderno de dentro, o som de passos alertou seu instinto.

Os rumores não poderiam ser verdade não é? Devia ser só impressão dele, não havia mais ninguém na casa.

Congelado pelo momento, sem saber se deveria se esconder, ou se era apenas fruto de sua imaginação, Riku esperou se ouviria o som novamente. Sim, podia ouvir, havia mais alguém na casa, mas era tarde demais para se esconder.

Antes que pudesse ao menos decidir sobre fugir ou permanecer no lugar, alguém já havia se precipitado para dentro do cômodo. Sentiu-se um idiota ao constatar que a criatura que aparecera à frente da porta não passava de uma criança. Perdida, provavelmente.

Ambos se encararam durante minutos. A criança era apenas uma garotinha. Os cabelos eram compridos a ponto de ultrapassarem a cintura. O pequeno rosto infantil indicava uma idade máxima de dez anos. Usava um quimono azul com detalhes de flores escuras.

— Quem é você? – Riku perguntou, irritado por ter se assustado com uma garotinha.

Mas a única coisa que a criança disse não era a resposta.

— Mes-tre. – Ela chamou.

Riku se aproximou da criança. Ótimo, justo ele que não tinha paciência para essas coisas teria de aturar isso?

— O que está fazendo aqui? – perguntou mirando os olhos azuis da pequena.

— Mes-tre? – Ela olhou suplicante para ele.

— Sua família trabalhava aqui? – perguntou novamente, já sabendo que não receberia uma resposta concreta.

Riku descansou a mão no ombro da criança, como para incentivá-la a falar, e constatou uma grossa camada de pó na roupa dela.

— Há quanto tempo você está aqui? – perguntou surpreso.

— Levaram... Mes-tre... – A criança informou.

—Seu mestre, não é?

Riku passou a mão atrás da cabeça da garotinha, descendo até abaixo da nuca. Sentiu uma estranha camada endurecida sob a pele dela, que comprovou sua teoria.

— Você é um metan? Está procurando seu mestre?

A garota apenas o encarou sem dizer nada.

Rapidamente Riku pensou nas possibilidades. Metans eram extremamente valiosos. Não seriam uteis para ele, mas poderia vendê-los por um ótimo preço. No final das contas, os Miyazaki deixaram-lhe sim algo de valor. Um metan abandonado. Metans viviam por apenas um objetivo, e ao perderem a razão pela qual viviam simplesmente se desligavam ou eram destruídos. Provavelmente aquele metan da casa não percebera sua situação de abandono, por isso ainda estava funcionando.

Muitos estavam interessados na tecnologia dos metans, Riku conhecia alguém em especial que pagaria um bom preço para desmontar um. Bastava apenas convencer essa criaturazinha a seguir o caminho com ele e finalmente poderia concluir seus objetivos.

— Se perdeu do seu mestre? – Riku escondeu um sorriso, mesmo não sendo necessário, pois metans não conseguem entender expressões humanas.

— Mes-tre... Foi... – Nem mesmo a aparência infantil do metan sensibilizaria Riku, pois metans não eram humanos.

— Não se preocupe, eu te levarei ao seu mestre. – dizendo isso, Riku fixou seriamente os olhos do metan, era preciso fazer a criatura entender o que ele estava propondo. – Basta você me seguir.

O metan não respondeu imediatamente, parecia precisar de tempo para concluir que se seguisse aquele homem encontraria seu mestre.

— Obri-gada.

Foi mais fácil do que Riku pensara.

— Por acaso não há mais algum como você nessa casa?

A garota nada respondeu, talvez por não entender a pergunta.

Mas não deveria mais haver metans abandonados por ali, apenas um era o suficiente para servir uma família.

— Bem, esperaremos esse tempo passar e então iremos atrás do seu mestre.

Riku voltou para o seu canto de descanso e percebeu que a garota o seguira da entrada da porta até ficar à sua frente, esperando um próximo movimento. Realmente ela iria segui-lo até encontrar a pessoa que tanto chamava.

— Deram um nome a você? – ele perguntou distraidamente, voltando a pegar o caderno.

— Az... Az... – o metan fez um grande esforço para pronunciar o nome.

— Az, entendi.

Riku voltou ao caderno. Quando a inspiração é escassa, resta apenas relatar os acontecimentos, como a um diário. No momento, o que havia de mais interessante para escrever, além do metan abandonado? Fazia muito tempo desde que vira um metan, e desejava não se lembrar dessa época. Tudo o que sabia sobre metans podia ser resumido em uma palavra: armas; um revolver ou um metan, não haveria diferença entre eles se não fosse a aparência. Olhando de relance para a garotinha à sua frente, escreveu: “Olhos tão tristes e humanos que escondem uma criatura sem alma”. Mas uma criatura valiosa – pensou ele.



A manhã nasceu límpida, com o costumeiro brilho do verde após a tempestade.

Riku abriu os olhos lentamente e a primeira coisa que viu foi o metan ainda parado em pé no mesmo lugar, esperando que ele mostrasse o caminho até seu mestre.

— Droga. – Riku colocou a mão sobre os olhos, protegendo-os da luz que vinha de fora. – Dormi demais.

Em seu colo o caderno ainda estava aberto na mesma página em que escrevera. Guardou-o rapidamente na mochila aberta ao seu lado e levantou-se dolorosamente. Não deveria ter dormido em uma posição tão desconfortável. Verificou que suas roupas ainda estavam molhadas e teria de continuar usando o quimono, embora não gostasse desse tipo de roupa.

— Vamos. – jogou a mochila nas costas e nem olhou para trás, pois tinha certeza de o metan estaria seguindo-o.

Agora, com os corredores iluminados, poderia procurar melhor por algo mais que houvesse de interessante na casa, mas era melhor sair da cidade o quanto antes, e de preferência sem chamar atenção.

— Droga. – Riku suspirou agonizado por sua sorte mais uma vez.

Rodeando a porta da casa havia pelo menos dez policiais. Todos vestindo uniformes azuis e apontando as armas para Riku.

O ladrão rapidamente tentou pegar a adaga que sempre deixava presa no canto da mochila, porém mal puxara de seu esconderijo e um policial gritou:

— Mãos ao alto!

Riku não se moveu, tampouco se abalou. Encarou friamente os olhos do policial. Passar por uma situação dessas novamente só fez seu humor piorar.

— Eu mandei erguer as mãos!

Lentamente, Riku sacou a adaga e, com ligeiros movimentos, afastou-se para o lado, revelando o metan escondido atrás de si, e posicionou a adaga abaixo do queixo da garota à poucos centímetros da garganta.

— Uma criança! Você seqüestrou uma criança! – Dentre os policiais, uma voz feminina soou.

— O que vão fazer agora? – Riku descansou a mão na cabeça do metan como se estivesse forçando-o a ficar ali. – Eu sugiro que se afastem, assim ninguém será ferido. - O ladrão sorriu pacificamente brincando com a situação.

— Riku! De todos os seus crimes não há nenhum assassinato! Você não é capaz disso! – Outro policial intrometeu-se, este aparentando nervosismo misturado com raiva.

Riku encarou este policial, voltando a ficar sério; e sem desviar o olhar, perfurou de leve o pescoço do metan até sentir o sangue vermelho escorrer em seus dedos.

A peça seguiu absolutamente perfeita de acordo com a ideia de Riku. Os policiais entenderam que ele não estava brincando... Ou pelo menos era isso o que pensavam. Eram apenas idiotas que se meteram em seu caminho; acreditaram que aquela criatura era uma criança... Bem, Riku não poderia culpá-los depois de também ter se deixado enganar pela aparência do metan. Mas aquilo não era humano.

Ele apenas estranhou o fato do metan nem mesmo ter se movido ao ser cortado. Até mesmo essas criaturas sem consciência ou sentimento podiam sentir dor.

— Ainda estão aqui? – Riku falou em tom de ameaça. – Será que terei de cortar...

— Monstro! – Em seguida o estampido de um tiro ecoou.

Em uma fração de segundo Riku viu a arma apontada para sua cabeça, e em seguida um estranho material branco interceptando a trajetória da bala.

Medo de ser atingido era algo que não existia na mente dele, porém espantou-se ao ver algo semelhante à placas de metal saindo das mangas do metan e cobrindo sua frente.

Metans eram armas biológicas com certas habilidades para modificar o próprio corpo, como, no caso de Az, criar placas endurecidas na pele e manipular sua forma e extensão.

— Ajuda... Pro-curar... Mes-tre. – Az levantou a cabeça olhando de forma suplicante para Riku. O sangue escorrendo de seu pescoço sujava ainda mais o quimono empoeirado.

Riku sorriu em seus pensamentos, apesar de ainda estar usando a expressão de espanto. Aquele metan entendia que para encontrar seu mestre e cumprir seu objetivo precisava de Riku vivo; e isso seria uma grande vantagem.

Outra arma disparou quando um policial assustou-se com a estranha forma da criança.

Az rebateu a bala criando outra extensão de seu corpo, utilizando esta para lançar o policial em seguida.

Riku cruzou os braços aproveitando o show. Metans não foram feitos para defender, mas sim atacar.

Novas extensões começaram a aparecer ao longo dos braços da criatura, afiadas como espadas. Cada uma apontando na direção de um policial.

— Metan! – Um deles gritou e fugiu.

— Essas coisas de novo não! – Outro seguiu o exemplo de covardia.

Enquanto isso, Riku estava apenas se divertindo. Os metans foram usados na última guerra e ninguém, fosse aliado ou inimigo, guardava boas recordações deles.

Az não esperou o restante fugir, lançou a extensão em outro policial que foi puxado por um parceiro a tempo de não ser atravessado pela lâmina.

— Então isso é um metan... Retirem-se! Agora! – A policial ordenou.

Nenhum deles precisou de uma segunda ordem para desaparecem do local o mais rápido que suas pernas podiam correr.

— Levar... Mes-tre... – Az virou-se novamente olhando para Riku assim que ninguém mais sobrara além deles.

— Sim. – Riku sorriu mais uma vez, satisfeito de poder garantir sua segurança até encontrar o comprador que procurava. – E você não pode deixar que me machuquem; esse é seu objetivo para encontrar seu mestre.

As extensões retornaram para o corpo do metan. Era apenas uma criança perdida novamente no mundo dos humanos.


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Notas finais do capítulo

Sinto que deveria escrever algo aqui -.- mas como nada me vem em mente, fica o pedido habitual: Gostou? Comenta *-*



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