Pura ilusão.

Ela ainda podia sentir o toque suave dele em sua pele. Melhor sensação não havia. Aquele toque que a hipnotizava, a enlouquecia, a apaixonava.

Lembrava-se do seu beijo e de como seus lábios pareciam se encaixar perfeitamente.

Seu riso ainda ecoava por todos os quartos da casa. Havia momentos em que ela tinha certeza: ele voltara! Mas, não. A madrugada mantinha-se fria e solitária.

O que havia feito de errado desta vez? Suas palavras o ofenderam? Suas ações o incomodaram?

Seu amor já não era o suficiente para ele?

Dear, I fear we're facing a problem

(Querido, temo que a gente esteja enfrentando um problema)

You love me no longer, I know

(Você não me ama mais, eu sei)

And maybe there is nothing

(E talvez não exista nada)

That I can do to make you do

(Que eu possa fazer para você me amar)

Há tanto tempo parecia que ele havia saído por aquela porta. As horas passavam cada vez mais lentamente, querendo torturá-la.

De noite, Victoire só aguardou. É, claro que ele voltaria. Sempre voltava! Apenas mais uma briga, nada que não fossem superar... O seu sorriso triunfante dissipou-se: algo diferente aconteceu daquela vez.

Notou que no céu já não tinham mais estrelas, no horizonte já se podiam ver os primeiros raios de sol e que, principalmente, pela porta ninguém entrou.

Uma lágrima começou a escorregar por sua face e ela finalmente disse:

– Ele não volta.

Teria de aceitar o fato de que já amanhecera e de que não tinha ninguém ao seu lado.

Sentou-se no chão frio, enquanto aquela lágrima insistia em percorrer o seu rosto.

“Droga! Droga! Droga!” amaldiçoava-se mentalmente. Percebera talvez tarde demais a falta que o seu metamorfomago lhe fazia. Malditos fossem aqueles olhos e cabelos que mudavam conforme seu humor! Pior era a última lembrança que ela tinha deles: estavam negros quando saiu dali. O que isso significava? Algo bom não devia ser.

Lately I have desperately pondered,

(Ultimamente tenho pensado desesperadamente,)

Spent my nights awake and I wonder

(Passei minhas noites acordada e imaginando)

What I could have done in another way

(O que eu poderia ter feito diferente)

To make you stay

(Para te fazer ficar)

Começou a viajar novamente em sensações. Não queria ficar pensando mais nelas, mas parecia agora que ele havia pousado sua mão em seu ombro esquerdo e aquilo lhe fazia sentir-se tão melhor...

– Vicky?

Ela acordou de seu devaneio. Teria sua mente feito a maldade de projetar aquela voz conhecida ou seria real? Levantou-se num impulso e se virou, de olhos fechados.

– Victoire? – a voz grave e um pouco rouca tornou a dizer.

Ainda temendo abrir os olhos e se decepcionar, ela estendeu suas mãos para frente esperando tocá-lo. Enfim, as pontas de seus dedos encostaram em algo. Seria seu pescoço? Tateou até chegar aos cabelos lisos e levemente rebeldes do rapaz.

O sorriso apareceu pela primeira vez no dia no rosto de Victoire.

– Se você quiser pode abrir os olhos – agora ela sentia um tom um tanto risonho naquela voz.

Obedeceu.

– Você é cruel, sabia? – ela mantinha o sorriso e agora via perfeitamente o noivo à sua frente.

– Me desculpa? – ele pediu, quase suplicante. Seu sorriso tinha de ser tão irresistível!

– Por ter me deixado sozinha a noite inteira, por causa da briga ou por fazer mais falta à mim do que devia, chegando a ser irracional?

– Pelos trê...?

Victoire não deixou que ele concluísse sua linha de raciocínio e logo o calou com um beijo, que deixou o rapaz aturdido.

– Desde que você nunca mais vá embora.

As long as you don't go

(Contanto que você não se vá)

Love me, love me

(Me ame, me ame)

Fool me, fool me

(Me faça de boba, me faça de boba)

Love me, love me

(Me ame, me ame)

I can't care 'bout anything but you...

(Eu não consigo me importar com nada a não ser você...)