A mão dela movia rapidamente com o lápis no papel tentando, em vão, reproduzir o rosto do garoto deitado na sua cama.
Não importava o quanto ela desenhasse, apagasse e desenhasse outra vez, só conseguia pensar que comparado ao real seus desenhos pareciam simples borrões na folha branca. Mesmo que desenhar fosse o que ela mais gostava de fazer, era difícil representar-lo fielmente. Pegar em um lápis e simplesmente criar imagens e sentimentos onde antes nada existia era mais fácil.
O telefone tocou e ela levantou do puff verde com pressa, temendo que o garoto acordasse com o barulho. Era difícil já que ele dormia como uma pedra, mas ela ainda se preocupava. Luke era a sua pedra linda, loira e barulhenta.
Antes de chegar ao telefone ela tropeçou nos tênis largados no chão e quase perdeu o equilíbrio. Isso a fez soltar um muxoxo de desaprovação, acompanhado com uma das caretas clássicas dela. Felizmente, ela chegou ao telefone inteira. Tarefa difícil, devo dizer.

Qual não foi sua surpresa ao descobrir que não era seu telefone fixo que tocava, mas sim o celular largado no emaranhado de roupas tiradas com pressa na noite anterior? Correu para o meio do quarto (o que foi rápido, já que ele não era muito grande mesmo) e desenterrou uma calça do meio da bagunça. Tirou o celular do bolso.
Uma chamada perdida. O número que constava na tela era o de… Luke?
- Mas que idiota – ela pulou na cama, ficando bem próxima do corpo dele – não tá dormindo que eu sei!
Ele começou a rir imediatamente. Tirou a mão de baixo de seu travesseiro, onde estava escondendo seu celular. Na tela, o número dela, obviamente.
- Eu sabia que você ficaria brava, mas sua cara de desespero quando caiu valeu apena –  ela riu junto com ele. É, ela era uma desgraça.
- Aliás, não sou idiota coisa nenhuma. Como se sua mãe fosse te deixar casar com um idiota – ela levantou uma sobrancelha, sem nada a dizer, e ele levantou o tronco se sentando na cama.
Luke proveitou que suas mãos estavam próximas da cintura dela e começou a fazer cócegas. Logo, a risada dos dois enchia o apartamento e talvez até o prédio inteiro. Corriam pelo quarto, fugindo das mãos um do outro, se divertindo como duas crianças.
Quando conseguiu alcança-la, Luke agarrou-a pela cintura e puxou-a para perto de si. Extremamente perto. Ele a virou e seus narizes se chocaram. A luz do sol que transpassava as cortinas brancas quase transparentes fez com que os olhos dele parecessem ainda mais claros e ela se sentiu hipnotizada pela cor suave de mel. Mergulhou nas cores, se afogando em pensamentos bons sobre os dois.
Ele por sua vez observava cada pequena sarda do rosto dela, também evidenciadas pela luz. Eram bem pequenas e clarinhas, só podendo ser vistas de perto. Sentiu orgulho de poder observa-las e talvez ser o primeiro, além da própria garota, a percebe-las.
Ela passou a mão pela base do pescoço dele, arranhando de leve. Ele parou de observar as sardas dela, dirigindo seu olhar aos lábios. Um ensaio de beijo.
Sorriram.
- Você sabe. Deve saber, mas eu acho que eu tenho que te falar. Eu não sei – riu – eu… - Shh, Luke.

Ela pôs um dedo sobre os lábios dele, interrompendo o que quer que ele fosse dizer. Um leve vento balançou as cortinas, chocando contra a pele exposta deles.
Não se importaram com o frio repentino, assim como ele não se importou por ela tê-lo impedido de dizer como a amava. Os dois sabiam disso. Nada os impedia de ficarem juntos.
Não precisavam de palavras.