Um Beijo Final escrita por Luza Black


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Uma história louca que surgiu duarante uma noite de insonia :p



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Ao meu redor corpos dançavam, bocas se beijavam, bebidas alcoólicas eram ingeridas como água e um barulho ensurdecedor de tuti-tuti-tuti-tuti desnorteava a todos. Mas ninguém se importava, ou talvez fingiam não se importar.

 

Levei meu copo aos lábios dando um gole na bebida, quase engasguei ao sentir o sabor. Tem coisa pior do que coca-cola quente? Nesse momento, só essa musica mesmo.

 

Sabe o que mais me irritava? Uma festa onde só tem cerveja e vodca. É, eu não bebo esse tipo de bebida, não sou retarda para acabar com o meu figado em uma única noite, como parece que todos aqui querem acabar. Eu amo minha saúde o bastante para ter procurado algo descente para beber e o que eu acho? Uma latinha de coca-cola no fundo de um armário.

 

Que droga!

 

Tento sair do lugar onde me encontro, escorada no balcão da cozinha da casa de um desconhecido. Me espremo no meio da multidão, acho que tinham quatro pessoas por metro quadrado e, mesmo eu não sendo um gênio da matemática, acho que é muita gente para pouco espaço.

 

Varri os olhos pela casa a procura de Annie, minha querida amiga que me meteu nessa furada. Tudo isso por causa do novo namoradinho punk dela, um cara cheio de tatuagens e pircings que tem escrito na testa PROBLEMAS, mas a Annie ficou cega de amor por ele, um sujeito que não tem nenhuma perspectiva de futuro.

 

Fala sério! Porque ela não podia ter se apaixonado por um cara bonzinho? Ou pelo menos um que não fume maconha?! Ta, eu não sei se ele fuma maconha, mas também não duvido nada!

 

Pensei em gritar o nome dela, mas não ganharia das duas caixas de som que faziam o chão tremer. É... quando eu encontra-la ela vai ver só uma coisa.

 

Eu ia empurrando algumas pessoas para passar, sem nem tentar ser educada ou cuidadosa. Só o que desejo nesse momento é chegar em casa, tomar um banho quente e dormir a noite toda.

 

Cheguei a sala, onde o barulho era maior, e avistei minha amiga sentada no sofá, enroscada no namorado, os dois se beijavam apaixonadamente, um beijo quente demais pro meu gosto.

 

Fui até eles pisando forte. A Annie é mesmo uma traíra! Me traz para uma festa em um lugar suspeito, com os amiguinhos suspeitos do namoradinho suspeito.

 

Eu nunca mais virei com ela a um lugar desses, fato! Na próxima vez que ela quiser cobertura para fazer uma maluquice, ela que vá atras de outra amiga!

 

— Annie! - gritei para me fazer ser ouvida. Ela continuou se agarrando com o punk. - ANNIE! - gritei mais alto. O beijo foi interrompido e os dois olharam para mim.

 

— O que foi, Lily? - perguntou ela, entediada.

 

— Preciso conversar com você, mas sozinha – falei.

 

— Ta legal – disse ela – Eu já volto, amoreco – disse toda manhosa dando um selinho nele.

 

Puxei minha amiga pelo braço até a porta da frente da casa, quando nos vimos livres do som eu virei de frente para encara-la.

 

— Você perdeu o juízo? Se é que um dia já teve! - exclamei – Como pôde me arrastar para um canto desses?

 

— Relaxa, Lily. Não tem nada de errado com esse lugar – disse ela dando de ombros.

 

— Nada! Como assim nada?! Você já olhou em volta, querida? - falei perdendo a paciência.

 

Ela deu uma olhada no lado de fora da casa, latinhas vazias por todo o chão, carros mal estacionados na grama e papel higiênico cobrindo quase todo o telhado.

 

— Quê que tem? - perguntou.

 

Minha sobrancelha tremeu ao ouvir a sua frase.

 

— Tudo! Eu vou embora! - falei andando para o asfalto.

 

— Lily! Não vai! Ta, eu prometo que daqui a meia hora vamos pra casa, ok? - disse ela.

 

Suspirei.

 

— Só meia hora, né?

 

— É. Deixa eu ficar com o Digo só um pouco, vai?

 

— Eu já te disse que esse cara é roubada! Ele não vai te levar para um bom caminho – disse essa frase pela milionesima vez, só hoje.

 

— Eu não sou tão influenciada assim! - opinou ela.

 

Olhei para suas roupas: short jeans curto, blusa preta decotada e um pircing falso no nariz.

 

— Ta, sei – ironizei. Ela fechou a cara.

 

— Vai ficar comigo ou não? - disse ela.

 

— Ta! Eu fico! - dei-me por vencida.

 

Nós duas voltamos para dentro da casa, mesmo que eu estivesse morrendo de vontade de sair correndo, não podia abandonar minha amiga maluca e super influenciável ali. Imagina o que aprontariam para ela?

 

Sentei em um pufe amarelado, que um dia foi branco, e fechei os olhos por um minuto. Ouvia as vozes das pessoas que conversavam a minha volta. O som, que agora tocava uma musica com um letra ridícula, estava me enlouquecendo.

 

Calma, Lily, ta tudo bem. Leve sua mente para outro lugar, pensava eu. Tentei seguir meus conselhos, mas foi impossível quando ouvi um grito vindo de fora, grito esse que não fora notado por mais ninguém ali presente.

 

Levantei, o grito veio de fora, fui em direção a porta e depois cheguei ao jardim poluído de porcaria.

 

Gritaram de novo! Um grito feminino. Em seguida outro grito, agora masculino. Segui o som, tentando encontrar os donos dos gritos. Digitei o numero da policia em meu celular e fiquei com o dedo preparado para ligar.

 

Outro grito, esse foi arrepiante, horrível e desesperado, como se... como se a vida estivesse se esvaindo de seu corpo. As luzes dos postes fraquejavam, deixando a rua deserta com uma atmosfera macabra.

 

Engoli em seco e a adrenalina acelerou meu coração me preparando para fugir ou lutar. Quase fiquei com a primeira opção, mas sou curiosa ao extremo e quando dei por mim, meus pés me guiavam para além da rua deserta.

 

Passei por vários carros, cada vez mais distante da festa, o coração a mil e o instinto de sobrevivência gritando: Não vá, não vá!. Mas algo me atraia e segui em direção ao som.

 

Cheguei no final do quarteirão. Ouvi passos, estavam cautelosos, como um... como um leão esperando para atacar. Foi quando eu os vi, um casal que um dia fora jovem estava ali, ambos largados ao chão, cabelos bem brancos, pele muito enrugada, pareciam múmias.

 

— Ai, meu Deus! - exclamei

 

Recuei, e apertei o botão verde do celular. Pus o aparelho no ouvido enquanto me virava para correr o mais rápido que eu podia.

 

Mas alguém apareceu na minha frente e arrancou o objeto das minhas mãos.

 

— Não faria isso se fosse você – disse uma voz grave.

 

Dei dois passos para trás.

 

— Quem é você? - perguntei assustada, reparando na aparência do homem.

 

Ele devia ter seus vinte e cinco anos, cabelos cor de mel, pele clara, olhos cor de âmbar, sorriso torto, corpo cheio de músculos bem definidos, vestia um jeans preto e uma blusa azul marinho. Era muito lindo e sedutor.

 

— Eu? - repetiu a pergunta em um sorriso – Uma pessoa inesquecível. - ele deu um passo em minha direção e eu um passo para trás.

 

— O que fez com eles? - perguntei me referindo ao casal.

 

— Uma coisa que só gente idiota merece – disse ele me encarando nos olhos e por um momento senti como se pudesse ler minha alma, paralisei no lugar.

 

Ele se aproximou, eu não conseguia me mover, totalmente hipnotizada pelo seu olhar. Ele era tão lindo! Parecia galã de novela, não, na verdade ele parecia um príncipe. Abriu um sorriso de dentes brancos e alinhados perfeitamente.

 

— Mas você não é como eles, não é? - disse ele, seus dedos tocaram meu rosto, ele era quente e sua pele parecia seda, era incrível o seu toque.

 

— N-não sou? - perguntei com a voz tremula.

 

— Não, você não é – disse carinhosamente, a voz doce, como um bálsamo para a audição. - É inteligente, meiga e generosa. Tem também uma personalidade forte, é impulsiva, mas faz tudo com cautela e tenta medir as palavras. Você é uma pessoa boa, Lilian, e isso torna as coisas mais difíceis pra mim – continuou ele com o mesmo tom de voz.

 

— Torna o que mais difícil? - perguntei num fio de voz.

 

— Entenda, não é pessoal, mas você viu o que fiz e não posso deixar testemunhas. Ossos do oficio. - disse ele se lamentando.

 

— Vai fazer o mesmo comigo? O que fez com eles? - perguntei com um nó na garganta.

 

— Tsc, sinto muito mesmo – disse ele, sincero, ou parecendo ser sincero.

 

Senti as lagrimas me fugirem.

 

— O que você é? Um vampiro? - perguntei com a voz embargada pelo choro.

 

Eu não queria morrer, ou ter o mesmo destino que aqueles pobres coitadinhos tiveram.

 

Ele riu, um riso fofo e contagiante.

 

— Um vampiro? Não, eu não me alimento de sangue para viver. Eu sou um Caçador de Almas. - disse sorrindo misteriosamente.

 

— Vai levar minha alma?! - exclamei horrorizada.

 

— Na verdade... é... mais ou menos isso sim. Mas sua alma não é pra mim, eu me alimento de juventudes.

 

— De... juventudes?

 

— Mas eu prefiro apenas as desperdiçadas, adolescentes que vivem drogados ou bêbados, em raves até a madrugada, eles não merecem ser jovens, não sabem viver. - disse ele – Então eu apareço e pego suas energias, sua vitalidade e no fim é isso que sobra – disse ele apontando para os dois que estavam no chão.

 

— Isso não é justo – afirmei – não tem o direito de fazer isso! Não pode fazer isso!

 

— Claro que posso, faço isso a quase três séculos, e não é agora que mudará minha concepção. - e um sorriso sinistro surgiu em seus lábios.

 

— Olha! Eu prometo que não conto nada a ninguém, e quem acreditaria mesmo? - falei – Eu vou embora e finjo que nada aconteceu, que tal? - dei um sorrisinho amarelo que pareceu mais uma careta.

 

Ele suspirou e colocou um mecha do meu cabelo detrás da minha orelha, segurou meu rosto entre suas mãos.

 

— Eu queria poder fazer isso, mas não posso – e me olhou no fundo dos olhos.

 

Minha respiração acelerou, meu coração batia mais rápido do que nunca, cada centímetro do meu corpo se arrepiou. E o medo, meu Deus!, o medo e o desespero me consumiram.

 

Frio, um frio que jamais senti antes, era como se todo o calor que eu possuía estivesse se esvaindo. Eu queria gritar, mas não podia atrair mais ninguém para essa armadilha letal, esse seria meu ultimo ato de bondade.

 

A minha vida passou diante dos meus olhos como em um flash e a única coisa que eu fiz foi rezar para que Annie não viesse atrás de mim, para que ninguém me procurasse, não, nenhuma pessoa que eu amo poderá ter esse mesmo fim.

 

Minhas pernas fraquejavam, todo o meu corpo amoleceu, minha vista ficou turva, meus pulmões não se enchiam mais de ar, eu estava sufocando.

 

Fechei os olhos e esperei a morte chegar.

 

**

 

— Ah!- arregalei os olhos e inspirei a maior quantidade de ar que foi possível.

 

Respirava rápido, com medo de que o ar me faltasse outra vez.

 

Eu estava dormindo, então? Tudo não passou de um terrível pesadelo? Ufa!

 

— Não foi um pesadelo – eu dei um pulo e me arrastei pelo chão até minhas costas baterem na parede.

 

— Fica longe de mim! - gritei.

 

Estava escuro, mas deu para ver que era uma casa, ou o que restou de uma, o lugar estava caindo aos pedaços. A única fonte de luz era a lua cheia.

 

— O que fez comigo? Onde estou? - perguntei.

 

Eu estava tremendo, com medo de que ele tentasse me matar de novo. Foi a pior sensação que já senti em toda a minha vida!

 

— Você não está morta, se é isso que quer saber – disse ele, se movendo de onde estava e vindo até mim.

 

Me encolhi o máximo que pude.

 

— Me deixa em paz! - pedi.

 

— Calma, não vou fazer nada com você – disse ele, a voz suave e encantadora.

 

— E por acaso acha que acredito em você? - perguntei.

 

Ele riu.

 

— Não, sei que não acredita em mim. E peço desculpas pelo o que fiz aquele dia.

 

— Aquele dia! - exclamei – Como assim aquele dia?

 

— Está desacordada a três dias, foi o que precisou para se recuperar – disse ele – E o meu nome é Calebe, foi um prazer te conhecer.

 

— Não posso dizer o mesmo. E acho que já sabe o meu nome. - falei.

 

— Sei.

 

— Onde estou?

 

— Segura, não se preocupe.

 

— Não me preocupar? Você tenta me matar, me sequestra e me diz para não me preocupar?! Só pode estar louco! - eu disse e tentei ficar em pé, mas minhas pernas estavam moles, eu estava cansada.

 

— Não levante, ainda não esta forte o bastante – disse Calebe sentando-se ao meu lado.

 

Eu estava com frio, olhei pela janela e reconheci as sombras de algumas arvores.

 

— Me trouxe a uma floresta?

 

— Não, é uma montanha. Por isso está com frio.

 

— Hum... posso ir pra casa?

 

— Não.

 

— Foi o que pensei – suspirei. - O que quer de mim? Ou melhor porque me deixou viver?

 

Ele nada disse, manteve a expressão séria, encarando a janela.

 

— Não sei – sussurrou depois de um tempo.

 

— Como não sabe? Você fez parecer que era tão fácil matar pessoas e pegar sua... vitalidade – falei duvidando das minhas palavras. - É isso que faz não é? Rouba almas.

 

Ele deu um sorriso torto melancólico.

 

— Sei que me odeia e não a culpo. Sou um monstro.

 

— É, você é um monstro. - afirmei.

 

O olhar dele foi em minha direção, estava clara a tristeza.

 

— Quer ouvir uma historia, Lilian? Ela não é um conto de fadas e esta longe de ter um final feliz.

 

— A sua historia? - perguntei, ele assentiu – Por que quer conta-la?

 

— Quer ouvir?

 

Fiquei na duvida.

 

— Quero – concordei por fim. Algo me dizia que eu poderia me arrepender, mas eu já estou na toca do leão mesmo, estar viva já é uma conquista.

 

Eu não era assim, ninguém nasce com esse destino. No ano de 1789 eu vivia uma vida normal, tinha uma esposa, ela era minha vida, eu a amava mais que tudo. Até que um dia ela adoeceu, eu enlouqueci e tentei fazer de tudo para cura-la, gastei todo o dinheiro que possuía, mas nada dava resultado.

 

Certo dia eu caminhava desconsolado pela rua, eram 3 horas da manhã e eu tinha acabado de sair para comprar alguma comida, então um homem apareceu, suas vestes eram negras e seu olhar arrepiante. Ele me chamou pelo nome e eu pensei: Como ele sabe o meu nome? Nunca o vi antes. Então me fez uma proposta:

 

— Posso curar sua esposa, Celebe

 

— Como sabe da minha esposa? - perguntei

 

— Eu sei de muitas coisas – respondeu ele.

 

— Não tenho mais dinheiro – confessei. Ele riu.

 

— Não preciso de dinheiro.

 

— Então como posso paga-lo?

 

— Com sua liberdade, terá que trabalhar para mim – disse ele, seus olhos eram de um castanho avermelhado assustador.

 

— Eu aceito – falei.

 

— Preciso que assine esse contrato – disse o homem tirando um papel e uma pena do bolso.

 

— Fala sério?

 

— Falo – disse ele.

 

— Não tem tinta – eu disse. Ele tirou um canivete do bolso e rapidamente fez um corte em meu braço. - O que foi isso? - exclamei ao ver meu sangue escorrendo.

 

— A sua tinta – respondeu ele. Eu estava desconfiado, mas acabei por assinar o contrato com o meu sangue.

 

No dia seguinte minha esposa acordou boa milagrosamente. Tão boa que quis ir ao mercado fazer compras para a casa. Eu estava feliz! Muito feliz, até... receber a noticia de que ouve um assalto a uma loja e ela fora morta por uma bala perdida.

 

Meu mundo veio a baixo naquele momento. Nada mais vazia sentido. Naquela mesma noite bateram em minha porta, era o homem do contrato

 

— Hora do meu pagamento. - disse ele.

 

— Não vou te pagar nada, ela morreu! - exclamei furioso.

 

— Não por minha culpa, eu a curei assim como o combinado. E agora preciso do meu pagamento. - ele bateu a porta ao entrar em minha casa.

 

— Não trabalharei para você – garanti.

 

O sorriso dele me assustou, seus olhos estavam em brasa, vermelhos e sem órbitas.

 

— Vai sim – afirmou ele, quando dei por mim sua mão já estava em meu pescoço, minhas costas contra a parede e eu estava na ponta dos pés. Tentei lutar, mas a falta de oxigênio me enfraqueceu completamente.

 

Ele me encarou e por um momento senti como se estivesse sendo enterrado vivo, o ar me sumiu, me senti preso em minha própria pele. Eu queria fugir, encarar o meu destino, que naquele momento me parecia a morte, mas algo me manteve ali, meu corpo estava dormente, minha garganta queimava. Quando finalmente ele me soltou, eu cai no chão, completamente enfraquecido.

 

—Seu trabalho será caçar almas, mata-las e assim envia-las para o outro plano. Não tente resistir, será mais forte do que você. E em troca desse trabalho receberá um presente: a eterna juventude. - e assim ele se foi.

 

Eu não iria matar pessoas só porque ele mandou, de jeito nenhum, não queria isso pra mim. Levantei com muito esforço e, sem querer, olhei minha mãos, elas pareciam a de um velho, fui para a frente de um espelho, o reflexo me sobressaltou, ali estava um senhor de 90 anos e não o meu corpo de 25.

 

Fiquei desesperado, não sabia o que fazer. Então a campainha tocou, era a filha da vizinha para me dar os pêsames, ela era nova, tinha uma pele de pêssego e muita vitalidade. Sem saber o que eu fazia me aproximei dela e puxei para dentro de casa, olhei-a nos olhos e vi a vida se esvaindo do seu corpo a medida que eu a absorvia para mim.

 

A sensação era maravilhosa, como se tivesse tomado um barriu de café, eu estava cheio de energia, mas a garota estava caída aos meus pés, sem vida e velha. Ao vê-la naquele estado entendi o que o homem de preto quis dizer com 'não tente resistir'.

 

Eu me sentia mal, minha cabeça rodou e cheguei a conclusão que não poderia viver matando gente inocente, tentei suicídio, mas de nada adiantou.

 

Desde então vivo, se é que essa existência pode ser chamada de vida, me alimento de juventudes, recolho almas e cada vez mais afasto minha humanidade.

 

A historia acabou e voltei ao presente. Coitado dele!

 

— Que triste – falei com lágrimas nos olhos.

 

— É a minha historia – suspirou ele – Nada animadora, não é?

 

— E quem era aquele homem? - perguntei.

 

— Eu nunca tive certeza.

 

— Hum... estranho...

 

— Uma vez tentei salvar uma moça, um moça boa pela qual eu tive um carinho muito grande e naquele dia ele apareceu para mim outra e ultima vez. Me disse que amar não podia mais existir pra mim, que não podia permitir isso.

 

— E?

 

— Sumiu em um piscar de olhos. E a partir daquele dia mais um ponto foi acrescentado a minha maldição.

 

— Isso é mesmo horrível. - falei.

 

— Estou apaixonado por você, Lilian. Vi sua alma e me apaixonei. Por isso não consegui mata-la.

 

Eu tomei um susto.

 

— Apaixonado por mim?! - exclamei. Ele assentiu, envergonhado.

 

— E agora não tem jeito, seu destino foi selado. - disse ele.

 

— Como assim? - perguntei assustada.

 

— Sinto muito, faz parte da maldição. - ele me olhou triste e se aproximou de mim, fiquei hipnotizada pelos seus olhos.

 

— O que faz parte da maldição? - quis saber temerosa.

 

— Não posso amar... - sussurrou ele tocando delicadamente no meu rosto.

 

Eu entrei em transe, aqueles olhos, aqueles lábios... tudo nele era como magnetismo.

 

— Porque? - murmurei.

 

— Porque... a pessoa amada nunca fica comigo no fim da história. - ele juntou sua testa a minha. Eu estava encantada, era tão perfeito.

 

— Podemos mudar esse final agora – respondi.

 

Ele sorriu.

 

— Melhor acabar logo com isso. - disse ele unindo seus lábios aos meus.

 

Foi como uma explosão de felicidade. Era um encache perfeito, seu beijo era estonteante.

 

Acho que eu ainda estava fraca, pois aquele beijo me deixava tonta. Mas era tão bom que não consegui parar.

 

Minha cabeça doeu e minha mente se desligava pouco a pouco. Eu estava mergulhando no mar da inconsciência mais uma vez, não pude resistir e acabei por me afogar.

 

Calebe olhou para o corpo de Lilian jogado ao chão, completamente sem vida. Deixou uma lagrima escapar-lhe dos olhos. Toda moça pela qual ele se apaixonara tivera o mesmo fim, um fim selado por um beijo... um beijo da morte. Olhou mais uma vez para a garota, ela era linda! Seus cabelos negros estavam espalhados pelo chão, seus olhos castanhos estavam fechados, sua expressão era serena, como se estivesse dormindo, mas desse sono jamais acordará. Admirou os lábios delicados da garota, que estavam com um sorriso inocente. Ela continuava jovem, ele nunca tirava-lhes a juventude. Era a pior parte de sua maldição, tirar a vida do seu amor e ainda vê-la jovem e linda no seu sono eterno.

 

Ele se pôs de pé, deu as costas ao corpo da garota e foi seguir seu destino a procura de almas para roubar. Não olhou para trás, mas sabia que assim que deixara a casa abandonada, o corpo dela se transformou em pó, pó esse que fora levado pelo vento para o infinito.


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Notas finais do capítulo

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