— Ô Adriana vem logo lavar essas louça que tu ainda tem que arrumar a casa!

— Ih, mãe, hoje num dá, vou sair com o Jorge daqui a pouco.

— Quem é esse capeta de Jorge?

— Ah, é um carinha aí que eu conheci ontem na festa que o Bill deu...

— Bill? Esse tal de Bill num é aquele William, filho da Cumadi Simone que mudou de nome depois que soltou a franga?

— É mãe...

— Hum... Aposto que a festa não foi a única coisa que ele deu - E desatou a rir. - Só sei que num quero filha minha em festa de bicha não, o bêbado do teu pai não liga, mas eu ligo! Agora vai logo lavar essas porra de louça antes que eu lhe deça o tapa!

— Mas mãe...

— A G O R A!

Fui lavar louça embirrada, já eram 15:30 e eu combinei com Jorge de se encontrar num trailler novo de cachorro-quente ás 17:00, e eu ainda tinha que arrumar a casa. Ah, que ódio! Odeio ser pobre! Só sei que eu não vou perder esse encontro com ele nem a pau. Minha mãe tinha caído na escada da casa da madame onde ela dava faxina e vai ter que ficar 2 meses de cama, agora só sabe passar o dia todo me dando ordens e reclamando da vida, meu pai é um alcoolatra que gasta todo o dinheiro que ganha da aposentadoria em pinga e vive no bar da esquina, quando vem pra casa só sabe brigar com a gente e bater na minha mãe, meu irmão Gustavo tá se envolvendo com umas paradas erradas, ele era um bom menino, mas depois que começou a andar com um tal de "Tom, o cara" é que desandou pro mau caminho, esse tal de Tom é o traficante manda-chuva aqui da parada, tem altos carros importados, só usa coisa de marca cara e as mulher tudim quer dá pra ele, mas o cara é perigoso, Bill é meu melhor amigo, inclusive fui eu quem o incentivei a se revelar para o mundo, pois sempre soube das suas tendências homossexuais e sempre o apoiei, na festa que ele deu pra comemorar sua nova fase foi quando eu conheci o Jorge... Ah, Jorge... Ele é maravilhoso, quando começamos a conversar até me esqueci desse minha vida de merda, dia e noite barulho de tiro, neguim correndo, cheiro de maconha, brigas, palavrões, ócio... Jorge é minha ÚNICA esperança de sair desse inferno, um inferno que já encaro há 16 anos e já estou cansada disso.

16:30

— Pronto mãe, já fiz tudo que a senhora mandou, agora vou me arrumar!

Ronc... Ronc...

— Mãe...? Ah, ela dormiu, graças a Deus. Só espero que dê tempo de me arrumar, não quero que ele me espere muito tempo, senão vai desistir.

Tomei um banho rápido, vesti um vestido curtinho, sandália rasteirinha, pentiei o cabelo e fui. Na porta, dei de cara com Gustavo e "Tom, o cara".

— Que irmanzinha gostosinha você tem heim Gustavo?! - Ele disse me olhando dos pés a cabeça e mordendo o lábio inferior onde tinha um piercing, e agora de frente a frente com ele, pude perceber que é até bem apessoado, mas mesmo assim eu o odiava, eu o odiava por estar levando meu irmão á morte, por tornar aquele lugar uma disputa por drogas e armas, ele havia continuado aquele caos, se não fosse ele, não haveria tantas mortes na comunidade. Não aguentei aquele xaveco podre calada:

— Olha aqui "Tom, sei lá o que" eu não sou que nem essas vadias que tu encontra por aí, posso ser pobre mas sou de respeito tá ligado? - Disse quase gritando.

— Concerteza não, você é bem melhor... - E deu um sorriso malicioso.

— Ei vocês dois, vão logo pra um maldito motel, vão acabar acordando a mãe com essa gritaria. - Disse Gustavo.

Ah, aquele filho do capeta invés de me defender, faz é colocar idéias na cabeça de um traficante, se é que ele já não havia pensado nisso né... Ai, que ódio, meu próprio irmão... Olhei no relógio e já estava 10 minutos atrasada. Desgraça!