Infância, Inocência e Solidão escrita por Mr_Strife


Capítulo 1
Infância, Inocência e Solidão


Notas iniciais do capítulo

Tive um súbita inspiração para escrever essa fic ao reler algumas tirinhas de Calvin e Haroldo, como hoje é aniversário do Naruto, decidi escrever algo baseado nisso. n.n
Boa leitura, e se ler, por favor, deixe um review. n.n



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       Para as crianças neste mundo existe um dia especial que está acima de todos os outros, um dia em que ela recebe o amor de seus pais, parentes e amigos, um dia para receber presentes e celebrar, pois este dia é o seu aniversário. Mas nem todas as crianças vivem um dia especial como esse, nem todas as crianças tem o que celebrar em seu aniversário. As vezes nascer pode ser como uma prisão perpétua, uma longa e sofrida espera pelo fim de uma vida. E para Uzumaki Naruto, era exatamente isso que significa ter nascido.
       Dez de outubro, aquele era o dia do aniversário de Naruto. Ironicamente, aquele era o dia de maior tristeza para a vila de Konoha, pois este dia era o aniversário de morte das centenas de pessoas que morreram no fatídico ataque do demônio Kyuubi. Naruto acordou abruptamente, assustado pelo barulho de vidro se estilhaçando, ele se levantou e foi até a sala de estar com cuidado, um passo por vez, lentamente. O barulho havia sido feito pelo vidro da janela da sala que havia sido destruído, os cacos haviam se espalhado próximos a janela, e no meio da sala de estar havia um tijolo com um bilhete enrolado e preso a ele por um fio de barbante, o garoto foi até o tijolo, e retirou o bilhete, para ler as palavras duras dos cidadãos que o odiavam.


Vá embora, amaldiçoado! Vá, e leve contigo nossas dores, sofra e pague pelos seus pecados, pois tu é o demônio que atormenta a vida dos cidadãos de Konoha. Você não tem lugar aqui! Fuja e sofra, ou fique e morra!


       Ele sentiu vontade de chorar, mas o seu choro ficou entalado em sua garganta conforme ele olhava para a janela quebrada e amassava o bilhete ofensivo que havia recebido, saindo da sala para a cozinha, em seguida. Ele jogou o bilhete no balde de lixo que estava em cima da pia, e foi até a geladeira, quando abriu a porta, ele pode sentir o arrepio correr por suas costas e o deixar gelado. Não havia nada para comer, nem mesmo seu querido Ramen, a única coisa que ocupava espaço na geladeira era uma embalagem de leite, que Naruto verificou como sendo vencida. No dia em que ele mais queria ficar em casa, Naruto seria obrigado a sair, e sem escolha, Naruto trocou o seu pijama por sua habitual roupa laranja.
       Para a felicidade e sorte de Naruto, ele não havia tido problemas no caminho até o mercado, havia uma pessoa ou outra na rua que o encarava com raiva, mas isso era apenas o que ele já estava habituado, o dia parecia um pouco agradável, embora estivesse frio e nublado. No mercado, o vendedor, mesmo que relutante, entregou as compras para Naruto sem maiores delongas. Caminhando de volta para casa, ele não pode deixar de dar um sorriso triste ao pensar que havia sido um dia feliz por ele apenas ter recebido olhares de ódio, ele pensou que poderia ser pior. E talvez tenha pensado cedo demais, pois quatro homens de idade por volta dos 40 anos de idade pararam na frente de Naruto, o impedindo de passar. A palavra “Problema” ecoou na mente do pequeno loiro.


— Licença, por favor...- O pequeno Naruto sussurrou, audível o bastante para que os homens o escutassem, mas eles o ignoraram.

— Ora, ora, mas o que temos aqui? Um pivete amaldiçoado.- Um dos homens, que era meio careca, se aproximou de Naruto, falando em tom de deboche.

— Senhor, deixe-me passar, por favor...- A respiração de Naruto já era irregular,o medo tomava conta de si.

— O que tem de errado com você hoje, garoto? Você geralmente só banca o idiota, gritando e fazendo escândalo por ai.- Outro senhor, de longos cabelos negros, presos em um rabo de cavalo foi quem falou. Esse só não é um dia em que eu sinta vontade de agir assim, pensou Naruto.

— Me deixe em paz...- O pequeno falou, tentando se desvencilhar dos adultos e sair dali correndo.

— Espera aí, maldito!- De costas, Naruto nem mesmo pode ver quem havia gritado, ou quem havia atirado uma pedra contra ele. Tudo que sentiu foi o impacto da superfície áspera contra sua cabeça, o que fez cair no chão.


       Naruto se virou, olhando para o céu, sentiu o corpo quente, principalmente a face, sentiu líquido escorrer através de seu rosto, e já imaginava que era sangue. O choro que antes havia fico entalado em sua garganta naquela manhã não pode ser contido naquele momento, e lágrimas escorreram por seu rosto junto com o sangue. As risadas dos homens ecoavam distante de si, e ele pode escutar os passos se aproximando, o céu, mais escuro do que ele havia reparado antes, permitiu que as primeiras gotas de chuva caíssem sobre Konoha.


— Isso foi divertido, o que nós vamos fazer com o pivete?- Ele ouviu alguém dizer. Com medo, e mesmo que sem forças, Naruto reuniu toda sua vontade e correu, deixando até mesmo sua sacola de compras para trás.

— Peguem-no!- Ele ouvia os homens gritarem, e as pessoas na rua, embora nada fizessem, o olhavam com ódio, desprezo e reprovação.


       Virando na esquina, Naruto entrou no primeiro lugar que viu para escapar dos homens, após fechar a porta atrás de si, Naruto deixou-se escorregar na madeira da porta, e sentou no chão. Ele pode escutar os homens praguejando e seus passos se distanciando e se separando, ainda estavam o procurando. Antes que algum deles entrasse naquele lugar, o garoto se levantou e olhou ao redor. Ele estava em uma biblioteca pública, a atendente do balcão, que era uma senhora de idade, estava dormindo, e Naruto aproveitou essa chance para passar por debaixo da catraca sem que a senhora o percebesse. Então, o som da porta se abrindo ecoou pela biblioteca, e Naruto correu para o corredor mais distante possível para se esconder.
       Foi estranho para o garoto, ele estava em um mundo que para ele era inimaginável, até mesmo porque ele não era muito chegado a leitura. No corredor que Naruto havia se escondido não havia uma estante com livros e mais livros, havia apenas uma caixa de papelão, e dentro dela se encontravam objetos, tais como candelabros, apontadores, e canetas sem tinta, e livros. Naruto percebeu que haviam escrito a palavra “Lixo” com caneta vermelha na lateral da caixa.


— Isso é lixo?- Ele murmurou para si mesmo.


       Tomado pela curiosidade, Naruto começou a vasculhar o lixo, e como os objetos não o interessavam tanto, ele decidiu folhear os livros, achando que aquela seria a primeira e ultima vez que ele faria aquilo por interesse próprio em toda sua vida. Não encontrando nada que fosse interessante, Naruto estava praticamente desistindo, quando um livro que parecia ser infantil chamou a sua atenção. Na capa do livro, havia um garoto loiro acompanhado por um tigre, e o título do livro era “Calvin & Haroldo”. Quando Naruto ia abrir o livro e folhear suas páginas, ele foi surpreendido.


— O que você está fazendo aqui?!- Naruto se virou com cautela e viu que a senhora estava na frente dele. Como todos, ela o encarava com desprezo. - Eu vou chamar aqueles homens que estavam procurando por você, você vai ver só pirralho...

— NÃO!- Naruto gritou e saiu correndo, passando do lado da senhora de idade. Ela tentou agarrá-lo, mas foi em vão.


       Quando Naruto saiu da biblioteca, dois dos homens estavam do lado de fora, e a senhora de idade veio logo atrás dele, quase que sem saída, Naruto saiu correndo sem rumo, sem se importar para onde ia, pois tudo que queria era fugir deles, fugir das pessoas desprezíveis, fugir desse dia. E foi o que ele fez, por mais de uma hora Naruto correu, e embora ele tivesse despistado os adultos em menos de meia hora, ele ainda queria correr, queria sair dali. Ele havia adentrado em um caminho sinuoso, um bosque, e logo em seguida, uma pequena floresta que existia dentro de Konoha. A chuva que no momento havia engrossado do lado de fora da floresta já não chegava até Naruto, pois ele era protegido pelos folhagem das árvores, e só então ele percebeu que ainda carregava o livro que ia folhear antes de ser interrompido.
       Por várias horas Naruto perambulou na floresta, sem idéia de onde ir, ele apenas caminhavam sem direção, mas não se importava, se estava perdido ou não, talvez fosse para melhor, era assim que o Uzumaki pensava, no entanto, a fome o incomodava um pouco. Estava tudo muito escuro, e Naruto sabia que não era por estar nublado ou pelo som das gotas de chuva que caíam sobre as folhas,ele sabia que o anoitecer já tinha chegado, mas felizmente, depois de alguns segundos, Naruto chegou até o fim da floresta, a chuva ainda caía lá fora, embora estivesse mais fraca. Ele colocou o livro debaixo do casaco para que não fosse molhado, e correu com ele o que parecia ser um pequeno morro, e se surpreendeu com a visão que teve. Ele estava no topo do Monte dos Hokages, e tinha uma visão panorâmica de toda a cidade de Konoha, a cidade era bela vista daquela forma, apenas luzes distantes que eram refletidas de volta para seus orbes azuis, Naruto pensou que se não estivesse chovendo, a visão seria ainda mais bela com o céu estrelado, mas talvez a chuva adicionasse um charme próprio para a paisagem que ele estava vendo. No topo do Monte dos Hokages havia uma pequena pracinha, com postes de iluminação, e bancos feitos de concreto, Naruto resolveu se sentar e esperar a chuva passar enquanto apreciava a visão de Konoha, que pela primeira vez, era bela ao seus olhos infantis.
       Ele ficou horas sentado no banco de concreto, abraçado ao livro que estava debaixo de seu casaco, e nem por um momento quis fechar os olhos para dormir, ele apenas esperou, pacientemente. Quando a chuva finalmente parou, nem mesmo era dia dez de outubro, pois já havia passado da meia-noite, mesmo assim, para o jovem e pequeno Naruto, aquele dia apenas acabaria com a chegada dos primeiros raios de sol, e para aproveitar a companhia solitária da noite, ele decidiu ler o livro que trouxe consigo. Naruto se sentiu inspirado e cativado pelas historias de Calvin e seu tigre de pelúcia Haroldo, em alguns momentos ele sequer entendia o que as palavras queriam dizer, pois haviam mensagens adultas e profundas nas historias infantis, mas ele se deliciava ainda assim, e ficava curioso para saber como seria se sentir daquela forma. Ele não havia sido um garoto normal, não poderia ser normal, não tinha amigos, não tinha com quem brincar, nem mesmo tinha um tigre de pelúcia para um amigo imaginar, mas aquela ultima tirinha do livro mudou por completo a vida de Naruto conforme ele a leu.


       Calvin e Haroldo caminhavam pela neve. Calvin guiava, indo na frente, e Haroldo, o tigre, ia atrás, segurando um pequeno trenó de madeira.

Calvin: Ontem a noite realmente nevou. Isso não é maravilhoso?

Haroldo: Tudo que é familiar desapareceu. Parece um novo mundo.

Calvin: Um novo ano, um novo começo.

Haroldo: Como se houvesse uma grande tela a ser pintada.

Calvin: Um dia cheio de possibilidades.

       Calvin e Haroldo sentaram no trenó de madeira, e se preparam, Calvin na frente, e Haroldo atrás.

Calvin: É um mundo mágico Haroldo... Vamos todos...

       Calvin e Haroldo escorregam pela neve com o trenó de madeira.

Calvin: EXPLORÁ-LO!


       Naruto respirou fundo, e sentiu em seu coração a profundidade daquelas palavras, quando levantou a cabeça para olhar para Konoha, percebeu que os primeiros raios de sol haviam chegados, e que durante o nascer do sol, Konoha parecia ainda mais bela, ainda mais... Mágica. O jovem loiro deixou o livro em cima do banco de concreto e se levantou para ver melhor aquela paisagem magnífica.


— Eu só percebi agora... Eu não preciso me prender a ninguém para ser feliz, as pessoas podem fazer falta... Mas eu posso me satisfazer e aprender, posso satisfazer ao mundo... O mundo é mágico, e eu posso ir explorá-lo.- Naruto olhou para o livro em cima do banco. Talvez aquele tivesse sido o melhor presente que ele poderia ter recebido, um presente dele para ele mesmo, através do aprendizado. - Agora eu sei que tenho algo pelo qual viver.- E pela primeira vez em toda sua vida, Naruto sorriu verdadeiramente, como toda criança faz, em seu dia especial.


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