Girassóis de Outubro escrita por BC_Eisenheim
Girassóis de Outubro
Era mais um daqueles dias, com o calmo e morno vento, forte e constante, trazendo consigo os perfumes de lavanda e cereja para o nariz dele. Ele podia afirmar, então, que era outono, quase inverno. O mês de outubro, em Konoha, sempre parecia seguir os mesmos passos. A natureza estava dando seu último suspiro, morrendo para renascer na primavera.
Morrer é fácil, ele pensou uma vez.
O difícil é sobreviver no inverno.
Uzumaki caminhou em silêncio, mesmo com sua mente em processo de desintegração.
O corpo não mostrava sinais de que a alma estava em completo caos.
Todo ano, Naruto morria e renascia no dia de seu nascimento, justo como uma fênix. Era a única maneira de permanecer vivo. Se ele pudesse escolher, optaria por ser como um urso: hibernaria e pediria à Mãe Natureza para ser acordado somente quando setembro acabasse.
O recipiente da Kyuubi deixou de filosofar sobre o interior, e começou a olhar para fora. Ele sentiu o cheiro do incenso queimar-lhe o nariz, enquanto a fumaça ascendia para o céu. Naruto podia ouvir os choros daqueles que lamentavam por seus amados.
10 de outubro.
Foi o dia em que Naruto nasceu.
Foi o dia em que Konoha queimou.
– Feliz aniversário para mim... Feliz aniversário para mim... – disse o garoto, sorrindo amargamente.
Naruto estava em casa, com cortinas fechadas e luzes desligadas; o único objeto que iluminava fracamente o local era a vela sobre seu bolo de aniversário.
O loiro sorriu, e apagou a vela, deixando a sala em completa escuridão e silêncio.
– Feliz aniversário para mim… – ele cantou um pouco mais.
“Feliz aniversário para você...”
O som da voz desconhecida foi suficiente para acelerar o coração do loiro e fazê-lo tremer.
– Quem está aí?
Uzumaki viu um clarão no outro quarto, e correu para a cena, mas verificou que alguém tinha aberto a janela e tinha fugido por meio dela. Ele abriu-a apressadamente, recebendo somente a brisa morna em sua face como consequência. Naruto arqueou suas sobrancelhas e retornou para a sala, onde ele ligou as luzes e achou, do lado do bolo, uma flor.
Um girassol. Com pétalas escarlates.
Ele acariciou as pétalas da flor, manchadas com sangue.
O recipiente da Kyuubi podia ver o laranja aparecendo quando ele tocava, tirando o líquido rubro.
Assustador? Talvez.
Mas estranhamente perfeito.
Naruto sabia quem era o dono da flor. Ele também sabia o significado da visita anual.
O loiro sorriu para as memórias flutuando em sua cabeça. Ele conteve a tentação de dizer “Olá” para as mais queridas. No meio do turbilhão, ele escolheu uma e mergulhou.
Naruto arqueou suas sobrancelhas quando Sasuke sorriu com presunção.
– Você quer saber por que eu te salvei? – perguntou o moreno. – Eu já te disse a razão.
Haviam passado meses desde o acidente ocorrido no País das Ondas. Ambos estavam sentados no Ichiraku, lembrando coisas; havia algo melancólico e desconfortável no ar por causa da luta que eles tiveram no terraço do hospital.
– Mas não é possível...!
Sasuke esteve em silêncio por poucos segundos, então ele sorriu maldosamente.
– Bem, você pensa que eu estava apaixonado por você ou algo assim?
Naruto corou furiosamente.
– Obviamente não...!
– Então, qual poderia ser a razão?
O loiro não sabia a resposta.
– Agora, Naruto... O que você está tentando achar? Uma razão mais elaborada?
O garoto mais novo desviou o rosto, um pouco desconfortável.
– Você sabe? Isso não importa! – Naruto gritou e tentou escapar. Tarde demais, pois Sasuke já estava envolvido na conversa, e segurou seu braço.
– Você sabe? – Sasuke perguntou calmamente. Seu companheiro virou-se para o ver. – Seu problema é que você sempre se mete em problema! Sempre! Então sempre precisa de alguém por perto, protegendo-te, pois você é inútil o suficiente para não fazer isso sozinho!
– Seu filho da...!
O loiro estava chocado, e calou-se. Sasuke tinha uma expressão determinada, como se ele quisesse expressar algo há muito oprimido.
– Então... Então eu vou sempre voltar, porque você só se mete em problema...! – disse o moreno, suas bochechas um pouco avermelhadas.
Naruto sorriu ternamente.
Essa deveria ser a maneira mais direta que ele encontrou para dizer “Eu me importo com você”.
A cada ano, Naruto queria mais ser como um urso.
Se alguém está me escutando; por favor me acorde quando setembro acabar.
O loiro fechou seus olhos, deitado na cama com o vento constante em suas costas, e uma voz masculina, propriedade do esqueleto de seu armário, ecoando em sua mente.
De seus olhos fechados gotejaram lágrimas de dor. Ele sorriu no meio de tanta miséria, firmemente segurando o girassol em suas mãos sangrentas.
Então, depois deste dia, eu prometerei amor somente a minha solidão.
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