Flash Back OFF

  Dentro do táxi, o calor levemente abafado pela brisa deixava com que as pessoas usassem um casaco fino na noite de verão. Drika o usava por necessidade. Sentia frio. Perdera um bocado de sangue nos atos impulsivos que fizera por conta da dor. Uma dor que não cessaria tão cedo mas lhe fez perder algo que não era tão agradável: a solidão.

  Seus olhos observava bem mais do que as ruas movimentadas. O rosto encostado no vidro do carro balançava a medida que o carro arrancava nos faróis. O homem que dirigia até havia sido gentil, lhe nada cobrando pela ida até a colina. Drika estranhou. Pensava que poucas pessoas sabiam de tal colina, por ser desconhecida. Enfim.

  Pregados numa cruz juntos

  Enquanto a solidão nos implora para permanecer.

  Se perguntou mais uma vez o porquê de tudo aquilo que havia acontecido no feriado. Seria bem melhor se ela não o conhecesse. Não estaria tão só como antes. Enquanto pensou que sua vida tinha se ajustado, tudo desmoronou como uma torre de cartas. Joseph estava impregnado em sua mente. Joseph estava tatuado em seu coração. Mas não poderia viver com isso para sempre, seria muita injustiça consigo mesma.

  Aquele que havia lhe despertado para o amor também lhe mentira. E se ele estivesse lhe falado que estava doente, não teria uma única chance de salvá-lo? Levar para o hospital antes que pudesse agravar? Seria uma mentira perdoável?

  Nós desaparecemos na mentira para sempre.

  Drika se achou um tanto ingrata. O rosto balançara mais uma vez quando a voz suave do motorista lhe havia dito que chegara. Ela sorriu como um gesto de agradecimento e saiu do carro. A colina não era tão alta como imaginava. Subiu lentamente por causa dos cortes.

  Do alto a lua intensa brilhava, querendo reconfortar o mais destruído coração. A garota sentiu os olhos lacrimejarem. Seria a presença de Deus? Ela iria descobrir agora.

  Sem pensar, abriu os braços para o alto. Estava apta a desabafar, lhe perguntar tudo o que tivesse vontade. Deus? 

- Eu estou aqui... Estou bem aqui... Você pode me ouvir agora?!

  O olhar em direção a lua lhe deixava a visão apurada. Só era audível o vento que batia no gramado do solo.

- Por que você levou ele de mim? Não poderia deixá-lo aqui?

  Drika sentiu-se desmoronar. Caiu de joelhos na grama úmida com o orvalho. Os cortes se abriram, sangrando novamente.

- Para que você o colocou no meu caminho?!

  O choro que estava escasso retornara com força imensa. Em apuros, ela gritava. Gritava o nome de Deus alto, querendo que ele a ouvisse. Em meio as lágrimas desviou o olhar para a grama, dando de encontro com o mesmo objeto com que permaneceu observando pela tarde toda. A bíblia de Joseph estava estendida a sua frente, com as páginas voando conforme o vento soprava. E tinha a certeza de não tê-la trazido com si.

  E denunciaremos o poder da morte sobre nossas almas enquanto palavras secretas são ditas para começar uma guerra.