Read Between The Lines escrita por LostInStereo


Capítulo 7
That's the truth (or not)


Notas iniciais do capítulo

OI, GENTE, EU NÃO MORRI.
Um milhão de desculpas pela espera. Sério, eu queria mesmo ter atualizado esta fic antes ://
Enfim, espero que gostem do capítulo!



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No dia seguinte, após o término das aulas – que pareceram durar séculos – eu teria que ficar um tempo extra para cumprir a detenção. Guardei meus cadernos na mochila, enquanto bufava de irritação, e saí da aula de gramática com passos pesados, não me sentindo nada disposto a permanecer na escola. Incrível, eu era quem quase tinha apanhado e, mesmo assim, seria punido. As regras escolares são mesmo zoadas.

Continuei andando, sem realmente prestar atenção às coisas em meu redor quando, de repente, esbarrei em alguém. Era a Frankie.

“Ahn, desculpa.” Disse rapidamente, sentindo-me sem-graça.

“Relaxa, não foi nada.” Ela respondeu, com um tom de voz quase sussurrado. Olhei-a por um momento. Ela me encarou com uma expressão nula no rosto. “Escuta, Danny...você deveria conversar com o Douglas.”

“Como assim?” perguntei, confuso. Inevitavelmente, uma onda de pânico repentino passou por meu corpo. Ela passou a mão por seu cabelo enquanto deixava escapar um suspiro. “Ele tá escondendo alguma coisa e tenho quase certeza que é por isso que ele tem agido assim.” Cruzei os braços sobre meu peito e a encarei, querendo melhores explicações. – Imaginava que ela soubesse o motivo de ele estar diferente, mas aparentemente eu estava errado. “Converse com ele.” Foi o que ela disse, apenas. “Por favor.” Fiz que sim com a cabeça, mesmo sabendo que minha covardia impediria que eu fizesse, de fato, o que ela havia me pedido.

Pouco tempo depois, eu me encontrava em uma sala menor que as outras, sendo encarado por uma professora cujo o nome eu não sabia, e que não parecia ser muito amigável. Ela aparentava ter uns quarenta e poucos anos e, por sua expressão, era fácil perceber que a última coisa que ela queria era estar ali, vigiando um bando de adolescentes. Entreguei um papel que tinha recebido na diretoria à ela e olhei em volta. A única carteira vazia era uma que estava no fundo, ao lado do Dougie. – Ótimo. Simplesmente ótimo. – Bom, pelo menos o Travis estava no outro lado da sala, longe de nós.

Respirei fundo antes de atravessar a sala e me sentar. Olhei para o lado brevemente e ele acenou com a cabeça, estando ciente da minha presença. Acenei de volta e voltei meu olhar para o chão. Agora teria que aguentar uma hora de completo silêncio.

Fiquei olhando para o nada por um tempo, pensando. Durante toda minha vida, eu sempre guardara tudo dentro de mim. Sempre ficava extremamente preocupado com algumas coisas, mas nunca relamente tentava fazer algo para resolvê-las e, por isso, ficava tudo por isso mesmo. E, honestamente, já estava cheio disso.

Então eu decidi: não iria mais deixar coisas sem dizer. Isso só piora tudo. Nuca conseguiria sair desse estado de ânimo deplorável em que me encontrava se não tentasse, eu mesmo, esclarecer tudo e se não parasse de ser tão calculista e emotivo ao mesmo tempo.

Aproveitei um momento em que a professora não estava olhando e rabisquei um bilhete para Dougie. – ‘eu sei que tem algo de errado com você, será que podemos conversar?’ -  Ao terminar de escrever, peguei-o e estendi o braço para o lado, meio que evitando contato visual. Ele o recebeu rapidamente. Uma expressão estranha tomou conta de seu rosto ao lê-lo. – Uma mistura de surpresa e nervosismo.

...

Após o fim daquela torturante hora de silêncio, saí da sala com pressa, já que a ansiedade tinha tomado conta de mim. Parei perto da porta, bagunçei meu cabelo com a mão e esperei.

Depois de uns dois minutos – que pareceram uma eternidade -  Dougie finalmente apareceu. Ele me lançou um olhar um tanto que inseguro e eu o retribuí com um meio sorriso envergonhado. Travis passou por nós, encarando-me ameacadoramente. Franzi a testa e Dougie deu-me um leve tapa no braço para desviar minha atenção dele.

“Então...” ele disse.

“Então...” repeti. Ele me encarou por um longo momento, esperando que eu dissesse alguma coisa relevante. Pigarreei, sentido que talvez isto não era uma boa ideia. Ele manteve seu olhar fixo em mim e eu respirei fundo antes de decidir que tinha que levar isto até o fim. “O que tá acontecendo?”

“Como assim?” Ele ergueu uma sobrancelha.

“Quer dizer...uma hora você me trata como lixo, na outra, me defende daquele neandertal que você chama de amigo. Isso não faz sentido.”

“Ah...” ele engoliu em seco. Cruzei os braços acima do peito, esperando uma explicação. “Bom...a verdade é que eu percebi que é uma idiotice te tratar mal. Então eu meio que decidi me redimir por ter sido um completo babaca, sabe.” Um sorriso amarelo surgiu em seu rosto. Por algum  motivo, não conseguia acreditar plenamente nisso. Havia algo mais, eu tinha certeza.

“Certo...” eu disse, sem saber realmente se deveria insistir. “Tem mais uma coisa que eu queria saber.”

“Diga.”

“Eu sei que não é da minha conta, mas...O que aconteceu com você e a Frankie?”

“Ah...eu terminei com ela.” Ele disse, dando de ombros, com uma estranha indiferença. “Não tava dando certo.”

“Entendo...” disse, sem querer perguntar mais detalhes. Imaginava que poderia irritá-lo se me tornasse muito insistente naquele momento. Ele olhou para seu relógio e coçou a cabeça.

“Preciso ir pra casa, Dan. A gente se fala depois.” Ele se afastou com um breve aceno de despedida. Eu fiquei parado no corredor, pensativo. Ainda havia muito o que resolver.

...

Eram as 6 da tarde, eu me encontrava na sala de estar da minha casa com meu violão. Meus pais ainda não tinham chegado do trabalho. Estava solando aleatóriamente, sem realmente pesar em nada, apenas aproveitando aquele momento, quando ouvi alguém bater na porta. Um pouco frustrado pela interrupção, me levantei, deixei o violão encostado no sofa e fui atendê-la.

Era Tom. Ele vestia um moletom cinza e uma calça preta e tinha nervosismo estampado em seu rosto. Não havia conversado com ele durante o dia todo. O pior é que não tinha certeza do que motivava essa repentina necessidade de ficar longe dele.

As coisas definitivavente estavam começando a ficar estranhas. – Mais estranhas do que o normal.

“Oi, Dan.” Ele disse timidamente, evitando me olhar diretamente nos olhos. Não parecia o garoto que puxara conversa comigo no seu primeiro dia de aula.

Seja gentil. – disse minha voz interior. Ao invés disso, deixei escapar um frio “O que você quer?” Parecia que eu estava no automático. Ele recuou um passo, acho que inconscientemente.

“Parece que você não quer minha compania.” Ele disse, magoado, em um tom de voz baixo. Respirei fundo e levei as mãos à cabeça.

“Desculpa. Não sei o que eu tenho ultimamente.” Disse, sinceramente arrependido. “Quer entrar?” Ele entrou e eu fechei a porta. Sentamo-nos no sofá.

“Como vai a situação com o Dougie?” ele perguntou.

“Um pouco melhor.” Respondi. “Aparentemente ele desisitu de tentar tornar minha vida um inferno.” Soltei um risinho nervoso.

“Isso é bom.” Ele disse, com um meio sorriso. “Você tá se sentindo melhor?”

“Bom, não estou mais à beira da depressão, se é isso que você quer saber.” Disse em um tom brincalhão. Eu tinha estado mesmo à beira da depressão, mas não era algo que todos precisavam saber. “Se bem que...”

“O que?”

“Sei lá, dói um pouco não ter ninguém.” Suspirei. Ele me fixou seus olhos castanhos nos meus.

“Isso é menitra.” Ele disse. “Você não tá sozinho. Você tem a mim.” Lancei-lhe um sorriso geniuino. Ele retribuiu o sorriso, que foi seguido por uma careta.

“Seu cabelo tá mais bagunçado que um arbusto depois de um furacão.” Não pude deixar de soltar uma risada alta. “Penteia esse negócio.”

“Agora não, to com preguiça.” Obviamente recebi um olhar de reprovação, o que me fez rir ainda mais. Para minha surpresa, ele esticou o braço e, com a mão, começou a tentar abaixar meu cabelo. A partir daquele segundo me mantive estático, com uma expressão nula. Senti um nó se formar na boca do meu estômago, causado pela maneira com a qual ele estava me olhando.

Mas que porra...? – pensei.

E então ele me beijou.


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