P.o.v. (point Of View) escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 2
Parte Dois.


Notas iniciais do capítulo

'Brigada.



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#POV do Ryan#

Era hora de dormir e eu estava um pouco preocupado. Não havia visto o assoalho mexer e muito menos vi Brendon reclamar de algum tipo de assombração. Por mais que eu quisesse demonstrar interesse no filme que Brendon havia escolhido para gente assistir, eu não tinha ânimo. Talvez a lenda fosse real, que Urie estivesse maluco por minha atenção, para que eu não saísse de sua vida. Quando Brendon dormiu em meus braços, fui soltando-o devagar ao assoalho e peguei a carta do assoalho e aquele monte de coisas que o Brendon me mandou.

Me sentei na escada com aquilo e uma caderneta para poder respondê-lo, estava disposto a acabar com aquilo, mas realmente fui impactado pelas palavras dele na entrevista e o quanto tudo estava perdidamente tão perfeito. Em passos pequenos e silenciosos, para não acordar Brendon e peguei meu violão com os fones de ouvido plugado ao instrumento, comecei a seguir a cifra. Foi impressionante como era aquele o estilo que eu queria tocar para o resto da minha vida.

Some people never change, they just stay the same way.” Cantei baixinho enquanto tocava e estava mesmo na hora de responder aquela carta de Brendon com a forma possível. Ele havia me dado um pote de ouro. Realmente eu deveria passar a acreditar, porque Brendon ainda não sabia que Jon e eu estávamos insatisfeitos com a banda atual.

- # -

B,

Passei algum tempo tocando a música que me mandou, não é do seu feitio compor desse jeito e então dá pra se acreditar que a letra é minha. Impressionante como Jon e eu não temos nos expressado insatisfeitos com a Panic!, mas você já está bem a par das coisas.

O que acontece agora? Quero dizer, na primeira carta você diz que precisa de ajuda para fazer nossa vida a dois dar certo, o problema é que nós dois brigamos feito cães e gatos. Às vezes eu não vejo a saída otimista que você sempre vê em tudo o que nós dois fazemos. Talvez eu esteja perdendo meu chão agora. Acho que eu posso te ajudar no lugar de si mesmo. Eu posso?

Ryan.


- # -

“Ryan?” Olhei rápido para Brendon na porta do quarto, coçando manhosamente. Mordi o canto do lábio olhando aquela cena adorável e logo em seguida recolhi as minhas folhas, ajeitando-as dentro do estojo do violão. “O que você tá fazendo aqui fora, hm?”

“Eu precisava tocar um pouquinho.” Falei sorrindo. “Vem cá, fica aqui um pouquinho comigo.”

“Vem pra cama, vem?” Brendon andou até onde eu estava e tropeçou na minha caderneta, justamente onde eu tinha escrito a carta para o ‘viajante do tempo’, se é que eu posso chamar assim. “O que é isso?”

“Ahn, nada. São só besteiras minhas.” Segurei em sua mão e o puxei pro meu colo, desviando seus olhos das palavras que eu tinha escrito com tanta precisão, onde eu dizia que não via mais saída para a relação que tínhamos. “Por que acordou, hm?”

“Queria te abraçar.” Brendon disse baixinho, me fazendo sorrir. “Tava compondo?”

“Digamos que sim.” Falei. “Você vai descer? Eu queria café e to com preguiça de ir pegar.”

“Assim você não vai dormir, Ryro.” Respondeu, torcendo seus lábios grossos de forma infantil e adorável, eu tentei ser durão e arqueei a sobrancelha. “Ok, você venceu, não discuto mais.”

Levantou do meu colo e saiu em passos firmes e rumo à escada. Na verdade eu não queria que ele soubesse dos meus planos de sair da banda. Brendon ainda não está devidamente preparado para um choque como esse, ou talvez ele já saiba e esteja querendo ver um lado otimista da situação. Deixei a carta no assoalho e fiquei esperando Urie voltar; eu queria saber o futuro e o que o outro Brendon poderia me dizer. As cartas me fizeram lembrar de como era antes do sexo, de como a amizade entre a gente era soberana.


- # -


#Fim do POV do Ryan#

#POV do Brendon#

Turn around, bright eyes.
Volte atrás, olhos brilhantes;
Every now and then I fall apart.
Às vezes eu despedaço.

Eu acabei dormindo no sofá mesmo, segurando fortemente no braço do violão. Não que o sofá fosse realmente o lugar mais confortável de se dormir, mas eu já estava ficando desesperado com tamanha falta do que fazer e viver para responder Ryan estava me deixando ainda menos relaxado que o de costume. No lugar de tentar esquecer Ryan, eu estava tentando falar de sentimentos com alguém que eu sempre julguei como se fosse uma pedra de gelo orgulhosa.

Aos poucos eu parecia recuperar o sentido para minha vida pessoal. Aos poucos, estar apaixonado não parecia só confortável – como era com Sarah -, mas era gostoso. Tinha gosto de uma esperança que se formava em mim. Coloquei umas lenhas para me aquecer um pouco mais e subi às escadas devagar, tentando fingir para mim mesmo que não me importava com o possível fato do Ryan não responder.

Confesso que fiquei feliz em ler cada palavra que ele me havia escrito. Me encheu ainda mais de uma esperança que eu não estava acostumado a sentir. E eu estava com medo. Escrever para Ryan no passado havia virado um passatempo. Um mal malditamente necessário.

Após arrumar o chalé da melhor maneira possível, fiz um pouco de chocolate quente com marshmallows e após reler cada palavra umas quinhentas vezes, escrevi para ele e pus no assoalho.

- # -

Ryan,

Sinceramente eu não sei se te digo “que bom que gostou da sua música” ou se me amaldiçôo por uma inocência ridícula de mandar pra você algo que tem te tirado de mim, ao menos fisicamente. De qualquer forma, suas letras são realmente ótimas. Creio que se eu fosse escolher, nesse momento, uma música pra me retratar seria Say That You Love Me, da No Doubt. Como não faz seu estilo, se quiser eu te mando a cifra ou dou um jeito de te mandar um áudio. Agora vamos falar do que realmente importa.

Eu tinha levado você nessa cabana para uma tentativa de ajustar as coisas entre a gente. Nesse lugar, eu tentaria qualquer coisa que fosse criativa que te dissesse que eu não estava disposto a te perder e nem ficar longe de você, mas por algum motivo, você sempre me repelia, me deixava de lado, brigávamos. Então isso tornou nossa convivência impossível e insustentável, e a sua insatisfação – e a do Jon – com a Panic! os fizeram deixar a mim e ao Spencer de lado. Supostamente, para sempre, já que Spencer e eu não temos o estilo de rock clássico que vocês querem tocar.

Como me ofereceu ajuda, eu quero aceitar. Quero fazer diferente e tentar mudar, não só pelo futuro dessa banda que eu amo – e pelo jeito estou falando com o cara de uma época em que você já estava insatisfeito com os rumos que estávamos tentando tomar na carreira – e eu amo você, também. Todas as vezes que eu disse que você e a banda são (eram) tudo o que eu tenho eu jamais menti. Como eu nunca escondi nada de você. Alguma coisa tem que ser feita aí, porque como nos filmes, alguma coisa feita no passado, altera o futuro. Eu não quero esse futuro para mim.

E, agora, vá ao B dessa época e lhe dê carinho, segurança, conforto. Diga o quanto o ama e demonstre isso a ele com seus olhos, com seus gestos (se é que você o ama de fato, não é?) e pare de dizer coisas horríveis das quais você sempre diz parecendo um disco velho quebrado; o quanto ele é patético, por exemplo. Ele e eu já sabemos muito bem disso, infelizmente.

Desde já agradeço,
B.


- # -

Coloquei o pedaço de papel no assoalho e o fechei, suspirando de forma contente. Eu estava de férias num lugar maravilhoso, com uma vista incrível e ainda não havia feito nenhuma trilha, não havia postado fotos em twitter ou qualquer outra coisa relacionada. Eu mal havia comido direito por ficar fissurado em uma lenda que – graças a Deus – era real. Eu poderia ficar ali conversando com Ryan o resto da minha vida sem reclamar de nada. A carta-resposta demorou para chegar, e essa conseguiu me deixar completamente aflito, mas valia à pena. Eu, ao menos, estava tentando mudar as coisas.

- # -

B,

Sinceramente eu agradeço sua “inocência” em me mandar essa música que é realmente um pote de ouro. Algo que eu sei que não foi composta por você e que não tem nada a ver com o seu estilo. Agradeço o elogio às minhas composições, e devo acrescentar que elas ficam ótimas em sua maravilhosa voz. Por essas – e outras – que você é admirado por um séquito de pessoas. Eu gostaria que me mandasse sim a cifra, ou mesmo o áudio, da música que você citou. Eu quero poder ouvir.

Eu estava disposto a parar de te responder, mas as últimas coisas que você me mandou me convenceram – de verdade – que você é do futuro, mais do que eu já estava convencido. Fico, de certa forma, feliz com a maneira que você me parece estar lidando com o meu desmembramento da Panic! at the Disco. Eu previa que seria muito mais difícil de você compreender que não é exatamente isso o que eu quero pra mim.

Só preciso te assegurar que você não pode perder uma coisa que não é sua, mas está cravado em você de uma forma que você não conseguiria tirar. Estão fixados em lembranças, em olhares e, agora, nessas cartas. Eu estou em você e você está em mim, impregnado, como se deve ser. Talvez você e eu não venhamos a ser como antes – aquele casal que era, no mínimo, cúmplice -, mas eu quero que você se lembre de mim com carinho.

Ryan.


- # -

Sorri para mim e ouvi o telefone tocando, era Spencer, como eu já podia imaginar. Estava há alguns dias naquele lugar – dois dias, pra ser exato – e ele deveria ter esperado algum reply, algum post, alguma ligação, mas eu estava tão concentrado em Ryan que o resto era tão inerte para mim que pouco me importava. Meu sorriso cresceu quando a foto do Spencer surgiu no visor do meu celular. Eu estava mesmo precisando falar com alguém, ouvir uma voz que fosse doce e sensata.

“Brendon!” Spencer disse animado. “Como se sente aí?”

“Eu to bem, Spenny.” Mordi o lábio pra evitar um sorriso maior. “Como está você?”

“Preocupado com você que de repente some.” Spencer suspirou.

“A intenção era realmente essa quando eu vim pra cá.” Eu ri baixinho, divertidamente, me ajeitando perto do assoalho que era meu único elo com meu amado Ryan.

“O problema é que eu sei que você sente a falta do Ryan, ainda...” Assenti, me encolhendo no chão que, só agora sem as cartas de Ryan, eu percebi que estava frio. Muito frio. “...e esse lugar tem um pedacinho dele em cada lugar.”

“Eu to bem aqui, Spencer, pode confiar.” Falei bem baixinho. “Aqui eu me sinto melhor porque estou em contato direto com ele, com isso eu vou consertar tudo o que nunca devia ter acontecido.”

“Brendon, do que você tá falando?”

“Da lenda, Spencer.” Encolhi os ombros, como se fosse à coisa mais sensata que eu já tivesse dito na vida. “Ela é real. Te coloca em contato com o passado.”

“A lenda? Aquela coisa estúpida sobre o assoalho quebrado no quarto do casal que faz com que as cartas cheguem até quem estava habitando a casa no exato dia e hora? Não vai me dizer que você acredita numa coisa tão idiota quanto isso.” Eu poderia jurar que Smith havia franzido o cenho e estava esperando resposta.

“É, Spencer.” Falei animado, sorrindo de forma boba. “Eu tenho escrito pro Ryan em 2009, e embora seja bem estranho, é bom saber o que ele sente.”

“Brendon, isso é realmente uma besteira.” Riu baixinho, mas sem maldade. “Agora sim eu to realmente preocupado com seu bem estar nessa casa, cara. Você nunca acreditou nessas coisas.”

“Talvez eu acredite agora, depois de ter sido respondido.” Voltei a suspirar. “Eu pus uma carta para mim mesmo no assoalho solto, o da lenda, e depois de uns minutos quem me respondeu foi o próprio Ryan.”

“Claro, Brendon. E a Sarah não surta toda vez que vê o Ari Gold, hm?” Torci os lábios. [n/a: quem não surta com ele .]

“É sério, Spencer, eu não estou maluco.” Mordi o lábio, entristecido. “Quando eu voltar, eu te mostro as cartas dele.”

“Eu preciso desligar agora. Crystal e eu vamos à Starbucks comer alguma coisa. Por favor, não enlouquece.”

“Ahn, okay, Spencer.” Disse sem ânimo. “Até mais.”

“Até.”

Novamente, eu deixei um suspiro longo sair, como se aquilo deixasse o meu choque de realidade ser bem menor. Spencer estava certo, eu nunca acreditei naquela baboseira toda, mas agora era diferente. Haviam algumas horas que eu não respondia a última carta do Ryan. Talvez ele não estivesse tão aflito e feliz – ao mesmo tempo – como eu e isso lhe daria uma vantagem.

- # -

Ryan,

Você nunca havia elogiado minha voz antes. Eu fico feliz e surpreso com isso, agradeço com todo o meu coração. Talvez eu passe a me empenhar mais em cada nota após essa sua declaração. De verdade, eu agradeço. Não se deixe levar pelas coisas da entrevista, eu sou sensato e acho que certas coisas devem ser deixadas fora do convívio dos fãs. Não está sendo nada fácil pra mim. Aceitar ainda que você não está diariamente comigo é quase como largar um vício, mas que você não tem tanta certeza se quer realmente largar.

Eu falei com Spencer e ele acha que eu estou ficando maluco, que não tem como o passado e o presente se comunicarem por um assoalho quebrado no chão, mas ele acha que eu to vendo coisas porque essa casa está cheia de lembranças nossas. Você não é imaginação, se eu fechar os olhos, eu posso até mesmo tocá-lo, mas acredito que isso não te importa nem um pouco.

Agora me diz que você está tentando fazer pra amenizar nossa relação? O que está fazendo pra mudar minhas lembranças e o nosso futuro. Eu preciso de notícias nossas e, principalmente, suas.

B.


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