Edward continuava sentado na pequena mesa de café, onde Carlisle o havia deixado duas horas antes. Com o jornal entre os dedos daquele branco marmoreo característicos da sua espécie, lia na diagonal as notícias que se lhe afiguravam pouco familiares, afinal estavam em Inglaterra apenas de passagem. Levantou o olhar do jornal e fixou-o do outro lado da estrada, num pequeno parque infantil que ali se encontrava, perdeu-se a observar uma pequena menina de cabelos tão negros como o carvão, ficou perdido com o ar angelical que a caracterizava, com aquela aura de pura infância que ainda a rodeava. Não soube dizer o que mas algo naquele rosto o cativava de tal forma que deu por si debruçado sobre a mesa de olhar fixo naqueles grandes e meigos olhos castanhos.

“A bola!” gritou uma voz cintilante e tão cristalina como a àgua, dentro da sua cabeça, rapidamente se apercebeu que era a voz da pequena que vinha a observar. Tomou conta do que causava todo o alvoroço dentro da cabeça daquele anjo e em pânico viu-a correr m direcção a bola que singelamente parara no meio da estrada que se interpunha entre o parque infantil e o café. Edward não soube interpretar o que sucedeu naquela fracção de segundos, apenas deu por si do outro lado da estrada com a pequena ao colo e com a pequena bola de baixo do braço. Fintou pensativo o local que momento antes ocupara, apenas uma única vez em toda a sua existência fora impelido a salvar alguém daquela forma, e era algo do qual ele não se queria recordar. Tentando afastar os fantasmas daquele passado que ele quisera esquecer, concentrou-se no pequeno diamante que tinha entre braços.

— Obrigada! – murmurou a pequena envergonhada, antes de lhe depositar um repenicado beijo na face fria de Edward – Eu sou a Marlie, e tu? – perguntou esbugalhando os seus olhos brilhantes.

— Edward. – respondeu naquela sua voz que se assemelhava ao doce toque do veludo.

 Oh! – guinchou rejubilante – és igual ao meu mano! Ele tem estes. – explicou colocando as suas mãozinhas rechonchudas em frente da cara de Edward, mostrando sete dedos bem esticados – Eu estes. – continuou apenas mostrando uma das mãos com 5 dedos bem evidenciados – E tu?

— Eu…?! – perguntou sorrindo com tristeza – demasiados para duas mãos. – acabou por responder com melancolia.

— O meu papá está sempre a dizer que não posso atravessar a estrada. – murmurou aflita olhando por cima do ombro do seu mais recente amigo – Ele vem ai. – deixou escapar num murmúrio. Edward agarrou-a gentilmente e pouso-a delicadamente no chão. E começou a erguer-se para encarar o pai daquela beleza pura, que de algum modo lhe era familiar, a primeira coisa que viu, enquanto levantava os seus doces olhos cor de mel, foram dois punhos fortemente cerrados do mesmo tom quente da pele da doce Marlie. Assim que e endireitou percebeu que não era bem recebido.

 Larga a minha filha. – murmurou uma voz rouca pela raiva – Edward, larga-a. – exasperou de olhos cerrados. Edward contraiu o olhar e deu um passo atrás, ao sentir uma forte dor corroer-lhe o seu âmago.

FLASHBACK ON

Corria sem parar, apenas iria vê-la e depois decidiria o que fazer. Sentia-se ridiculamente ansioso. Queria saber se ela ainda lhe pertencia, a lembrança do doce sabor dos lábios dela de encontro aos dele tornava a sua corrida cada vez mais veloz. As palavras que se recordava de ter proferido naquela derradeira tarde ecoavam-lhe no pensamento, e a dor da facilidade com que ela aceitara a mentira corroía-o como ácido. Abrandou o ritmo a medida que o seu destino surgia perante os seus olhos. Foi nesse momento que estacou como se uma estaca lhe tivessem cravado no seu coração, alguém batia suavemente à porta de casa dela, mas o que o prendeu ao chão, foi ouvir os pensamentos de quem batia à porta. Sentia as ondas de dor propagarem-se por todo o seu corpo, deixando-o fragilizado. Quando viu a porta ser aberta, uma réstia de esperança assomou aos seus olhos, na esperança de que ela reagisse como ele esperava. Mas rapidamente toda a sua esperança se desvaneceu ao vê-la atirar-se ao pescoço do outro a beija-lo com paixão. Sentiu o eu corpo fraco, deixando-se cair de joelhos, ficou a ver o Volkswagen Rabbit passar, oculto pela sombra da vegetação.

Afinal ela sobrevivera, e não precisava dele.

FASHBACK OFF

 — Papá, conheces o ‘Edwad’? – perguntou confusa aquela mesma melodiosa voz cristalina arrancando-o daquelas recordações demasiado dolorosas.

 — Adeus, Marlie! – despediu-se Edward com um daqueles sorrisos arrebatadores – Jacob. – acrescentou com um aceno antes de voltar costas, deu dois paços mas estacou de novo ao som de uma nova voz.

— Jake, devias ter visto o teu filho. – entusiasmou-se uma voz demasiado familiar e cativante para ele, momentos depois sentiu aquele perfume que sempre lhe fizera saudade.

— Pai o mestre disse que em breve receberei o próximo cinturão. – exclamou o rapaz que acabara de chegar.

— Boa Ed! – congratulou Jacob com verdadeiro orgulho na sua voz. Edward continuava parado e sorriu ao aperceber-se do que Marlie quisera dizer momentos antes.

— Mãe, tenho um ‘migo novo! – exclamou Marlie com uma gargalhada de pura felicidade.

— Tens? Onde é que ele está? – perguntou ao levantar-se da posição agachada em que se colocara para conseguir falar com a filha, olhou então pela primeira vez na direcção que a filha apontava, e sentiu o ar sair violentamente dos seus pulmões, não podia ser verdade. – Edward??

— Olá Bella! – cumprimentou voltando-se ao fim de alguns minutos a ponderar o que fazer, mal conseguiu disfarçar ao deparar-se com aquele rosto que um dia lhe pertencera. Depressa reparou no forte braço que Jacob mantinha em torno da cintura dela – A quanto tempo! Nove anos, ou serão dez? – perguntou tentando fazer conversa, sabia exactamente quantos anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos,… se haviam passado desde daquela horrível tarde em que ele deitara tudo a perder. Em que ele deixara escapar aquela jóia rara.

— Será mais ou menos por ai. – respondeu com dificuldade, era incrível como ela continuava a sentir aquele formigueiro no fundo do estômago depois de tanto tempo, era incrível que nada naquele rosto tivesse mudado, continuando com os perpétuos 17 anos – Já conhece o Jacob, a Marlie e este é o nosso filho mais velho o Edward. – apresentou com um pequeno gesto.

— Edward – murmurou para ele mesmo, de forma inaudível para eles, e o seus olhos não conseguiram deixar de se derreter naquele âmbar que Bella um dia amara.

— Edward ai estás tu! – exclamou outra voz tão conhecida a Bella, assim que este chegou perto deles os seus olhos deixaram transparecer espanto e preocupação numa fracção de segundo – Bella Swan, és tu?

— Olá, Carlisle. – cumprimentou Bella com o coração cada vez mais apertado, será que iriam aparecer todos os membro da família Cullen?! Sentia-se fragilizada e ao mesmo tempo protegida pelo forte braço que Jake mantinha na sua cintura.

— Edward, temos de ir. – informou Carlisle – o avião parte daqui a pouco mai de duas horas – Desculpem pela pressa. – disse despedindo-se com um beijo no rosto de Bella.

— Adeus. – despediu-se também Edward dando um beijo no rosto dela – Ainda te amo. – murmurou junto a orelha dela de modo a que apenas ela o ouvisse, após apertar a mão ao Ed e a Jake despediu-se com um pequeno beijo na testa de Marlie – Adeus pequenina. – despediu-se antes de voltar costas.

— Marlie volta aqui. – ouviu a voz de Jacob pedir no momento em que sentiu as suas calças serem levemente puxadas, voltou-se e encontrou a pequena Marlie a olhar para ele fazendo-lhe sinal para que se baixa-se. Assim que se pôs de cócoras, a pequena entrelaçou os pequeno braços em torno do pescoço dele e dando-lhe um pequeno beijo na face acrescentou – Gosto muito de ti. – soltou um risinho e afastou-se acenando enquanto corria em direcção aos pais.

Edward levou os dedos ao local em que recebera o beijo e voltou-se seguindo Carlisle, que o olhava com preocupação. Ele teve a certeza que se pudesse chorar teria uma gorda e salgada lágrima a escorrer pela face.