Equinox - Última Temporada escrita por LastOrder


Capítulo 22
Mais uma vez


Notas iniciais do capítulo

"- Eloise, eu não posso voltar assim, só serei um fardo se voltar com este corpo...

Meu cérebro compreendeu o que estava implícito naquilo, o que eu teria que fazer. O que eu teria que fazê-lo passar.

— Nem pensar. Afastei-me, indo para o outro canto do quarto, querendo fugir daquilo."



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PDV Isaac

Aquele vento de litoral tão familiar acariciava meu rosto numa recepção de boas vindas que há tempos eu não recebia; A maré que chegava até minhas mãos, conseguiu subir mais um pouco e molhou meu rosto e parte do meu cabelo. Apenas naquele momento percebi que estava deitado.

Forcei meus olhos a se abrirem e me deparei com um céu infinito cheio de estrelas. Surreal, eu não tinha a menor vontade de sair do lugar, não me importava no por que de estar ali, era como se minha mente estivesse completamente vazia.

A maré voltou a subir e senti a água gelada entrando na minha roupa, causando aquele choque térmico desagradável. O que em outras palavras significava que eu ainda era humano.

Levantei uma das mãos para o alto colocando-a na frente da minha visão do céu. O anel com o símbolo da minha família cintilou no meu dedo, como se tivesse luz própria.

Sentei num movimento rápido, parecia que haviam me ligado numa corrente elétrica. Olhei primeiro para as minhas próprias roupas: Botas de couro, calças justas, camisa de linho extremamente folgada, e aquele enorme sobretudo marrom.

Aquilo não devia estar acontecendo!Nem podia! Virei o corpo para saber exatamente onde estava, e eu sabia... Marselha, nunca me esqueceria daquela praia onde me escondia dos meus pais, nunca me esqueceria da minha irmã Anne, a única que me apoiara, mesmo sem saber.

No entanto, a real pergunta era: O que eu estava fazendo aqui? E talvez ainda mais importante do que isso, como eu voltaria?

Uma risada fina e infantil tirou minha atenção das ondas. O alivio de não estar só naquela época foi repentino e breve, já que antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o pequeno vulto desapareceu na penumbra da noite.

- Ei! Espere! – Levantei-me e corri na direção em que vira o desconhecido desaparecer.

A cada passo que eu dava a distancia aumentava estranhamente, quando eu via sua silhueta a poucos metros, a criança parecia desaparecer e reaparecer a dez metros de distancia sob a luz fraca da lamparina da rua, e a única coisa que eu podia ver era seus cabelos compridos esvoaçarem no movimento que fazia antes de sumir novamente, rindo.

Já estava quase desistindo daquela brincadeira quando percebi para onde ela estava me guiando.

Parei para recuperar o fôlego ao ouvir a batida do enorme portão da minha antiga casa se fechando. Quase havia me esquecido quão estonteante ela era, ali no topo de numa das colinas, tendo ao seu redor, o imenso mar e a cidade em crescimento. Os jardins pareciam tão vivos que não era necessário a luz do sol ou as fontes em funcionamento para admirar sua beleza.

Subi a grande escadaria de granito e abri a porta de entrada, as velas do lustre e dos candelabros estavam acesas. E sentada no grande sofá barroco da sala, estava a fugitiva.

Uma menina, não devia ter dez anos ainda. Olhos azuis e cabelos castanhos claros que lhe desciam pelas costas até a metade das costas, pele extremamente pálida que só se realçava por causa do vestido azul cheio de babados que usava.

Uma menina normal, eu diria. Mas ainda assim, eu tinha a impressão de que ela era de suma importância, algo dentro de mim gritava que eu tinha que protegê-la a todo custo. E, além disso, eu não tinha certeza, mas ela me era extremamente familiar.

- Quem é você? – Perguntei calmamente dano um passo na sua direção.

Ela apertou o urso que segurava com mais força entre os dedos, me olhou apavorada. Por um momento duvidei que ela fosse a mesma garotinha que me havia feito de bobo há poucos minutos.

- Não, não se preocupe. – Agachei-me para ficar a sua altura. E sorri. – Eu não vou machucar você.

Sua expressão se suavizou e deu um sorriso triste.

-O que houve?

- Onde estão meus pais? – Falou claramente, com uma voz tão afinada e melodiosa que quase acreditei que não fosse humana.

- Desculpe, eu não conheço seus pais.

-Você não conhece os meus pais?

- Não, eu...

O vento bateu contra as janelas com tal força, que estas sucumbiram e se abriram deixando a rajada violenta entrar na sala, derrubando quadros, vasos e mesmo moveis. O fogo que iluminava o aposento se apagou.

Olhei para a menina cuja expressão mostrava sua indiferença a tudo o que havia acontecido, deixando-a assustadora sob luar. Levantei-me num movimento reflexo e afastei-me um passo.

Ela pôs os pés no chão, ao mesmo tempo em que um raio furou o teto da casa, entrando na sala. Coloquei o braço sobre o rosto para proteger os olhos daquela claridade abrupta. Que desapareceu dando lugar ao sofá que queimava, devido à ação da queda daquele fenômeno misterioso.

A menina de antes não estava mais ali. A nova luz do fogo me mostrava uma nova pessoa, e eu já começava a acreditar que depois de tantos anos na Terra, a loucura finalmente estava começando a me afetar.

- Eloise?

Sim, ela estava ali, no século dezoito, na minha casa. Aquilo era impossível! Seus avós nem eram nascidos ainda!

- Onde está minha filha, Isaac?

A surpresa gerada por aquelas palavras foi substituída pelo espanto quando meus olhos focalizaram a mancha de sangue sobre seu ventre, que crescia, consumindo o tecido claro do vestido.

E o espanto transformou-se em pânico quando ela sucumbiu em direção ao chão.

Peguei-a nos braços sem me importar com aquele sangue, sem me importar se eu estava vivendo uma fantasia, a dor era real. Agitei seu rosto e chamei por seu nome, mas ela não respondeu ao meu chamado. Imporei para que abrisse os olhos.

Não, não de novo.

Abracei-a contra meu corpo, tentando segura-la perto de mim, as lagrimas desceram pelo meu rosto como uma enxurrada.

- Não, não...

-----------*----------------

Abri os olhos num movimento rápido para a tinta descascada da parede ao meu lado.

Mal sentia o ar chegar aos meus pulmões, meu coração batia tão forte que parecia querer abrir um buraco e saltar para fora do meu peito. Uma sensação horrível me atormentava, e eu não sabia explicar o motivo daquilo.

Sentei-me na cama, procurei por Eloise, ela não estava no quarto.

Fui para a cozinha num passo mais rápido que o normal, desejando com todas as forças que ela estivesse lá. A minha mente já começara a me mandar projeções das idéias mais absurdas de onde Eloise poderia ter ido, e do que poderia ter acontecido com ela.

Ela não estava na cozinha, as chaves da moto estavam na bancada da cozinha. Algo de ruim havia acontecido. Calcei os sapatos e peguei as chaves sem nem sequer pensar em quão fraco eu era, tão fraco que seria incapaz de protegê-la do que quer que fosse.

Saí para a varanda e meus olhos foram atraídos pelos arco íris que brilhavam à minha esquerda, perto da moto.

- Ei, Isaac! Aqui! – Eloise gritou balançando um pano úmido com o qual parecia limpar a moto. Fui andando a passos firmes em sua direção.

-Bom di... – Ela ia me cumprimentar quando a abracei com todas as forças que eu tinha, tentando suprimir aquele estranho pavor que se havia apoderado de mim esta manha. – Isaac, o que houve?

Encarei seu rosto que parecia ser feito de diamantes, e levei minhas mãos até ele. Sorri fracamente.

- Não é nada.

- Tem certeza?

- Sim, foi só uma sensação passageira, mas já estou melhor.

Sorriu de orelha a orelha e pegou meu braço, conduzindo-me para a casa.

- Ótimo, então vamos entrar e fazer seu café da manhã.

----------*----------

PDV Eloise

O dia havia sido muito estranho, por que Isaac havia estado muito estranho. E não me refiro ao fato dele ser humano, eu convivia há bastante tempo com humanos para me adaptar facilmente ao Isaac de agora.

Eu me refiro ao fato dele ter passado o dia todo quieto, alheio, como se a mente estivesse resolvendo problemas insolúveis. Respondia minhas perguntas com típicos monossílabos e balanços de cabeça. E mesmo assim, não saia de perto de mim, sempre passando um dos braços pelo meu corpo, enlaçando minha cintura e me trazendo para perto, como se estivesse com medo de que algo acontecesse.

Agora mais do que nunca, queria poder entender o que Isaac tanto matutava consigo mesmo, queria ter essa estranha habilidade que ele tinha para comigo. Ou talvez eu que fosse muito fácil de interpretar e ele, o contrario.

Suspirei fundo, segurando o peso da cabeça sobre a mão apoiada no parapeito da janela. Deviam ser quase sete horas, o sol já desaparecera totalmente e o que sobrara dele se resumia em raios finos.

- Eloise?

Virei ao ouvir a voz de Isaac, seus cabelos úmidos indicavam que ele havia acabado de sair do banho.

- Preciso conversar com você.

-  O que houve, Isaac?

Ele se aproximou e segurou minhas mãos entre as suas, me fitou com aqueles olhos que pareciam querer me afogar na sua imensidão.

- Está na hora de voltarmos... E ajudar os outros,Luke e Elena já devem ter mandado noticias... Não podemos mais nos isolar aqui.

Abaixei a cabeça e segurei suas mãos com mais força, era verdade, já estava na hora de encarar os fatos. Era hora de voltar e ajudar a minha família.

- Tem razão, amanhã voltaremos.

- Não.

Levantei o olhar, perplexa.

- O que? Mas você não disse...

- Eloise, eu não posso voltar assim, só serei um fardo se voltar com este corpo...

Meu cérebro compreendeu o que estava implícito naquilo, o que eu teria que fazer. O que eu teria que fazê-lo passar.

- Nem pensar. – Afastei-me, indo para o outro canto do quarto, querendo fugir daquilo.

- Por favor, Eloise, seja razoável. Se eu tiver a força e a velocidade de um recém criado, vamos ter mais chances e...

- Não, Isaac! – Virei o rosto para encará-lo. – Eu não posso fazer isso com você, não posso e não quero. Você não merece passar por isso de novo.

- Você tem que fazer! – Disse quase gritando. Pegando-me de surpresa, não me lembrava de tê-lo visto perder a calma alguma vez.

Ele se afastou encostando-se à parede, suas mãos escondiam seu rosto.

- Não agüento mais ser humano. Viver nessa vulnerabilidade, nesse medo... Eu posso morrer por qualquer coisa, a qualquer momento, te deixando sozinha agora quando você mais precisa de mim. – Suspirou e levou o olhar de encontro com o meu. – Agora, quando eu mais preciso ser forte para proteger você, eu não consigo nem proteger a mim mesmo.

Fui até ele, e o abracei, afundando o rosto na sua camiseta. Finalmente compreendendo o que havia acontecido.

- Era isso que estava te atormentando a tarde toda, não era?

Isaac ergueu meu rosto, afagando minha bochecha com a palma de sua mão quente.

- Eu... Tenho uma estranha sensação de que algo ruim vai acontecer. – Engoliu em seco, hesitando, escolhendo as palavras. – E temo não ter forças para manter você comigo, quando o destino quiser tirar-te de mim.

Então, eu teria de transformá-lo também. Meu coração se apertava só de pensar na dor que eu causaria. Perguntava-me por que nesses últimos tempos a única coisa que eu conseguia era por em risco a vida de quem eu amava.

- Tem certeza que quer fazer isso?

- Tenho.

Beijei seus lábios enroscando meus dedos em seus cabelos molhados. Um beijo sôfrego e ansioso no qual eu tentava transformar toda minha revolta pelo jogo que havia se tornado minha vida

Caímos sobre o colchão, eu sobre ele, sem nos separar uma vez que fosse.

Eu não queria fazer aquilo com ele, não queria machucá-lo, faze-lo sofrer. Impor a pior dor que alguém poderia sentir, como ser queimado vivo. Nem o que Jane fazia se igualava a queimar por três dias inteiros. Isaac não merecia isso, e nem eu.

Levei os lábios para seu pescoço, seguindo a linha de  sua mandíbula. E então hesitei.

- Me desculpe. – Sussurrei. Seus braços me apertaram mais contra ele.

Em seguida cravei meus dentes afiados na sua pele, sugando seu sangue e deixando que meu veneno se espalhasse.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoas!!!1
MInhas provas acabaram!! EEEeeee
E para mostrar a minha alegria e como estou de bem com o mundo, postei mais um cap.

Espero que gostem.

Hehehe

Bjsss