“A janela era minha única fonte de luz durante o dia. A luz penetrava nas brechas que ali haviam, passei uma semana aqui, trancado nesse quarto. A fome não irradiava como antes, não enxergava as coisas com o toque de antes, tudo ficou preto e branco, para sempre.

Não tinha vontade de sair. Pode até achar que é inveja ou coisa do tipo, mas não. Ver as pessoas sorrindo uma para as outras faz eu me sentir uma farsa, me sentia deslocado. Quando saía de casa, andava o mais devagar possível, afim de observar cada toque, cada sorriso, afim de guardar tudo aquilo na minha mente.

Você nunca pode imaginar o que se passa na vida da pessoa que senta ao seu lado no ônibus, ou num banco de praça. Tudo é um enigma, você pode estar sentado ao lado de um suicida, ou talvez, pode estar ao lado de uma pessoa milionária. Nunca se sabe.

O fato é que, tenho quase toda a certeza que nunca vou encontrar alguém como ela. Consegui viver de verdade por uma semana, e pelo o que lembro, foi magnífico. Mesmo com todos aqueles aparelhos respiratórios, mesmo sem conseguir andar, mesmo sem sair daquele hospital, consegui superar tudo e ser feliz ali. Trocaria minha saúde para viver ali, com ela. Mesmo sendo difícil em todos os aspectos, senti que fomos crianças felizes durante o tempo que à restava. Mas agora, uma semana depois de tudo, sinto que meu corpo não quer mais permanecer aqui, minha mente está fraca, meu corpo arde ao toque da água quente, com o tempo, só restará cicatrizes pelo corpo. As pessoas só enxergam a vida como ela é, depois do amor verdadeiro.

Mesmo depois de tudo isso, não me arrependo de nada, se pudesse passar meses sem comer, beber e dormir só para vê-la novamente, aceitaria com toda a certeza. Ver aquele sorriso faria eu resistir mais tempo, faria com que eu me sentisse daquela forma de novo. Mas agora, só o que restaram foram fotos e gravações. Coisas que vejo quase todos os dias, tendo a esperança que isso à traga de volta para mim”.

24/04/2009

Vitória Carvalho *23/04/2000 † 16/04/2009