São duas e quinze da madrugada, e Angus Jenkins presencia um momento único de sua vida. A caçula dos Bennett ou Ava, sua vizinha de olhos transparentes e alma solitária rodopia pelo quarto em frente à sua janela sem perder o passo uma única vez, enquanto é afundada na melodia mais do que melancólica de uma música do Broken Social Scene. Ela poderia estar dormindo, mas não está. Há algo que a incomoda demais para deixá-la adormecer, e que também incomoda a Gus, a pessoa que, provavelmente, mais se importa com ela. E isso é uma pena, pois Ava não faz ideia de sua existência. São dois anos estudando a rotina incansável da vizinha aficionada pelos livros de Anatomia e por suas músicas ensurdecedoras, e mesmo tendo uma ótima vida na ensolarada Califórnia, com os seus melhores amigos e pais que sabem muito bem como mimá-lo, Gus não tem noção de quando poderá se desvencilhar do mau hábito de bisbilhotar tanto alguém que sequer o percebe em frente àquela janela todos os dias. Até escrever uma música sobre ela. Sim, ele escreve uma música naquele mesmo instante, uma música que mostra uma Ava que todos desconhecem, cheia de sentimentos e conflitos internos. E agora, depois de tanto tempo apenas conhecendo-a de longe, Angus se vê motivado a aproximar-se dela, tendo apenas um dilema que poderia barrá-lo de fazê-lo: a implicância diária de todos principalmente da própria família Bennett perante os acontecimentos na vida da garota de roupas largas e cabelos amassados. Gus conta com a ajuda de sua banda para tornar possível o que ele idealiza há tanto tempo, sem imaginar que podem acabar mudando muitos assuntos em um piscar de olhos ou melhor, em um soar de cordas.