A maioria dos eventos cotidianos acontecem por uma razão. Uma gota que desliza sorrateira por uma folha, uma corrente de vento que sacode a janela de uma casa, um acidente de carro que o choca contra uma parede de concreto. Eu sou a alavanca que dá início e continuidade a roda da vida, afinal, essa é a tarefa de um ceifador.

Seus cabelos, longos e negros, caíam sob suas costas, formando uma manta escura e sedosa que atraía olhares e contrastava perfeitamente com sua pele, bronzeada de sol. Seus olhos eram dois globos verde-esmeralda que, se alguém encarasse durante muito tempo, poderia perder-se no meio daquela floresta impetuosa que vivia em seu olhar. Parecia uma personagem saída de um conto de Machado. Uma cigana oblíqua e dissimulada. Sofia poderia ser tudo que um homem, ou uma mulher, quisesse na vida. Mas ela tinha apenas um problema: Não possuía um coração.

"Tente ver o mal que eu sou. Ando pelo mundo em trajes de mortal, o pior dos demônios. O monstro que se parece exatamente com todo mundo."
Irei lhe contar uma história. A amarga história da minha vida, ou morte, como preferir. Vago pela noite, dia após dia, solitária. Meu rosto angelical é só uma casca para minha alma diabólica, mas, muitos dizem que não possuímos alma mesmo. Que seja... Depois de conhecer tudo, ver de tudo, aprender tudo... Um dia a eternidade irá pesar em suas costas. Sente-se, irá ouvir minha história.

"Se bondade existe mesmo, então sou o oposto dela. Sou o mal e me deleito com ele. Mas o bem e o mal de certa forma são conceitos criados pelo próprio homem. Tenho vivido por todos esses anos e até hoje nem Deus nem Satã me incomodaram. O que me incomoda são vocês. Eu sou a Morte Cavalheiresca de seda e rendas, que veio para apagar as velas. O rancor no coração da rosa".
Seus pés pequenos e delicados tocarão o solo devagar, não fazendo ruído algum. E vocês ouvirão ao longe, o mais temível dos seres correr amedrontado. Ela acordou.

"Tente ver o mal que eu sou. Ando pelo mundo em trajes de mortal, o pior dos demônios. O monstro que se parece exatamente com todo mundo."
Irei lhe contar uma história. A amarga história da minha vida, ou morte, como preferir. Vago pela noite, dia após dia, solitária. Meu rosto angelical é só uma casca para minha alma diabólica, mas, muitos dizem que não possuímos alma mesmo. Que seja... Depois de conhecer tudo, ver de tudo, aprender tudo... Um dia a eternidade irá pesar em suas costas. Sente-se, fique à vontade, você sairá daqui com vida... Ou não.