Photograph escrita por Nyuu D


Capítulo 3
Capítulo 3




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Quando Atobe acordou na manhã do dia seguinte, ele estava com uma inspiração incrível para fazer um set de fotos de inverno pelos parques da cidade, e já estava com seus planos de pé para sair pela manhã e pegar a neve fresca. Eram oito horas quando ele saiu da cama, colocou um roupão grosso por cima do pijama e desceu para tomar café. Estava frio, e Keigo nunca lidou muito bem com isso, mas enfim...

Assim que chegou à sala de jantar, ele pegou o controle da televisão que estava ao lado de seu prato e ligou para assistir ao jornal. Seus pais sempre tomavam café muito cedo e saíam tão cedo quanto, assim, ele normalmente tomava o desjejum sozinho. Ele pegou um pote de frutas que havia junto das outras louças e começou a comer.

Enquanto isso, ele foi mudando os canais e, de repente, deu de cara com uma figura muito conhecida sua.

Tezuka Kunimitsu.

Então era esse isso que ele tinha para fazer?

O rapaz estava dando uma entrevista no estúdio do jornal da manhã do canal 19. A jornalista âncora perguntava sobre o livro para ele e Tezuka começou a falar um pouco da história, contando sobre o protagonista etc. Atobe percebeu que ele estava ainda um pouco tímido, talvez a entrevista tivesse acabado de começar.

– May – ele chamou e a empregada virou-se para o rapaz. – Está reconhecendo essa pessoa na televisão?

A mulher virou a cabeça de cabelos presos num coque comportado e olhou para Tezuka na tela da TV, enquanto ele conversava com a jornalista, já mais confortável, aparentemente.

– Eu acho que... O bocchama já o trouxe aqui na mansão para jogar tênis, não?

– Sim, exatamente. – Keigo sorriu, pegando um pedaço de pão doce da cesta. May percebeu que ele havia terminado o pote de frutas e foi recolher, mas só depois de colocar café e leite na xícara para ele. Atobe mesmo pôs uma colher de açúcar e mexeu o líquido na xícara, com os olhos presos na televisão.

Cheio de orgulho. Cheio mesmo.

– Você nem imagina como eu estou me sentindo ao vê-lo aí.

Ela deu um sorriso gentil na direção dele. – O bocchama é muito bondoso.

– Obrigado, May. Eu sei. – Ele cortou o pão e passou manteiga, agradecendo ao elogio com toda a modéstia que lhe cabia.

Na televisão, Tezuka foi questionado sobre como ele ascendeu na carreira daquela maneira, sobre seu assessor e a noite de autógrafos na livraria de Tokyo. O rapaz empertigou-se na cadeira, parecendo não esperar exatamente por aquela pergunta. Atobe atentou os ouvidos.

Tezuka falou um pouco de Inui, sobre como ele era um homem muito sério e responsável, que gostava de seguir tudo à risca e isso dava muita disciplina no seu ritmo de escrita.

A noite de autógrafos eu recebi... Hum – ele fez uma pausa, mexendo nos óculos. – Um amigo meu me ajudou com isso, o Atobe Keigo. – Explicou então e Keigo ergueu o queixo, mais cheio de si do que nunca. Se é que isso era possível.

Então o Tezuka-sensei teve mesmo apoio do Atobe Keigo-sama? Quer dizer que vocês são amigos? Ele leu seu livro?

Pode-se dizer que sim, somos amigos... – Tezuka fez uma expressão de incerteza, o que fazia Atobe não saber se aquilo era bom ou ruim. Talvez fosse bom, porque eles não eram só “amigos”, ou talvez fosse ruim, porque ele não quis dizer que não se conheciam lá tão bem assim para serem chamados de amigos. – Ele leu minha obra, gostou muito e quis me ajudar com a divulgação, foi muita gentileza da parte dele. A foto que está na aba do livro foi tirada por ele.

Aquela foto é muito bonita, se me permite dizer – a mulher deu uma risadinha e Tezuka ficou meio sem jeito, mas agradeceu de qualquer forma. Atobe sorriu, olhando o rosto constrangido de Kunimitsu enquanto ele respondia aos elogios da âncora. Keigo poderia ter ficado irritado com isso, mas de alguma forma, tinha certeza que Tezuka não estava interessado nela, mesmo.

Novamente, seu grande ego atuando.

Eles conversaram mais algumas coisas e a jornalista despediu-se dele. Tezuka levantou do sofá e agradeceu cordialmente à mulher, dirigindo-se para fora dos estúdios. Atobe suspirou e continuou comendo, pensando em pegar o telefone e ligar para ele imediatamente, mas lembrou-se também que iria sair para tirar as fotos dos parques no inverno.

Depois de terminar seu café da manhã, ele voltou ao quarto para tomar um banho quente na banheira redonda enorme de sua suíte e vestir-se. Muita roupa, aliás, mas ele cobriu as roupas de baixo com um casaco marrom de veludo cotelê, junto com a calça jeans acinzentada e um sapato marrom. Depois, pegou seus aparatos de fotografia e levou o sapato em mãos junto com elas para baixo, até chegar à saída da casa e calçá-los nos pés para sair.

Foi ele mesmo dirigindo mais uma vez, porque não gostava de levar o motorista quando ia tirar fotografias.

Ficou se perguntando se encontraria Tezuka num desses parques, mas enfim, as possibilidades eram muito remotas. Ele deveria estar trabalhando agora, então Atobe iria mesmo é ligar para ele assim que voltasse para casa, lá pelo fim da tarde, levando em conta que suas sessões de foto podiam durar muitas horas.

E durou mesmo. Ele pôs seu fone de ouvido e deixou Bellini tocar enquanto tirava fotos de várias coisas; crianças, cachorros peludos na neve, pessoas esfregando suas mãos nas luvas, atirando neve umas nas outras, árvores congeladas etc. Ele particularmente adorava as plantas no inverno, ficavam incrivelmente bonitas, cheias de gelo e neve. Dava para tirar fotos incríveis de macro ou de ângulos inusitados.

O sol estava aparecendo no céu naquela manhã, o que fazia o gelo derreter, então foi muito bom mesmo ele ter optado por sair relativamente cedo para tirar fotos. Porque podia pegar boas imagens tanto da neve e do gelo, quanto do derretimento dos resquícios da noite congelante de inverno.

Atobe estacionou o carro num dos parques pequenos espalhados pela cidade e saiu do automóvel com a câmera na mão. Os olhos azuis percorriam o lugar já imaginando um milhão de fotografias possíveis até que seu telefone tocou no bolso do casaco e ele foi obrigado a interromper seus pensamentos. Praguejando mentalmente, ele tirou o fone de ouvido, pegou o aparelho e deu uma olhada no visor para desligar na cara do indivíduo, entretanto...

– Alô, Tezuka? – Atobe falou já sabendo que era ele. Mal deu tempo do rapaz falar, já foi logo continuando. – Eu vi você na televisão hoje cedo, por que não me disse que ia dar uma entrevista?

Não sei...

– Como você é modesto, eu fico muito impressionado com sua humildade. – Falou sinceramente, embora possa ter parecido que não. – Por que está me ligando?

Eu também não sei uma resposta para essa pergunta.

– Bom, se você não sabe, quem dirá eu. – Atobe pôs a mão no flanco e ficou olhando as fotografias no screen da câmera.

Estou ouvindo um barulho, onde você está?

– Num parque que eu não sei o nome.

Bem... Eu gostaria de conversar...

– E onde você está?

Em casa.

– Estou indo aí. – Tezuka nada disse do outro lado da linha, mas fez um ruído com a garganta. – Tudo bem?

É um pouco de repente, meu apartamento está bagunçado.

– Eu não ligo pra isso, não vou aí ver seu apartamento. – Atobe desligou a câmera e começou a caminhar rapidamente até o carro. – Eu estou perto daí, ou mais ou menos, daqui uns vinte minutos eu chego.

Certo.

– Tezuka. – Ele disse quando ligou o carro, sentindo-se tenso. Soltou a chave e ficou olhando para frente, como que mentalizando o rosto confuso de óculos à sua frente.

Sim?

– Tá tudo bem, né?

O rapaz demorou uns instantes para responder.

Sim, está.

– Ótimo. – Ele respirou, aliviado. – Então eu apareço aí logo, se quiser, pode ir arrumando a tal bagunça.

Tezuka despediu-se, então, e Atobe foi dirigindo pelas ruas, dando preferência àquelas de onde a neve já havia sido retirada a um ponto que dava para dirigir. Embora ainda não tivesse tanta neve de forma que fosse impossível trafegar, as pistas ficavam escorregadias e equipes trabalhavam para facilitar o trânsito.

Assim que ele chegou ao prédio onde Kunimitsu morava, parou o carro em alguma vaga onde o carro caberia e desceu para ir até a entrada do condomínio. Estava tão frio, mas pelo menos agora o sol dava uma esquentada superficial no corpo. Atobe identificou-se com o porteiro, que o deixou subir. Então, ele pegou o elevador até o apartamento do rapaz e tocou a campainha quando chegou lá.

Tezuka abriu a porta, vestindo uma calça jeans e uma camiseta de malha bem folgada. Estava muito quente lá dentro.

– Meu Deus, você está fazendo uma fogueira no seu apartamento ou o quê? – Atobe abanou o ar na frente do rosto como se tivesse sido golpeado por uma onda de fumaça.

– Eu estou com muito frio, e não gosto de trabalhar com muita roupa dificultando a locomoção.

– Hum, entendi... – Atobe tirou o casaco ao entrar no apartamento, que não estava lá tão desorganizado quanto havia sido dito por telefone. Tirou os sapatos e deixou-os próximos da porta após fechá-la. Tezuka encaminhou-se até o balcão da cozinha.

O primeiro ambiente era único, com dois sofás em volta de uma mesa de centro, e uma TV próxima da janela do lado esquerdo. Do direito, havia uma bancada em forma de L que fechava a cozinha e separava os dois cômodos. Na parte externa da bancada, banquinhos rodeavam um balcão estreito, apropriado para comer. Tudo era o mesmo móvel, exceto os bancos, que pareciam de bar.

E, claro, muitos livros espalhados por todos os cantos. Na bancada da cozinha, no balcão, uns sobre um dos banquinhos, na estante... Enfim.

– Quer chá? – Tezuka caminhou até a cozinha e pegou a chaleira com água quente para colocar numa xícara. Atobe aceitou e ele pôs em outra, então, entregando-lhe uma caneca branca com um saquinho de chá para que ele misturasse. Keigo ficou olhando para o chá avermelhado e o observou adoçar o próprio com muito pouco açúcar.

– Tezuka, você está me matando. – Keigo ficou do outro lado da bancada enquanto o moreno colocava a chaleira de volta no fogão. O moreno virou-se em sua direção e segurou a caneca com as duas mãos, aquecendo-as nela. – Sobre o que você quer conversar?

Tezuka baixou os olhos castanhos para o chá e piscou-os lentamente embaixo das lentes dos ósculos. Atobe ficou olhando, todo apreensivo. Se não estava nervoso antes, ou pelo menos não muito, agora tudo havia caído como um baque.

– Na realidade, não é nada em especial. – Ele confessou, levando a xícara aos lábios. Bebericou um gole e Keigo franziu as sobrancelhas significativamente, confuso.

– Como assim? Você fez todo aquele suspense pra “nada em especial”?

– Que suspense? – Tezuka o olhou sem entender.

– Aquele suspense no telefone! Quero conversar com você, blábláblá.

– Não sei do que você está falando, Atobe. Eu só não sou muito bom pra falar no telefone.

O loiro segurou o rosto com força e respirou fundo. Tezuka não podia ser tão ingênuo daquele jeito, tinha alguma coisa errada.

– Então você não queria conversar sobre nada em especial? Só conversar?

– É... Por isso eu liguei.

Atobe relaxou os ombros e respirou fundo, levando o chá aos lábios para beber um gole e sentiu que era de frutas, sejam lá quais fossem. Pelo jeito, ele era mesmo meio ingênuo, provavelmente tinha dificuldade em confessar seus sentimentos, enfim... Keigo olhou para ele com os olhos brilhando de admiração e carinho, sem nem perceber.

Tezuka ficou meio constrangido.

– Você está escrevendo? Se estava trabalhando, por que me ligou?

O moreno saiu da cozinha e dirigiu-se até o sofá, sentando-se no que ficava de frente para a televisão. Nesse meio tempo, Keigo o seguiu. Sentou-se ao lado do rapaz e segurou a xícara no colo, sustentando o olhar.

– Não conseguia me concentrar. – Disse Tezuka depois desse tempo todo, girando a colher no chá. Atobe baixou os olhos para o movimento do líquido e ficou observando as mãos dele.

– Estava sentindo minha falta? Pensando em mim? – Keigo fez uma expressão de espertinho e sorriu, arrastando a bunda no sofá e aproximando-se mais dele. Tezuka o espiou de soslaio e voltou seus olhos para a xícara, ficando mais sem jeito do que antes. Podia até ser tudo aquilo, mas ele não tinha essa facilidade toda para falar. – Ahn? – Insistiu com aquele tom atrevido.

– Não seja tão arrogante, Atobe. – Tezuka projetou o tronco um pouco para o lado, fugindo da aproximação do rapaz.

– Mas eu estou certo, não estou?

Kunimitsu encostou as costas no sofá e Atobe virou o corpo para olhá-lo de frente, apoiando a mão no respaldo. Ficou esperando uma resposta. Não daquele jeito ansioso de antes, apenas aguardando pacientemente por uma confissão ou algo assim.

Tezuka não respondeu, apenas ficou bebendo o chá e prendendo seus olhos em qualquer coisa que não fosse aquela cara de convencido de Keigo.

– Certo, então vamos conversar. Sobre nada em especial. – Keigo se ajeitou melhor e levou o chá para perto do rosto, apreciando o cheiro doce que tinha. – Hoje eu saí para tirar umas fotos, quer vê-las?

– Atobe, você vai para a Rússia?

– Desculpe? – Ele franziu as sobrancelhas, mas só porque a pergunta não tinha nada a ver com o que estava falando. – Por que isso de repente?

– Foi só uma pergunta.

– Já respondi, se eu tiver um motivo para ficar, eu não vou.

Tezuka afundou um pouquinho no sofá, sentando-se de forma mais confortável. Atobe achou esquisito, porque o rapaz normalmente tinha uma postura muito correta e rígida, dificilmente ficava daquele jeito relaxado. Ou talvez só estivesse cansado.

– Eu gostaria de ver suas fotos, está com a câmera?

Mas que merda, o que estava acontecendo com Tezuka, afinal?!

Atobe assentiu com a cabeça e disse que havia deixado os aparelhos no carro, então desceria para buscá-los. Vestiu o casaco e pegou uma luva emprestada para sair do apartamento, que estava mesmo com a temperatura bem diferente da de lá fora.

Tezuka fechou a porta quando ele saiu e retornou à cozinha para deixar sua xícara na pia. Estava se sentindo meio idiota. Mas havia falado a verdade, de certa forma; não conseguia mesmo se concentrar e sabia que se não terminasse de organizar a reunir as informações até a outra semana para começar sua nova obra, que seria uma série com dois volumes, Inui lhe cobraria muito.

Mesmo assim, não conseguia parar de pensar em Atobe, e naquele beijo, e em todo o resto.

Suspirou, olhando o calendário, que marcava quinta-feira. Tinha até segunda, no máximo, estourando, até terça para completar todo o seu trabalho e já havia sido chamado para dar uma entrevista no sábado para um programa de auditório à tarde. Ou seja, seu tempo estava ainda mais limitado e sua cabeça não colaborava mesmo para que as coisas progredissem.

De acordo com Inui, para que um autor como ele, tão jovem e de pouca experiência, conseguisse deslanchar no mundo da literatura, ele teria que se esforçar para lançar uma nova obra de qualidade. As estatísticas não mentiam: os autores que mais tiveram êxito quando ainda eram jovens eram os que aproveitavam o sucesso para mostrar mais de seu trabalho.

E Inui naturalmente estava certo. Ele sempre foi o rei dos dados super precisos.

Respirou fundo e retornou à sala. Também tinha pensado bastante naquilo de Keigo viajar para Moscou. Era um pouco de bobagem de sua parte, mas no fundo, não queria que ele fosse. Talvez porque estavam se conhecendo agora e Tezuka nunca encontrou alguém que se interessasse por ele com tanto afinco.

Ou melhor, que ficasse interessado mesmo depois de perceber que Tezuka era muito mais tímido do que o normal. Atobe na realidade parecia gostar muito disso.

Tezuka estava sendo meio bobo, e realmente enxergava isso bem na sua cara, mas... Não conseguia evitar.

Keigo retornou depois de uns minutos e foi direto na televisão para colocar os cabos e conectar a câmera, assim a qualidade das fotos apareceria com mais ênfase. Atobe gostava mesmo do que fazia, Tezuka percebia isso quando o via falar sobre fotografia. Mesmo assim, a única arte que havia visto dele foi a foto que o rapaz tirou sua no parque. Então, estava ansioso para ver o que ele tinha para mostrar.

Atobe sentou no sofá que estava mais perto da TV e começou a falar bem empolgado das cores, texturas, o que ele pensou ao tirar as fotografias, ângulos, enfim... Ele falava pra caramba sobre tudo, enquanto Tezuka ouvia pacientemente a cada palavra dele, admirando a paixão que ele tinha pelo que fazia.

Kunimitsu fez algumas perguntas, para deixar claro que estava prestando atenção, afinal, ficar apenas ouvindo pode dar a impressão de pouco caso.

– A câmera tem um disparador, por isso são várias repetidas. É que às vezes um centímetro de distância no ângulo faz toda a diferença.

– Eu nunca teria esse mesmo olho para fotografar.

– Isso é porque sua mente trabalha melhor arquitetando coisas em palavras, não em imagens. – Atobe passou por algumas fotos de árvores e falou, com os olhos flamejantes, o quanto ele adorava aquele gelo escorrendo dos galhos. Quando ele terminou de mostrá-las e pulou algumas que não gostava, tirou a câmera da televisão e guardou-a novamente na bolsa.

– Você realmente tem muito talento para isso.

– Eu sei, obrigado. – Ele disse com o peito estufado e um sorriso de orgulho nos lábios.

Se antes Tezuka acharia que ele estava sendo um convencido idiota, não conseguiu pensar nisso. Achava muito interessante como Keigo tinha uma auto-confiança tão grande, tão marcante; ele era realmente muito seguro de si mesmo, de suas capacidades, de sua inteligência e talento.

Tezuka admirava isso, embora ele fosse muito extravagante.

– Está com fome? – Perguntou quando Atobe sentou-se ao seu lado.

– Estou, eu não parei pra almoçar... Quer sair pra comer?

– Não, está muito frio, vou cozinhar alguma coisa. – Tezuka foi se levantando, mas Keigo não o permitiu. Puxou-o de volta para o sofá pelo antebraço e os olhos dos dois se encontraram. Atobe estreitou os seus na direção dele, analisando-o cuidadosamente, caçando o olhar de trás das lentes.

– Qual seu problema na vista?

– Astigmatismo e miopia. Três graus e meio em cada olho. – Disse com um pouco de receio, achando que Atobe estava agindo meio estranhamente.

– Por isso não tira os óculos nunca?

– Eu não preciso tanto pra perto, mas me dá dor de cabeça se eu não uso.

– Sei. – Ele largou o braço do rapaz e o olhou um pouco mais de longe. Tezuka ficou olhando, esperando se ele diria mais alguma coisa, qualquer coisa. Mas... Nada veio. Pelo menos não uma palavra diretamente.

Ao invés disso, Atobe projetou o corpo para frente e o beijou. De repente, sem avisar, sem nada. Simplesmente roubou-lhe os lábios, mas afastou-se tão rapidamente quanto se aproximou, deixando Tezuka completamente atordoado.

– O que você sabe cozinhar?

– E-eu – ele tomou um segundo para respirar. – Hum, várias coisas... Macarrão, arroz, peixe... Não estou com muitos ingredientes na geladeira, tenho comido muito fora de casa...

– Sabe fazer sopa?

– Sei.

– Então, isso está ótimo.

Depois de um tempo, Tezuka jogava uns legumes na panela depois de desfiar pedaços de frango numa tábua ali perto. Keigo estava sentado num dos banquinhos, debruçado no balcão para olhá-lo cozinhar. Kunimitsu não podia deixar de pensar se ele estava acostumado a comer coisas muito mais elaboradas, porque bem, ele era um rapaz rico, afinal de contas.

Mas, se estava disposto a tomar sopa em sua casa, não tinha muito que discutir.

Atobe saltou do banquinho depois que Tezuka lavou as mãos e foi mexer na panela. Ele entrou na cozinha e aproximou-se por trás do moreno, esticando o pescoço por cima do ombro dele para espiar a panela. Naturalmente, ele encostou-se ao corpo do rapaz e sorriu na direção dele quando foi olhado de esguelha.

– Está com um cheiro bom – disse, passando as mãos pela cintura de Tezuka distraidamente. Apertou-o num abraço carinhoso, apoiando o queixo no ombro do rapaz e ficou olhando para a panela.

Ele ficou quieto por um tempo, apenas agarrado a Tezuka daquele jeito. Kunimitsu baixou o fogo da sopa e continuou misturando com a colher, confortável com o aconchego de Atobe. Ele era um pouco descarado naturalmente, mas isso não significava que o moreno não se sentia bem na companhia dele. Por mais que Keigo falasse muito, ele não era tão atrevido assim.

Enfim.

– Tezuka – ele chamou. – Você não quer que eu viaje?

Tezuka não respondeu, pelo menos não inicialmente. Principalmente porque não se sentia no direito de opinar sobre a viagem dele. Eles não tinham algo tão sério assim a ponto de essa decisão estar nas mãos de Kunimitsu, afinal.

Entretanto, na opinião de Keigo, ele tinha sim direito de expressar o que queria, então... – Você quer ou não que eu fique?

– Isso não está em minhas mãos, Atobe – ele disse finalmente, desligando o fogo e largando a colher de lado. O loiro o apertou com mais força pela cintura e quando Tezuka pensou em tocá-lo nos antebraços, foi virado brutalmente na direção dele e arregalou os olhos castanhos, ficando totalmente sem reação.

– Não estou falando pra você tomar a decisão por mim, quero que fale o que sente!

O rapaz desviou os olhos para a geladeira atrás da cabeça de Atobe e ficou olhando para os ímãs com telefones de prestação de serviços como se fossem muito interessantes. De repente, sentiu uma sacudida pelos ombros e Keigo o encarava com os olhos azuis implorando uma resposta.

– Fala Tezuka, você quer que eu fique?!

Tezuka respirou devagar, perguntando-se quando Atobe passou a gostar tanto dele assim. Se isso era desde o começo. Se havia passado a se interessar a partir de um momento. Se começou de repente, com algum motivo em específico, ou por causa daquele beijo, ou sei lá... Atobe era muito imprevisível, mesmo.

Não havia muita dúvida quanto a isso, entretanto. Keigo tinha uma admiração muito grande por ele. Não sabia dizer a partir de que momento passou a gostar tanto dele, entretanto... Sabia que gostava. E queria fazê-lo feliz.

– Me responda. – Demandou, sério.

Tezuka voltou a olhar para ele, fitando aqueles olhos azuis exigentes. Sabia que tinha que responder, mas não sabia se devia. Ou melhor, não sabia como responder. Tinha certeza do que queria, mas podia estar parecendo prepotente. E não queria isso.

– Tezuka, se eu for pra Rússia, vou ficar pelo menos dois meses lá, talvez mais. – Explicou, franzindo rigorosamente as sobrancelhas. Ele estava começando a ficar nervoso. – Você quer que eu fique, ou não?

Kunimitsu sentiu o coração palpitar, mas, bem... Ou falava, ou ia acabar deixando tudo cair por terra de uma vez.

– Quero que você fique.

Atobe soltou o ar com força em seu rosto, coisa que fez com que recuasse a cabeça um pouco. Tezuka mesmo estava com a respiração toda atravessada e descompassada, de tão nervoso. Nunca havia falado algo do tipo para alguém. Keigo sorriu na direção dele, enchendo o rosto de altivez.

Tezuka estreitou os olhos.

– Eu vou ficar, Tezuka. Eu já tenho um bom motivo para ficar.

O moreno piscou os olhos na direção dele, pensando que ia ser atacado agora, mas ao invés disso, Atobe apenas olhou a panela atrás dele.

– Vamos comer? Eu estou curioso com essa sua sopa.

Tezuka ficou um pouco confuso, mas lembrou-se que Atobe não era assim tão fácil de entender.

Eles comeram, então, e Keigo pareceu gostar bastante do almoço. Ele disse que fazia tempo que não comia algo feito por alguém que não fosse ou de um restaurante ou algum dos seus empregados, e que esse tipo de refeição tinha mesmo um sabor diferente das refeições que ele fazia.

Tezuka ficou feliz, mas apenas assentiu com a cabeça, compreendendo.

Depois de colocar as coisas na máquina de lavar louça, o moreno retornou à sala. Atobe estava sentado no sofá, olhando um dos livros que estavam na mesa de centro. Tezuka ficou parado perto do móvel, observando-o, até que conseguisse sua atenção.

– Eu estava pensando em dar uma volta com você, não quer?

– Eu estou com frio...

– Eu te empresto meu casaco. – Atobe deu uma piscadela e Tezuka franziu suavemente as sobrancelhas.

– Bem... Eu tenho que terminar o meu trabalho, acho que em um pouco mais de meia hora eu consigo terminar de organizar os primeiros tópicos, então, se quiser esperar... – Falou, totalmente resignado. Era difícil convencer Keigo do contrário, independente de qual fosse a opção dele. Se ele estava determinado, então ia ser daquele jeito e fim de conversa.

– Tudo bem, eu gostei desse livro, vou ler. – Ele recostou-se no sofá e Tezuka ficou olhando para ele um instante apenas, antes de ir para seu quarto para pegar o notebook e fazer seu trabalho. Achou melhor deixar ele lá, uma hora ele ia ficar entediado, provavelmente. Ou não.

Mas de qualquer forma, o rapaz não conseguiu se concentrar no seu trabalho sabendo que Atobe estava ali, no outro cômodo. Ele ficou um pouco alerta, sentado na cama, achando que Keigo ia aparecer ali de repente, mas... Nada disso aconteceu. Ele estava sendo besta mesmo. Sacudiu um pouquinho a cabeça, respirou fundo e curvou-se para concentrar-se melhor, focando toda sua atenção na tela do computador.

Ele não ia conseguir terminar tudo naquele dia, mesmo, então...

Já havia passado mais de meia hora, como previsto, e ele não tinha terminado o que estava fazendo. Levantou-se da cama e caminhou até a sala. Queria ir até a cozinha para pegar um chá, mas quando chegou à sala, a cabeça loira de Keigo não estava à vista no sofá.

– Atobe? – Chamou, e não houve resposta. Andou um pouco e baixou os olhos para ver que ele estava deitado no sofá, dormindo com o livro em cima do peito. A cabeça de Tezuka tombou um pouco para o lado e ele deu a volta no móvel, parando na frente do outro rapaz. Ele estava meio encolhido, com certeza com frio.

Kunimitsu agachou-se e o olhou de perto, dando um sorriso pequeno na direção da pintinha debaixo do olho dele. Pensou em acordá-lo, mas ficou com pena. Ele devia estar cansado, ou o livro era mesmo muito entediante.

Ao invés disso, voltou para o quarto e pegou um cobertor. Junto com ele, pegou seu notebook e alguns livros que estava utilizando e carregou tudo para a sala. Deixou os objetos em cima da mesa de centro e tirou o livro da mão de Keigo, deixando-o de lado para então colocar o cobertor sobre ele. O loiro se mexeu um pouco, aconchegando-se melhor, e continuou dormindo.

Tezuka sentou-se na ponta do sofá, perto da barriga de Keigo, e pôs a mão no ombro dele, por cima do edredom. Ele estava deitado de lado, agora mais confortável por causa do cobertor, provavelmente. Ficou olhando um instante para o loiro. Ele era tão silencioso e pacífico quando dormia, sequer parecia a mesma pessoa extravagante de sempre.

Depois de um suspiro, Tezuka esticou-se para pegar suas coisas, levantou e sentou no outro sofá. Ajeitou os óculos e olhou para Atobe. Talvez conseguisse trabalhar melhor agora.


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