- Você está bem, Sammy? – Joan já tinha se separado de nós, conversando com pessoas que tinha julgado mais interessante. Eu estava, praticamente, no final do grupo que se dirigia ao ginásio. Hora da divisão. Que momento feliz, não é mesmo? Jack estava atrás também, mas porque ele era legal e estava me acompanhando.

            - Eu tô bem... – Tá, era uma mentira bem feia, quando ele me lançou um olhar que parecia dizer que eu mentia muito mal, eu segurei o braço dele e parei. As pessoas ao nosso redor soltaram risinhos e continuaram andando, logo, estávamos a sós. – Nós precisamos mesmo ir lá? Não podemos... Sei lá! Nos escondermos?

            - Qual problema, Sammy? – Ele perguntou preocupado. Às vezes ele era tão bonzinho que chegava a ser irritante. – Poderes eu sei que você tem. 

            - Eu não quero estudar aqui, Jack. – Suspirei.

            - Por quê?

            - Qual problema com uma escola normal? Eu queria ir mesmo ir pra lá, mas meus pais não deixaram.

            - Você sabe que tem problemas. Deixe de ser irresponsável. E mimada, também, esse já é o posto da Joan. – Ambos rimos por um momento. – É necessário aprender a controlar os poderes. Para não causar problemas aos outros ou a si mesmo.

            - Eu queria continuar estudando com meus amigos.

            - Você vai estar estudando com, pelo menos, um amigo aqui.

            - Sei disso, é que... – Ele me interrompeu.

            - Sabe qual o seu problema, gata? Você teme a mudança. Sua vida tinha uma rotina tranqüila, num ambiente que você podia controlar. Você era a durona da sua antiga escola. Aqui, é tudo diferente. Tudo muito imprevisível, mais difícil e com pessoas totalmente diferentes das que você está acostumada. Você pode querer continuar bancando a durona e ser anti-social por aqui. Mas pode ter alguém mais durão, mais forte, que você não pode bater de frente. Lá você podia, era a mais forte, por que não dizer a verdade? Aqui, você é mais uma, que tem que se esforçar pra se destacar.

            - Eu não quero me destacar... – Gemi. Não queria pensar no que ele falara, não queria ser daquele jeito. Tá, é claro que eu não queria mudar, eu gostava do jeito que elas estavam, mas... Mas...

            - Vamos logo, quero ver a seleção, ok? – Ele interrompeu minha linha de raciocínio com um sorrisinho vitorioso no rosto.  Ei! Ele não tinha ganhado nada! Jack segurou minha mão e começamos a andar, ou melhor, correr, em direção ao ginásio. Não foi esperto chegar correndo naquele ginásio cheio, atrasada e de mãos dadas com um Stronghold. As aulas não tinham nem começado e eu já podia ver os boatos surgindo, que inferno! Joan nos olhou com uma careta, já estava posicionada no lado dos heróis. Obviamente ela deveria ter sido uma das primeiras a mostrar seus poderes, exibida do jeito que era. O irmãozinho dela, finalmente, soltou minha mão e se ofereceu para ser o próximo. E eu? Bem, eu tentei me misturar as pessoas que ainda estavam ali, pra não ter que ir logo. Poderes, ele disse que eu tinha, que sabia que eu tinha. Bem, olha só, eu queria ir pros ajudantes e sumir, mas não queria “soltar’ fumaça na frente de todos.

            Eu não sei como as pessoas reagiram a transformação dela, mas a de Jack causou comentários. Cara, como essas pessoas gostavam de comentar. Ok, somos adolescentes, isso não é nada de anormal. Primeiro os músculos dele começaram a crescer, depois, a se modificar... Não, não... Melhor dizer que os músculos cresceram e que depois surgiu um exoesqueleto de madeira sobre todo o corpo de Jack. A madeira cobriu até o cabelo dele. Só seus olhos e narinas foram poupados. Até seus lábios pareciam ser de madeira, agora. Isso não me surpreendeu, veja bem, eu já tinha ficado chocada com aquilo há algum tempo atrás. Os outros? Arrepiados!

            - Herói. – A instrutora falou com um sorriso no rosto. Jack começou a caminhar para o grupo para que fora selecionado e, enquanto andava, seu corpo voltava ao normal. Ele, ou melhor... Eles tinham poderes legais. Eu gostava mais do da Joan, ela ficava linda quando transformada! Tinha meus problemas com a atitude da garota, mas, cara, a transformação dela impressionava!

            - Setsuna Mayweather. – Vira que um garoto começara a andar para ser o próximo e a instrutora anunciara o nome dele. Nome engraçado, eu pensei, deixando de lado a transformação dos Strongholds, comecei a acompanhar o processo de seleção. Setsuna... Uhn, ele parecia ser asiático, mas tinha cabelos loiros. E saiu uma espada da mão dele! Ai, isso deveria doer! Fala sério, abriu um buraco na mão dele e saiu uma espada! Tá, peraí, os músculos do Jack crescem e ele não parece sentir dor. E fogo surge em meu braço e não me queima. Ok, nós somos estranhos assim mesmo e essas coisas tendem a não doer. 

            - Essa é Caliburn. É uma espada que, de certa forma, está na família há gerações. Tipo, minha mãe não me deu a espada dela, não é assim que funciona. A cada criança que nasce, uma espada surge com ela, e nessa espada, está a experiência de todas as espadas anteriores, sabe? Ah, cada uma tem um nome e, de certa forma, uma personalidade diferente. – O garoto parecia meio embaraçado por estar falando na frente de todos, mas, sei lá, era correto ele explicar o poder dele.

            - Herói. – E quando ele escutou isso, sua expressão se aliviou. – Próximo? – ela olhou pra mim, eu a ignorei.

            - Ah, vou logo! – Ouvi uma garota ao meu lado reclamando e andando. Ela tinha um cabelo comprido, liso, preso num rabo-de-cavalo e rosa-chiclete!

            - Sarah Parker.

            - Sim, sou eu. Ok, meu poder é bem legal. Pra mim, pelo menos. – Ela puxou o seu cabelo para frente e começou a enroscar uma mecha de seu cabelo nos dedos. Eu vi seu cabelo começar a ondular e mudar de cor. Que coisa divertida. – Também mudo a cor dos olhos e um pouco dos traços físicos. Em mim e nos outros.             

            - Ajudante.

            - Oook. Sem problemas com isso! – Falou, realmente, despreocupada.

            - Samantha Peace? Que tal ser a próxima? – As pessoas deveriam e candidatar! Por que ela tinha que me chamar? Rangi os dentes e me aproximei, pelo canto do olho, vi Jack segurando uma risada.

            - Uhn, eu não tenho poderes, ok? – Comecei a falar, quando estava lá na frente. – Ou melhor, eu crio fumaça. Logo, ajudante, não?

            - Demonstre. – Pensei em perguntar se seria obrigada, mas achei melhor ficar quieta. Eu não conseguia controlar direito meus poderes, separadamente, sabe? Mas como os queria juntos, eu podia fazê-los aparecer de forma rápida, esperando que eles não notassem como a fumaça surgia. 

            - Viu só? – Falei, com um largo sorriso. Jack me observava contrariado e Joan tinha cruzado os braços e me fuzilava com seu frio olhar.

            - Samantha?

            - Ahn, sim?

            - A verdade, dessa vez... – E ela se aproximou de mim, tocando-me no ombro. Eu não sei exatamente o que aconteceu, mas eu perdi o controle sobre eles! Meu braço esquerdo se envolveu em chamas numa velocidade incrível e no meu direito, podia sentir o gelo se cristalizando. A instrutora se afastou, para não se machucar, provavelmente. Mesmo assim, não consegui fazer aquilo parar! As chamas e o gelo continuaram a surgir, um indo em direção ao outro. Alguns segundos depois, só fumaça saia dos meus braços. Eu ofegava, assustada com a velocidade que aquilo tinha acontecido e com o descontrole total que ela tinha proporcionado. Escutei um maldito heroína saído com a voz satisfeita dela e cambaleei de encontro ao meu grupo... Meeeerda, heroína não!