Amor Cigano escrita por PATYPATT


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Atenção: Este capitulo contém cenas de violência.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/98729/chapter/1

AMOR CIGANO – Cap 1

 

Inglaterra. O ano era 1870. Sou Isabella Swan, 19 anos, filha do Sir Charles Swan e Lady Renné Swan. Meu pai é inglês e minha mãe era francesa. Ela morreu quando eu tinha cinco anos. Desde então, praticamente fui criada pelos empregados da casa, por que o meu pai perdera o gosto pela vida. Minha família tinha bens, o que me ajudou a manter o padrão que tínhamos mesmo depois que meu pai abandonou os negócios. Estava com as malas prontas para viajar ao encontro do meu futuro marido, Sir Michel Williamson. Mary minha ama que praticamente foi a minha mãe durante todos aqueles anos se aproximou chorosa.

- Milady sentirei muito a sua falta.- disse enxugando as lágrimas

- E eu a sua, Mary. - disse abraçando-a. - Mas, com Sir Michel estou tendo a chance de pertencer a uma familia de verdade, o que me foi subtraído desde muito cedo. – conclui amargamente.

- Eu sei Milady. Ninguém mais do que a senhorita merece essa felicidade. – disse fazendo um carinho em meus cabelos. Mary sempre fizera questão de manter o tratamento formal quando falava comigo mas, era extremamente carinhosa. Lembro que quando eu era criança , nas vezes que me machucava ao cair, ela sempre secava as minhas lágrimas, cuidava dos meus ferimentos e fazia uma caneca de chá ou chocolate quente para me agradar. Até hoje quando estou chateada ela mantém esse ritual do chá ou chocolate quente e devo confessar que funciona mesmo! George, marido de Mary chegou para pegar a minha bagagem. Ele também era uma criatura muito especial e, estava deixando o meu pai sob os cuidados deles.

- Onde está o meu pai, George? – perguntei. Estava na hora de me despedir.

- Na biblioteca, Milady. – respondeu antes de sair com as minhas malas.

Fui até a biblioteca com o coração apertado. Encontrei-o sentado na poltrona de sempre, no estado catatônico que ficou desde a morte da minha mãe. Ajoelhei-me aos seus pés e segurei a sua mão.

- Pai – chamei, mas, ele continuou olhando o vazio. Era sempre assim. Durante todos esses anos, eu criara o hábito de conversar com ele, as vezes lia alguns livros na vã esperança  de que um dia ele reagisse e voltasse do lugar onde sua mente ficou presa. – Eu estou indo embora para Londres, para me casar com Sir Michel Williamson. Mas, antes de partir, queria dizer algumas coisas ... Vou sentir a sua falta, pai. Mas, não mais do que tenho sentido esses anos desde que a mamãe se foi. Desde esse dia, eu fiquei orfã de mãe e pai. – Comecei a chorar neste momento.

- Eu cresci sem saber o que era o amor de uma mãe e de um pai. Sem saber o que é ter uma família. Agora a oportunidade de formar um lar de verdade com um homem honrado me está sendo oferecida e não posso deixar isso escapar. - disse levantando-me.- Eu te amo, pai. Adeus. – Beijei a sua fronte, cega pelas minhas lágrimas e sai da sala sem ver as  que rolavam do rosto catatônico do meu pai.

No pátio da minha casa, os criados me aguardavam diante da carruagem que me levaria, em fileira para se despedir. Abracei um por um, agradecendo o carinho e cuidados  e deixando uma boa soma de dinheiro para cada um deles. Para Mary e George, além de uma generosa soma em dinheiro, eu também fizera um testamento doando, após a morte do meu pai,  a mansão e as terras adjacentes que vazia parte da propriedade para ambos,  como pagamento pelos seus cuidados a ele até o fim da sua existência.

Mary secava as lágrimas no seu avental branco quando eu entrei na carruagem muito emocionada com a despedida. Estava deixando uma vida para trás e iniciando outra que esperava que fosse muito mais feliz.

A Viagem duraria alguns dias pois teria que parar em estalagens para repousar a noite. Levava minhas jóias e o dinheiro escondidos junto ao meu corpo, dentro de uma especie de calção masculino comprido com bolsos internos costurado pela Mary  e que usava por baixo do vestido. Deixando pouco valor na bolsa para o caso de ser assaltada. Havia esse risco principalmente quando se viaja sozinha.

O primeiro dia foi cansativo e quando chegamos a primeira estalagem o dia terminava e a lua já se via no céu. Estava cansada, com mal humor e faminta. Mary preparara uma cesta com comida e água que fiz questão de dividir com o lacaio que dirigia a carruagem, durante o dia todo, esta fora a nossa única refeição.

Quando paramos, um casal veio me receber cheios de cerimonias e eu pedí que providenciassem acomodações e comida para mim e para o lacaio que cuidava dos cavalos.

- Imediatamente Milady. – disse o dono da estalagem acenando para que o jovem que devia ser o filho, subisse com parte da minha bagagem enquanto ele mesmo pegava o restante. A  estalagem, como todas,  era simples. Um salão com mesas imensas com bancos e cadeiras de madeira rústicas atrás uma porta onde provavelmente era a cozinha e uma escada que levava ao andar superior onde ficavam os aposentos.

Para minha satisfação havia uma enorme banheira de madeira no meu quarto e pedí água quente para tomar um banho, antes de descer para comer.

Após o banho, vestí um pesado vestido de cor cinza grafite e calcei as botas pretas e descí para jantar. O lacaio ou libre como também eram conhecidos os que dirigiam carruagens, se aproximou timidamente.

- Com licença, Milady. Os cavalos já estão abrigados. Dei água e comida para eles, escovei os seus pêlos e cobri-os com as mantas para protegê-los do frio.

Milady ainda vai precisar dos meus serviços hoje? – perguntou apertando o chapéu entre as mãos. Eu tinha fama de ser generosa e gentil com os criados, mas, alguns eram tão humildes que tinham inibição de se aproximar para falar.

- Não obrigada. Já comeu alguma coisa? – perguntei

- Sim, Milady. – agradeceu

- Então pode se recolher Thomas. Boa noite. – disse

- Boa noite, Milady. – respondeu saindo.

A esposa do dono da estalagem aproximou-se trazendo uma generosa porção de pernil, uma jarra de suco de uva para mim e algumas frutas secas de sobremesa. Numa mesa um pouco mais à frente, três homens com aspecto sujo bebiam vinho dando risadas altas e me encarando. Apressei-me em terminar a minha refeição e subir para o meu aposento que fechei a chave e encostei um móvel pesado que tinha no quarto, na porta. Estava muito cansada e adormeci praticamente no mesmo instante que deitei na cama. Quando amanheceu, levantei e arrumei as coisas depois de me vestir com um tailleur, que era a tendência em vestuário no momento, vinda da França. O casaco mais alongado e a saia um pouquinho mais curta, na altura dos tornozelos, o espartilho alongava a minha silhueta deixando mais feminina, o busto elevado e realçado por enchimentos, o quadril modelado para trás e a barriga achatada, plana. Calcei botas com saltos baixos e confortáveis e coloquei um chapéu para finalizar. Desci suspirando aliviada por não ver aqueles homens mal encarados novamente, tomei o meu café enquanto minha bagagem era colocada na carruagem e saí encontrando o Thomas já pronto para partirmos.

Estávamos na estrada cerca de uma hora quando de repente ouvimos sons de tiros. Podia ouvir os gritos do Thomas incitando os cavalos a correrem enquanto tentava me equilibrar dentro da carruagem que, praticamente, voava aos solavancos pela estrada de terra. Pela janela vi homens se aproximando com armas em punho. Assaltantes! Um deles pulou onde o lacaio estava derrubando-o na estrada. Gritei ao vê-lo rolando desacordado. A carruagem parou e os bandidos se aproximaram abrindo a porta para que eu saísse do seu interior.

- Desça Milady – disse o que parecia ser o chefe fazendo uma reverência exagerada enquanto os outros riam.

- Vocês! – exclamei reconhecendo os homens que estavam na estalagem. Eles sorriam largamente a agora. Não contive uma expressão de asco ao ver seus dentes estragados à mostra.

- Passe-me a sua bolsa, Milady. – pediu o que era o chefe. Joguei a bolsa nele evitando um contato.

- Pode levar o que quiser, mas, deixe-me e ao lacaio, também. – falei e eles gargalharam.

- Infelizmente, não poderemos atender ao seu pedido, para não corrermos o risco de sermos reconhecidos, entende?  – Perguntou cinicamente e a um sinal um deles atrelou o cavalo à carruagem tomando as rédias dos cavalos.

- Chefe, nós podemos brincar um pouco com a dama? Nunca experimentamos uma carne nobre, branca e cheirosa como deve ser a dela. - perguntou um deles me fazendo gelar.

- Não se atrevam a me tocar! – gritei entre apavorada e irada.

 - James, nós estamos perdendo tempo. Acabe logo com ela antes que chegue alguém. – disse o que estava na carruagem.

- Tem razão. Uma pena não poder usufruir de tamanha iguaria, mas, devo admitir que o risco seria grande. – disse o chefe apontando a pistola para minha cabeça. Engoli seco, fechando os olhos. Melhor assim, pensei. Preferia morrer a ser violada por aqueles imundos asquerosos.

- Não é nada pessoal, Milady. Farei de um jeito que não sentirá dor. Nesse momento ouvimos barulhos de galopes e carroças vindos da estrada, aproveitei um momento de distração deles e tentei correr para pedir ajuda. Os ladrões apavorados começaram a fugir e atirar em minha direção. Senti um impacto forte na cabeça e caí desacordada.

 

PDV EDWARD

A caravana seguia pela estrada sentido Londres. Não ficaríamos propriamente lá, mas, num vilarejo próximo, onde venderíamos nosso artesanato em feiras e nossas mulheres leriam a sorte através das cartas e das mãos. Ganhávamos um bom dinheiro com essas atividades, o suficiente para comprar provisões, mantimentos e ervas necessárias para a produção de medicamentos usados por nós quando necessário.

Ouvimos o barulho de tiros e eu mais uns cinco homens próximos corremos com os nossos cavalos na direção do som. Pudemos avistar dois bandidos correndo a cavalo e outro levando uma carruagem. Não os perseguimos porque a gente não se envolvia nesses problemas. Viajávamos pelas estradas e havia uma espécie de conduta que era respeitada, não interferíamos nas ações deles nem eles mexiam conosco.

Estávamos voltando quando avistei o corpo de uma jovem caído próximo a estrada. Pela roupa que vestia, devia se tratar de alguma nobre, certamente a vítima dos ladrões. Desci do cavalo e aproximei-me do corpo inerte, virando-a. Quando vi seu rosto de anjo manchado de sangue uma revolta tomou o meu corpo. Avaliei o seu ferimento e pude constatar que ela ainda respirava. Havia sido atingida de raspão na cabeça. Peguei o seu corpo desacordado e quase juvenil nos braços e ordenei aos homens que fizessem uma varredura pelo local para ver se tinha mais vítimas.

Coloquei a jovem na sela do meu cavalo e montei indo na direção da caravana que estava parada aguardando o meu retorno.

- Esme! – gritei tão logo me aproximei de uma das carroças.

Uma bonita mulher ainda jovem de cabelos e olhos castanhos saiu de dentro da carroça. Quando seus olhos viram a jovem ferida encheram-se de piedade e preocupação.

- Cuide dela – ordenei colocando o corpo da jovem em cima de umas colchas no chão da carroça. Sabia que se alguém podia salvar a jovem esse alguém era ela. Voltei para onde estavam os outros e encontrei-os perto do corpo de um lacaio.

- Está morto. Pescoço quebrado. – disse Jasper. Assenti consternado.

- Enterrem o infeliz. – ordenei – Depois nos alcancem. Seguiremos caminho.

Voltei a caravana ordenando que seguíssemos, tentando focar nas minhas responsabilidades, mas, as palavras da Alice dois dias atrás voltou a minha mente “Sua alma gêmea está chegando Edward. Você a salvará e ela salvará você!” e o rosto da jovem não saiu da minha mente durante o resto do dia.

 

PDV ESME

Quando vi aquela criança que Edward trazia nos braços, quase sem vida uma comoção me tomou. Ela parecia tão nova e indefesa ali, inerte no chão da minha carroça. Eu tinha noção de socorros então limpei os seus ferimentos. Ela realmente tivera sorte. O tiro passara de raspão por isso ainda estava viva. Além do ferimento da bala, tinha outros menores, as mãos e no rosto ralados devido a sua queda no chão de terra. Limpei-os com igual cuidado lavando e colocando um preparado feito com ervas que tinham poder cicatrizante e ajudavam a combater infecções. Não tinha mais o que fazer, agora era aguardar que o seu corpo reagisse aos cuidados e se recuperasse. Por sorte era jovem e as chances de ficar boa eram maiores.

A noite a caravana parou e como sempre fizemos um circulo fechado com as carroças e uma grande fogueira no meio. As mulheres traziam a comida e todos comiam, bebiam e alguns tocavam os seus violinos, pandeiros e violões, enquanto outros cantavam e dançavam.

Tive permissão para ficar na carroça cuidado da jovem e Edward mandou trazerem um prato de comida para mim. Ela ainda estava inconsciente e isso causava um pouco de preocupação. Acendi um chumaço de ervas e fiz uma reza sobre o seu corpo para afastar as energias ruins que ela tivesse captado dos malfeitores para ajudar na sua recuperação.

Edward passou mais tarde para saber da nossa jovem paciente.

- Como ela está? – quis saber.

- Os ferimentos aparentemente foram superficiais, mas, não sabemos o quanto sua mente foi afetada. O fato dela não ter recobrado os sentidos é sinal que a seu cérebro esta se resguardando da dor que a consciência dos fatos causará. Mas, só saberemos com certeza depois que ela despertar. – disse com a experiência e os ensinamentos passados pelos mais velhos. Ele concordou sério, observando atentamente a face da jovem.

- O que faremos com ela, depois que acordar Edward? É evidente que ela é uma rosa de estufa – argumentei.

- Vamos nos preocupar com isso depois Esme. Por enquanto estamos fazendo o que é possível e a nossa responsabilidade se resume a cuidar dos seus ferimentos e alimenta-la até que ela se recupere. Mas, provavelmente assim que puder se locomover ela vai querer partir. – Disse Edward olhando com o cenho franzido para o rosto da jovem e depois saiu, sem dizer mais nenhuma palavra.

 

PVD BELLA

 

Abri os olhos e a única coisa que senti foi dor. Dor no meu corpo e uma lancinante dor na minha cabeça. Levei a mão ao local que latejava e dei um gemido de dor ao tocar o ferimento. Imediatamente um rosto feminino apareceu em meu campo de visão.

- Ah! Finalmente você acordou – disse sorrindo. – Eu sou a Esme. Como se sente? – quis saber.

- Eu... Não estou certa. Sinto muita dor. – minha voz saiu rouca.

- Como se chama jovem? - Perguntou a mulher.

- Bella. - respondi após alguns segundos.

- Bella...? – Esme ficou aguardando que completasse com um sobrenome.

- Eu... Não sei. Só lembro do nome Bella. – disse confusa.

- Acalme-se. Você passou por uma situação traumática e pode estar em estado temporário de confusão. Isso é compreensível. Eu já volto. Nosso líder pediu que o chamasse assim que você acordasse.  – disse saindo em seguida.

Eu estava completamente atônita. Quem eu era? Qual era a minha idade? Eu tinha família? Onde estava? Qual era o meu nome? Sentia-me como um livro em branco onde a única palavra escrita era o nome Bella. Sabia que era o meu e só. Estava tentando forçar a minha mente quando Esme voltou acompanhada de um homem alto e jovem. Quando ele se aproximou pude vê-lo mais claramente. Ele tinha um rosto de traços fortes, tinha um furo no queixo, uma boca bonita com lábios finos e rosados e olhos verdes e penetrantes. Seus cabelos eram rebeldes e despenteados, com um tom incomum de acobreado.

Ela vestia uma calça preta e calçava botas na mesma cor. A camisa de cetim branco e uma faixa dourada amarrada nos quadris com as pontas caindo na lateral. Ele era um homem muito bonito e emanava um magnetismo difícil de ignorar.

- Sou Edward Masen, líder desta caravana. – Disse com voz macia e sensual.

Esme me disse que acordou um pouco confusa – ele continuou perscrutando o meu rosto com olhos penetrantes.

- Não consigo lembrar de nada! – disse olhando para ele assustada. - A minha cabeça dói quando tento me lembrar.

- Você foi vítima de um assalto. Encontramos você na estrada ferida e sem sentidos e a trouxemos para cá. Você deve está com perda temporária de memória devido ao ferimento na cabeça e ao trauma da situação. Fique tranqüila. Estará segura aqui. Deve procurar descansar e se alimentar para que se recupere. Aos poucos sua memória voltará. Mas, considere-se livre para partir se assim o desejar. – disse ele.

- Mas, para onde eu iria? – perguntei temerosa.

- Se decidir procurar ajuda, fora daqui, provavelmente irão interná-la em algum sanatório até que recupere a memória o que pode demorar um dia, como pode demorar meses. – ele disse e estremeci com a possibilidade.

- Agradeceria muito se pudesse usufruir da sua hospitalidade – disse um pouco assustada. – Só até me recuperar, é claro. – acrescentei rapidamente.

- Como quiser. – Ele respondeu e depois saiu em seguida.

- Bella – a voz suave de Esme soou baixinho. – Você pode ficar aqui na minha carroça comigo. Tem espaço suficiente para nós duas. - ela concluiu quando olhei para ela.

- Obrigada Esme. Aceito a sua oferta generosa – disse e lágrimas de angustia desceram pelo meu rosto.

- Não fique assim, criança. Tudo vai ficar bem. – disse e levantando-se me preparou um chá.

- Tome isso. É um chá calmante e vai aliviar as suas dores. Amanhã se sentirá melhor. – disse me entregando uma caneca com chá adoçado com mel e uma sensação de Deja vu me tomou quando bebi o líquido quente e doce, sentindo o meu espírito confortado. Minutos depois estava dormindo.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!