Segredo de Um Coração escrita por nanypotter


Capítulo 5
Capítulo 4




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CAPÍTULO IV

— Bem, acho que vou me retirar agora — disse tia Bessie, colocando sua taça em uma mesa aparadora. — Você me acompanha até meu quarto, James?

— É claro que sim. — Ele depositou a xícara de café sobre uma bandeja e ofereceu-lhe o braço.

Assim que ambos desapareceram pela escadaria, Lily bocejou e chamou as crianças:

— Vamos, já é hora de dormir.

Cansados devido ao dia de trabalho e muito bem alimentados, os pequenos não protestaram, seguindo Lily escada acima. Ela pôs as duas meninas na mesma cama e deu-lhes um beijo de boa-noite, depois foi até o quarto que fora destinado a Nathanael.

— Sirius é bonzinho — disse ele assim que se deitou.

— É, sim.

— Ele me deu um de seus doces.

— E isso foi muito simpático da parte dele.

— Você não se importa?

— Não, Nathanael. Quero apenas que se lembre de ter bons modos. Essas pessoas foram gentis em nos deixar permanecer aqui, oferecendo-nos abrigo e comida. Precisamos saber retribuir.

— Eu vou trabalhar bastante para retribuir, Lily.

— Sei que vai, querido. — Ela acariciou-lhe os cabelos e inclinou-se para beijá-lo. — Tenho muito orgulho de você, sabe? Boa noite.

— Boa noite, Lily.

Ela fechou a porta atrás de si e dirigiu-se para o quarto onde Clara dormia. Tocou-lhe a testa, certificando-se de que não havia febre. Permaneceu ao lado da cama por vários minutos, ouvindo a respiração regular da garotinha, satisfeita e aliviada por ver que ela melhorava rápido. Depois, foi até o quarto de Marlene. Ele estava praticamente às escuras, a não ser pela claridade projetada pela lua através dos vidros das janelas. Lily tomou a mão da moça nas suas, murmurando:

— Oh, minha querida, tenho medo por você...

— Não tenha. — A voz de James a fez ter um sobressalto. Vendo que a assustara, ele deu alguns passos e fez-se visível sob a claridade vinda da janela: — Sinto muito. Achei que tinha me visto ao entrar no quarto. Vim ver sua amiga.

Ele a estudava na penumbra. Embora Lily se parecesse com todos os muitos refugiados que vira pelas ruas das cidades sulistas, ela tinha algo de especial. Talvez fosse aquela teimosia o que a diferenciava, uma força interior que parecia desafiar o mundo em um protesto que assegurava sua sobrevivência acima de tudo e de todos.

James sentiu um estranho impulso de acariciar as ondas suaves dos cabelos dela e sentir-lhes a textura contra sua pele. Desceu o olhar para seus lábios e sentiu a garganta seca, na vontade de repetir o beijo daquela tarde.

Um silêncio perturbador começou a crescer entre ambos. Lily olhava-o fixamente notando sua força, sua figura imponente e, até certo ponto, poderosa. E não soube ao certo determinar qual parte dele a atraía mais...

— Bem, sua amiga dorme tranqüila. Acho que é melhor eu me retirar agora. Boa noite, Srta Evans

— Boa noite, Sr. Potter.

Marlene fez um movimento, na cama, gemendo, o que os fez voltarem-se de imediato, quase esbarrando ombro com ombro.

— Lene, pode me ouvir? — Lily indagou, ansiosa. A moça murmurou algo incompreensível e depois mergulhou em sono profundo outra vez.

— Acho que devo parar de esperar por milagres — Lily observou, com um suspiro.

— Pois eu já desisti de acreditar neles há muito tempo. — Não havia nada de agradável no tom que ele usava agora.

Sem pensar no que fazia, Lily olhou de imediato para a manga da camisa dele, onde faltava a mão. Percebeu que James se retesava como já havia acontecido antes e, sem nenhuma palavra, voltava-se para sair do quarto. Ela pensou em dizer algo que o fizesse ficar, mas percebeu a tempo que aquilo seria inútil, além de patético. O que poderia dizer ou fazer para quebrar a muralha que parecia haver entre ambos? Seria melhor deixar o momento passar e esperar uma outra oportunidade para falar com ele.

James acordou ouvindo vozes femininas no corredor. Entreabriu os olhos, mas resolveu cerrá-los de novo e aproveitar mais alguns momentos de sono. Houve algumas risadas, depois mais conversa. Aquilo o intrigou, acabando com qualquer resto de sono que pudesse sentir. Vestiu-se sem muito cuidado e saiu atrás do som das vozes. Elas vinham de um dos quartos, o qual, no entanto, estava com a porta fechada. Estavam no meio da noite, e elas falavam com uma animação surpreendente.

James entreabriu a porta, repreendendo em voz alta:

— Ninguém aqui se importa se existem pessoas que precisam dormir?!

O que viu deixou-o estupefato, porém: a moça irlandesa estava sentada na cama, recostada em vários travesseiros. A seu lado estava a menininha com o braço ferido. Embora estivesse ainda muito pálida, seus olhos tinham uma expressão alegre. E todas as outras crianças as cercavam, alegres. No entanto, foi a figura que estava no centro da cama que prendeu a atenção de James. Lily vestia apenas a roupa de baixo, que mais se parecia com uma camisola velha e tinha os cabelos soltos em ondas magníficas sobre as costas. Todos olhavam-no, alarmados, suspendendo as risadas.

— Sinto muito, Sr. Potter — Lily adiantou-se. — Ficamos tão felizes pela recuperação de Lene e Clara que acabamos nos esquecendo de onde estávamos. Queira desculpar-nos.

— Entendo. — Ele se aproximou da cama, observando Marlene mais de perto. — Então, já está bem melhor...

— Estou, sim. E o senhor, quem é?

— Marlene — Lily interferiu. — Este é o Sr James Potter. Foi ele quem nos encontrou no barco e nos trouxe para cá.

— Então, devo-lhe minha vida, senhor. — Marlene sorria e estendia-lhe a mão direita.

James aceitou o cumprimento, e depois estendeu o braço para tocar a testa de Clara e verificar se estava com febre. A menina, no entanto, afastou-se, alarmada.

— Está tudo bem, querida — Lily acalmou-a. — Ele só quer saber se está bem.

Ele tocou a menina com proposital gentileza, para garantir que não sentiria receio algum. Depois, baixou a mão devagar, notando que ela seguia seus movimentos com os olhos e que reparava a falta de sua mão esquerda.

— Acho que precisam comer algo. Vou chamar Robert — disse ele, voltando-se para a porta.

— Não, não. — Lily saiu da cama e veio até mais perto. — Já basta termos acabado com seu sono. Não é justo acordarmos Robert também. Eu mesma posso preparar alguma coisa para elas.

— Como quiser, Srta. Evans. — Ele procurava não olhar muito para Lily. Não queria notar seus trajes tão íntimos. Pegou uma vela de sobre a cômoda e chamou: — Então venha, eu posso ajudá-la.

James guiou-a até a cozinha e lá acendeu um lampião, saindo em seguida. Lily colocou uma chaleira de água sobre o fogão, acendendo os gravetos. Depois pegou alguns biscoitos caseiros que Robert guardava em um pote e quebrou-os sobre um prato, colocando algumas colheradas de mel por cima. Esperou, depois, até que a água fervesse e, ao colocar um pano ao redor da mão para pegar a chaleira, surpreendeu-se mais uma vez com a chegada de James. Ele trazia leite em um balde e despejou-o em vários copos.

— Achei que tinha voltado para a cama — ela comentou, quase sem pensar.

— Não adiantaria tentar dormir agora. Além do mais, a vaca teria de ser ordenhada dentro de poucas horas e acabei poupando esse trabalho a Remus. As crianças talvez estejam com fome.

James aproximou-se, tentando alcançar algo em uma prateleira alta. Ao fazê-lo, sua mão esbarrou nos cabelos de Lily, e a agradável sensação que percorreu-lhe o corpo o fez retardar um pouco seus movimentos, para apreciar por mais tempo aquele toque involuntário.

Ele continuava sem entender o que exatamente acontecia com seus sentidos quando estava próximo a Lily. Estava apenas ao lado dela e podia sentir seu perfume, natural e feminino, que o deixava alheio a tudo o mais. Era como se pudesse adivinhar o que se ocultava por baixo daquela camisola gasta: pernas longas e bem torneadas, cintura fina e suave, quadris arredondados, seios macios... Os pensamentos conduziam-no a uma sensação de perigo iminente, ele sabia. Precisava parar de pensar em Lily daquela forma ou poria tudo a perder.

Pegou o pote onde estava o chá e afastou-se um pouco, mas não muito e nem por muito tempo.

— Tia Bessie diz que estas ervas operam milagres — comentou, enquanto media um pouco das folhas secas em uma vasilha pequena.

Lily colocou a água, sentindo de imediato a doce fragrância do chá.

— Bem, não sei se são boas como remédio, mas o aroma é delicioso — observou, gentilmente.

— Então prepare uma xícara para você e para mim também — disse ele, em um impulso, colocando mais folhas em outras duas xícaras.

James não conseguia saber por que estava agindo daquele modo. Havia anos que não provava dos chás de sua tia. E havia muitos outros em que não fazia algo tão espontâneo. Mas as ervas, de fato, cheiravam muito bem e poderiam servir como uma compensação por ter perdido o sono.

Quando tudo já estava arrumado em uma grande bandeja de metal, James tomou-a com a mão sã e parte do outro braço e disse:

— Pegue a lanterna e venha. Vai guiar meu caminho agora, Srta. Evans.

Ele a seguiu pelo corredor e escada, atento aos movimentos suaves de seus quadris por baixo do tecido claro da camisola. Se Lily pudesse imaginar o que estava pensando, certamente se irritaria muito mais do que depois daquele beijo... E ele ainda podia sentir o sabor dos lábios dela. Na verdade, um outro beijo valeria qualquer conseqüência. Aquela idéia o fez sorrir, mas tornou-se sério assim que entraram de novo no quarto de Marlene.

Ao ver o leite e os biscoitos, os olhos de Emily cintilaram.

— Clara, isto é uma festa? — perguntou, feliz.

— Digamos que sim, minha linda. Para comemorar sua recuperação e a de Lene. — Dulcie ofereceu a caneca fumegante de chá à moça e anunciou: — Este é o poderoso chá de tia Bessie.

— Tia Bessie? — Marlene estranhou.

— Ela é tia do Sr. Potter e pediu para que a chamássemos assim também enquanto estivermos em sua casa.

— E por quanto tempo permaneceremos aqui? — Clara indagou, passando a língua pela marca de leite que ficara em seu lábio superior.

As três olharam para James, em busca de uma resposta.

— Acho que... assim que vocês duas se sentirem bem o suficiente para poderem voltar de barco ao continente.

— Está falando de Hogwarts? — Clara antecipou-se, novamente parecendo assustada.

— Bem, parece-me que é a cidade mais próxima, não?

— Mas não podemos...

Quase em pânico, Lily pegou o prato de biscoitos e entregou-o à menina, evitando suas palavras:

— Coma um, querida. São deliciosos.

Cal notou o olhar de preocupação trocado entre as duas mulheres, mas o momento passou e a tensão pareceu sumir por instantes. Clara passou a comer com gula, esquecendo-se do que dizia. As outras crianças aproximaram-se, todas em silêncio, para aceitar o leite que lhes era oferecido. Aquilo acabou por confirmar as suspeitas de James de que estavam ocultando alguma coisa muito importante. Até os pequenos pareciam estar sendo coagidos a participarem do segredo.

Ele bebeu seu chá sem prestar muita atenção ao sabor. Depois, colocando a caneca vazia de volta à bandeja, disse simplesmente:

— Vejo vocês amanhã.

Ninguém disse uma única palavra até que os passos dele se perderam na distância. Minutos depois, Lily recolheu as canecas e pratos e depositou-os sobre a bandeja, advertindo a todos:

— Ainda temos mais de uma hora de sono antes de o dia clarear. É melhor descansarmos porque teremos muito o que fazer amanhã, certo? — E, erguendo o lampião, levou-os de volta a seus quartos.

Quando voltou à cozinha para deixar a bandeja, percebeu seu erro: James estava lá, à sua espera. Olhava pela janela, para os campos que se estendiam até onde a vista podia alcançar e voltou-se assim que a ouviu entrar. Havia uma expressão diferente em seu rosto.

— Quero saber o que estão escondendo — exigiu, sem maiores preâmbulos.

Lily ergueu mais o rosto, naquela atitude altiva que ele começava a reconhecer e enfrentou-o:

— O que me pede para dizer não é de sua conta, Sr. Potter.

— Parece-me que, uma vez que está refugiada em minha casa, tudo que lhe diz respeito torna-se de minha conta. Não quero que problemas maiores aconteçam a mim ou a minha família por hospedá-los aqui. A guerra já causou muitos danos aos meus.

— Eu gostaria de lembrá-lo de que sua família não foi a única que sofreu com os horrores da guerra, senhor. No entanto, todos têm de prosseguir, se querem continuar vivos, não?

Lily conseguia mexer com seus nervos. Conseguia irritá-lo. Estendeu o braço, puxando-a mais para si, disposto a obter todas as respostas que queria.

— Escute aqui, moça, está testando minha paciência, mas ela tem limite! Exijo que me diga o que a fez enfrentar aquela tempestade!

Ela tentou soltar-se, mas a força dele era muito superior à sua. Havia um fogo nos olhos de James que a assustava, mas não queria que ele percebesse aquilo.

— Está indo longe demais, senhor! Solte-me!

— Diga-me do que está fugindo!

Lily enrijeceu o corpo e, vendo sua reação, James tentou convencê-la de outra maneira:

— Diga-me do que se trata e, se puder, eu a ajudarei. Mas seja honesta comigo!

Lily, porém, debateu-se mais.

— Droga! Pare com isso! Confie em mim! — James insistiu, sem soltá-la.

— Se há algo que aprendi com a guerra, senhor, é a não confiar em ninguém — disse ela, fria, com uma espécie de sorriso de desdém. Havia raiva em seus olhos e escárnio em sua voz. — E certamente não vou confiar em um homem que está usando a força física para me subjugar!

James cerrou um pouco os olhos, atingido por tais palavras. E, sem dizer mais nada, soltou-a de uma vez e saiu da cozinha, respirando fundo, extremamente irritado. Durante alguns instantes, Lily permaneceu ali, em pé, ouvindo-o caminhar em direção ao celeiro. Se, ao menos, pudesse confiar! Mas não ousaria fazê-lo. Fizera os outros jurarem segredo e não seria ela a quebrar o juramento.

Infelizmente teria de viver na prisão que ela própria criara, mas não havia outra saída. Mesmo porque não havia espaço, naquela prisão, para o amargo Sr. James Potter.


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Notas finais do capítulo

Desculpe-me a demora eu havia perdido o meu pendrev e ele estava com a fic inteira. mas so pra compensar. o capitulo 5 vem dentro de dois dias. basta eu beta-lo e posto.
bjosss
Nany



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