Inglaterra escrita por Anna


Capítulo 27
O Incidente




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Ela estava no alto da escada, uma visão vestida de branco.

O movimento na sala diminuiu para ele, depois interrompeu-se.

Ele não via nada além da visão. Tudo mais estava cercado por névoa.

Ela o fitava diretamente, com um sorriso brincando em torno dos lábios. As profundezas de seus olhos ameaçavam romper em chamas. Gregory caminhou em sua direção. A multidão pareceu abrir passagem para ele.

— Olá, você aí — disse ele.
— Olá — ela respondeu. (Sempre simples, sempre simples.)
— Você é Brooke Ashley. Vi um de seus filmes.

Ela inclinou a cabeça, aceitando a homenagem. Sorriu. Era deslumbrante. A névoa na sala desapareceu e ele voltou a ter consciência do som de conversas a seu redor.

Compreendeu que estava segurando a mão dela. Tomou-a na dele, com intenção de apertá-la. Ao invés disso, ficou simplesmente ali, parado, como um tolo, congelado, com uma mão queimando em sua palma...”

- Não, não Edward... Volte e ande outra vez. COMO HOMEM, droga! – a voz de Emmett interrompera minha leitura.

Abaixei o livro e respirei fundo mais uma vez. Edward e Emmett estavam nessa ladainha há quase duas horas, pra falar a verdade eu não os vira depois de que tínhamos voltado do hotel. Aliás eu tentei não me importar o máximo, afinal eu e Edward não éramos mais namorados, e apesar do que ele havia dito, nem amigos eu acreditava que pudéssemos voltar a ser. Toda vez que me lembrava disso pontadinhas irritantes faziam meu coração palpitar. Era uma droga saber que estava tudo acabado e pior ainda saber que Edward estava “tramando” alguma coisa. Sim, porque ele e Emmett não passariam horas trancados por nada.

Ele tinha dito “Você vai entender o que eu estou falando amanhã” e essas mesmas palavras ecoavam mais que música grudenta em minha cabeça. Eu não queria que Edward mudasse, quer dizer, talvez uma coisa ou outra, mas nada demais.

- É claro que não, você não pode fazer isso! Só a mim, não os meus CDs Emmett... – o barulho, que eu já conhecia e provocara, de CDs caindo ecoou pelo corredor.

Meu quarto era o mais próximo do de Edward, mas o de Esme e Carlisle não era tão longe assim. Eu me perguntava se eles não estavam ouvindo tudo aquilo, mas do jeito que estavam já há alguns dias – quase em uma segunda lua de mel – era bem capaz que estivesse bem barulhento no quarto dos dois. Alice, depois de muito insistir, tinha conseguido permissão pra sair com Jasper. Eu não via tia Abgail desde manhã, talvez estivesse se divertindo também... E eu... Inesperadamente, aqui em meu quarto, lendo. É incrível como as coisas mudam, não?

- PERFEITO! Caramba, já era hora, você é muito devagar... – Emmett mudou de nervoso pra animado.

Coloquei meus fones de ouvido, seria impossível continuar a ler com a gritaria deles, - diferentemente da maioria das mulheres eu não me concentrava fácil, - mas meus olhos começaram a arder e assim que terminei, com muita dificuldade, o capítulo três de “Para Todo O Sempre”, fechei o livro, sem tirar os fones, e me deixei adormecer.

“Eu sei que sou eu quem tem que mudar o momento

A vida vai, eu penso, eu acho que eu sempre soube disso

Pode não ser esta noite, amanhã ou no dia seguinte

Mas, tudo vai ficar bem.”

(Drake Bell – Everything Is Gonna Be Okay)

- Alice, você deve saber de alguma coisa... Aliás, a que horas você chegou ontem à noite? – Carlisle falava alto da cozinha.

- Pai, será que dá pra parar... Eu cheguei no horário. – ela disse séria – E, eu não faço idéia de onde Emmett e Edward podem estar...

- Emmett e Edward sumiram? – perguntei entrando e me sentando perto de Alice.

- É... Saíram bem mais cedo. Pelo jeito você também não sabe onde eles estão... – confirmei com a cabeça.

– Bem, você era nossa última esperança já que Helen e Abgail também não os viram. – disse Carlisle e depois deu um gole em seu chá.

- Ou Abgail os está acobertando. – Esme murmurou de cabeça baixa.

Era bem provável mesmo que tia Abgail os acobertasse, mas aonde os dois iriam tão cedo? Eu comecei a sentir que a o que Edward havia dito ontem estava prestes a se cumprir.

- Eu levo vocês duas pra escola. Edward com certeza vai chegar a tempo pra aula, ele tem o título de presença exemplar e não faltaria tão fácil... – Carlisle se levantou.

- Presença exemplar? – ri um pouco e Alice também.

- É o Edward, esqueceu? – ela me empurrou pela porta.

- Certo, pessoal, então o eufemismo* é uma figura de linguagem que utiliza de termos diferentes pra, digamos “suavizar” uma frase ou expressão... Por exemplo, quando dizemos: Você é desprovido de beleza. – os alunos riram – É a mesma coisa que dizermos: Você é feio... – o Sr. Sanders se sentou e começou a mexer em alguns papéis – Chamada, turma. Depois vocês estão livres.

A sala estava cheia exceto pelo lugar de Edward ainda vago ao meu lado. Se ele tinha um histórico de presença exemplar, ou seja lá o que for, ele o perderia em alguns instantes. Virei-me ainda com esperança de que ele estivesse em outra mesa e nada. Percebi Riley quase deitado na cadeira e seu olhar se encontrou com o meu. Eu continuava com raiva dele, e muita.

- Edward Cullen? – Sanders levantou os olhos do papel e seu óculos minúsculo quase caiu – Sr. Cullen? Não está... estranho. – ele voltou a chamar outros nomes.

- Seu amiguinho panaca não veio hoje... –me virei rapidamente e Riley havia se sentado ao meu lado.

- Sai daqui. – murmurei entre dentes.

- Bella, qual o seu problema? Foi só um beijo... – ele falava baixo – Tudo bem, foi meio que de surpresa, mas...

- De surpresa? Foi à força, isso sim. – falei rapidamente.

- Me desculpa, okay? Você saiu comigo, a gente se divertiu, eu achei que você não ia se importar...

- Se fosse há um tempo atrás eu não me importaria. – respondi sinceramente.

- Você mudou tanto assim? – ele perguntou sorrindo.

- Talvez. – engoli seco – E você? Por que as pessoas não te suportam? – fechei meu caderno.

- As pessoas me amavam nesse lugar... – ele bufou – Mas eu fui suspenso e decidi mudar daqui, agora que voltei todos me odeiam.

- O que você fez pra ser suspenso? – perguntei.

- Eu comecei a pregar peças nas pessoas, quer dizer, no começo foi divertido... – ele parecia controverso – Eu achei que podia fazer umas coisas um pouco piores e aí todos se viraram contra mim. Eu andava com Emmett, mas só porque o irmãozinho dele foi o alvo eu virei o vilão...

- Perai, perai... O irmãozinho dele? Edward? – perguntei rapidamente.

- É. – ele afirmou sem sentimento.

- O que você fez Riley? É por causa disso que Edward te odeia tanto? – Riley abaixou a cabeça, parecia perturbado. O sinal tocou e ele se levantaria, mas eu segurei seu braço com força. – O que você fez? – insisti.

- Duvido que ninguém tenha te contado nada... – continuei o olhando fixamente pra ele.

- Bom, isso é uma surpresa pra mim também, todos te odeiam, mas não dizem o por que...

A maioria das pessoas haviam saído da sala, alguns alunos ainda copiavam o conteúdo e o Sr. Sanders arrumava suas coisas.

- Bom, o Edward sempre foi quieto e bobo... Ao contrário dos outros ele nunca namorava nem pegava garota nenhuma, então eu paguei uma das meninas do terceiro ano pra fingir que gostava dele sabe, ela mandava uns bilhetinhos e tal... No começo ele resistiu, mas depois caiu na dela. – respirei fundo tentando não imaginar a cena - Não aconteceu nada, ela só marcou um encontro e ele foi. O panaca ficou esperando umas duas horas a garota chegar e nada... Depois eu contei pro pessoal, mas ninguém gostou muito como eu esperava... Eu tinha mexido com o cara errado porque Edward é o queridinho dessa droga de escola...

- Os dois aí... Vocês ainda tem duas aulas, acho bom ir andando. – ouvi a voz do Sanders murmurar e o ignorei.

Eu não conseguia sair do lugar, minha mão ainda estava parada no braço de Riley e meus olhos fixos na parede. As drogas de imagens começaram a aparecer na minha mente. Edward sentado em um lugar qualquer, esperando por alguém que não viria... Por culpa de Riley. A idéia de que se talvez, não fosse Riley quem tivesse me beijado, ele teria me perdoado, atravessou minha cabeça. O jeito como ele olhava pra Riley e como falava dele, eu devia ter suspeitado que havia algo ali.

- Isso não se faz. – quase cuspi nele – Com ninguém, você foi um idiota, como ainda é.

- Ei, se acalma aí Bella...

- Só sai da minha frente okay? – passei por ele correndo pra fora da sala.

- Por que ninguém nunca me contou? – perguntei jogando a bolsa ao lado de Alice que mexia em seu armário. Jasper estava ao seu lado.

- O que foi Bella? – ela se virou rapidamente.

- Sobre Edward... O que Riley fez com ele. – ela olhou pra Jasper e depois se voltou pra mim.

- Oh, o que aconteceu no primeiro ano? Bem, Edward é meio sensível a isso... – Alice suspirou – Como foi que descobriu?

- O próprio Riley me disse... Aquele merda! – bufei e Jasper sorriu.

- Foi bem chato, mas ninguém mais gosta de Riley, rejeição não é o bastante? – ele fechou a porta do armário de Alice.

- O pior é que... – hesitei, eu não podia contar sobre o beijo, é claro que não – Edward e Emmett sumiram e ninguém os viu.

- Sumiram? – Tyler grunhiu atrás de mim – Como assim gente?

- Eles saíram antes de todo mundo hoje de manhã... Até agora não chegaram. – Alice ajeitou alguns cadernos em seus braços.

- É, Emmett nem me disse nada... – Jasper deu de ombros.

- Tem alguma coisa errada. – falei apanhando a mochila do chão.

- O que isso pode ter a ver com o “incidente” do primeiro ano? – Jasper fez as aspas no ar.

- Uh... – Tyler o interrompeu – O “incidente”? Por que estão falando sobre isso? – ele se virou assim que Jane se juntou a nós.

- Me lembro como se fosse hoje o pobrezinho do Edward chegando cabisbaixo, tentando se esconder, Riley e aquela garota ridícula rindo dele... Eu e Emmett ainda namorávamos, não me esqueço o quão nervoso ele ficou. – ela balançou a cabeça expulsando as lembranças.

- Ah, que ótimo, todos sabiam menos eu... – falei.

- Talvez Edward fosse te contar alguma hora... Mas vocês parecem estar brigados... – Alice murmurou.

- Ei vocês, não deveriam estar nas classes? – gritou o Sr. Montford, o professor de inglês.

- Vamos logo... – Jane rolou os olhos.

- Ah, eu não vou... – me virei em direção à porta principal – A gente se vê no intervalo.

- Bella, você vai ficar matando aulas e... – não ouvi Alice terminar a frase, corri pelo corredor até o portão e assim que passei por ele respirei fundo.

Era muita informação pra apenas uma aula e eu precisava me distrair antes que minha cabeça explodisse. Joguei minha mochila no chão, em baixo da mesma arvore que eu e Edward havíamos matado aula da primeira vez, Edward estava completamente apavorado, me lembrei. Droga, eu nunca havia me sentido tão arrependida antes, a última vez foi quando bati o carro de Charlie há uns dois anos... Mas agora era tão mais intenso.

Abri a bolsa e retirei o “Para Todo O Sempre”.

- Gostando da leitura? – me virei rapidamente para Tyler que me olhava perplexo.

- É... – afirmei – Já cheguei nas partes quentes... – ele riu.

- Essas são as melhores. – me estendeu a mão – Vamos, chega de ler.

- Já é intervalo? – perguntei me levantando.

- Uhum. – ele afirmou.

Tyler agarrou em meu braço e começamos andar até a frente da escola. Estava mais lotada do que de costume. Um ronco de motor soou alto.

- O que está acontecendo ali? – perguntei enquanto nos aproximávamos.

- Não sei... – Tyler esticava o pescoço tentando enxergar algo.

De repente Alice veio correndo em nossa direção, parecia assustada e ao mesmo tempo com vontade de rir.

- Venham ver! – ela puxou Tyler pelo braço livre que conseqüentemente me puxou junto.

O ronco do motor de algum carro roncou mais uma vez e depois parou. Um pouco de fumaça pairava pelo ar e Alice apontava na direção da multidão.

- Emmett! – ela disse.

- Só podia ser ele mesmo... – falei e ela balançou a cabeça.

- Edward está com ele no carro, quer dizer, eu acho que é Edward, porque... – começamos a nos espremer pela multidão até chegar a um local em que pudéssemos ver o carro.

Era o volvo de Edward, Emmett saia de dentro dele e do outro lado outro garoto também deixava o carro.

- Ed-Edward? – Tyler gaguejou e abriu a boca com a surpresa.

O garoto com um topete bem feito e Ray-ban vinha em nossa direção. Vestia uma camisa gola V azul clara por baixo de uma jaqueta de couro preta. A calça, também preta, e tênis de marca. Ele andava perfeitamente, quase em câmera lenta. Edward. Não, não podia ser...

As pessoas em volta começaram a perceber quem ele era também, algumas garotas deram gritinhos de excitação, mas Edward não olhava para os lados, vinha andando firmemente até mim, o que me fez ficar deslumbrada e assustada ao mesmo tempo. Minha respiração cessou assim que ele parou em minha frente e retirou os óculos. Seus olhos quase da mesma cor da camisa, mas mais brilhates se fixaram em meu rosto. Ele levou a mão até meu queixo o apertando de leve.

- E aí Isabella? – retirou a mão rapidamente e passou por mim.

Ele voltou a andar firmemente, mas dessa vez em direção ao portão principal, sem olhar pra trás. Seu perfume, um pouco mais forte do que o normal, continuava ali.

“Então você acha que me conhece agora

Esqueceu-se da forma como você me fez sentir

Quando arrastou o meu astral lá para baixo?

Mas obrigado pela dor

Isso me fez levantar meu jogo

E eu ainda estou subindo [...]

Quem está rindo agora?”

(Jessie J – Who’s Laughing Now)


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