Chocolate Derretido escrita por LyaraCR


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma demora absuuuurda, mais um capítulo pronto faz tempo...



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Aquilo tudo estava apelativo demais. Estavam no meio de mais uma missão,
fazendo coisas indevidas a cada mísero instante disponível, e a vontade de Dean
pelo corpo do mais novo aumentava a cada olhar, cada maldita vez que punha os
olhos sobre ele. As caçadas não estavam tão complicadas, mas a famosa falta de
atenção estava acabando com a invulnerabilidade dos irmãos Winchester. Sabiam
dos riscos, mas não dava pra conter os ímpetos. E Dean se lembrava de cada
mísero detalhe. Sabia que estavam descendo um desfiladeiro, rápido demais, sem
nem mesmo pensar nas consequências. Pouco importava. Estavam se enlouquecendo,
um ao outro, ao mesmo tempo e na mesma intensidade. Era difícil se comportar
diante das pessoas, era difícil prestar realmente atenção nas coisas... e
aqueles malditos calafrios... Nem mesmo podiam usá-los do modo devido, como
proteção, alarme, não mais. Bastavam olhares e nada mais era necessário pra
causar o início de um abalo sísmico entre eles...

Dean sabia que era errado, que deveria conter Sam, e além de tudo, conter a
sí próprio, mas sabia, era apenas humano, e era perito tanto em cometer erros
como ceder àqueles olhares de cãozinho abandonado... Ah, Sam, aqueles olhos
esverdeados, o jeito com o qual ele mordiscava o lábio inferior numa sutil
provocação em público...

É, Dean sabia, estava em maus lençóis. Não comia direito, pouco dormia, assim
como ele. Estavam se escravizando. E era interessante, por que aquilo não
parecia ter afetado tão negativamente. Claro, esta semana já era o segundo corte
desnecessário...

— Droga...

Olhou para a própria mão. Qual era o problema daquela faca? Parou por um
momento o que fazia. Sam estava demorando lá dentro... Sentiu a raiva corroer
suas entranhas enquanto uma onda inútil de pensamentos invadia sua mente.

Maldito RoadHouse.

Largou o que fazia no quarto. Saiu do mesmo, quase trombando com uma Jo
desconcertada o bastante para estar fora do ar. Algumas de suas suspeitas só se
fortaleceram ainda mais. Isso era irritante. Sabia que estava exagerando, ou
talvez não estivesse... Malditos paradoxos...

Mais alguns passos e encontrou Sam, ante um espelho, no banheiro do corredor.
Seus olhos se cruzaram e toda a raiva que sentia se dissipou, deixando suas
atenções escorrerem pelo corpo do irmão, fazendo seu sangue escorrer corpo
abaixo. Praguejou mentalmente. Sam parecia transtornado.

— O que está acontecendo?

Forçou-se a perguntar. Não obteve resposta.

Ele estava suado, a pele brilhando... Viu quando passou as mãos pelos cabelos
daquele modo que demonstrava a clara impaciência. Sua mente colapsou quando ele
umedeceu os lábios. Tudo o que disse foi em vão. E ele parecia estar dizendo
algo realmente importante, mas não conseguia ouvir... Só voltou a si quando ele
passou por sua pessoa como uma tempestade, indo para o quarto onde antes estava.
O seguiu. O seguiu a tempo de vê-lo tirar a camisa e se jogar na cama.

Fechou a porta atrás de sí. Apagou a luz, restando apenas o abajur. Aquele
não era um bom sinal.

Deixou-se seguir seus instintos ainda que sua confusão mental gritasse mais
alto do que qualquer criatura da escuridão. Deixou-se trancar a porta. Deixou-se
ir até ele e, de modo bruto, deitar-se sobre, mordiscando o pescoço exposto e
recebendo algumas reprimendas inúteis. Ele relutou por alguns instantes.

Apenas alguns instantes. O calor piorou e sua pouca sanidade estava se
esvaindo. Precisava juntar ao menos o mínimo de forças para tentar salvar-se e
salvar Dean também...

— Jo... — Dean pareceu parar por um instante, finalmente — Ela... acho que
nos viu no carro.

Estava rouco, um tanto quanto perdido, mas precisava parar Dean. O mais velho
franziu o cenho, forçando Sam a virar-se, as costas enfim contra o colchão,
pulsos presos por um agarre forte. As coisas se tornaram estranhas de repente.
Dean se aproximou rápido demais, tanto que podia sentir a respiração de Sam
contra seu rosto.

— Por que parece se importar tanto com ela?

Indagou o mais velho, enfurecido por dentro, tentando ao máximo conter seus
ímpetos de sabe-se lá o que.

— Dean... Não é com ela... É com a gente! Ela não pode nos ver... Nem ela,
nem ninguém!

Tentou argumentar, seu tom de voz aumentando com cada palavra dita. O mais
velho se afastou. Precisava mesmo agir racionalmente, ainda que seus instintos
estivessem falando mais alto. Ainda com os pulsos do outro em seu agarre,
alfinetou.

— Acho que está a fim de ferrar com uma vadiazinha.

Estava fora de sí, sentia. O ciúme daquela que tinha como irmã mais nova vez
ou outra estava consumindo seu ser. Soltou Sam com brutalidade, o mais novo
franzindo o cenho. Por que diabos ele estava agindo daquele modo?

Não, Sam não suportaria ser acusado de tal infâmia, e muito menos ser tratado
como um qualquer. Quando Dean tentou se levantar, o puxou com força,
aproveitando que estava desprevenido, fazendo com que caísse contra a cama.
Sentou sobre os quadris dele. Pareciam incrivelmente perturbados.

— Eu não vou tolerar.

Disse. Dean o olhou com incredulidade.

— Me solta.

— Não. Você não tem o direito de ferrar com tudo por causa de qualquer
uma.

— Ela não parecia qualquer uma quando saiu do banheiro.

— Ela não estava no banheiro! — praticamente gritou. Esbravejou —
Idiota!

Dean sentiu-se ainda mais enfurecido, não sabia de onde estava vindo tanta
coisa. Aquela menina realmente era nova demais para ter maldade, mas seu lado
racional não estava mandando em nada no momento. Com um giro rápido, estampou
Sam contra o chão, um baque surdo.

— Eu te amo.

Disse, olhando nos olhos tão iguais aos seus. Ele não respondeu, apenas olhou
para o lado, desviando. Dean abriu a boca para reclamar, esbravejar, mas sabia,
não seria o bastante, não para afogar sua fúria. Segurou com estupidez o maxilar
de Sam, forçando contato visual.

—Vou acabar com você.

Ainda se deu ao trabalho de avisar. Sam tentou se mexer, se soltar do
agarre... Ainda que estivesse ficando cada vez maior e mais hábil, ainda era
apenas um garoto. Dean o conteve e se aproximou como um predador, invadindo a
boca do mais novo sem nem mesmo pedir permissão. Sam murmurou qualquer coisa.
Não se importou. Continuou o que fazia, ainda que ele estivesse tentando não
corresponder. O corpo do mais novo estremecia, e sim, estava alterado, mas não
queria, não daquele jeito.

Sam sentiu um nó na garganta... Queria chorar. Não o faria na frente de Dean,
não, não se deixaria derrotar. Não podia.

Com seu último resquício de sanidade, lutou pela última vez contra o ataque
de fúria infundado do mais velho. Aquilo não os estava afetando muito bem...
Desde a primeira vez temera este momento.

Com um único movimento o afastou, tendo tempo de apenas pegar sua camisa e
correr até a porta.

— Se for assim, eu não quero mais!

Praticamente gritou. Dean, inerte de onde estava no carpete, jurou ter visto
algo como... dor, nos olhos do mais novo... Ele bateu a porta. Só Deus sabia
para onde estava indo... Maldição, as coisas não estavam bem.

— Droga!

Praguejou, levantando-se e golpeando a parede.

---

Os últimos dias haviam sido difíceis. Dean entendera, por suposto, que toda a
sua ira momentânea, em todos os ataques que vinha tendo, se devia ao fato de ter
medo de perder Sam, seu Sammy... Ainda que sentisse estar fazendo exatamente
isso. Não podia se culpar! Jamais havia lidado com um tipo de sentimento tão
forte!

Estavam comprando algumas coisas num hipermercado de uma das cidades grandes
pela qual estavam passando para resolver alguns desaparecimentos na mata local.
Sam mantinha, desde o último incidente, sempre uma distância aparentemente
segura, ainda que estivesse se dilacerando por dentro com isso. Sua atração pelo
irmão era forte demais, mas havia um lado em Dean que o assustava. Talvez aquele
lado maníaco, forte, selvagem, que quase sempre aparecia nas caçadas mais
perigosas... Sabia que era causado por mero temor, e não conseguia entender o
motivo de tal sentimento. Por que diabos Dean temia? O que ele temia? Não
conseguia ver. Era assustador.

Parou o que fazia. Ele revirava uma prateleira de frios buscando pelo que
quer que fosse. Se aproximou sorrateiro. Parou a escassos centímetros.

— Dee...

O outro nem mesmo se moveu. Apenas respirou fundo. Sam não vira, mas os olhos
do mais velho haviam se fechado com força. Ele deixou o que segurava cair de
volta no lugar.

Sam não precisava de palavras, não mais. Não queria que Dean continuasse
parado, não.

— Isso tá me assustando.

Confessou. Seu peito doía. E sim, maldição, estava lacrimejando. Era um
péssimo sinal.

— Eu só queria entender por que diabos não confia em mim... Por que não deixa
essa fúria de lado e... Olha... eu só quero as coisas como eram antes. Eu não
quero assim...

— Antes de tudo isso?

Dean se virou, olhando nos olhos do mais novo, quem, por um instante tentou
escondê-los. O toque em seu rosto, dessa vez, um tanto quanto mais leve do que
da última, o fez estremecer.

— Não. — disse baixinho — Eu não quero deixar de te amar desse modo louco. Eu
só quero que... continue. Não quero quebrar isso, não quero que quebre.

Finalmente juntou coragem e olhou nos olhos do mais velho. Encostou sua testa
à dele. Não se importou nem um pouco de estar no meio de um supermercado. Era só
um garoto, porém sentia que era hora de resolver aquilo. Não queria que
afundassem logo na primeira crise.

— Eu te amo, Sammy. Sabe disso. Eu... — respirou fundo. Estava sendo um tanto
quanto difícil — Eu não quero te machucar, mas sinto medo. Não me pergunte do
que, não posso enumerar tudo. Só tenho medo. De te perder de todos os modos,
principalmente.

— Não vai. Nunca.

Falavam baixinho. Sam tocou o rosto do irmão, fazendo com que o erguesse um
pouco. O beijou. Foi retribuído. Pela primeira vez em sua vida, estava tendo um
beijo com sabor de lágrimas. Se afastou rapidamente. Por sorte ainda não haviam
sido vistos.

O tempo que gastaram para pagar as coisas e dirigir até o motel pareceu a
eternidade. Seu peito parecia estar sendo bombardeado enquanto ele dirigia seu
tesouro pela cidade. Quando o estacionou, não demoraram nada para desembarcar e
chegar ao interior do quarto. As compras foram para o chão, a porta foi
trancada; nenhuma palavra foi dita.

Sam se deixou levar, passos para trás, para a cama, lábios nos seus e suas
mãos tão ocupadas quanto as de seu amado irmão, fazendo o mesmo que as dele,
tirando cada mísero empecilho do caminho.

Tombaram. Dessa vez era diferente. Muito. Havia algo bem mais pesado do que a
luxúria de sempre, algo bem mais concreto. Uma coisa tão forte que os fazia
querer chorar.

Pela primeira vez, Sam sentiu Dean deslizar para dentro de seu corpo. Por
completo. Queria pertencer a ele. Fato que não havia imaginado assim, porque não
podia imaginar algo tão forte sem ter conhecimento do que realmente era o que
chamavam por aí de amor. Agora, sentia, sabia que sentia realmente. Sabia.

Dean o beijava de modo diferente, não pior, apenas diferente. Ou talvez
estivesse tudo carregado demais, e ainda que todo o medo estivesse se dissipando
a cada vez que ele ia e vinha, continuava querendo chorar.

Ele diminuiu o ritmo. Olhos nos olhos e então uma mão calejada acariciando a
face que se deixou marcar por lágrimas. Os olhos gêmeos aos seus acompanharam. E
se beijaram, e continuaram. Toda aquela maldita tensão se esvaindo junto às
essências de cada um.

Era diferente agora. Sabiam.


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Notas finais do capítulo

Continua...