— Que tipo de câncer?— Perguntei, limpando a garganta com um pouco da saliva que ainda me restava.

— Câncer no sangue, popularmente conhecido como leucemia.

Desliguei-me um pouco de tudo e todos, lembrando das histórias que eu ouvia nos filmes de como era a leucemia. Lembrei do sofrimento da protagonista — era sempre a protagonista — e da dor do co-protagonista — que era sempre o namorado, pai, mãe ou algum membro da família. Em todos os filmes que vi, a dor maior não era a da pessoa portadora do câncer. Era de quem ficava.

Tia Ellana ainda chorava na porta, o que comprovava minha tese recém-criada. Bem, pelo menos minha criatividade estava voltando a funcionar.

No dia seguinte

Era uma sexta-feira nublada quando estiquei meu braço até o celular, discando o número de Leka.

— Oi Ennie.

— Leka, você está muito ocupada?

— Só se ocupada for ficar de cabeça pra baixo junto com o vizinho de sete anos. — Ela disse, brincando.

Acho que ela percebeu que não sorri, porque logo mudou o tom e perguntou o que eu não queria responder.

— Aconteceu alguma coisa?

Aconteceu sim, tive vontade de responder, mas engoli em seco.

— Quero te ver hoje. Preciso falar contigo. — Eu disse, desligando o telefone para a dor não aumentar junto com a respiração de Leka.

Meia hora depois ela chegou com o rosto preocupado e sentando-se à minha frente, eu comecei.

— Recebi os exames hoje.

A sala continuava silenciosa. Leka estava mesmo disposta a não dizer nada, absolutamente nada que pudesse interferir aquele momento.

— Estou com leucemia. — Falei, forçando as palavras para fora.

O que recebi não foi um “sinto muito” forçado ou uma expressão constrangida. O que recebi foi um abraço forte e verdadeiro e rezando para que esse gesto de amizade nunca acabasse, apertei mais minha confidente com as poucas forças que ainda me restavam.