House Of Night: Sweet Darkness escrita por BrunaNagorski


Capítulo 13
Capítulo 13




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Após James abrir a porta como um cavaleiro para que eu passasse, finalmente pude soltar todo o ar que parecia estar preso em meus pulmões.
Olhei para o corredor, e notei a ausência de almas vampiras quaisquer. Enquanto sentia o calor de James se aproximar e me guiar novamente, lentamente pus os dedos em minha testa. Já sentia uma gota quente escorrer pela lateral esquerda de meu rosto. Ao encostar os dedos, meio trêmula, senti uma leve ardida, então logo abandonei qualquer idéia de cutucar a ferida.

Foi quando estava olhando as pontas de meus dedos cobertos por sangue, de um vermelho que se destacava embaixo da luz pálida do local vazio, que James começou a falar. “Me desculpe por isso, Wanda. Liz tem... Um gênio forte.”
“Não é só ela.” Soltei enquanto passávamos pela porta da sala onde estive em minha aula anterior, Drama. Eu sorri levemente quando lembrei da aula divertida de Sarah.
“De qualquer forma, me desculpe. É só seu primeiro dia de aula aqui, e...” Ele deixou o final vagar no ar.
“Tudo bem.” Sorri rapidamente. “Não vai mais acontecer. Prometo.” O super-gostoso James me levou para direita, o lugar onde eu ainda não havia explorado. Era apenas outro corredor mais largo, com alguns armários na lateral direita. Ao lado esquerdo era possível ver uma sala com portas brancas. Ciência da Computação. Sala 211. Prof. Derek Sheppard. Pela janela fosca que continha no centro da porta, eu pude ver os vultos de alunos dentro da sala. Continuei a prestar atenção no chão a minha frente, e não demorou muito para ouvir a voz de James novamente. “É aqui.” Senti suas mãos em meus ombros, me guiando para a direita. Ele bateu duas vezes na porta, antes de abri-la. Entramos numa sala cuja paredes eram brancas – na verdade onde tudo era branco. Haviam 3 macas encostadas na parede logo a nossa frente.

De costas para nós havia uma mulher, que consultava algo numa estante com vários remédios. Supus que estávamos na enfermaria. “Alisson?” Me distraí com uma mesinha próxima, que continha algumas pastas, um computador prata da Mac que praticamente me apaixonaria se não fosse o momento, e algumas canetas e papéis jogados. Na parede atrás dessa mesinha havia alguns certificados enquadrados. “Sim, James.” Uma voz suave e calma falou. Olhei rapidamente para a mulher cujo nome era Alisson, mas ela continuava de costas, ajeitando algumas últimas coisas rapidamente. Quando ela se virou, desviei o olhar, como uma garota que ama um garoto, por isso o vive encarando, mas se recusa a segurar o olhar dele quando ele a olha.

Foi quando vi meu reflexo em um dos quadros brancos que anunciava mestrado em medicina. E o que se destacou ali foi o escarlate atravessado diagonalmente em minha testa, mais para o lado esquerdo. Seu corte deveria ter uns 7 centímetros de comprimento, e vi que o corte quase alcançava a lua azul em minha testa – a lua, foi ali que pude a observar direito em minha testa pela primeira vez.
Da ponta desse corte, vagamente pude ver duas gotas que já alcançavam a metade das bochechas. Uma das gotas desviava-se do caminho, indo para meu pescoço. “Oh, minha nossa!” Exclamou a enfermeira a minha direita.
“Minha nossa, é.” James resmungou. Tirei meu olhar do quadro – mas precisamente do meu reflexo, do sangue, da lua, de tudo – para encarar a enfermeira, que como minha mãe se comportava quando me machucava em uma de minhas brincadeiras nas ruas, já estava super próxima, analisando o machucado. “É um corte muito profundo. Parece ser um arranhão de alguma vampira.” Espiando a enfermeira por entre meus cílios, pude ver ela olhando rapidamente para James. Ela voltou a olhar o machucado, e então para mim. Lancei um pequeno sorriso para ela, e ela retribuiu. Olhei para trás dela. Ela se afastou, atravessando a sala e buscando, ao lado de uma das macas, algo em pequenos balcões.

“Foi exatamente isso que aconteceu. Tivemos uma confusão... Na aula.” Alisson me chamou para perto dela. Falou para que eu sentasse na maca. Com uma breve olhada em James, vi que ele continuava encostado na porta, seus braços cruzados, os músculos ficando mais definidos, meu coração acelerando. Desviei o olhar, encarando minhas pernas.
“Que tipo de confusão? Devíamos informar...?”
“Não.” Antes que Alisson terminasse a suposta pergunta, James falou. “Não. Ela é apenas uma Novata, não devíamos deixá-la muito... Assustada.”
“Mas essas são as normas da nossa House of Night,” ela falou pingando algo em uma gaze. “Todos os Calouros são tratados da mesma forma aqui. Mas, se achar que é desnecessário avisar a diretoria sobre uma garota que causou um corte na testa dessa moça...” Disse sarcasticamente.
“Não vai mais acontecer.” Me remexi, engolindo seco. Eu estava no meio de uma discussão entre vampiros, que óótimo.
“Está deixando os alunos muito mal acostumados. E se acontecer novamente? E se acontecer algo pior-”
“Você adora deixar as pessoas bem calmas, não é, Alisson?” Ele ironizou nessa.

Senti que eles sairiam no tapa – no soco, na voadora, nos caninos agudos – a qualquer hora, por isso limpei minha garganta na esperança que eles parassem. Foi o que aconteceu. O ambiente ficou quieto, e Alisson estátua por um segundo. Foi quando ela deu um pequeno passo para ficar em minha frente, então começou tudo de novo enquanto manuseava o pedaço de gaze para perto do meu corte na testa.

“Você quer esconder a realidade da jovem, James. Todos são apenas adolescentes. E os hormônios e testosteronas acelerados, junto ao processo de transformação da vida humana para a vida de Vampiro causam muita dor de cabeça para eles. É inevitável que uma hora soltem tudo isso para fora.” Toda aquela briguinha que eu não sabia por onde tinha começado parecia ser legal de assistir. Quem não gostava de uma briga?
Na verdade, essa discussão parecia legal até o momento em que a afetada começou a ser eu.

“Okay, okay. Mas isso não signifique que vão se matar, Alisson. Droga, você complica as coisas. E não vamos avisar a diretoria, okay? Dessa vez deixe as duas por minha conta.”
“Tua conta?” Alisson parou, e começou a gargalhar sarcasticamente, foi quando ela pôs uma mão em meu queixo e começou a pressionar a gaze com algum tipo de Mertiolate em meu corte. Aquilo ardeu. “Meu querido James, quem você pensa que é para tomar con-”

“Sou o Mentor dela.” Eu tentei olhar para trás, encarar James, mas a enfermeira segurou meu queixo com tamanha força que eu podia sentir minha mandíbula doer. Voltei a olhar para minha frente, quando senti duas doloridas e angustiantes dores no meu corte. Alisson apertava a gaze com muita força do machucado.
Eu soltei um gemido entre os dentes, mas ela pareceu não perceber. Estava em estado de transe, encarando James quase com perplexidade. Quando voltou a se mexer depois de uns 10 segundos, pressionou novamente meu corte.

“Era-só-o-que-me-faltava! Olhe para ela. Como ela vai ter um Mentor tão... Tão...”
“Ai!” Resmunguei.
“Tão incompetente?” Alisson lançou um olhar azedo para James. Novamente a dor. Agora Alisson já esfregava o pedaço de pano no machucado.
“Ai, ai. AI!” Comecei a me deitar na maca, me afastando da mão da mulher em minha frente. Ouvi um grunhido de James.
“A incompetente aqui é você, Alisson!” Logo ele estava afastando a mulher de minha frente, que pareceu se dar conta do que estava acontecendo. Senti a mão de James minhas costas, tirando-me da posição desconfortável que me encontrava, inclinada para trás. Suas mãos estavam quentes e aconchegantes. Pensei em fazer um draminha, quem sabe ele não me levasse para o ginásio em seus braços, não é mesmo?

James trocou suas mãos de posição. As colocou em meus ombros distraidamente, e então analisou o machucado. Ele contorceu a boca, e sussurrou. “Vamos dar um jeito nisso.” Ele disparou para o lugar onde encontramos Alisson ao entrar na sala. Enquanto ele procurava por alguma coisa, ela se aproximou de mim, e sussurrou, sua voz no mesmo tom de seda que havia usado no começo da consulta. “Me desculpa, me desculpa mesmo. Não queria ter feito isso, mas é que James... Ele gosta de encher meu saco, pessoa desprezível.” Eu dei uma breve risada, junto com ela. Mas, apenas para mim mesma, pensei, enquanto observava James, que deu uma breve fitada de canto de olho para nós – ou para Alisson: nenhuma pessoa em sã consciência falaria isso de um cara como James. Não, não, nunca. Pelo menos uma mulher em sã consciência. Ele parecia perfeito demais, então supus que um dia, apenas talvez, os dois tiveram algo – era como um ex casal que se odiava.

“James, o quê...?” James abria umas gavetas freneticamente – ou quase isso. Ele não respondeu ao chamado da enfermeira, então ela repetiu, mais séria. “James, o que você está procurando. James? Pare de mexer nas minhas coisas. Jam...” Ela perdeu a voz quando James fechou a última gaveta, tirando um pequeno copinho com medidas. “James, você não está pensando...” Ele a ignorou novamente, abrindo uma porta no canto da sala. A enfermeira murmurou algo e marchou em direção da salinha, me deixando sozinha. Eu ouvi alguns sussurros, sempre o nome de James se sobressaindo da boa de Alisson. Não gostava quando alguém sussurrava. Isso significava que estavam falando de mim, ou de algo que eu não podia saber. Simplesmente odiava isso.

Soltei um suspiro. Pela primeira vez notei uma janela coberta pela cortinha ao meu lado. Na verdade, haviam várias cortinas, isso é, várias janelas.
Abri devagarzinho o canto de uma das janelas, então me surpreendi com a paisagem noturna. Parecia que eu estava vivendo um dia de escola normal, até o momento em que olhei para a escuridão da noite, e me lembrei que agora eu era uma vampira. Isso fez os pêlos da minha nuca se arrepiar. Era tão bom... E tão estranho ao mesmo tempo. Era como se, a qualquer momento, eu pudesse acordar de um sonho. Acordar em meu apartamento com o som do despertador, sozinha em minha casa, e dependendo do dia, descer e encontrar minha mãe tentando fazer eu falar sobre um namorico novo meu, e meu pai tentando realmente saber se havia um namorico, e se perguntar quando havia dado brecha para eu ser tão... Namoriqueira como eu era.

“...Você é louco, James. LOUCO! INSANO! MONGOLÓIDE!” Dei um mega pulo acordando do transe com a gritaria. Era Alisson, novamente. Eu quase tive certeza que James e essa enfermeira já tiveram um relacionamento antes, somente pela forma como ela falava com ele. James vinha andando até mim, e como sempre, meu coração parou. Se eu tivesse no lugar de Alisson, gritaria outra coisa: Você é lindo, James. LINDO, GOSTOSO, DEUS GREGO DA MINHA VIDA!

James parou em minha frente, e segurou em frente ao seu peito o vidrinho, agora quase cheio de um líquido... Vermelho.

“Você precisa tomar isso. Vai ser bom. Quero dizer, é claro que é bom, nós amamos.”
“Nós amamos...” Acho que minha voz saiu meio esganiçada. Aquilo era... Sangue? Era para eu estar apavorada? De qualquer forma, eu achei mega estranho ter de beber aquilo. Sim, tá, eu era uma vampira agora, mas... Beber sangue?
“É, nós, vampiros.” Ele ergueu um pouco o vidrinho para que eu o pegasse, mas era como se a enfermeira segurasse minhas mãos. Não pegue, não pegue... Minhas mãos formigavam, e eu não conseguia levantá-las.
Quanto drama, Wanda. É só você fingir que isso é... Suco... De morango... Com consistência de modo que parecia sangue.

“Não consigo.” Balancei minha cabeça, minha cara se contorcendo. James soltou uma risada audível. Risada linda, maravilhosa, e gostosa. Quase ri junto.
“Wand-”
“Ela não quer isso. James, não é bom deixar que ela beba sangue puro...” Alisson falou. Ri de James revirando os olhos, e mexendo a boca meio que a imitando de forma hilária. Ele sorriu para mim. Não pude evitar de tentar refletir aquele sorriso lindo, maravilhoso, e gostoso.
“Olha, Wanda. Você tem que beber. Imagine quando for caçar humanos, você terá de beber pelo menos metade do sangue do corpo deles.” Ele fez uma cara séria. Eu engasguei. Foi quando ele gargalhou de volta, dessa vez mais alto. “Tô brincando.”
“Er... É, okay.” Foi tudo o que saiu. Olhei novamente para o vidrinho. James chacoalhou levemente ele, fazendo o sangue se mover. Ele aproximou lentamente o vidrinho, e passou rapidamente em frente as minhas narinas. E então aquele cheiro. Aquele cheiro era delicioso. Era trilhões de vezes melhor do que você morrer de fome num deserto, depois voltar para casa e sentir aquele cheiro de carne temperada da vovó, ou daquele brigadeiro caseiro. Minha ânsia de querer aquilo gritou mais que tudo. Pude sentir a sala em minha volta girar, e apenas o vidrinho estar intacto, imóvel. Parecia que eu via o sangue se mover, como uma coca-cola num copo transparente, me cativando.

James pareceu entender, então se pôs mais ao meu lado, e colocou uma mão em minhas costas enquanto aproximava o vidrinho para meus lábios. Quando ele encaixou a ponta do recipiente em meus lábios, não pensei nada antes de segurá-lo com meus dentes e jogar a cabeça para trás, fazendo todo aquele líquido preencher minha boca.
Não foi como imaginei: quente, e totalmente satisfatório, como descrito nos livros. Estava frio e acabou rápido. De qualquer forma, o mundo em minha volta desapareceu quando fechei meus olhos. Senti aquele sangue por todo o caminho quando o engoli. Seu gosto era tão bom quanto o cheiro. Mas acabou rápido demais.
Pensei que era assim que os drogados infelizes se sentiam. Mas era diferente comigo. Era de sangue que eu precisava, e aquilo tinha se esgotado muito rápido.

Tornei á minha posição ereta, encarando o chão abaixo de mim. Pela primeira vez achei que tinha acordado do sonho: a respiração de James estava mais alta e nítida, fazendo cócegas em minha bochecha. Ao longe, eu pude ouvir o leve sussurrar das folhas, e entre eles o canto silencioso da coruja. O tic-tac de um relógio se iniciou dentro da sala onde estávamos, assim como o bater dos pés da enfermeira pode ser ouvido mais claramente.

“Como se sente?” James indagou ao mesmo tempo que Alisson se aproximou.
“Mais.” James, que desenrolava outro pedaço de gase subitamente olhou pra mim, uma de suas sobrancelhas levantadas.
Mais?” Apenas concordei com a cabeça. Alisson olhou rapidamente para ele com uma cara de ‘Viu o que fez? Eu avisei!’

Ao contrário de Alisson, James esboçou um sorriso maroto. Ele abriu sua boca para falar algo, mas olhou para Alisson rapidamente, então disse, claramente mudando suas palavras. “Er, eu... Não posso te dar mais.” Ele deu uma risada baixa para si mesmo, e arrebentou um pedaço de gase – literalmente, sem tesoura nem nada.
“Não sei por que ele foi inventar de dar sangue pra você, querida. Por favor, não ache que você pode sair mordendo as pessoas,” James rasgou dois pedaços de esparadrapo, enquanto olhava para Alisson distraidamente com o mesmo ar que ganhou anteriormente. “Sabe, é proibido, infringe 'as leis' dos vampiros...”
“Já assistiu True Blood, Wanda?” James se aproximou de mim, os dois pedaços do esparadrapo grudado em seus dedos, e o pedaço da gase em suas mãos. Tudo bem, eu quase desmaiei quando ele falou meu nome, agora com um toque diferente. Que seja, eu já estava na enfermaria...

Enruguei a testa, e olhei para baixo para não voar nos lábios deles quando senti levemente sua respiração em minha testa. “Er... Já.”
“Então. Bom né?” Ele se abaixou na altura onde meus olhos estavam pregados, me fazendo olhar para ele. E ele com aquela cara de safado, quase que dizendo, ‘Sim, vampiros peladinhos fazendo sexo em True Blood é tudo!’. Eu simplesmente soltei uma risada, desviando o olhar. Ele não estava fazendo aquilo, estava?
Ele riu junto, então voltou a falar. “É tipo o sangue do Bill, e de todos os vampiros safados de Bom Temps. Você não pode tomar muito, se não vicia.”
“Uh.” Senti ele levemente colocar o curativo em minha testa. “Mas não são só os humanos que ficam viciados com o sangue vampiro?”
“É sim, mas só quis dizer que não pode ficar tomando muito. Eu tô dizendo do sangue humano.”
“Aliás, tem todo o negócio de ser Carimbado, você vai aprender sobre isso na aula de Sociologia Vampirica.” Alisson continuava ao meu lado, um pouco mais afastada para dar espaço a James.
Logo ele terminou, e falou. “E acredite, você não vai quer Carimbar ninguém. Muita responsabilidade, argh!” Ele jogou a cabeça para trás, num gesto dramático demais. Eu ri, mas então olhei para ele e para Alisson com cara de quem não estivesse entendendo nada. Carimbar seria algo como... Carimbar uma folha?
Ah, essas coisas de Vampiros. E eu achava que tudo o que eu precisava saber é que vampiros queimam no sol, e que depois de uma mordida a presa virava outro vampiro, isso se você não o matasse. Uh, quem me dera se as coisas nessa vida fosse fácil. Nem para os vampy a vida dá sossego.

Alisson riu, e se aproximou mais, seu ombro já se encostava ao do meu professor. “Olhe para ela, estamos enchendo a cabecinha dela.” Ela soltou uma risada. James riu junto. Por um momento começaram a me olhar como se eu fosse um bebê fofo. Então eles se olharam. Ficaram por uns 10 segundos se entreolhando, juro que vi um ar de apaixonado ali. Resolvi interromper, primeiro porque eu não queria ver pegação, ainda mais com o meu macho. – opa, risque isso.

Sorrindo, soltei uma tosse artificial. Eles pararam de se olhar quase que imediatamente. Na verdade quem ficou mais sem jeito foi Alisson. Claro, as mina pira no vampirão.

“Vamos?” Resmunguei em concordância, e comecei a descer aquela escadinha que fica ao lado da maca. Uma coisa que você precisa saber sobre mim: definitivamente não me dou bem com essas escadinhas. Então, claro, tropecei, e quase cai se não fosse por James ali na minha frente para me segurar. “Ai” resmunguei, e então comecei a andar em direção da porta normalmente, como se nada tivesse acontecido.
“Tchau, Alisson. Obrigado, novamente.”
“Disponha.” Eu abri a porta, e James fechou. Quando começamos a andar, murmurei a mim mesma.
“Isso aê, obrigado pelo sanguezinho, depois venho pegar mais, falou?”
“Como é que é?” James se enfiou em minha frente, com uma cara de ‘você não disse isso, sua malandrinha, ou disse?’
James começou a rir. “Er...” Entortei minha cabeça, sorrindo. James continuou a andar, ainda rindo.
“Você é das minhas.” Oxe, pois eu sou toda sua, querido.

–-

A história foi o seguinte quando entrei novamente no ginásio: todos – assim, sem exagerar – me encaravam, além de estarem sentados, sem fazer nada. Os que estavam em pé apenas conversavam, ou como um grupo de jogadores de beisebol, simulavam lances. Mas parecia que a conversa do pessoal tinha tomado outro rumo quando James e eu demos as caras ali. É claro que o vampirão ficou louco da vida, logo mandando todos se levantar e voltar a praticar o exercício dado se não quisessem ficar com -1 na média.

Não posso deixar de ressaltar as Odiosas. Como se não quisessem ficar por baixo, encaravam meu curativo, me comparando a uma múmia em decomposição. Sim, eu também não entendi onde a parte do decomposição entrava na história.
Liz estava sentada próximo ao lugar onde eu estava sentada anteriormente. Vi em suas mãos um pó compacto, e sorri discretamente sabendo que ela provavelmente estava tapando alguma marca que eu tinha deixado no rosto dela. Pena que não precisava fazer um curativo. Por mim eu deixava um machucado bom o suficiente para que ela precisasse fazer cirurgia plástica para voltar a ser reconhecida.

Pois é claro que não me sentei no mesmo lugar que antes. A não ser que eu quisesse mais treta. Então sentei na última fileira das arquibancadas. Não eram muitas, mas tinha um bom espaço para caber umas quatro salas de alunos.

Olhando por um tempo os grupos fazendo o exercício, e ás vezes alternando o olhar para James e a Odiosa, que pareciam estar tendo uma conversa séria, percebi que tinha que fazer alguma coisa.
Apalpei meu bolso, depois freneticamente quando não encontrei meu celular ali, onde normalmente guardava-o. Foi depois, quando começava a abrir o zíper dos pequenos compartimentos que haviam dentro da bolsa, que lembrei da cena em que jogava meu celular na cama, e saia correndo, apressada para o primeiro horário. Sim, eu havia esquecido meu celular no meu novo quarto. Que ótimo.
Lembrei do IPod. Foi meio que aquele ditado, quem não tem cão casa com gato.
Retirei os fones cuidadosamente do local onde os havia enfiado no segundo horário. Não pude deixar de analisar o curativo em minha testa, pelo reflexo na tela negra, antes que apertasse o botão de Ligar. Sim, eu estava realmente estranha. E com uma cara péssima. Passei os dedos em meu cabelo, a única coisa que parecia estar ok, de modo que ele ficasse mais desorganizado, mas não bagunçado. Aparentemente melhorei, então liguei o aparelhinho rosa em minhas mãos.
Não escolhi a música – deixei no modo aleatório. Comecei a encarar o nada quando a primeira música começou a tocar. Nada de músicas românticas, ou daquele pop dançante – mas sim um rock, dos mais pesados. Nunca fui de gostar de rock – até o momento que conheci Marie. A pequena moça gótica me tinha apresentado suas músicas, e me ensinado a entender o que aqueles vocais macabros cantavam – ou gritavam. Então, ao invés de mudar de música – o que teria feito se estivesse na minha antiga escola – deixei que a música se desenrolasse. A introdução dark de 1 minuto se passou, e a imagem de meus amigos flutuou em frente aos meus olhos. Marie começou cantando tão monstruosamente quanto a música original. Lucas falava sozinho, pois ninguém o ouvia, sobre as histórias de que a banda-que-ele-nem-sabia-qual tinha pacto com o satã, mas nunca deixava de ressaltar o fato de que já tinha comido umas rockeiras muito gostosas. Alec, o nerdzinho, já começaria a falar que o vocabulário de Lucas é deplorável, e que a verdade é que as pessoas não se comem, mas sim praticam o sexo, a reprodução humana, e blá blá. Continuaria falando sobre como era essa prática a 200 milhões de anos a.C. se a super linda e meiga Abgail não tentasse o acalmar. Todos pareciam saber que Alec tinha uma quedinha por minha best, mas não tinham tanta certeza para falar em voz alta, pois era muito improvável da parte de um garoto que não tirava os olhos – e os óculos – dos livros mais grossos existentes na biblioteca, e que não largava seu game por nada.

Funguei, me lembrando deles. Seria possível que eu um dia esquecesse deles? Amava eles mais que tudo. Talvez os amasse bem mais que minha própria família e meus pais, que na maioria do tempo estavam ausentes.

Voltei a prestar atenção na música. Ela falava de um amor entre um casal. O que eu mais gostava nas músicas de rock era as letras, muitas vezes indecifráveis.

Quando o cantor anunciou as últimas palavras da música, meu coração pareceu pular uma batida, e o tempo pareceu parar em minha volta.
Sempre, sempre fui teu. Beba meu sangue, doce demônio do amor. Traçaremos nosso destino, Traçaremos nosso destino... Para todo o sempre.

Só percebi que estava o encarando quando ele me olhou de volta, e me senti como se fossemos um casal da época medieval, um casal proibido, trocando olhares: ele lentamente foi abrindo um sorriso para mim, e eu, timidamente, retribui o sorriso, sentindo minhas bochechas queimarem quando abaixei a cabeça. James, doce demônio do amor, doce demônio da beleza, da sedução. Doce demônio da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a tamanha demora entre um capítulo e outro, meus anjos. Não esqueçam de comentar o capítulo :)



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