Herança de Amor escrita por Lewana


Capítulo 12
Capítulo 12




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    Era como se uma mão gelada envolvesse o coração de Carolina. Correu à cozinha e a criada disse que dera pela falta de alguma comida, mas não vira Eduardo.
   Carolina foi de baia em baia, na estrebaria. O cavalo que Dudu montara de tarde, Zack, não estava lá.
   Laura! Tinha de achar Laura. Ela saberia onde procurar.
   Estava quase diante do quarto dela quando se lembrou do que acontecera antes. Decidiu falar com Rob. Encontrou-o na varanda da pequana casa onde morava com a mãe.
   - Oi, Carol - o sorriso não conseguiu disfarçar a melancolia que os olhos dele espelhavam. - Entre e sente-se.
   Sem dizer olá, Carolina contou o que acontecera e Rob levantou-se antes de ela terminar.  
   - Não se preocupe, Carol. Vamos achá-lo. Ligue para a polícia enquanto reúno os homens para darmos uma busca.
   - Deixe-me ajudar - pediu ela. - Enlouqueço se tiver de esperar aqui!
   - Então, pegue minha caminhonete, eu vou a cavalo.
   - Tem certeza?
   - O cavalo pode ir a lugares impossíveis para um carro e, lembre-se, Dudu está a cavalo. Com certeza não vai seguir a estrada, a menos que tenha medo de se perder.
   Carolina rezou para ser este o caso.
   Minutos depois estava na caminhonete, pronto para partir. Quando acendeu os faróis ouviu que a chamavam. Esperou e Nilda aproximou-se, entregando-lhe uma garrafa térmica:
   - Seu filho logo estará em casa - confortou-a -, tenho certeza.
   - Espero que sim!
   - Todos aqui vão rezar por ele.
   Ela agradeceu, engrenou o motor e saiu pela noite. Dirigia devagar, prestando atenção ao redor.
   Depois de alguns minutos, viu uma figura em cima de um cavalo junto da estrada. Aproximou-se e brecou perto dela, ansiosa. Mas não era Eduardo.
   - É você, Carol? - perguntou Laura. - Aonde vai a esta hora da noite?
   - Estou procurando meu filho! Você o viu?
   - Não. Procurando, por quê?
   - Ele fugiu de casa, por causa da nossa discussão e da briga entre você e Rob. Pensa que é culpa dele!
   - Mas que droga! Os homens já estão procurando?
   - Sim, o Rob cuidou de tudo - disse Carolina, fria. - Pode voltar para casa.
   - Vá para o inferno!
   - Fique fora disso! - gritou Carol, descontrolada. - Se você não tivesse posto o Dudu contra mim ele não teria fugido!
   Fitaram-se por um instante, depois Laura sumiu na escuridão.
  Enxugou as lágrimas e pensou no bilhete do filho. Ele dizia que ia viver sozinho. Para onde poderia ir? Para uma caverna? Para uma das casas espalhadas pelo rancho? Não, Rob e os caubóis já tinham verificado todas antes dela sair.
  Onde ele poderia estar? De repente, ela soube. A cabana do velho Peter! Rob levara Eduardo lá uma vez.
  Começou a chover forte e Carolina ligou os limpadores de pára-brisa, dirigindo-se esperançosa para a velha cabana.
  O trajeto parecia interminável. Raios começaram a cruzar o céu, seguidos pelo ribombar de trovões. Houve um raio mais forte e ela sobressaltou-se, imaginando que havia caído perto. Minutos depois, começou a notar um clarão estranho contra o céu escuro. Seu coração falhou uma batida quando percebeu que a luminosidade alaranjada encontrava-se na direção da cabana do velho Peter.
   Sem pensar, acelerou o carro, forçando as curvar tanto quanto era possível, rezando para estar errada. No entanto, quanto mais se aproximava, mais intenso ficava o brilho.
    Quando contornou a última curva, Carol viu que uma árvore e arbustos atrás da cabana estavam em chamas; apesar da chuva, o fogo já alcançara a parede de trás.
    Com a adrenalina circulando nas veias, ela parou diante da cabana. Lá estava Zack, esforçando-se para livrar-se das rédeas que o mantinham perto demais do fogo. Enquanto Carolina olhava, a grade da varanda cedeu, em chamas, e o cavalo disparou alucinado.
     Ela saltou da caminhonete gritando pelo filho. Subiu os poucos degraus e abriu a porta. Havia muita fumaça lá dentro, mas Carol entrou, e logo depois seus olhos começaram a lacrimejar; piscando, viu o fogo lambendo o que restava do teto. Chamou Eduardo de novo, sem resposta. As chamas aumentavam. Então, viu-o caído no chão, preso sob uma viga.
     Tossindo, chegou junto dele, tentou erguer a viga, mas ela não se mexeu um milímetro. Puxou-o, mas não conseguiu libertá-lo.
     Aturdida, precisando de ar fresco, Carolina tentou de novo erguer a viga e mais uma vez não conseguiu.
     Talvez houvesse na caminhonete uma ferramenta que servisse de alavanca... Olhando para o lado, viu que o fogo avançava depressa.
     Apavorada, quase inconsciente, notou uma tábua solta. Pegou-a e usou-a como alavanca para erguer a viga, aplicando todo seu peso. A tábua, meio podre, partiu-se e ela caiu com um gemido.
     Com os pulmões ardendo, Carolina ofegava, esforçando-se para conseguir o oxigênio necessário para continuar lutando. Exausta, rastejou até onde Eduardo estava e deitou-se sobre ele, protegendo-o com o próprio corpo.
     Começou a perder os sentidos e uma escuridão estranha, macia, a envolveu. Seu último pensamento foi para Laura.
     Uma luz apareceu na escuridão e Carolina quis alcançá-la, diluir-se nela. Quando começou a deslizar para a luz alguém a chamou.
     Tentou ignorar a voz, que era familiar e persistente. Com profunda tristeza foi recundo, distanciando-se cada vez mais da luz, até voltar para o mundo de calor e dor.
     Abriu os olhos. Contra as chamas, recortava-se a silhueta de uma mulher com um Stetson de aba larga. Não via o rosto dela, mas sabia quem era. Era a dona da voz que a chamara de volta.
     Deitada no chão, incapaz de se mover, viu-a curvar-se sobre seu filho. Gemendo com o esforço, ela se levantou e ergueu a enorme viga de uma vez, depois estendeu a mão para Carol, como se pedisse ajuda. Carolina quis atendê-la, mas estava além de suas forças. Mal mantinha os olhos abertos quando foi meio carregada, meio arrastada, com o filho para o ar da noite.
     Assim que ultrapassaram a varanda, o que restava do teto da cabana desabou. Fagulhas voaram para todos os lados, caindo na terra fria e molhada.
     Carolina tentou respirar e teve um acesso de tosse incontrolável. Laura curvou-se sobre ela e deslizou com as mãos em seu rosto e cabelos.
    Carol quis dizer-lhe que sentia muito, que se enganara ao duvidar dela. Quis dizer que a amava, mas antes que pudesse falar a escuridão apoderou-se dela mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

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