Capítulo 83 - Lendas e confusões

 Havia tomado minha decisão, por mais difícil que fosse ter escolhido aquela opção, não iria voltar atrás. Era nossa única salvação. Por mais que Wilson enchesse minha paciência a aula inteira para falar qual era meu plano, disse que só iria revelar na hora do intervalo. Aula vai, aula vem, finalmente chega a tão esperada hora do intervalo (ou recreio, como preferir). Pedi que Wilson fosse na frente para que eu preparasse a surpresa e, após alguns lamentos, finalmente resolve ir.

- Mas anda logo! Quero logo saber o que você tá pensando!

- Fique tranquilo - respondi da forma mais confiante possível - Eu tenho a chave para nos livrarmos dessa dívida de uma vez por todas.

- Mas o que pode ser...

- Eu já vou! Encontre com o pessoal perto das escadas que levam para o pátio. Vamos juntos enfrentar aqueles desgraçados!

 Nunca pensei que pudesse dizer algo positivo e confiante, mas tinha tudo para dar certo. Quando Wilson desceu e me vi como a única pessoa ainda dentro da sala, olhei para os lados, para fora da janela, para a lousa e, enfim, peguei meu raríssimo Tazi de diamante. O Tazi lendário que nem número tinha. Poderia guardá-lo e lucrar uma boa grana com ele no futuro, mas agora era a única saída de livrar a cara dos meus amigos. É...hora de me despedir dele. Olhei mais uma vez para o dragão azul que ilustrava o pequeno disco e coloquei-o no bolso antes que me arrependesse do que estava fazendo. Desci para a escada e lá estavam meus quatro companheiros, todos ansiosos e nervosos (com exceção de Karina, claro).

- Você tem mesmo uma ideia para nos livrar dessa dívida? - indagou Karina - Não consigo imaginar o que possa ser.

- Vamos até a "família" - respondi - Lá vocês vão entender.

- Tem certeza do que está fazendo, Daniel? - perguntou Demi.

- Certeza absoluta. Por incrível que pareça... - respondi. Não a culpava. Como a pessoa mais negativa do mundo, era estranho estar agindo com confiança.

 E foi o que fizemos. Pela primeira vez estava no comando da NERD e em uma missão que não poderia falhar. Não demorou muito para que nós cinco estarmos de frente com os quatro folgados da família do Tazi. Jonathan sorri maliciosamente ao nos ver.

- Ora, ora. Se não são nossos amigos da NERD? - falou ele - Vieram pagar a dívida? Se conseguiram 234 Tazi em um dia é sinal de que são bons mesmo.

- Não, não conseguimos 234 Tazi - respondi.

- Bom, então vieram negociar como vão trabalhar para nós? Acho que podem começar limpando os meus tênis...uso muito eles, sabe?

 Os outros três riem. Wilson e os outros permaneciam em silêncio, confiando no que eu poderia estar guardando. Ainda mantive a confiança.

- Também não vamos trabalhar - falei.

- Não, é? - Jonathan assume uma face mais séria - Então como pretendem pagar por todos os Tazi que devem? Dívida de batalha de Tazi é sagrada...e você sabe, odiamos violência, mas teremos que usar todos os meios para conseguir nosso pagamento.

 Montanha começa a alongar os dedos. Jorjão engole seco. Também comecei a ficar meio nervoso, mas não tinha mais como voltar atrás.

- Viemos pagar de outra forma.

- Outra forma? - estranha Jonathan - Do que está falando?

- Temos algo que vale por todos os Tazi que devemos

- Como assim? Pretendem pagar em dinheiro? Se for, não temos nada contra - falou ele, ainda tirando onda, mas seu olhar muda quando tiro meu trunfo do bolso.

- Não é dinheiro, mas é isso! - falei, mostrando com firmeza o Tazi lendário que tinha no bolso. Jorjão e Demi arregalam os olhos. Wilson parecia querer gaguejar alguma coisa. Karina se mantém indiferente, mas por dentro parecia estar surpresa também.

- I-I-Isso é.. - os olhos ganaciosos de Jonathan brilhavam com aquela visão. Era mesmo um Tazi raro.

- É um Tazi de Diamante. Um dos Tazi lendários extremamente raros. Existem apenas quatro desses em circulação.

- Não caia nessa, Jonathan! - alerta Deisy - Pode ser falso.

- Claro que não! - retruquei - Tem todos os dados da indústria. E como saberíamos falsificar um Tazi?

- Parece mesmo...muito verdadeiro - murmura Beto - Podemos ver?

 Segurei firme o disquinho e o protegi dos olhares deles. Não iriam pegá-lo tão fácil.

- Só depois que perdoarem nossa dívida.

- Se perdoarmos a dívida...você dá esse Tazi para a gente? - pergunta Jonathan.

 Eu iria responder, mas Wilson finalmente soltou a voz.

- É mesmo um Tazi lendário, Daniel? - perguntou ele, com um olhar esbugalhado e surpreso.

- S-Sim...é sim - respondi, meio assustado - Eu o encontrei por aí na rua...foi sorte.

- Por que não nos contou nada, Daniel? - indagou Demi - Escondeu isso da gente o tempo todo!

- Desculpem, tá bom? - falei, meio triste, mas sincero - Eu fui egoísta, como sempre, fui egoísta. Queria usá-lo para ganhar uma grana no futuro, mas depois dessa dívida, não podia ficar calado!

- Bom, pelo menos isso vai nos salvar - falou Jorjão - Podemos perdoar o Daniel por isso, não?

- Mas podemos fazer melhor do que isso! - disse Wilson que, mais do que surpreendentemente, pegou o Tazi de diamante das minhas mãos e o contemplou com olhos vidrados. Parecia estar fora de si.

- Wilson! O que está fazendo?! - bronqueie.

- Hehehe! Somos uma unidade, Daniel! Não existe eu no nosso grupo, existe nós! E como líder da NERD, é meu dever usar esse Tazi da melhor maneira possível!

- Wilson! O que deu em você? - perguntou Demi.

- Caraca! Ele ficou mais doido do que já era - comentou Jorjão.

- Wilson! Deixe de dizer bobagem! Devolva esse Tazi! - gritava, já perdendo a paciência. Ele se desvia das minhas investidas e continua agindo de forma esquisita.

- Por que vamos nos contentar só com o perdão da dívida? Podemos conseguir muito mais com um Tazi tão valioso!

- Como é que é? - perguntei.

- Isso mesmo! - ele respondeu confiante e desvia seu olhar para Jonathan - Jonathan! Que tal apostarmos? Todos os Tazi que vocês tem contra o nosso Tazi de diamante. Não aceitamos menos do que isso!

- Como é? - Jonathan riu - Estão falando sério?

- Dessa vez a Demi não vai perder e..

- Wilson! - Demi grita - Você está fora de si!

 Nisso, várias pessoas tinham se juntado na área devido a confusão e todos estavam pasmos com o fato de termos um Tazi lendário em nosso poder.

- Caraca, eles tem um Tazi de diamante! - gritou um dos moleques.

- Mesmo? Achei que era lenda! - comentou outro.

- Wilson! Seu desgraçado! - era a voz de Cássio - Você conseguiu um Tazi de diamante antes de mim? Nunca vou perdoá-lo!

- Tazi..de diamante? - balbuciou Patrícia - Wilson! Quanto você quer por esse Tazi? Venda-o para mim! Eu pago bem!

- Hehe! Nada disso! Só trocaremos esse Tazi por poder! - ele ria de forma maldosa - Quero ver vocês sem nada, enquanto nós teremos todo o poder dos Tazi em nossas mãos! Aposto como vocês tem quase todos os tipos possíveis de Tazi..

- Temos quase a coleção completa - respondeu Jonathan.

- Será a aposta da nossa vida. A equipe que vencer será a maior Tazi Master que já existiu...e será o grupo mais influente e poderoso dessa escola, sem sombra de dúvida!

 Isso era mal. Wilson já era megalomaníaco. Agora que tinha uma chance (arriscada, mas uma chance) de conquistar o poder no colégio inteiro, pará-lo seria difícil.

- É a maldição do Tazi - comentou Karina.

- Maldição? - perguntou Jorjão.

- O poder de ter um Tazi lendário deixou Wilson cego. Se ele aceitar a aposta e perder, nunca mais teremos outra chance de nos recuperar.

- Hehehe..interessante - disse Jonathan - Da nossa parte tudo bem...aceitamos as suas condições. Mas se perderem, continuarão nos devendo, mantendo todos os juros.

- Claro - respondeu Wilson.

- Então - Jonathan fala pausadamente - Façamos o acordo...

- Não! - gritou Demi - Eu não vou jogar!

- Como? - estranhou Wilson - O que está dizendo, Demi? É a nossa chance de ganhar todo o poder do Tazi!

- Não estou nem aí com esse poder do Tazi! Isso só está te deixando viciado! Você não é assim, Wilson! Se continuar desse jeito...o que será de você? Hoje são Tazi, amanhã será dinheiro alto...e assim vai até se afundar totalmente nos jogos de azar!

- Mas não é azar! - argumentou ele - Tudo depende da habilidade do jogador. Você ganhou do Montanha algumas vezes. Pode ganhar de novo estando concentrada e..

- Hehe! - riu Beto - Na verdade, nós deixamos vocês ganharem aquela vez

- Beto! Seu idiota! - criticou Jonathan - Não era para falar!

- Ops...foi mal

 Como é que é? Nos deixaram ganhar? Isso quer dizer que não temos a menor chance de vencer! E a multidão também não ajudava em nada.

- Vai lá! Joguem! - gritava um.

- Manda ver, Wilson! Acaba com esses caras! Eu sei que vocês conseguem!

- Parece que o pessoal não sabe o quanto Montanha joga bem - falou Jorjão - Se encorajarem o Wilson, aí que estamos perdidos mesmo!

- Eu...eu me recuso a jogar - falou Demi - E essa é a minha decisão!

- Demi.. - Wilson implora, mas Jonathan apenas ri.

- Por que precisa dela, Wilson? - falou ele - Não se garante sozinho? Devia sentir vergonha de ficar debaixo da asa de uma menininha...

 Isso foi o suficiente para Wilson perder toda a razão. Já falei que me arrependi de ter dado a ideia? Pois é, me arrependi...amargamente.

-Que seja! Eu jogo! - respondeu Wilson, obviamente cego pela aposta.

- Não! - gritei, me lançando na direção dele, derrubando-o no chão.

- É briga? - gritou um cara da plateia.

- Porrada!

- Calem a boca! - gritei - Wilson! Você sabe que não pode ganhar! Troque o Tazi pela nossa dívida e vamos embora na boa!

- Não! - ele me empurra para trás. Estava mesmo obcecado com o poder - Você não entende, Daniel? É a chance da nossa vida! Eu posso ganhar! Eu sei que posso!

 A multidão começava a gritar mais. Wilson estava cego. Jonathan ria, sabendo que a aposta já estava no papo. 

- Então..estamos combinados. Se vencermos, você continua com a dívida. Se você vencer, pode ficar com todos os nossos Tazi. Todos eles.

 Os olhos de Wilson brilhavam. Tendo aquela coleção de Tazi, certamente seríamos a nova família. Teríamos todo o poder da escola. Sem dúvida, tinhamos muito a ganhar, mas muito a perder. Ele não ouvia mais ninguém e se submete ao jogo.

- Como não mais do que um Tazi para apostar, minha proposta é um pouco diferente - diz ele - Cada um joga contra uma pilha de cinco Tazi. Quem virar mais Tazi de uma vez, vence! Pode ser?

- Que seja. Valendo apenas todos os nossos Tazi e o seu Tazi de diamante - explicou Jonathan - Deisy, monte uma pilha!

 A garota monta uma pilha com cinco Tazi. O jogo era simples. Bastava virar o máximo possível de Tazi. Montanha vai primeiro e, claro, ele derruba todos com sua técnica secreta. A multidão vaia. Como muitos estavam devendo para a "família", a maioria estava torcendo para nós (por mais incrível que isso possa parecer).

- Agora é a sua vez - falou Montanha - Se empatar, tentaremos de novo.

- Pode deixar...vou empatar e acabar com você na próxima! - disse ele, confiante.

- Ai, droga, ele vai perder - Demi começou a ficar chorosa - Tá bom! Eu jogo, Wilson! Acho que tenho mais chance de virar todos e...

- Nada disso! - grita Jonathan, com um sorriso sarcástico - Ele já decidiu que vai jogar. Não pode voltar atrás. Não tem jeito!

 Maldição. Agora já era. Perderemos nossa única chance de nos livrar da dívida por culpa da irresponsabilidade do viciado do Wilson. Incrível como o jogo altera as pessoas. Ele parecia meio nervoso, mas a plateia estava apoiando.

- Vai, Wilson! - gritou um.

- Acaba com ele! - falou outro.

- Hehe! Eu vou ganhar... - balbuciou o alterado Wilson, mesmo com as mãos trêmulas - EU VOU GANHAR!

 Mesmo com a explosão desse grito, o lançamento dele só conseguiu virar três Tazi. Não tinha jeito. Ele não era a Demi. Perdemos. Perdemos nosso Tazi de diamante e, não só isso, continuamos com nossa dívida monstruosa que só crescia a cada dia.

- Bem...isso é tudo - falou Jonathan cinicamente - Pode nos dar nosso Tazi de diamante que ganhamos por direito?

- Wilson... - queria gritar e espancar Wilson, mas estava abatido demais para isso.

- Droga! - Demi solta algumas lágrimas.

- Wilson! Você é um idiota! - gritou Cássio do meioda multidão - Como foi capaz de perder um Tazi tão raro? E conseguiu ele antes de mim!

- Devia ter vendido para mim logo! - retruca Patrícia, também ali por perto - Isso que dá conviver com pobre orgulhoso!

- Com isso, vocês ainda nos devem 234 Tazi - falou Deisy - Pelo menos até hoje. A partir de amanhã, a dívida aumenta...em dobro.

- Boa sorte com o pagamento. Mas podem trabalhar para nós quando quiserem - disse Jonathan, ainda mantendo seu sorriso de vitória.

- Esperem - falou Karina - Podemos pagar os Tazi agora mesmo

 Levantei a cabeça ao ouvir isso. Do que ela estava falando?

- Como assim? Vocês disseram que não tinham 234 Tazi - falou Jonathan.

- Não tinhamos, mas agora temos - respondeu ela - Aqui está!

 Karina mostra uma sacola cheia de Tazis e entrega nas mãos de Jonathan.

- Podem conferir - continuou ela, com a frieza de sempre - Exatamente 234 Tazi

- K-Karina - gaguejou Wilson - Como?

- Como você conseguiu? - perguntou Demi.

- Apostas - respondeu ela.

- Como? - Demi perguntou de novo.

- Enquanto vocês discutiam, pedi a Jorjão espalhar que Wilson estava apenas guardando o ouro e que ele era um jogador muito melhor do que Demi e Montanha juntos. Apenas mandava Demi jogar para disfarçar. Como a maioria das pessoas estava com raiva da família por deverem tanto a eles, foi fácil fazer quase todos apostarem Tazis na vitória de Wilson. Mas eu sabia que Wilson iria perder, então apostei contra ele. Como resultado, ganhei a maioria dos Tazi do bolão, o que dá até um número maior que 234 Tazi. Isso encerra a nossa dívida, não?

- Como é que é?! - gritou um dos alunos.

- A baixinha enganou a gente! - gritou outro.

- Aposta é aposta. Tarde demais para ficarem bravos - respondeu ela, sem se alterar.

 Todos ficamos pasmos. No fim, foi a Karina que salvou a gente. Wilson chorava de felicidade.

- B-Bem...perdeu a graça, mas, sim. Vocês quitaram a dívida - falou Jonathan.

- Karina...você nos salvou - disse ele, pegando nas mãos dela e dando um abraço. Claro que ela não corresponde, ficando apenas parada como uma tábua - Nunca vou me esquecer disso!

- Não precisa agradecer - disse ela.

- Se ainda sobraram mais Tazi da aposta, tenho certeza de que podemos até recuperar o Tazi de diamante e..

- Não! - gritei. Acho que todo mundo ouviu a minha voz.

- D-Daniel? - Wilson estranha - Sei que está nervoso, mas se treinarmos, tenho certeza de que podemos derrotar o Montanha e..

- Não é isso! Você não entende? Esses Tazi estão acabando com a gente! Olhem para nós! Totalmente viciados em colecionar uns disquinhos de um desenho sem graça e modinha! Dando valor para uma coisa totalmente idiota!

 As pessoas ficam em silêncio. Parece que se deram conta de que eu tinha razão.

- E não é só isso! - continuei - Essas dívidas e assaltos de Tazi só acontecem porque damos valor a isso! Se pararmos de colecionar essas porcarias, elas vão perder totalmente o valor, o que vai acontecer daqui a alguns meses, quando a promoção dos Tazi acabar e a indústria parar de produzi-los! Mas podemos fazer isso agora! Vamos esquecer esses Tazi malditos e viver nossas vidas em paz! Esses folgados da "família" não poderão cobrar por coisas que ninguém mais coleciona!

- Cale a boca! - criticou Jonathan - Acha mesmo que eles vão te ouvir? Estão todos viciados em Tazi! Só vão parar no dia em que a indústria parar de fabricá-los. Até lá vamos lucrar muito com isso!

- Ele tá certo - falou um dos alunos - Vamos deixar essas porcarias pra lá!

- É verdade...já tô enjoado de comer salgadinho - falou outro.

- Eu também. E esse desenho de alienígenas é uma droga mesmo - comentou outro.

 Parece que a maioria começou a se dar conta do quanto estavam viciados e, aos poucos, as batalhas de Tazi foram parando. Alguns, claro, se mantinham firme no vício, mas eram poucos. Com a perda de interesse dos alunos, a força dos Tazi foi acabando e em poucos dias a família de Tazi simplesmente deixou de existir. Na verdade, eles começaram a distribuir Tazi de graça para se livrarem do excesso (com exceção do lendário, é claro. Vai demorar um tempo para eu me acostumar com a ideia de perdi a oportunidade de ficar rico no futuro). Deve ser isso o que chamam de lei da oferta e da procura. E Wilson, bem, ele parece ter se curado do vício (e mesmo que não tivesse, não manteria o interesse por muito tempo, agora que a maioria dos alunos não ligava mais para Tazi).

- Nunca pensei que o discurso do Daniel tivesse causado tanto impacto - comentou ele, em um intervalo, quando estávamos no nosso cantinho, se bem que agora estava com uma voz meio entediada - Quase não vemos mais batalhas de Tazi aqui na Megatec

- E olha que nas outras escolas a febre continua firme - falou Jorjão - Bom, pelo menos sobra mais salgadinho

- Argh! Não aguento mais nem sentir cheiro de salgadinhos - falou Demi - Mas pelo menos tudo terminou bem.

- Graças a Karina que nos salvou - falei.

 Ela olha para nós sem mudar a expressão. Será que realmente não sentia nada?

- Não me agradeça - disse ela - Se não fosse o Daniel, provavelmente ainda estaríamos naquele campo de batalha. Agora o pátio é um lugar mais pacífico.

- É...parece que estamos em paz. Finalmente - falei. Mas é claro que isso não iria durar muito.

- Wilson... - quem se aproximava era ninguém menos que Abelardo (o líder da gangue de delinquentes que antes frequentava nosso lugar).

- Ah! - ele quase cai do banco - Vieram...pegar o lugar de volta?

- Não, não, podem ficar com esse lugar nojento - falou Abelardo

- Encontramos um canto muito melhor e mais escondido perto da quadra - explicou Solano, um dos capangas.

- Então? - perguntou Wilson.

- É que soubemos que você andou espalhando por aí que viramos seus escravos por termos perdido nas batalhas de Tazi...

 É. Acabei de lembrar que ele disse isso para assustar aquele assaltante de Tazi.

- Bom...não foi com essas palavras...

 Mas Abelardo não parecia muito simpático.

- Vai..dá um sorrisinho...não precisa levar tudo tão a sério, precisa?

 Minutos depois, ao vermos Wilson pendurado no gancho do suporte da quadra de vôlei pelas cuecas e com a cara pintada, descobrimos que precisamos tomar cada vez mais cuidado para não mexermos com a pessoa errada.

- Eles levam as coisas a sério demais - falou ele, com voz chorosa - Alguém...por favor, me tira daqui...

 E assim acabou a guerra do Tazi da nossa escola. Só espero que algo parecido não volte a ocorrer...espero.