Capítulo 129 - Tensão Pré-Embarque

Droga...cadê a porcaria da minha autorização? Eu jurava que havia colocado o papel no bolso, mas não estava lá. E agora? Essa é uma das coisas mais tensas que pode acontecer na vida de um estudante: esquecer a autorização da excursão. Como iria me livrar desse problema? O pior de tudo é que o ônibus já estava quase saindo.

– O que foi, Daniel? - Demi voltou a perguntar - Está com uma cara meio pálida...

Sim. A maioria das pessoas ficaria pálida naquela situação. Eu precisava achar minha autorização de algum jeito.

– Err...minha autorização...estou procurando - respondi, tentando ao máximo evitar demonstrar algum nervosismo.

– Sua autorização? - perguntou ela, agora com uma expressão mais séria - Não está aí com você?

– Está, está sim - tentei disfarçar - Acho que coloquei na mochila e não me lembro.

– Daniel, você não pode vacilar com essas coisas! Sem autorização, você não pode ir para o passeio.

– Eu sei. Já vou pegar. Hehe!

Mas eu não sabia onde ela estava. A autorização estava no meu bolso hoje de manhã, eu lembro perfeitamente disso. Mas como eu fui perdê-la? Esse tipo de coisa só acontece comigo, incrível!

– Qual o problema, gente? Já podemos entrar no ônibus, viu? - falou Wilson, se aproximando de nós junto com os outros ao perceber nossa demora.

– O Daniel está procurando a autorização dele - disse Demi.

– Autorização? Não diga que você perdeu! - exclamou Jorjão.

– Shhhh! Se a professora escutar, estou perdido! - falei.

– Se eu escutar o quê? - professora Vitória se aproximou de nós repentinamente com um sorriso no rosto. Não podia ser diferente, não é?

– Meu lanche - falei - Só estava procurando o meu lanche na mochila. Hehe!

– Ah, sim. É sempre bom levar alguma coisa pra comer - falou ela - Mas andem logo, tá? O ônibus já vai sair. Não queremos atrasar muito, né?

Por sorte ela não havia escutado a parte da autorização. Mas era mesmo um problema. Sem autorização, nada de passeio. E justo na primeira excursão da Megatec? Uma oportunidade excelente de sentar ao lado da Demi perdida por uma bobagem dessas! É muito descuido da minha parte!

– Tá legal, eu admito...perdi minha autorização - falei - Sem autorização não dá pra embarcar. Vocês vão ter que ir sem mim.

– Sem você? Nunca! - disse Wilson - É a primeira excursão da nossa gangue! Se um de nós não for, ninguém vai!

Era bem típico do Wilson falar algo assim. Ele realmente prezava pela união do grupo, mas não seria justo ninguém ir só porque eu perdi minha autorização. Não, a culpa foi minha e eu tinha que arcar com isso. Nossa, não é que eu sou bem maduro?

– Calma, Daniel, espera aí - falou Demi, boazinha como sempre - Vamos falar com a professora. Ela ainda pode ligar para a sua mãe e pedir a autorização por telefone. Que tal?

– É mesmo - falou Wilson - Isso pode dar certo.

Será? O problema era falar com a professora. Isso seria um tanto quanto constrangedor. Mas não tinha outro jeito.

– Você perdeu sua autorização? - falou a professora Vitória, com os olhos arregalados depois que confessei meu problema para ela. Meus amigos estavam ao lado para dar um apoio, mas isso não diminuía minha tensão.

– S-Sim. Que coisa, não?

– Ai, Daniel. E só agora você me fala isso? A gente já tá atrasado. Como vamos resolver isso?

– É só ligar para mãe dele - falou Wilson - Ela certamente vai autorizar.

– Bom - disse a professora - É uma saída. Ai, ai, devia ter pedido a autorização de sala em sala antes do dia do embarque para não dar esses problemas, mas não tenho muita experiência com excursões.

Pelo menos a professora era compreensiva. Ela pegou o celular e telefonou para a minha mãe. Teria sido a saída mais simples para o meu problema...se alguém atendesse o celular.

– Err....não tem ninguém atendendo - disse a professora.

A sensação de frio na espinha voltou. Eu já estava suando frio e depois dessa. Como assim ninguém atendia?

– O que vamos fazer, Daniel? - perguntou a professora - Sem autorização não posso te deixar embarcar. Você vai ter que ficar na escola até alguém conseguir ligar para os seus pais ou responsáveis.

O pior é que meu pai tinha uma reunião importantíssima naquele dia e certamente estava com o celular desligado. A minha irmã é maior de idade, mas a voz dela não é das mais maduras e não passaria muita confiança. E agora? Eu iria mesmo perder o passeio?

– Se você não vai no passeio - disse Karina - Terá que ficar na escola, fazendo alguma atividade entediante na sala da diretora, muito provavelmente...

– O quê? - perguntei.

– Talvez carimbando documentos - continuou Karina, com seu discurso nada encorajador - É o destino dos não viajantes...já ouvi histórias a respeito. Quem passou por isso, nunca mais foi o mesmo.

Aquilo não era nada animador. Nada mesmo. Eu não queria ficar carimbando documentos ou recortando papeis na sala da diretora. Eu queria viajar do ladinho da Demi. Por quê? Por que isso só acontece comigo?

– Se o Daniel não for, nós também não iremos - disse Wilson - Não podemos viajar com a nossa gangue desfalcada.

– Deixa pra lá, Wilson - falei - Não é justo vocês não embarcarem por minha culpa. Vão nessa.

– Nada disso! Precisamos de todos lá! Se um faltar, não será a mesma coisa - falou ele. Demi e Karina concordaram. Jorjão também deu de ombros, embora ele estivesse animado para ter outra excursão (já que a excursão da fábrica de doces foi estragada por Wilson da última vez).

– Valeu, gente, mas...

– Ei, esperem! - alguém vinha pela rua gritando e correndo.

– Aquela é... - a professora tentava reconhecer, mas Wilson reconheceu bem rapidamente.

– Ah, é a mãe do Daniel! - gritou Wilson - Será que ela..

– Daniel, graças a Deus que o ônibus ainda não saiu! - disse ela - Você deixou cair sua autorização quando saiu do carro. Ainda bem que eu percebi na metade do caminho.

A..minha...autorização. Estava quase chorando lágrimas de cristal diante daquilo. Ela realmente estava ali. Estava ali. E o nosso passeio estava salvo. E o mais importante de tudo: minhas chances de sentar ao lado da Demi voltaram. Obrigado, obrigado, obrigado.

– Aí, Daniel! Estamos salvos! - disse Jorjão.

– Beleza! Podemos embarcar! Muitíssimo obrigado, dona mãe do Daniel - falou Wilson - E devo dizer que a senhora está muito bonita hoje.

Claro que ele não podia perder a chance de puxar o saco de um adulto.

– Oh, obrigada - disse ela - Oh...vocês tentaram em ligar, não é? Costumo deixar o celular no silencioso enquanto dirijo. Desculpem.

– Tudo bem - falou a professora - O importante é que a autorização está aqui e podemos todos embarcar sem problemas.

– A propósito...não hesitem em me ligar caso aconteça alguma coisa - disse minha mãe para a professora.

– Claro. Não se preocupe - disse Vitória.

– Ah, sim. Seu lanchinho está aí, não está, filho? - perguntou minha mãe. Nessa altura, todos já estavam olhando pela janela do ônibus para saber o que estava acontecendo.

– E-Está...está sim, mãe - falei.

– Ótimo. Ah, não esqueça de passar seu protetor solar. Aliás, melhor passar agora mesmo. Ainda tá cedo, mas vai que o Sol fique mais forte - disse ela, pegando o protetor solar da minha bolsa e passando no meu rosto.

– Mãe! Por favor..

– Nada disso, filho. Tem que passar o protetor direitinho. Não pode brincar com sua pele - disse ela, realmente passando o protetor na frente do ônibus todo.

– Hahahaha! Protetor solar da mamãe! - eu já podia escutar a voz do Dimas me zuando lá de dentro. Tudo bem que minha mãe me salvou, mas claro que tinha um preço para isso.

– Agora eu já posso subir, mãe? O ônibus já vai sair - falei.

– Claro, claro - ela disse - Vá com cuidado.

E ela me deu um beijinho no rosto. Não que fosse algo incomum, mas era estranho quando você era a ÚNICA pessoa da escola que estava ganhando beijinho de despedida antes da excursão.

– Te amo, filho. Tchau, tchau - e ela se foi tão rápido quanto chegou. Acho que agora finalmente poderia entrar no ônibus.

– Vamos, Daniel? - falou Wilson.

– V-Vamos - falei. Finalmente a excursão iria começar e eu finalmente poderia me sentar ao lado da Demi. O Fundamental inteiro estava nesse passeio, então havia a disponibilidade de três ônibus. Todos nós subimos no mesmo ônibus. O problema é que meus planos de sentar ao lado da Demi não iriam se concretizar tão cedo, afinal, assim que cruzei o corredor, fui puxado por uma mão invisível.

– Danielzinho! Por que demorou tanto? - sim, era a Emília.

– E-Emília?! Você por aqui? - falei, completamente assustado.

– Claro que sim! Acha que eu perderia a chance de viajar do seu ladinho? Heim? Heim? - já falei que o olhar por trás daqueles grandes óculos me assustava? Diante disso, só pude olhar para trás e ver Demi sentada ao lado de Karina, enquanto Wilson se espremia para sentar ao lado de Jorjão. Bom, pelo menos não era um outro cara que sentaria ao lado da Demi.

– Ai, que emoção! Vai ser a melhor viagem da minha vida! - disse Emília.

Já eu posso dizer que será uma looonga viagem. Por que essas coisas só acontecem comigo?!