Escolhas... escrita por Borboleta Negra


Capítulo 9
Bonne Nuit




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Capítulo 9

 

Bonne Nuit

 

Eu tinha um problema hoje á tarde. E esse problema se chamava Josh. Pelo menos, as aulas estavam um pouco menos chatas devido ás conversas com Chester, que cada vez mais me conhecia, e vice-versa.

O sinal tocou e fui até meu armário com Chester na minha cola.

—Hoje você vai estudar com o Jackson, não é?

—Infelizmente._Bufei.

—Por que “infelizmente”?_Ele perguntou interessado.

—Porque... Ah, ele é um idiota.

Chester sorriu de lado.

—O que foi?_Perguntei.

—Vai aguentar mais um dia com ele?

—Talvez._Falei pesarosa, fechando o armário.

—Vamos, bambola? (n/a: Eu nunca disse, mas bambola di porcellana é boneca de porcelana em italiano, pra quem não sabe)_Um cheiro de menta chegou ás minhas narinas.

Bufei em resposta e ele sorriu torto.

—Tchau Chester, te vejo depois._Dei um beijo na sua bochecha e segui Josh.

 

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—Por que está me olhando?_Josh perguntou, devolvendo o olhar.

—Ah, só estou distraída._Falei balançando a cabeça.

Idiota! Gritou a voz na minha cabeça.

—Vai me dizer que não me acha lindo?_Ele se gabou, fazendo uma pose.

—Não._Menti dando um tapa leve em seu ombro.

—Alors arrêtez de me regarder._Bufei._O que foi? Estamos estudando francês, então...

—Tá, já entendi._Falei colocando minha cabeça entre os braços.

—Está mais amiga do Chester?_Ele perguntou interessado, girando a cadeira inocentemente.

—É o que parece. Por quê?

—Eu só perguntei, fica tranquila._Ele colocou as mãos para cima.

—Hum._Murmurei, respondendo mais uma pergunta da apostila de francês.

—Isso quer dizer que não está mais interessada em mim?_Ele perguntou despreocupado.

Olhei para ele e joguei o estojo em seu rosto.

—Ai!_Gemeu, colocando a mão sobre a bochecha._Por que fez isso?

—Pela sua pergunta idiota._Falei._E eu nunca me interessei por você._Menti.

—Posso fingir que acredito?_Perguntou.

—Pode parar de fazer comentários desnecessários? Idiota.

Ele sorriu torto enquanto eu arrumava minhas coisas para sair dali.

 

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Já faziam 8 meses que eu e Chester estávamos saindo, nos tornando amigos... Mas hoje ele me surpreendeu.

—Emy, posso falar com você?_Ele perguntou na hora do intervalo.

—Pode, claro.

—Venha._Ele pegou minha mão, me puxando para o parquinho das crianças do maternal, que não ficavam aqui esse horário. Sentamo-nos em um canteiro de flores e ele pegou minhas duas mãos._Olhe, isso é constrangedor, mas... Eu estou guardando isso para mim desde uns 4 meses._Ele olhou para o chão, ainda segurando gentilmente minhas mãos._Eu... Gosto de você.

—Eu também Chester._Sorri docemente.

—Não, não é assim._Ele falou._Eu... Emilly, eu te amo._Ele franziu os lábios enquanto eu arregalava os olhos._Me desculpe se isso vai atrapalhar toda a nossa amizade, mas não posso guardar mais esse sentimento para mim. E... Se você quiser, podemos ser namorados?_Ele perguntou temeroso.

Prendi a respiração sem pensar. Minha vida já estava uma bagunça. Chester era carinhoso, interessante e inteligente, mas eu não sentia o mesmo por ele. Mas... Poderia dar uma chance.

—Tudo bem Chester, eu aceito._Falei sorrindo e ele retribuiu o sorriso, com os olhos brilhando.

Puxou minha nuca e minha cintura mais para perto, colando nossos lábios e me beijou. Um beijo terno, um beijo bom e carinhoso, que fez minhas mãos irem á sua nuca e o puxar mais para mim, intensificando mais o beijo. Ele me abraçou cuidadosamente com os braços grandes, fazendo a brisa que me fazia sentir frio desaparecer. Mas eu pensei em Josh. Sinceramente, pensei nele. Mesmo que o achasse um idiota, minhas mãos congelaram quando o rosto dele veio á minha mente.

Chester se afastou com o cenho franzido.

—É o Jackson, não é?_Ele perguntou e eu apenas olhei para baixo.

Chester suspirou e pegou meu queixo com a mão que estava em minha nuca.

—Vou fazê-la o esquecer._Ele sussurrou baixo._Você não vai mais perceber que ele está por perto.

Assenti e ele selou meus lábios levemente de novo, em um beijo calmo.

 

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—Qual o problema Emilly?_Ele perguntou batendo na mesa._Você não está prestando atenção nenhuma!

—Desculpe-me Josh..._Murmurei olhando para a janela.

—Você conhece aquele cara que passou ali pela janela?_Ele perguntou e eu o olhei, assentindo.

O homem era alto, tinha cabelos negros até depois dos ombros, presos num rabo. Suas roupas sujas e surradas eram amarronzadas, seus olhos frios como a noite e a expressão séria.

—Costa._Murmurei._Costa Armand.

—E qual o problema?_Ele perguntou inocentemente e olhei para ele.

—Os Armands são como uma maldição de família. Eles são uma família do mundo inferior e desde que meu pai matou sua esposa, Stephanie, por tê-lo atacado, nunca mais fomos deixados em paz. Eles mataram meus pais depois que eu nasci, fui levada por uma senhora até um orfanato, da onde fugi quando tinha 7 anos e fui para o mundo inferior pela primeira vez. Desde lá eu morava naqueles lugares que eu deixava limpos e, quando os Armands me encontraram, eu não tive sossego.

—E por que nunca os denunciou para a policia?_Josh perguntou olhando para a janela.

Fiquei em silencio.

—É melhor ninguém se meter, os Armands são ágeis, têm astucia e habilidade, com certeza quem se metesse com eles irá morrer.

—Você não se meteu com eles.

—Mas eu nasci. E eles não sabiam até eu fugir, sou muito parecida com o meu pai e carrego o sobrenome Di’luz.

Ele assentiu e eu olhei para a janela.

—Acho melhor eu ir para casa._Murmurei.

—Por que?

Não respondi, apenas saí correndo. Esqueci que podia pegar o carro e fui o mais rápido que pude para a casa, sem me importar com o cansaço. Cheguei e todas as luzes estavam acesas, normalmente. Bati na porta e Chester me atendeu.

—Emilly._Ele falou surpreso._Chegou cedo.

—Sim._Dei um beijo rápido nele e fui caminhando para dentro de casa._Onde estão os garotos?

—Na cozinha._Ele falou fechando a porta e fui até lá.

Todos me deram um “oi” e um tremor de alivio passou por meu corpo. Armand não fez nada. Até que senti falta de algo.

—Onde está Frederic?_Perguntei alarmada.

—Está no jardim de trás, brincando._Chester falou e eu arregalei os olhos, indo para lá.

Nada. Engoli seco, o nervosismo passou pelo meu corpo, mas me mantive com a postura calma, mesmo que meu coração estivesse á mil.

—Fred..._Chamei cantando._Onde você está? Freder..._Parei.

Ouvi um grito ensurdecedor e soluços aterrorizantes, mais gritos e então senti dois braços me envolvendo. Eu estava gritando. Eu estava chorando. E Frederic estava preso pelas mãos com pregos pesos na parede, com os olhos e a boca costurados. O pânico correu meus ossos.

—Frederic!_Gritei tentando me soltar de Chester para alcançá-lo, mas ele me segurava firme._Frederic!_Gritei de novo, minha garganta seca e gasta agora arranhava dolorosamente.

Logo tudo ficou cinza á minha volta e eu fui amparada por dois braços másculos. Eu havia desmaiado.

 

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—Você é a responsável pela criança?

—Sim._Engoli seco assentindo, a fixa ainda não tinha caído.

—Bom, precisamos de sua autorização para desligar os aparelhos.

Paralisei-me.

—Ele não está...

—Não._A médica me cortou para que eu não precisasse falar a palavra dolorosa que cortaria ainda mais minha garganta.

—Posso vê-lo?

—Sim, siga-me.

Fui levada para um quarto. Lá estava Frederic. Seus olhos estavam normais novamente, sem a costura e a boca também, mas ele parecia não poder abrir os olhos nem a boca.

—Frederic, eu estou aqui..._Sussurrei entrando ali.

Ele pareceu se animar, pois o aparelho cardíaco deu apitos mais altos e eufóricos, mesmo que fracos.

—Vai ficar tudo bem..._Falei mais para mim mesma do que para ele._Tudo bem..._Acariciei seus cabelos.

Ele estava morrendo. Meu bebê. A criança que sempre cuidei, sem ter aproveitado muito da longa vida que temos pois estava morrendo. Morrendo jovem. Não pude deixar que as lágrimas amargas não deixassem seu rastro por minhas bochechas alvas. Ele parecia sofrer. O soro pingava ao seu lado, mas eu via em seus olhos fechados a dor. Eu tinha que acabar com isso.

—Durma com os anjos, meu amor..._Falei dando um pequeno beijo em sua testa, as lágrimas caíram na mesma, deixando um rastro molhado.

Quando fui sair, senti minha luva pequena sendo puxada e vi os dedos esfolados de Frederic á segurando. Ele murmurou algo. Peguei a luva calmamente e aproximei meu ouvido de sua boca fechada. Ele á abriu. Estava cheia de pus, pingando sangue, mas ele parecia tentar emitir algum som. Mordi o lábio e me aproximei mais.

—Pode falar..._O encorajei.

Então ele soltou as palavras. Palavras claras para mim, palavras na qual eu falava todos os dias com ele, com as outras crianças...

“Bonne Nuit”.

 

N/A:

Triste, eu sei

Ç-Ç

Já estava em mente colocar a morte de Fred e já que eu não tinha idéias para esse cap, já coloquei o namoro de Chester e a morte de Frederic no mesmo capitulo e, ao que tudo indica, o próximo será o ultimo

Ç-Ç

Não rezem para um final feliz, ele não vai ser assim, porque a vida real não é um mar de rosas

Beijos

:*


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