13 de julho de 2026 * segunda-feira

Consultório Médico – 02:15 da tarde

Um silêncio perturbador reinou na sala. Apenas os corações podiam-se ouvir. Marcelo olhou para Rafaela. A loira não chorava, esperneava, gritava, murmurava, nada. Absolutamente nada.  

- Eu sinto muito. – disse o médico. – Vou deixar vocês a sós.

- Obrigado. – agradeceu Marcelo. A loira ainda estava estática.

Eu sonhei um sonho num tempo que se foi

Quando havia esperanças e valia a pena viver

Eu sonhei que o amor nunca morreria

Eu sonhei que Deus me perdoaria

- Querida, está tudo bem? – perguntou Marcelo olhando para Rafaela. Ele encontrou os olhos violetas da namorada, úmidos e tristes. Ela assentiu afirmando que estava tudo bem, tentava convencer-la disto.

- Está tudo bem. – disse ela baixinho.

- Eu sinto muito. – disse Marcelo se agachando e ficando na altura dela.

- Tudo bem. – disse ela firme. – Vamos? – perguntou ela se levantando e indo se arrumar. Marcelo ficou parado olhando para a tela.

Que eu era jovem e destemido,

Quando sonhos eram realizados, usados, desperdiçados

Não havia resgate a ser pago,

Nenhuma música não cantada, nem vinho não degustado

            Seu coração batia rapidamente. Era muita informação. Não seria pai e Rafaela além de não estar grávida não podia engravidar. Olhou para a porta onde Rafaela saíra. Respirou fundo. Não precisava ser nenhum bruxo para saber o que ela sentia.

Mas os tigres vêm à noite,

Com suas vozes suaves como trovão,

Enquanto eles despedaçam sua esperança em pedaços

Enquanto eles transformam seus sonhos em vergonha

- Rafa, você está bem mesmo? – perguntou Marcelo para Rafaela. A loira estava sentada no chão com Átila ao seu lado. Rafaela negou com a cabeça. Marcelo sentou ao lado da loira e abraçou-a, deixando que ela falasse tudo.

- Eu queria tanto um bebê. Tudo bem que eu fiquei com medo, mas... Você aceitou e eu me senti bem. Estranhamente bem. – disse ela chorando e abraçando Átila. – Eu queria tanto ser mãe. Uma vez na vida. Nunca pensei que... – começou ela, mas Marcelo a puxou para um abraço. Impedindo dele ver ela sofrer mais.

E ainda assim eu sonhei que ela voltaria para mim

E nós viveríamos os anos juntos,

Mas há sonhos que não podem ser

E há tempestades que não podemos prever.

- Shíííí... – acalmou Marcelo.

            Deixou a loira chorar e se livrar daquela dor. Deixou as lágrimas rolarem dos seus olhos. Uma criança. Seria tão bom terem uma. Uma prova do amor deles. Sentiu ela apertar ele.

Eu tive um sonho que minha vida seria

Tão diferente deste inferno que estou vivendo

Tão diferente agora daquilo que parecia

Agora a vida matou o sonho

Eu sonhei.

- Era o meu sonho ser mãe... – disse Rafaela soluçando. Marcelo a apertou. Não gostava de ver ela sofrendo. Acabava sofrendo também.

- E você será. – disse ele enigmática para ela.

            Tinha um plano em mente.