Magnum escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 23
Capítulo 23




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Com exceções de algumas jóias que poderiam lhe trazer certo lucro, Ada não encontrou mais nada que a interessasse nos quartos dos cientistas. Diários, anotações, livros e qualquer outro documento sobre a vida pessoal dos cientistas haviam sido levados ou escondidos, fosse por Magnum ou por quem quer que a estivesse observando. Com a dolorosa imagem de John horrendamente modificado em sua cabeça, se sentia mais do que nunca determinada a procurar a menor pista que pudesse sobre seu paradeiro. Não conseguia imaginar se era pior encontra-lo vivo ou morto, mas precisava saber o que havia acontecido com ele.

Quando recebeu a missão de entrar no Complexo 6-G, Setor 7, não imaginou que a missão se prolongaria tanto e, mesmo assim, depois de Raccoon, se convenceu que poderia esperar de tudo, mas não encontrar o próprio irmão em um estado daquele.

O que de fato havia acontecido?

Logo após Raccoon ela voltara para a própria cidade, reencontrando-o no hospital. Dissimulara um acidente de carro, contudo percebera no olhar dele uma certa desconfiança, um mal pressentimento. Johnathan não era fácil de enganar, mas também nunca duvidara das mentiras da irmã. De certa forma, Ada conjeturava que ele sempre soubera a verdade, toda a verdade, mas que seu afeto por ela o impedira de aceita-la. Ele permanecera ali por três semanas, até que ela estivesse em condições de ficar sozinha. Durante esse tempo a espiã teve de se desdobrar para que Wesker não interviesse em seu relacionamento com o irmão e para que, principalmente, não soubesse da existência dele, e imaginou que assim também ele o fizera, mas em relação ao governo. John era um homem desencanado, mas se bem o conhecia, por trás dessa máscara estava sempre alerta e preparado para o que der e viesse.

- e a dislexia? – ela perguntara enquanto ele se concentrava para lembrar o nome de um certo filme que queria alugar para verem juntos.

- aos poucos vou melhorando. Já consigo lembrar do meu sobrenome sozinho. – ele sorriu e perguntou sobre o tal namorado cientista. Fez uma espécie de brincadeira com a semelhança dos nomes e logo mudou de assunto, como se soubesse que ela não queria falar. Logo em seguida o desastre de Raccoon repetiu no telejornal. Havia semanas que no mesmo horário falavam sobre a explosão da cidade, sobre a contaminação misteriosa e sobre quem teria causado tudo aquilo.

- o governo parece esconder algo, não? – Ada indagara olhando para o irmão. Johnathan fora impassível e vago, mas ela sabia que ele também desconfiava do mesmo, contudo, que não se importava. Ele fora ensinado a não se importar, exceto que o mandassem fazer isso.

“Como um robô!” Ada pensou enquanto retornava para a Sala de Recepção, “e ainda por cima criado para matar e extorquir.”

O seu maior medo era que aquilo o deturpasse, pois ao contrário dele, que ignorava seu trabalho secreto, ela sabia de algumas de suas missões, através de contatos dentro do próprio governo, e sabia que tinha um passado cruel interrogando assassinos, espiões, terroristas e gangsters. Com qualquer coisa que fosse relacionado aos seus superiores e ele estaria lá, arrancando unhas e gritos em troca de respostas.

E o que mais a amedrontava, era o fato de que se fizesse algo errado, havia possibilidade dele chegar a ser seu próprio algoz.

“Não, John não colocaria a pátria e eu no mesmo patamar. Seu afeto por mim sempre foi maior.”

Mas até onde ele dissimulava seus próprios sentimentos?

Interrompendo suas meditações, Ada observou pegadas de sangue no chão alvo da Recepção. A porta principal, antes trancada por uma senha, estava agora aberta. Algo ou alguém havia passado por ali. Era impossível saber se ainda era humano nessa altura do campeonato.

Abrindo a porta, a espiã se deparou com uma pequena sala onde um Sistema de Esterilização deveria ser ativado, mas não foi. Passando para a porta seguinte, Ada se deparou com um corredor reto, com grandes janelas de vidro reforçado que davam para uma rede de usinas de onde provavelmente o Complexo retirava tudo do qual precisava. Na parede, Corredor 5 em destaque. Com um mau pressentimento em relação à extensão daquele corredor, a espiã seguiu atenta. Esperou que armadilhas a laser fossem ativadas, mas a única coisa estranha que ocorreu foi um estalo no canto da parede, onde uma espécie de metralhadora entrou em curto. Passando para a sala seguinte, esta grande e escura, de um aspecto quase cavernoso se não fosse por sua estrutura metálica próxima às portas, a espiã viu um cadáver de um grande felino estirado ao chão. Visivelmente contaminado e com as presas enormes ameaçadoramente expostas. Mesmo morto, aquilo lhe trazia arrepios, mas não mais do que o que o havia matado. Um buraco atravessando-o de um lado a outro indicava que alguma criatura arrancara seu coração.
Ada viu, então, duas portas na mesma sala. Uma que dava para as usinas e outra para uma parte antes isolada do Complexo, mas que fora arrombada por alguma criatura, pois a pesada porta de ferro que havia sido soldada, estava estirada ao seu lado no chão. Vendo que a grande porta até as usinas estava fechada e que havia maior possibilidade de que seu irmão estivesse nas entranhas do Complexo, a espiã seguiu para a passagem aberta.

Guiando-se por uma lanterna, Ada reparou que ingressava cada vez mais para o interior dos laboratórios, porém, sentia-se soterrada dentro de tudo aquilo. A escuridão se tornava mais absoluta a cada passo, e, ora ou outra, seu salto enroscava nas lajotas soltas do chão em estado degradável, assim como qualquer coisa por ali. As paredes pareciam se distanciar e a luz da lanterna se propagava menos. Não haviam ruídos até então que não fossem os de seus próprios passos.
Adentrando cada vez mais o abismo, às vezes em busca de alguma parede em que se apoiasse ou de algo que indicasse que não estava perdida em um pátio enorme, repleto de criaturas que a espreitavam sorrateiramente, já não podia assegurar sua própria volta. Acreditava estar mais do que perdida, quando topou com a porta de um elevador. Algumas letras desgastadas na porta enferrujada, indicavam que estava entre o Setor 4 e o Setor 3. O elevador a levava até o subterrâneo, onde ficava um sistema de fundição abandonado.

Ada abriu a porta e apontou a lanterna para o fundo, que era, de fato, muito fundo. Usando a Grapple Gun desceu até uma maçaroca de ferro com alguns membros de cadáveres enroscados. O elevador havia caído junto com alguns cientistas do setor. Por uma fenda razoável, aberta por algo ou alguém muito forte, conseguiu entrar na área subterrânea e se aliviou ao ver pontinhos iluminados à sua frente. Algumas luzes fracas, separadas por longos intervalos de escuridão, mas que pelo menos lhe deram a localização das paredes e do caminho, já que elas seguiam reto. A espiã começou a se mover, quando algo no elevador se enroscou no seu vestido. Apontando a lanterna rapidamente na direção, viu que era a mão acinzentada de um zumbi, em que a metade do corpo escapara para fora do elevador durante a queda. Estava faminto. O rosto esquelético e o desespero da única mão presa ao corpo demonstravam isso. A espiã não queria provocar mais ruídos, pois tinha a impressão de que haviam mais deles por ali, então habilidosamente cortou os tendões da criatura libertando o pedaço do vestido capturado.

Ada se voltou em direção às luzes dando um pulo e retendo o grito. Muito mais próximo que o outro, um zumbi alto e largo, com metade do rosto dilacerado se espreitava sobre ela. Empurrando-o para longe de si, a espiã correu na direção das luzes. Mas ao contrário dos zumbis de Raccoon e daqueles que vira no setor acima, este e os demais zumbis que a espreitavam não eram lentos. Passos rápidos começaram a ecoar junto com os seus. Alguns pareciam quase alcança-la, dedos frios e roxos chegaram a tocar sua pele. Os gemidos de outrora foram trocados pela respiração rápida e adrenalínica. Em uma corrida incessante adentrando cada vez mais aquele abismo, Ada torceu para que não houvesse uma parede no seu caminho, para que não se deparasse com uma curva sequer, ou seria o seu fim. Apontando a Grapple Gun para o nada, sentiu que precisava de um pequeno impulso apenas, que a arrancasse de perto daqueles zumbis, antes que conseguissem agarra-la. O arpéu vagou no meio da escuridão, até encontrar algo em que pudesse ser fincado, puxando, logo em seguida, a espiã para junto de si. Sem tirar o dedo do gatilho da Grapple Gun e sem tirar o dedo do gatilho da beretta Ada matou aqueles que mais se aproximaram de si, enquanto não precisou se preocupar com a velocidade e com o impulso que possuía. Soltando o gatilho da Grapple Gun assim que se sentiu mais segura para retomar o caminho com as próprias forças, seguiu as luzes em uma curva brusca e assim que a contornou viu algumas silhuetas espalhadas contra uma luz avermelhada que saía de uma grande abertura na parede a alguns metros de si.
Atirou contra as criaturas que barravam seu caminho. Eram poucas em comparação às que se aproximavam à cada passo seu. Com o último fôlego que lhe restou, a espiã se lançou para dentro da abertura, tendo em seguida a sensação de estar no inferno.

Literalmente. Pessoas estavam em chamas. Gemidos, berros e gritos que pareceram tão humanos quanto deveriam ser, deixaram a espiã consternada por alguns confusos segundos. Zumbis amarrados por arames ou aprisionados em jaulas e círculos de fogo eram carbonizados por uma armadilha feita com encanamento de gás que se estendia por todo o pátio. Ada atravessou-o antes que as criaturas livres a agarrassem, mas percebeu que elas não ousaram ir além da abertura e que preferiram observa-la se afastar. Passando para um corredor pequeno de chão gradeado, a espiã refugiou o quanto pôde de tudo aquilo, tomada por uma espécie de vertigem. Não conseguia saber ao certo se as criaturas nas fogueiras eram de fato zumbis, mas tinha a certeza que por meses aqueles gritos a atormentariam.

Encostada na parede, enquanto os gritos cessavam ao longe, recuperou seu fôlego enquanto era tomada por uma necessidade amedrontada de chorar impulsivamente, mas reteve-a. Não podia se abalar em um lugar como aquele, embora já estivesse começando a entrar em desespero.
Levantando-se vagarosamente, aspirando qualquer vontade sua de despejar uma lágrima que fosse, retomou a postura e olhou para a bifurcação ao seu lado. Não parou para escolher o caminho. Fosse qual fosse ela agüentaria mais pouco, por John.

O chão gradeado deixava exposta uma rede de encanamento. As paredes estavam tingidas pela ferrugem. Aquele lugar havia de fato sido abandonado por muito tempo, mas talvez houvesse sido para lá que as últimas cobaias humanas haviam fugido. Talvez onde John estivesse também.
Bem iluminado, o corredor a levava para uma outra sala com grandes e largos canos, onde se deparou com Magnum. Diferente de algumas horas atrás, ela tinha mais cabelo e uma pigmentação rosada na pele. Tinha a aparência de uma mulher comum. Magnum se virou na direção dela, demonstrando pouca surpresa.

- sobreviveu ao túnel da morte? – perguntou com uma ironia mórbida no olhar.
- Onde está o seu filho? – a espiã perguntou.

Magnum voltou os olhos para a própria roupa, tingida de sangue e sorriu tristemente.

- eu não o matei, se é isso que pensa. – respondeu.
- então, onde ele está?
- o perdi. – magnum afirmou olhando em direção a uma porta, barrada por uma parede de fogo formada pelo gás dos canos.
- como?
- Os mercenários lacraram esse setor há 6 anos atrás, desde então, ele permaneceu intacto. A Umbrella não se dispôs a destruí-lo. Havia algo aqui que eles ainda queriam, mas que nunca conseguiram pegar. – magnum começou, ignorando a pergunta da espiã. Se aproximou de uma válvula e girou-a com firmeza, continuando: – mesmo assim, foi o único lugar onde poderíamos ficar seguros. A quantidade de gás e fogo, a fundição e o único atalho para voltar ao mundo estavam aqui. Mas eu não podia permitir que isso acontecesse, entende?

A parede de fogo se dissolveu revelando uma porta lacrada por um pedaço de ferro retorcido. O corpo de um mercenário da Umbrella jazia há muito tempo ali.

- não, não entendo. – respondeu Ada.

- Minha função, desde que fui criada, minto, desde que me libertei da Umbrella, foi evitar que desastres como os de Raccoon City acontecessem. Eu vivi somente para isso e ainda assim fui caçada por todos os seus semelhantes, abrindo mão da vida dos meus, sempre. Não seria irônico que um vírus salvasse o seu mundo de outros vírus tão voluntariamente? Nunca cobrei nada em troca, mas acho que vou começar a fazer minhas exigências.

Seguindo até a porta magnum destorceu o ferro na porta.

- aonde quer chegar? – perguntou Ada, seguindo alguns passos na direção dela.

Magnum a olhou nos olhos.

- Há uma guerra aqui dentro. Eu sou a caça e também o caçador, a vítima e o algoz. E não posso manter a minha vida e a vida do meu filho enquanto não acabar com a ameaça.

- ameaça?

Abrindo a porta, a experiência seguiu para amplo pátio de chão gradeado, tremendamente quente onde algumas máquinas trabalhavam incessantemente. Ada a seguiu.

- eu lacrei – continuou Magnum – os outros sobreviventes aqui. Mas tive que sacrificar todas as minhas forças para me manter viva. Eles estão contaminados pela mesma espécie de vírus que seu...

Repentinamente um som familiar. Magnum se virou para uma plataforma sobre uma das grandes entradas. Uma mulher morena, de cabelo longo e encrespado segurava o bebê no colo. Em seu olhar havia uma espécie de sadismo, de vingança e ao mesmo tempo de ódio. Em seu braço direito alguns fios se destacavam adentrando sua pele, seguindo por dentro do corpo até as têmporas, onde terminavam em uma placa de metal.

Magnum a observou atônita.

- vírus tolo... – proferiu a mulher – pensou mesmo que poderia nos trair, não? O que fará agora que tenho sua cria nos meus braços. Olhe bem para o seu pequenino... Ele parece tão frágil. – Ameaçadoramente a mulher segurou o queixo da criança, puxando o para cima. – Se nele não estivesse o sangue do nosso líder, se nele não houvesse o cheiro da nova espécie, o quebraria membro por membro aqui na sua frente. – E com uma pausa, retomando o fôlego, como se a simples idéia de assassinar a criança lhe trouxesse o maior dos prazeres, continuou, mudando o tom de voz e fechando gravemente a cara: - você preferiu se unir a eles. Preferiu nos trair com aqueles que a criaram!

- nunca vão compreender, não é? – magnum perguntou. – nós somos a ameaça.

A mulher riu.

- e o que vai fazer quando acabar com todos nós? Se matar? – perguntou.

Magnum balançou a cabeça.

- ainda não há uma cura contra o meu mal. Mas contra o de vocês há.

- há uma cura contra você, sim. Da última vez ela quase foi concretizada, dessa vez vou fazer questão de que realmente seja.

Um grupo de homens e mulheres se espalhou ao redor de Magnum e da espiã. Atrás delas, um homem ruivo entrou de onde elas haviam vindo.

A mulher riu.

- quando nos aprisionou acabou se esquecendo de um de nós. – disse, enquanto o homem ruivo sacava um punhal. – ele fez questão de desfazer todo o seu serviço. - e rindo diabólicamente: - Espero que se divirtam com a traidora. Enquanto isso, vou assegurar com que a nova raça se fortaleça.

Enquanto o grupo de aproximava lentamente das duas, sacando armas que haviam pego com os mercenários mortos e até as que haviam improvisado, Magnum sussurrou próxima a Ada.

- Pode me emprestar a sua arma. Prometo que vai ser rápido.

- E eu?

- Fique tranqüila. Eles não terão tempo de alcançá-la.

Ada entregou a arma e um pente para Magnum.

- é tudo o que eu tenho. – disse.

- é o suficiente. Ah, e tente não ficar no meu caminho. – a experiência apontou para uma plataforma com os olhos.

Ada acenou com a cabeça e assim que atirou com Grapplen Gun fugindo do acesso do grupo, Magnum começou seu arrebate.
Embora utilizasse a arma de Ada para atirar nos que estavam mais distante, sua preferência era quebrar seus algozes em pedaços, desviando dos ataques sucessivos e descontando neles uma lição. Concordava, no entanto, que a sobrevivência ali era o principal motivo, maior até que o da louca que estava com seu filho nos braços. Eles tinham o direito à vida, tanto quanto Magnum tinha o dever de exterminá-los. Não havia outra cura para o vírus no sangue deles que não fosse a morte. Mas as intenções da louca eram senão promover a expansão do vírus e criar uma raça poderosa que pudesse reprimir os humanos. Uma vingança pessoal contra todos, por tudo o que haviam feito consigo.

Sobrevivência.

Magnum sentira pela primeira vez que poderia ser exterminada, algo que nunca considerara até algumas horas atrás. Seu corpo havia sido destruído e agora ela retornava para terminar o que havia começado antes. Bem antes, desde que fora criada, quando causou a destruição de todo aquele setor. Talvez ela e a louca não fossem tão diferentes, afinal. Talvez ela também estivesse ali por um ato vingativo, porque também haviam ameaçado sua vida e por um triz não havia sido morta.

Tinha que agradecer a Ada quanto a isso. Enquanto recuperava sua memória e sua capacidade física, a espiã a protegera das ameaças.

Quebrando o último homem em várias partes, correu para a porta sob a plataforma em que estava a mulher. Ada havia se adiantado e já estava um pouco mais à frente.Talvez a espiã houvesse conseguido salvar seu filho antes de si. E torcia veemente por isso.


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