Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 36
Mudança


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que não ia desistir dessa fic, só ia demorar um pouco para escrever. u_u
Mas tá aí, quase chegando ao final.
Boa leitura~



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– Você não pode estar falando sério... – Alice olhava para mim como se eu tivesse feito uma brincadeira de mal gosto, esperando que eu do nada parasse e falasse “brincadeira, vamos tomar um sorvete” – Nunca faria isso.

– Eu estou falando sério, Alice. É o único modo que eu posso passar para o outro lado – insisti, sabendo que ela não concordaria com esse plano na primeira tentativa, mas de fato não havia escolha, eu tinha de passar para o outro lado para podermos derrotar Christie e tudo voltar ao normal.

– Não! Deve ter outro jeito! – ela dizia, quase em desespero – Acho que você não entendeu o que quer dizer esse seu plano maluco. Você virará uma vampira completa! Nunca mais vai poder voltar para a sua vila, não poderá ver o sol novamente, vai perder sua vida... normal – fez uma pausa antes de dizer a última palavra e desviou o olhar, como se a palavra não quisesse sair de sua boca.

– Não existe outro jeito – disse, olhando fixamente para ela, que voltou o olhar para mim – E é claro que eu teria uma vida normal. Viver aqui não seria normal? Independente de onde eu estiver e o que eu sou, ainda terei uma vida. Se não fizermos nada, Christie irá destruir tudo o que conhecemos e não teremos vida nenhuma para viver.

Alice desviou o olhar novamente, os punhos cerrados tão forte que a qualquer momento ela poderia vir até mim e me dar um soco. Olhei para Caleb, que observava a cena ao lado de Nathale e Mary, e eu podia ver em seu rosto que ele sabia que esta era a única solução. As outras duas olhavam preocupadas, não sabendo de que lado da discussão ficar.

O tempo estava passando, e sabíamos que aquela discussão não ia levar a lugar algum com a teimosia de Alice. Dei um profundo suspiro.

– Não vai ter jeito mesmo – disse, e Alice olhou para mim com uma expressão de confusão – Me desculpe Alice.

Olhei para Caleb, que me olhava com um olhar de total confiança, como se acreditasse que cada decisão que eu fizer seria a correta.

– Jogue a espada de Nathale para mim – disse a ele, que fez o que pedi, pegando a espada da bainha na cintura de Nathale e jogando para mim. Peguei a espada no ar e olhei para sua lâmina afiada – Pode segurar as duas?

Ele acenou de leve com a cabeça e passou os braços pelos ombros de Nathale e Mary, segurando-as firmemente.

– Mas o que... – disse Alice, confusa, ficando tensa ao pensar que eu lutaria com ela.

Tirei o olhar da espada para olhar para minha irmã. Acho que não compartilhávamos de muitos traços do nosso pai, pois não nos parecíamos em quase nada. Qualquer um que nos visse não diria que éramos irmãs. Imagino que essa diferença seja por causa da criação, já que dizem que você “toma forma” de quem você convive em sua vida, ou talvez as características vampirescas não se fixem muito bem quando se tem um filho com uma humana. Muitas possibilidades, mas não que importasse muito agora. Ela ainda estava ali, me olhando como se eu fosse dar uma de louca e atacar ela a qualquer momento, o que não tinha nada a ver com o que eu estava em mente. Enfim, depois de um tempo, eu acho que ela percebeu que minha intenção não era atacar ela, e sua expressão passou de confusão para surpresa.

– Desculpe... – disse por fim e, sem pensar duas vezes, passei a lâmina da espada na base do meu pescoço, fazendo um corte não tão grande e profundo o suficiente para atrair a atenção de um vampiro. No começo a dor me fez contrair um pouco, quase colocando a mão em cima da ferida, mas tinha que ter certeza de que Alice visse. Olhei para Caleb, que segurava minhas duas amigas que já faziam alguma força para se soltar de seus braços, seus olhos brilhando com aquele vermelho vivo que eu conhecia muito bem. Caleb mantinha-se firme, e seus olhos tinham uma estranha combinação do vermelho com o cinza azulado, e ele se mantinha perfeitamente tranquilo, levando em conta a situação. Uma técnica que o deixava entre os seus dois lados, vampiro e humano? Poderia deixar ele com sua força para segurar as duas enquanto não tinha vontade de me atacar, muito esperto.

Olhei para Alice, e seus olhos brilhavam em um vermelho vivo, característico de quando os vampiros estão com fome, e me observava atentamente, como se esperasse sua presa fazer um movimento antes de atacar. Eu podia sentir o sangue escorrendo lentamente em meu tórax e braço, tanto quanto podia sentir o olhar de minha irmã o seguindo, mas era estranho ela não ter me atacado ainda. Estaria alguma parte dela se contendo, não querendo me atacar? Provavelmente.

Ela confirmou meus pensamentos quando colocou uma das mãos no rosto e fechou os olhos, recuando alguns passos. Sua parte racional deveria estar tentando controlar sua parte instintiva, pois ela não queria me atacar mas era natural um vampiro atacar no mesmo instante ao ver sangue humano, é como no mundo animal onde o predador ataca quando vê sua presa natural vulnerável. Continuou assim por alguns instantes, mas não durou muito tempo, e antes que pudesse preceber ela havia vindo até mim e me derrubado ao chão.

Como estava em forma humana, podia sentir sua força descomunal em meus ombros, quase os quebrando contra o chão. Não demorou muito, e antes mesmo que pudesse olhar para seu rosto, ela já havia enterrado os caninos em meu pescoço.

No primeiro momento, gritei. A dor era insuportável, parecendo que entrava pela ferida como veneno e se espalhava pelo meu corpo, queimando tudo por dentro. Sentia minha vida se esvaindo pelo sangue sendo retirado e a dor o substituindo, sendo a única coisa que queria no momento de desespero era morrer. “Me mate e acabe logo com essa dor”, era o que eu pensava. Cada momento que passava durava uma eternidade, e sentia como se estivesse morrendo lentamente. Em algum momento, estava com tão pouco sangue e tanta dor que desmaiei.

“Será que isso é morrer?” pensei, enquanto estava no meio de uma escuridão tão densa quanto a própria noite. Senti o desespero me dominar, ficar ali sem poder enxergar durante a eternidade seria a pior maneira de morrer.

No meio do desespero e escuridão, senti um gosto metálico na boca - Medo, talvez? – e uma grande luz brilhou em minha frente, ofuscando minha visão. Estava longe, mas eu podia sentir que devia ir até aquela luz. Seguindo esse instinto, corri o máximo que pude até a luz.

Enquanto corria, vislumbres da minha vida passavam ao meu redor. Desde o dia que vivia na vila, quando o maior de meus problemas era Johny, até quando descobri o que era e vim para Tenebrum, onde minha vida mudou completamente. Tantas coisas aconteceram, coisas que anos atrás eu diria que são contos de fadas – ou até pesadelos – que nunca se tornariam realidade. Pois é, agora nunca mais vou afirmar as coisas assim.

Estava quase chegando na luz, quando começaram a vir as coisas ruins. “E se não conseguirmos derrotar Christie?” ouvi minha voz dizer vinda de algum lugar, e me lembrei das cenas de pessoas inocentes sendo massacradas na cidade. “Tudo vai piorar” ouvi de novo, e comecei a desacelerar a corrida. “Não temos poder para ajudar”, seriam esses meus pensamentos mais obscuros, meus medos? A cada passo que dava mais perto da luz, a voz falava mais. “Vou perder tudo o que amo”, disse de novo, chegando perto o bastante da luz. “Todos que conheço vão morrer”, “Tudo virará um caos”, “Será tudo culpa minha”. Parei de correr.

Senti um empurrão em minhas costas que me fez cair na luz. Antes que pudesse ver quem ou o que tinha feito isso, ouvi uma voz familiar em minha cabeça. “Você consegue fazer isso, salve o mundo”, e no último instante consegui me virar para a escuridão, reconhecendo o idoso que estava ali, segurando sua bengala e sorrindo em minha direção.

Abri os olhos e sugando todo o ar que pude de uma vez. No mesmo momento, senti um enjoo e virei-me de barriga para o chão, tossindo como se tivessem jogado um punhado de gelatina em minha garganta e por um momento, me senti estranha, e olhando para minha mão vi que ela estava mais branca do que o normal. Sentei-me com dificuldade e dei uma gemida de dor pelo corte recém-feito na base do pescoço, olhando de relance que a ferida ainda estava lá, se curando razoavelmente rápido, porém ainda bem aberta. Passando a mão nos lábios, limpei o resto de sangue que havia ali e senti que minhas presas estavam presentes.

Olhei para cima. Caleb estava ajoelhado ao meu lado com cara de alívio, com Mary e Nathale logo atrás dele com a mesma expressão, porém com um toque de pesar por lembrar o que havia acontecido. Alice estava em minha frente, segurando um dos pulsos com a mão e um pouco de sangue escorria pelo braço. Sua expressão tinha uma mistura de vários sentimentos: pavor, culpa e arrependimento. Olhei para mim mesma, mas não vi muita coisa diferente, tirando a pele branca que já havia acostumado de meu lado vampiro.

– O que aconteceu? Funcionou? – perguntei a Caleb, que soltou os ombros de alívio.

– Bem, foi tudo meio extremo, mas tenho quase certeza que funcionou. Para falar a verdade, temo que se não tivesse interferido Alice poderia ter te matado – disse ele, com a expressão séria voltando ao rosto – Assim que vi que tinha desmaiado por falta de sangue, joguei as duas no chão e corri para tirar Alice de cima de você, e consegui tirar ela daquele modo instintivo para poder te dar o sangue para a transformação.

Olhei para ela de novo, e ela desviou o olhar no mesmo instante que a olhei, sua expressão continuando a mesma. Caleb ofereceu a mão para eu conseguir levantar e aceitei, o corpo dolorido como se tivesse corrido uma maratona.

– Tente se transformar para ter certeza que deu certo – disse Nathale, aliviada por não ter acontecido nada ruim.

Acenei com a cabeça e fechei os olhos, fazendo o que faria normalmente para me transformar de vampira para humana, abrindo os olhos em seguida. Nada.

– Deu certo – disse, sorrindo levemente.

– Vamos logo, estamos sem tempo – fiquei surpresa ao ouvir a voz de Alice, e quando olhei para ela estava de costas para mim, olhando em direção ao castelo. Discretamente passou a mão no rosto, como se limpasse lágrimas.

– Sim, melhor irmos – disse, e olhei para Caleb e Mary – vocês dois fiquem aqui e guardem a entrada caso qualquer coisa venha para nos fazer companhia – esperei Nathale e Alice passarem pelo arco para depois tentar, e passei sem dificuldades – Conto com vocês.

Poucos passos depois de passar pelo arco, Caleb me chamou.

– Katlyn! – gritou, e me virei para ele

Ele estava prestes a dizer algo, mas se conteve. Olhou para baixo, pensou um pouco e olhou para mim novamente, dando um largo sorriso.

– Tenha cuidado, e volte inteira depois de salvar o mundo – ele disse, sorrindo e com um tom brincalhão.

Me surpreendi com o que tinha dito, e sorri de volta. Talvez eu soubesse o que ele tinha a dizer de verdade, mas também talvez não fosse a hora certa. Virei-me de novo em direção o castelo, e com Nathale e Alice ao meu lado, fui ao encontro de Christie Li’Court.


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Notas finais do capítulo

Bem, antes de mais nada me desculpem de novo pela demora. Posso demorar para escrever, mas não vou parar de escrever. :33
Como já sabem, a história já está acabando e tudo mais, e depois de algumas conversas e eventos que aconteceram na minha vida eu decidi que assim que acabá-la vou transformá-la em livro! Isso mesmo, farei algumas modificações, melhorarei a escrita em algumas partes (escrevo ela desde 2010, tem algumas coisas bem toscas XD) e mudarei alguns fatos não tão importantes (talvez alguns importantes também, vai saber).
Assim que decidir tudo, assim que tiver mais informações, falo pra vocês :D
Até o próximo capítulo!