Caminhando nas Sombras escrita por Carol Campos


Capítulo 35
Sacrifício


Notas iniciais do capítulo

Olááááá, tudo bom com vocês? :3
Para me desculpar pela demora do capítulo, fiz esse um pouco maior que os outros. A história já tá tão no final, eu não quero acabar com ela ainda. ç_ç Tentarei enrolar mais com vocês -nnn
Sem mais delongas, boa leitura.



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Eu não tinha nenhuma opinião totalmente formada sobre para onde vamos depois da morte, se vamos para algum lugar onde vivemos pela eternidade e morremos felizes para sempre - assim como na mitologia grega onde diziam existir os Campos Elíseos para aqueles que fizeram algo heroico durante sua vida – ou se vagávamos pela terra, puxando o pé das crianças malvadas e fazendo barulhos assustadores em casas. Bem, a sensação que eu estava no momento não era parecida com nenhuma dessas ideias, e eu não sei se posso achar isso bom ou ruim, mas flutuar é uma coisa bem legal.

Eu sabia que estava flutuando por não sentir nenhum peso em meu corpo, estava simplesmente pairando acima de uma enorme floresta longe de qualquer civilização que pudesse ver. Claramente eu não podia me controlar, e parecia como se eu estivesse sendo carregada pelo vento. O céu estava nublado e cinzento, como se o mundo estivesse triste pela morte de um ente querido.

Ouvi um barulho semelhante a um estalo, e o cenário tinha mudado. Estava em uma cidade que tinha virado um campo de batalha. Soldados humanos e vampiros batalhavam entre si no meio das ruas, as casas e comércios claramente tinham traços de guerra em suas paredes, como se aquilo tivesse começado há muito tempo. Todos os vampiros vestiam um tipo estranho de roupa que provavelmente os defendia do sol para que não virassem pó, algo como uma roupa de corpo todo de surfista por baixo de seus uniformes. Todos lutavam com diversos tipos de armas, armas de fogo e armas brancas, e nenhum civil parecia estar por perto, provavelmente tinham sido evacuados para um lugar seguro, mas não era certo, o que me deixava angustiada, pois eu conhecia aquela cidade. Aquele lugar era minha cidade, onde eu nasci, cresci e vivi até que minha vida mudou por completo. Aquela era Genemise, de um jeito que eu nunca esperaria vê-la.

O cenário mudou novamente, e eu estava na parte de trás da casa de Alice, onde ainda ocorria a batalha. Caleb e Mary estavam esgotados, enquanto Migual tinha o mesmo sorriso sarcástico estampado no rosto. Estava como se estivesse sentado no ar, e parecia entediado. Alguns poucos cortes estavam em sua pele, mas aquilo não parecia afetá-lo.

- Como é, é só isso? Fizeram todo aquela encenação de “vamos derrotá-lo, salve o mundo” pra isso? – Miguel falou, olhando para os dois como se fossem seus bobos da corte.

Como se em resposta, os dois avançaram. Caleb deu algumas esquivas impressionantes e passou pelas diversas cobras que estavam no chão, e antes que o homem pássaro pudesse fazer algo para se defender, ele usou seu bastão para bater no ombro de Miguel, fazendo-o cair no chão.

Na mesma sincronia, Mary investiu contra o inimigo caído, e fez ainda mais cortes nele, principalmente em suas asas, o que o fez gritar de dor e raiva, e Miguel por sua vez invocou suas cobras ao seu redor para jogar os dois bem longe.

“Se eu conseguisse usar a técnica secreta de Dan, talvez tivéssemos chance contra ele... Será que devo tentar?”, ouvi uma voz dizer em minha cabeça. Seria Caleb? Tenho certeza de que não foi minha imaginação, mas é impossível eu ouvir os pensamentos dele.

“Preciso detê-lo, preciso fazer isso por todos, por Dan, por Mary, por Nathale, por Alice. Principalmente por Katlyn. Preciso tentar!”, ouvi a voz dizer de novo, com um tom surpreendentemente carinhoso e protetor na última parte.

Caleb se recompôs do ataque de Miguel, fechou os olhos e se concentrou. Um longo segundo se passou. Dois. Três. Um minuto. Miguel observava atentamente a cena, como se fosse uma apresentação de teatro, e Mary ainda estava caída ao chão, mas também observando Caleb. Depois de alguns instantes, seu bastão começou a brilhar em um tom esverdeado, e ele abriu os olhos, agora cheios de convicção e intimidadores.

- Estava se perguntando se era só isso, pássaro idiota? Pois eu digo que tenho mais para lhe mostrar, algo que finalmente consegui, e agora irei acabar com você – ele disse, como se o Caleb teimoso e cabeça-dura tivesse sido substituído por um Caleb maduro, corajoso e intimidador – Para defender quem amo, aceito meus defeitos para receber o poder de derrotar o mal.

A luz no bastão de Caleb explodiu, me cegando por um instante, e quando consegui enxergar novamente, vi Caleb com um afiado florete na frente de si e sua outra mão recuada atrás, em uma real posição de esgrima. Antes que Miguel pudesse responder algo para demonstrar sua surpresa, Caleb já estava atacando-o ferozmente, como se fizesse aquilo a vida toda.

O homem pássaro sacou sua espada para tentar se defender, mas não adiantou muito. Cada movimento que fazia era previsto por Caleb, que acertava outro ponto desprotegido de sua pele. Depois de vários cortes e estocadas, logo Miguel já estava ao chão, inconsciente.

Houve um silêncio por um momento, só pude ver o florete de Caleb se transformando de novo em bastão e depois sumindo, então Mary pulou em suas costas com um sorriso no rosto.

- Meu Deus Caleb, isso foi incrível! – ela disse sorrindo como uma criança que ganhou o presente que queria de natal – o jeito que transformou seu bastão em espada e derrotou o passarinho em alguns movimentos, foi totalmente surreal.

- Na verdade, aquilo era um florete, e obrigada – ele respondeu, orgulhoso de si mesmo – agora temos que ir logo encontrar Katlyn e Nathale, espero que elas estejam bem.

Os dois correram em direção ás roseiras, que abriram o caminho para os dois passarem e logo sumiram na floresta.

“Nos espere, Katlyn, estamos indo”, ouvi seus pensamentos novamente, e não pude conter um sorriso. Afinal de contas, ele não parecia com Johny tanto assim.

E do nada, uma forte luz me cegou. Coloquei as mãos na frente do rosto para me proteger, e ao mesmo tempo senti como se o vento tivesse aumentado e agora estivesse me puxando para algum lugar. Quando tentei abrir os olhos, vi vários lugares passando diante de mim. Vi Tenebrum ainda em guerra; Genemise também; Vi a Spiral Hall totalmente revirada, como se um furacão tivesse passado por ali, mas estava escura, e só pude ver uma silhueta ao canto antes da cena mudar de novo; Vi algo como um acampamento cercado de militares onde vários humanos estavam, e minha mãe com Elizabeth sentadas em um banco de madeira ao redor de uma fogueira.

O vento se tornou cada vez mais forte, as cenas começaram a mudar cada vez mais rápido, até o momento em que tudo ficou escuro. Não digo escuro como um quarto de luz apagada, mas um breu total, em silêncio total. Senti uma pontada no abdômen, fraca no começo, mas que foi ficando cada vez mais forte, e uma forte dor no peito. Diferente do silêncio de alguns momentos atrás, comecei a ouvir algumas vozes bem baixo, e que iam aumentando gradativamente. No momento em que as dores começaram a se tornar insuportáveis, percebi que não estava respirando.

Levantei em um pulo, sugando o máximo de ar que podia, finalmente respirando. Meus olhos ainda estavam se acostumando com a claridade do local. A dor no peito parou, mas só de respirar a dor no abdômen piorou, e coloquei uma mão em cima da barriga. Senti que estava úmido, e sabia que estava sangrando, mas não quis olhar.

- Katlyn! – ouvi uma voz gritar na minha esquerda, então alguém me abraçou. Depois dos meus olhos se ajustarem, vi que era Nathale, com lágrimas nos olhos.

Olhei ao redor. Ainda estávamos no mesmo lugar que aconteceu a batalha. Caleb e Mary estavam á minha frente, parecendo aliviados, mas ainda com lágrimas nos olhos. Quando olhei á minha direita, vi Alice olhando fixamente para o chão, também com cara de que estava chorando, e quem quase chorou depois fui eu quando percebi que seus olhos estavam de volta a cor normal.

- Alice... – olhei para ela, colocando a mão livre (e limpa) em seu ombro. Ela olhou subitamente para mim, com a culpa estampada no rosto – é mesmo você?

Demorou alguns instantes até ela responder, mas quando respondeu, não foi com aquela na qual tínhamos visto-a várias vezes. Foi na voz da antiga Alice.

- Sim, sou eu – ela respondeu, começando a chorar novamente, me abraçando onde Nathale não estava – Me desculpe por tudo que fiz.

- Tudo bem, não era você – eu lhe disse, compreensiva. No final das contas, não era exatamente ela que estava controlando seu corpo, tinha um toque de magia negra nela, que se foi quando a rosa foi quebrada, mas eu temia que teria ido com uma parte dela mesma – Bem, precisamos ir logo e acabar com isso.

- Não com você desse jeito – Caleb disse no mesmo instante, e quando olhei para ele, ficou com as bochechas coradas – olhe esse machucado, você precisa melhorar primeiro.

- Ele tem razão – Alice disse, se soltando de mim – como não temos muito tempo de sobra, o jeito mais prático seria você tomando sangue para a ferida cicatrizar logo. E se tomar o meu, o efeito será quase instantâneo – ela disse, levantando o pulso.

- Mas...

- Sem mas – me repreendeu, levantando o pulso ainda mais – tome logo.

Como não tinha muita opção, tive que fazê-la. Segurei seu pulso perto da boca, sentindo meus caninos alfinetarem meus lábios, e mordi. O gosto era como suco de uva com um toque de moedas velhas, não sei como cheguei nesse gosto, mas era a primeira coisa que me veio em mente. Depois de dois goles, senti a ferida já cicatrizando e logo parei para não exigir muito de Alice. Olhei para ela e agradeci. Ela sorriu de volta.

- Bem, agora podemos ir? – Mary disse

- Devemos – respondi, me levantando com um pouco de dificuldade. Olhei para cima, e vi a silhueta do castelo ao longe, com a aura negra de sempre.

Dirigindo-me para a mesma direção na floresta, me deparei com algo que ainda não tinha reparado. Um grande arco de pedra estava logo adiante, com uma frase entalhada em latim no seu comprimento.

- Olhem isso, estava aqui antes? – eu disse, me virando para Nathale e Alice. Elas fizeram que não com a cabeça, e eu me voltei para a frase – “Valorem antiqua terra necessitatibus solvi, aliquid aequivalens valor ut offerrentur. Sacrificet quae est maximus”

- Eu sei alguma coisa de latim – Caleb veio ao meu lado, lendo com cuidado a frase – quer dizer “O valor da terra antiga precisa ser pago, algo de valor equivalente a ser oferecido. Sacrificar o que é importante.”

- Tá, e o que isso quer dizer? – Nathale perguntou, com um toque de piada

- Boa pergunta, mas não sou bom em decifrar charadas – Caleb respondeu, ainda tentando entender a frase

- De qualquer forma, vamos em frente – Alice disse, por fim.

Nathale e Alice passaram por mim e atravessaram o arco antes que eu pudesse ver. Dei de ombros, as seguindo, mas quando fui atravessar foi como se tivesse batido em uma parede, e caí no chão.

- Mas que diabos... – resmunguei, me levantando

- O que foi? – Nathale perguntou do outro lado do arco, com cara de dúvida.

- Não conseguimos passar – Caleb respondeu, com a mão na suposta parede invisível, assim como Mary que fazia o mesmo – Que estranho. Tipo, tudo bem eu e Mary não passarmos, mas Katlyn precisa ir, mas não consegue. Só não entendo o porquê.

Olhei para a frase entalhada na pedra e pensei na tradução de Caleb. “O valor da terra antiga precisa ser pago, algo de valor equivalente a ser oferecido. Sacrificar o que é importante” não fazia muito sentido para mim, mas a última frase parecia estar se destacando para mim. “Sacrificar o que é importante”.

- Acho que entendi – eu disse, e todos se viraram pra mim – Esse arco é como um portal. O lado de lá está protegido por uma magia antiga, é preciso uma troca equivalente para passar para o outro lado. Nathale e Alice conseguiram passar porque cada uma perdeu algo importante, que foi sua humanidade e provavelmente um pedaço de sua alma. Caleb e Mary, eu proíbo vocês dois de passarem por esse portal, mas eu preciso passar – eu disse, e então me ocorreu uma única ideia em minha cabeça, algo que eu provavelmente me arrependeria depois, mas que era necessário – só vou precisar de uma ajuda sua, Alice.

- O que quer dizer com... – por fim, ela entendeu o que eu pretendia, e bateu o pé – eu lhe proíbo de fazer o que está pensando. Nunca.

- É necessário – eu disse, por fim me transformando em minha forma humana, já me sentindo mais fraca do que antes. Olhei bem para minha pele não tão clara, meu corpo sem tanta força, meus caninos em tamanho normal e meus olhos castanhos, pensando que nunca mais os veria outra vez – Alice, transforme minha parte humana em vampira. Meu sacrifício é minha humanidade.


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Notas finais do capítulo

Já peço desculpas por possíveis erros de português por escrever esse capítulo as 5h da manhã e pela frase em latim que deve ter saído totalmente errada, mas o que vale é a intenção. XD Continuem acompanhando! O desfecho se aproxima.
Até a próxima õ/



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