Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 73
Capítulo final: Descanso


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfiction me acompanhou durante muitos ciclos da minha vida. Eu posso dizer que não sou mais a mesma pessoa que começou a escrever essa história. Eu não sei mais qual história a pessoa que começou a escrevê-la queria contar. Mas os personagens foram agindo por si mesmo, mas palavras foram fluindo, ainda que lentas e eu cresci mais com os personagens que eles cresceram comigo. Então, agora, postando o capítulo final (apesar de final talvez ser uma palavras muito forte) eu só tenho a agradecer a todos aqueles que chegaram tão longe, seja porque começaram comigo ou porque me encontraram no meio do caminho. Agradeço. Vocês são a minha força. Carol, em especial, que tanto me ouviu e corrigiu e vibrou e chorou... Você foi grande parte disso tudo. Muito muito obrigada.

Música de hoje, "Last Goodbye", de Jeff Buckley, que a vida também levou cedo demais.



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This is our last goodbye

I hate to feel the love between us die

But it's over

Just hear this and then I'll go:

you gave me more to live for,

more than you'll ever know.

This is our last embrace,

must I dream and always see your face

Why can't we overcome this wall

Baby, maybe it is just because I didn't know you at all.

Kiss me, please, kiss me

But kiss me out of desire, babe, and not consolation

You know,

it makes me so angry 'cause I know that in time

I'll only make you cry, this is our last goodbye

Did you say "no, this can't happen to me,"

and did you rush to your phone to call?

Was there a voice unkind in the back of your mind saying,

"Maybe...you didn't know him at all."

Well, the bells out in the church tower chime

Burning clues into this heart of mine

Thinking so hard on her soft eyes and the memory

Of her sighs that, "It's over...it's over..."

 

 

— Depois de tantos monstros, tantas batalhas, não era assim que eu imaginava que tudo ia acabar.

Willians, apoiado na parede, murmurou, enquanto observava Celas esvaziando o escritório de Vlad. A vampira o olhou por alguns instantes e voltou ao trabalho.

— Eu digo que idade é uma excelente desculpa para se aposentar.

— Mas não é idade o problema, é? Quantos anos tem o conde? Quarenta e cinco? Quarenta e seis?

— O conde já tem quase seiscentos anos.

Após alguns segundos em silêncio, Willians resolveu continuar argumentando:

— Mas sério, você achou por algum momento que seria assim?

Não. É claro que não. Celas nunca pensou que o fim algum dia chegaria. Não para seu mestre, não para Vlad. A seus olhos os dois eram infalíveis, imortais e eternos. A vampira preferiu não responder àquela pergunta.

— Não que eu realmente achasse que ele pudesse ser derrotado em batalha mas... Sinceramente, eu sempre achei que ele ia morrer de Integra. – Willians, continuou.

Celas concordou em silêncio. Continuou a esvaziar o escritório, sem prestar mais atenção no que Willians dizia.

.

.

.

As pessoas geralmente pensam na última vez. No último beijo. No último abraço. Na última conversa. Trate esse dia como se fosse o último, porque um dia ele será e blá blá blá. A última oportunidade para Integra nunca foi importante. No dia em que perdeu seu pai, ela sabia que aquela conversa seria a última. No dia em que foi traída por Walter, ela já sabia que não podia confiar no mordomo. No dia em que perdeu Alucard... Ela já sabia que aquela guerra podia ser a última. Ela já sabia.

Para Integra, a oportunidade mais preciosa não era a última em si, mas aquela última em que o fim ainda não fosse algo esperado. Aquela última conversa em que você não se preocupa em dizer nada importante, porque está certo de que o raiar de um novo dia trará uma oportunidade igualmente fortuita. Aquele último relatório que é completado como apenas mais um. Aquela última refeição que não é nada especial porque se está com pressa. Aquele último momento em que o momento paira na eternidade, porque é quase garantido que ele vai acontecer uma vez mais.

Sendo bastante sincera consigo mesma, Integra não se lembrava de mais de quando foi a primeira vez em que percebeu que logo perderia Vlad. Muito menos seria ela capaz de dizer qual foi o último momento em que ela não se importou em pensar se haveria um próximo.

Já fazia tantos anos que o corpo de Vlad estava se deteriorando, que a notícia de que o fim estava próximo não era uma novidade.

Integra sabia o dia exato em que chegou na mansão com uma cadeira de rodas, mas ela não sabia dizer quando foi que o objeto deixou de ser um auxílio e passou a ser uma necessidade.

Integra sabia o dia exato em que os médicos sugeriram que Vlad utilizasse um tanque de oxigênio e uma cânula para ajudá-lo a respirar. Mas ela não sabia mais quando foi que ele deixou de conseguir respirar sem ajuda.

Integra não sabia quando foi a última vez que ouviu uma música perfeitamente executada no violino. Não com os dedos trêmulos perdendo a força dia a dia. Não com uma nota levemente desafinada se tornando duas.

Ela não sabia.

— Você vai ficar bem? – Vlad perguntou. O conde estava sentado em uma poltrona, previamente vendo a neve cair pela janela. Agora ele estava olhando para ela.

A Hellsing sorriu sem humor. No dia em que encontrou Vlad, bom, que Celas encontrou Vlad, vinte anos atrás, ninguém poderia imaginar o que aconteceria. E agora ela se perguntava o que teria acontecido. Teria sido ela obrigada a se casar com Joseph? Teria ela virado uma mulher amarga? Teria ela morrido de solidão, ou em uma das ridículas batalhas em que esteve junto com seu marido nesses últimos anos? Teriam aqueles malditos vampiros conseguido evocar os poderes de Alucard e assim, rápido e sem explicações, acabar com a Hellsing, com o mundo de Integra? Ela não sabia, e não queria saber.

Ela também não sabia como seria a vida dela depois que Vlad se fosse. Mas ela sabia que não seria forçada a se casar com Joseph. No máximo seria obrigada a atender o próximo casamento do verme sozinha (ele estava no quinto casamento, e com problemas pelo que ela via nos jornais). Ela muito provavelmente não morreria em batalha, ainda que com o fim da guerra algumas batalhas ainda existissem. Dificilmente ela morreria de solidão, não com a existência de Merian, a filha de Mihaella que se tornou um tipo de afilhada de Integra, sua herdeira na Hellsing.

Ainda pensando em o que responder, Integra se aproximou dele e se sentou no braço da poltrona. Aproximou o nariz do topo da cabeça dele e inalou seu perfume. Ela nunca soube dizer exatamente qual era o cheiro de Vlad além de que aquele era o cheiro dele. Ele cheirava a poder, morte e... Saudade.

— Você cheira a saudade. – Ela murmurou, ainda contra os cabelos dele.

Afastou-se o suficiente para olhar para ele quando percebeu que Vlad estava se segurando para não ter um ataque de riso.

— O que? – Ela perguntou.

— Uma vez você disse que eu era louco por achar que sentimentos tinham cor. Agora você vem e me diz que eles têm cheiro?

— A culpa é sua. A sua loucura é contagiosa.

— Certo.

— Por exemplo, por que diabos você está de gravata?

— Você merece o melhor de mim. – Ele replicou.

— Por quanto tempo Vlad?

Vlad pousou a mão sobre a dela. A pele dele estava tão gelada...

— Você merece mais do que eu tenho a oferecer, Milady.

— E se você ficasse? E se você aceitasse o sangue de Celas?

— Integra... O peso dos séculos... Minha alma já está exausta. Eu... Eu estou feliz em poder descansar.

Integra assentiu com a cabeça e depositou um beijo na testa dele.

— Merian vai passar aqui mais tarde para ver você. Não se esforce demais até lá.

Vlad bateu uma continência, propositalmente com a mão errada. Integra riu.

Merian chegou duas horas mais tarde, para o chá das cinco.

Foi uma tarde tranquila. Foi uma tarde feliz.

Integra contemplou se foi a última. Integra se perguntou se Merian já estava se preparando caso fosse.

.

.

.

Com o tempo, a cor e a vitalidade de Vlad foram se esvaindo. Perto do fim, Vlad mal parecia reconhecer aqueles que o cercavam.

Ele reagia apenas se falassem com ele em romeno.

Numa manhã fria de primavera, duas semanas antes de completarem vinte e um anos de casados, Vlad não acordou.

Ele dormiu até a madrugada do dia seguinte, quando seu coração, que já batia fraco, finalmente deu a batida final.

Integra estava ao seu lado.

Suas terras e seus títulos passaram praticamente todos para Integra. Suas joias foram entregues para Merian. Seu corpo, segundo sua própria e expressa vontade, foi cremado. Parte das cinzas foi enterrada ao lado dos corpos de sua família. O restante foi atirado entre o Mar Celta e o Mar Negro.

Integra conduziu todas as tarefas com a austeridade que era esperada da Dama de Ferro da Inglaterra. Com a classe esperada da Viúva Hellsing.

E se alguém afirmou ver uma lágrima ou duas saírem de seu olho azul... Ela estava sob a chuva.

.

.

.

No início, não havia nada. Ele não era ninguém. Ele sequer era.

E então, surgiu a luz. E com a luz surgiu a consciência de si. E a ciência de que além de si, existia algo além. Ela existia.

“Estávamos aguardando-o ansiosamente. Bem vindo, meu senhor.”

Vlad tomou a mão de sua noiva nas suas e ela o guiou para fora do quarto, onde a música se mesclava com os risos daqueles que achou que não mais veria. Aqueles que deixou para trás seriam para sempre uma lembrança feliz em sua alma, até o dia em que se reuniriam uma última e eterna vez. A sua frente, passado e futuro se mesclavam ao infinito de um momento pleno.

Estava, finalmente, em paz.

 

Fim.


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