Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 61
Capítulo 61. Vício


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meus caros e minhas caras. Nossa, quanto tempo não? Aconteceu de tudo na minha vida nesses últimos meses e eu realmente não sei como me enrolei tanto, mas acontece que eu nem percebi que fiquei tanto tempo sem postar.Bom, mas segue o capítulo 61.

Percebi hj também que estou há anos escrevendo esta história, terminei uma faculdade e fiz um mestrado enquanto escrevia, então quero agradecer demais a todos aqueles que me acompanharam até aqui, e a todas aqueles que pegaram a história no meio do caminho e apesar de meses sem notícias minhas, obrigada também. O apoio de vocês é sempre muito importante, não só para a continuidade da história, mas também em diversos aspectos da minha vida. Por causa de vcs eu sinto que estou fazendo alguma coisa importante e isso me dá forças para continuar mesmo em tarefas menos importantes do meu dia. Obrigada mais uma vez.

Música de hj é "House of the rising sun". Apesar da origem nebulosa da música, sugiro que ouçam a versão do "The Animals".



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There is a house in New Orleans
They call The Rising Sun
And it's been the ruin of many other poor boys
And god, I know, I'm one

My mother was a tailor
She sewed my new blue jeans
My father was a gamblin' man
Down in new orleans

And the only thing a gambler needs is
A suitcase and a trunk
And the only time he'll be satisfied
Is when he's on a drunk

– Então senhor... Hopkins... - Começou Vlad, lendo a ficha do homem sentado a sua frente, sendo entrevistado.

– É sargento Hopkins. - O homem o corrigiu.

Vlad que olhava para o papel em sua mão ergueu os olhos para fitar o tal sargento Hopkins. Ele estava mesmo sendo corrigido? Durante a entrevista?

– Pelo que me consta o senhor nunca fez parte de nenhum tipo de organização que lhe garantiria este ranking, senhor Hopkins.

– E você é um nobre maricas que...

–Espero que não termine esta frase senhor Hopkins, já que sou o nobre maricas que decide se você faz parte das tropas desta organização ou não. Aliás, eu sou o nobre maricas que decidiu que não precisamos de você. Tenha um bom dia.

–Seu! - E o homem se levantou para avançar em Vlad mas... Um par de olhos amarelos e um outro par de olhos vermelhos o grudaram de volta na cadeira.

– Pode se retirar senhor Hopkins. - Disse Celas.

E se o homem não percebeu o perigo dos olhares, com certeza ele percebeu que não adiantava ir contra a comandante das tropas as quais ele queria participar. Dando a causa como perdida, ele se levantou e foi embora.

– Próximo! - Gritou Celas, enquanto Vlad respirava fundo.

E eis que um rapaz franzino, que nem 20 anos aparentava ter ainda, sentou-se na cadeira em frente a Vlad e Celas.

– Garoto, eu não sei o que espera, mas eu não acredito que... -Começou Vlad.

– Senhor, peço que me conceda pelo menos a entrevista, senhor.

Vlad respirou fundo, estendendo a mão para o garoto lhe entregasse sua ficha. O garoto o fez.

– Seu nome?

– Williams, senhor.

Vlad olhou para o papel em sua mão.

– Aqui diz que serviu ao exército.

– Fuzilaria senhor. Boa mira.

– Por que saiu?

– Não sai senhor, pedi transferência. Quero atuar na Hellsing.

– Por que?

– Sei o que caçam senhor. Quero ser útil, senhor.

Aquilo chamou não só a atenção de Vlad, mas de Celas também.

– Sabe o que caçamos? - Perguntou a vampira.

– Vampiros. Monstros. - Disse o rapaz.

– E por que quer ajudar? - perguntou Vlad.

– Mataram minha irmã, senhor. Por um ritual, não por comida. Não quero que o mesmo aconteça com outras famílias, senhor.

– Soldado Williams. Esta é Celas Victória, atual comandante das tropas da Hellsing. Celas, por favor se levante.

Assim que Celas estava em pé, Vlad pegou uma arma guardada na gaveta da mesa a sua frente e a colocou próximas às mãos do soldado.

– Celas é um vampiro, um monstro. O que vai fazer?

O soldado olhou para a arma na mesa e depois para Celas, em pé a sua frente.

– Ela não é um monstro senhor. - Disse o soldado.

– Celas?

E sob seu comando quase que silencioso, Celas soltou suas sombras e liberou sua forma mais sinistra. O soldado não se moveu.

– E então? - Perguntou Vlad.

– Ela certamente é um vampiro senhor. Não tenho prova alguma de que é um monstro, senhor.

Vlad sorriu. Aquilo podia dar certo. Só faltava uma pergunta:

– Soldado, qual o seu relacionamento com o seu pai?

– Adoro meu pai senhor, por quê? - Finalmente o soldado parecia confuso.

– Por nada. Bem vindo às tropas, soldado!

Aquela última pergunta foi feita mais cem vezes naquele dia.

No final da semana, Vlad tinha vinte homens pré-selecionados e pelo menos uma centena que não foram descartados. Não chegavam nem perto de uma tropa, mas estavam pré-selecionados vinte homens (dos quais três na verdade eram mulheres) com potencial para liderar as tropas futuras. Mais importante que isso, eram vinte homens que se bem treinados podiam formar um esquadrão de elite para as missões mais importantes. E Integra ainda tinha algumas dezenas de militares sob seu controle.

E Vlad estava quase pronto para ir para casa, quando percebeu que se sentia responsável por aqueles homens. E se responsável ele se sentia, sinal de que teria que supervisionar o treinamento. Afinal, por mais que Vlad não quisesse admitir, a guerra já lhe era um vício. E mesmo que ninguém tenha percebido, nem mesmo a própria Integra, o pedido da Hellsing foi uma armadilha da qual Vlad não estava preparado para escapar.

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– Quantas vezes eu vou ter que repetir? Vocês precisam mirar! MIRAR! - Celas repetia freneticamente, enquanto sacudia uma metralhadora sobre a própria cabeça. E nem 7 horas da manha eram ainda.

– Celas. Em primeiro lugar, não sacuda uma metralhadora como se fosse um chocalho. Em segundo lugar, qual é, exatamente, o alvo que você tem em mente? - Perguntou Vlad, despreocupadamente abrindo a embalagem de um pirulito.

– O ônibus! - Celas respondeu, ainda sacudindo a metralhadora.

– Ônibus? - Vlad apertou os olhos amarelos, com o pirulito preso entre os dentes, enquanto procurava o tal ônibus. - Soldado Willians, diga-me...

– Não vejo nenhum ônibus, senhor! - O garoto prontamente respondeu.

– Bom, eu ia perguntar o sabor desse pirulito horrível, mas é uma contribuição válida. Que ônibus, Celas?

– Aquele ali!!!!! - Celas apontou com a metralhadora.

Alguém produziu um binóculo para Vlad, que finalmente viu o tal ônibus.

– Celas, aquele ônibus está a quase uma milha de distância. Como é que você quer que alguém atire naquilo? Alias, mais importante que isso. Por que alguém atiraria naquilo? Está fora da propriedade. - Vlad respondeu, já um pouco exasperado.

Celas virou o rosto, apontando o nariz para cima e ficou em silêncio.

– Eu tive uma ideia. - Vlad disse, abandonando o binóculo e se enfiando dentro de um baú para pegar o que pareciam ser pistolas de água. - Aqui tem dez pistolas e o que parece ser um bazuca de tinta. Celas, por favor, distribua estas armas pela área de treino. E só pela área de treino!- Vlad entregou nove pistolas para vampira. - Depois volte aqui. Uma pistola é minha, a bazuca é sua, policial.

Enquanto Celas corria pelo terreno, Vlad comunicou as regras para os vinte soldados que estava treinando naquele dia. O objetivo era bastante simples. Capturar ou matar Vlad e matar Celas (sendo é claro que matar significa acertar um tiro de tinta no coração de Celas ou em qualquer ponto vital de Vlad). Ambos começam armados e eles podem ou não estar juntos. As armas estão espalhadas pelo terreno e são de quem encontrar, mas eles podem utilizar qualquer outro acessório, a exceção de armas de fogo, pelo motivo óbvio que se qualquer um deles a não ser Celas levar um tiro vai no mínimo se machucar muito. E não, não importa quantas vezes eles repitam a mesma piada, Vlad não é um vampiro e como eles podem obviamente ver pelo fato de Vlad estar ao ar livre ele não brilha no sol. A princípio, tanto Vlad quanto Celas estão fugindo, mas eles vão atirar caso se sintam ameaçados, aliás, se alguém fizer mais uma piada de Crepúsculo Vlad vai atirar agora mesmo, só pelo prazer de manchar um uniforme. Aquele da equipe de caça que levar um tiro está fora do jogo, não importa onde seja atingido. Vlad ou Celas só estão fora do jogo se mortos e caso Vlad seja capturado e conseguir fugir antes de Celas estar morta ou seja resgatado o jogo não acabou. Quem estiver fora do jogo vai ter que passar pelo treinamento das demais equipes depois do horário de treino, até o final da semana (geralmente físico, já que eles não estão sendo treinados para comandar e sim para receber ordens). Quem estiver vivo ao fim do jogo continua com o cronograma normal. Quem cumprir o objetivo do jogo vai tirar a semana de folga.

E então o jogo começou. Vlad havia sido emboscado em algum momento perto das 19h e levado um tiro no braço esquerdo. Não seria o suficiente para pará-lo em uma situação real (dos sete soldados que o emboscaram apenas um não tinha sido atingido e pura e simplesmente porque Vlad largou a arma quando sentiu a tinta espirrar em seu rosto), mas Vlad resolveu aproveitar a oportunidade para ficar sentado sem fazer nada enquanto dois soltados ficavam de vigia e os outros três sobreviventes caçavam Celas. Já eram 20h34 e Vlad já estava ficando com fome. Quando o relógio de alguém apitou meia noite Vlad cansou de ficar sentado, rendeu um soldado, pegou a arma, "matou" o outro que estava dormindo, se embrenhou na floresta e depois de 15 minutos estavam eles e Celas cobertos de tinta, rindo um da cara do outro enquanto Vlad afirmava que absolutamente TODO mundo, ele e Celas inclusos, iam ter que fazer o treinamento físico depois do horário normal de treinamento.

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.

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O treinamento dos soldados menores era fisicamente pesado. Fazer as séries deles de noite, depois já terem treinado física e mentalmente, era no mínimo exaustivo. Vlad sabia disso. Foi exatamente por isso que ele também estava fazendo as séries. Dessa forma, ele perceberia se alguma coisa passasse do limite. E depois, a exaustão era algo com a qual, mais cedo ou mais tarde, todos teriam de lidar.

O que Vlad percebeu foi, no mínimo, inesperado. Apesar de não estar fora de forma, ele era o menos preparado para os esforços físicos. Ainda no primeiro dia, percebeu que não conseguia fazer uma série inteira e já conhecia seu corpo o suficiente para saber que não era questão de se esforçar mais: seu corpo simplesmente não aguentava e ele ia se machucar seriamente se insistisse. Cumpriu a semana junto com seus soldados da forma que pode, aliviado em ver que os demais não tinham o mesmo problema. Saiam dos treinos cansados, mas nenhum deles parecia estar passando dos próprios limites. Apenas pareciam estar colocando os limites mais longe.

No entanto, no dia seguinte nenhum dos soldados, Celas inclusa - e ela nem se cansava nos exercícios - estavam em condições de tomar decisões difíceis e pareciam estar com a mira levemente mais imprecisa. Vlad percebeu que não tinha o mesmo problema. No dia seguinte estava com o corpo dolorido e cada passo era uma tortura, mas sua acuidade mental e pontaria eram impecáveis, mesmo quando seu braço não queria lhe obedecer.

Disso Vlad tirou duas conclusões: 1) anos de treino nos campos de batalha lhe permitiram oferecer seu melhor mesmo em situações extremas, coisa que seus soldados não possuíam. Suas tropas não seguiriam em campanhas intermináveis como as de Vlad, sendo treinados para missões rápidas e eficientes e não para a guerra, mas o conde queria que eles estivessem preparados se fosse o caso; 2) seu corpo estava fraco.

A solução para a primeira conclusão fez com que os soldados o xingassem de vários nomes durante várias semanas, já que agora os treinamentos incluíam missões que varavam mais de uma noite, limitação das horas de sono, privação de alimentos, aulas de estratégia e meditação.

A solução para a segunda conclusão foi tomada em conjunto com Mihaella, Celas, Johann, sua equipe médica na Romênia, o médico designado da Hellsing para as tropas e sua equipe. Todos concordavam que Vlad precisava fortalecer seu corpo, mas eles não concordavam em onde estavam os limites. No final, ficou decidido que Vlad faria exercícios leves com maior regularidade e que se esforçaria menos no treinamento dos soldados, que foi onde ele e Celas se comprometeram a dividir melhor as tarefas. Duas vezes por semana Vlad faria exercícios supervisionados pela equipe média da Hellsing (que aos poucos estavam se especializando no estranho e inesperado), nas instalações da própria Hellsing. A frequência e complexidade dos exames aumentaria e as duas equipes médicas se comprometeram a acompanhar o caso mais de perto, realizar outros tipos de exames e, em resumo, trabalharem juntas.

E assim a vida seguiu por algumas semanas. Surpreendentemente monótona, entre orientar os treinos a distância, cuidar de seus cavalos (bom, só um era seu) e com seus treinamentos físicos orientados. E se às vezes cruzava com Integra pelo caminho, era com um cumprimento frio e distante que eles mostravam que haviam percebido a presença um do outro. Nada mais.

Até que uma epidemia de um tipo de gripe ainda não entendido se alastrou pelas camadas mais obscuras de Londres. E enquanto todas as agências públicas e privadas se ocupavam de entender os meios de transmissão, tratar dos doentes e apaziguar pais apavorados, a Hellsing tinha uma epidemia própria para tratar. Uma que ela há décadas não enfrentava.

Porque vampiros puros, aqueles cujo sangue foi misturado por um vampiro antigo, aqueles que foram criados com um propósito e educados para se esconderem nas sombras e viverem eternamente, estes vampiros são velhos, espertos e ridiculamente poderosos. Estes vampiros não se expõem. Alguns se alimentam daqueles que vivem às margens da sociedade, alguns tem contatos em bancos de sangue, alguns - os mais antigos e mais ricos - bebem de pescoços que lhe são oferecidos.

Nenhum deles bebe sangue infectado.

Eles estavam ficando com sede.

Como as camadas mais pobres da sociedade estavam mais suscetíveis à gripe, pessoas de classe mais alta estavam sendo assassinadas. Os que se alimentavam dos que vivem nas ruas estavam caçando em setores mais altos da sociedade. Pessoas das quais alguém sente a falta. Os que se alimentavam de bancos de sangue estavam com o estoque em baixa tendo em vista que todo o sistema médico estava em polvorosa e a gripe causava hemorragia. Eles foram obrigados a caçar. E que ninguém jamais se engane, um vampiro não é diferente de um dependente químico. O ímpeto de beber sangue fresco jamais cessa e aparece com uma força voraz quando atiçado depois de algum tempo dormente. Além disso, adrenalina vicia.

Em poucas semanas Integra já estava ciente da situação, pura e simplesmente porque mesmo com todo seu poder, adquirir sangue para Celas estava começando a ficar mais difícil. Em seguida vieram os relatórios de pessoas desaparecidas, depois os dos corpos encontrados. O padrão era óbvio, mas assustador: estes vampiros não só estavam caçando, como alguns estavam dividindo (por mais sinistra que esta palavra pareça) suas vítimas, enquanto outros as mantinham em cativeiro durante longos períodos.

Para ajudar, parte das tropas de Integra precisaram ser remanejadas para controlar a multidão, que entre a epidemia, os desaparecimentos e os assassinatos, não sabiam com o que se desesperar mais.

Integra era apenas uma pessoa, fazendo o trabalho de dez na análise. Cada soldado remanescente passou a fazer o trabalho de três soldados. Celas trabalhava por três vampiras e Vlad... Bom, entre coordenar os soldados ainda mal treinados, participar de algumas missões de resgate e, ocasionalmente, reanalisar os relatórios de Integra e sua equipe (equipe essa que quase não conseguia fazer nada por não terem experiência com vampiros) e administrar mal e porcamente o haras à distância, Vlad estava trabalhando por vinte.

E então, em uma noite fria já do fim de outono, Mihaella, tentando chamar a atenção de um Vlad completamente exausto, chegou a estapear o rosto dele, antes de perceber que o rapaz estava praticamente dormindo de olhos abertos. O que é impossível, mas seu cérebro estava simplesmente em off, enquanto seu corpo ainda tentava parecer alerta.

Para Mihaella, preocupar-se com Vlad era sua virtude, seu vício e sua maldição. E assim, em uma noite fria no fim de outono, Mihaella tomou uma das decisões mais difíceis de sua vida secular. Não a mais difícil, porque essa é uma outra história que envolve um Vlad ao mesmo tempo frágil e invulnerável. Mas uma decisão bastante difícil, mesmo assim. Mihaella decidiu que a única forma de um Vlad frágil e perfeitamente vulnerável dar continuidade ao seu processo de recuperação era trabalhar diretamente com Integra. E Mihaella não sabia se Vlad estava pronto para isso e sabia que não tinha o direito de decidir por ele. Mas Mihaella tomou essa decisão por Vlad. Mihaella tomou essa decisão por Integra. E contra seu argumento que não era justo que o drama entre eles desolasse a Inglaterra, nenhum dos dois conseguiu argumentar.

E assim, mais de uma guerra ganhou espaço em solo londrino.

Oh mother, tell your children
Not to do what I have done
Spend your lives in sin and misery
In the house of the rising sun

Well I've got one foot on the platform
And the other on the train
I am going Back to new orleans
to wear that ball and chain

There is a house in New Orleans
They call The Rising Sun
And it's been the ruin of many other poor boys
And god, I know, I'm one


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Notas finais do capítulo

See ya



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