Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 52
Capítulo 52. Fuga


Notas iniciais do capítulo

Adele's Skyfall.



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This is the end

Hold your breath and count to ten

Feel the Earth move and then

Hear my heart burst again

For this is the end

I've drowned and dreamt this moment

So overdue I owe them

Swept away I'm stolen

Let the sky fall

When it crumbles

We will stand tall

Face it all together

Let the sky fall

When it crumbles

We will stand tall

Face it all together

At skyfall

At skyfall

Skyfall is where we start

A thousand miles and poles apart

Where worlds collide and days are dark

You may have my number

You can take my name

But you'll never have my heart

Integra olhou por cima de seu relatório quando ouviu o coronel se mexer em sua pequena cama de hospital. Baron não tinha nada muito sério, mas estava desidratado e com uma concussão leve, então estava no hospital sob observação. O coronel morava sozinho e teria que enfrentar o público quando recebesse alta. O hospital era praticamente da organização Hellsing de qualquer forma, pela quantidade de fundos que Integra disponibilizava. Ninguém se atreveria a contrariar algo que a loira aprovasse, e Integra definitivamente aprovava que Baron continuasse internado enquanto estivesse se recuperando.

E Integra, bom, ela precisava trabalhar. Precisava ler alguns documentos, depois de toda aquela confusão de terroristas, condes e heróis nacionais. E ela podia ler em qualquer lugar, não podia? Então por que não no quarto dele? Porque sua mansão era grande e vazia demais e...

Não iria mais pensar nisso. O quarto de Vlad não era uma opção. E ela nem queria estar lá, queria?

Baron murmurando alguma coisa para ela chamou sua atenção.

— O que disse? - A Hellsing perguntou, focando o olho azul na figura que a olhava da cama.

— O que está fazendo aqui? - Ele murmurou, enquanto se esticava na cama para pegar um copo de água.

Integra simplesmente ergueu o relatório, como se aquilo fosse explicação suficiente.

— Quis dizer, por que aqui? Por que não no quarto de seu marido?

— Vlad está fazendo muito barulho para respirar. Está difícil me concentrar.

Sim, estava muito difícil pensar em qualquer coisa que não na respiração do conde quando no quarto dele. E Integra iria ignorar completamente o nó que sua garganta dava toda vez que entrava naquele quarto. Com certeza ia.

— Uma pessoa interessante, o conde.

— Como disse?

— Quando o conheci, achei que fosse um casamento arranjado, sabe? Que ele havia lhe dado o nome, mas não o coração. - Uma pausa. -Mas ele lhe deu tudo, não deu? Seu nome, seu coração, sua alma.

— Coronel, está falando de coisas que não conhece...

— Ele é gentil na maioria do tempo. Eu o observei falando com Victória, com os empregados. Vi a forma como ele trata cada objeto na mansão. Parece ser uma criatura doce na maior parte do tempo. Mas ele não é, é? Ele matou mais de dez homens com as próprias mãos na minha frente. - O coronel balançou a cabeça, como se ele mesmo não acreditasse no que estava dizendo. - E então alguma coisa se apossou dele. Algo vil, negro. Fico com calafrios só de me lembrar.

— Não há nada mais em Vlad, coronel. Não restou nada mais para Vlad.

"Porque Vlad está quebrado, estilhaçado. Vazio."

— Ele me perguntou... Perguntou se eu sabia o porquê de uma organização como a Hellsing necessitar de um exército. Perguntou se eu sabia o que caçavam com balas de prata.

— Chegou a alguma resposta coronel?

— Vlad... Ele é um vampiro?

Semelhanças com um filme adolescente de vampiros a parte, Integra sorriu. Aquela era uma pergunta que Integra sabia como responder porque respondia para si mesmo todos os dias.

— Vlad está neste momento em uma cama de hospital, coronel. Acha mesmo que ele é um vampiro?

O coronel parou para pensar um pouco. Ele não sabia quem era Vlad. Não sabia quem era Integra. Não sabia se devia ter medo da situação.

— Você é? - Ele perguntou, por fim.

— Não. Você é? - Integra retrucou.

O coronel riu. Mas foi um riso sem humor, sem real vontade.

— Bom. Teria que caçá-lo caso contrário.

— Eu não sei se quero viver neste mundo, Sir Hellsing. - Ele finalmente respondeu.

Integra olhou para o coronel com um pouco de desaprovação naquela frase. Não era do feitio do homem fugir de uma situação por medo e ela respeitava a compostura que o homem manteve perante à situação. Mas...

— Acho que não tem escolha, coronel. Querendo se envolver ou não, não há outro mundo para se viver.

O coronel chegou a abrir a boca para retrucar. Integra chegou a voltar sua atenção para o relatório a sua mão. Nenhum dos dois conseguiu completar a intenção, porque o médico que estava supervisionando Vlad entrou no quarto após duas batidas na porta entreaberta.

— Boa tarde Sir Hellsing, coronel.

— O que deseja Dr...

— Dr. Wilkes, Sir Hellsing. Vim avisa-la que seu marido... Que o conde Dracul está estável e já pode voltar a receber visitas.

— Do que diabos está falando?

— Eu... Eu vou avisar a garota ruiva... Com licença.

E com isso o médico se foi. E Integra ficou sem sua resposta. Bufou, largou o relatório na cadeira que ocupava, e saiu porta afora, procurando Celas e sua explicação, deixando um coronel perplexo para trás.

E quando ela encontrou Celas, a vampira estava em uma cadeira de plástico, encolhida em seus braços e pernas. Mas falante, pelo menos:

— Ele parou de respirar. Os médicos colocaram um tupo na garganta dele. Disseram que ia ajudar... Mas ele não acorda... E agora ele não vai acordar porque está sedado. Como pode ajudar se ele fica cada dia pior?

Integra respirou fundo. Era como falar com uma criança.

— Celas... Vlad está doente, ele precisa de mais tempo para poder reagir e...

—TEMPO? Você pode ter tempo! Eu tenho tempo, toda a eternidade! Mas tempo é algo que ele pode não ter mais!

Aquilo mais abalou que irritou Integra, mas ela precisava responder, então respondeu da forma como sabia, com irritação:

— Policial... Abaixe o tom para falar comigo se não...

— Perdoe-me Sir Hellsing. mas é que já faz dois dias... É muito difícil de presenciar.

Integra sabia que era difícil olhar para Vlad naquela situação, principalmente porque ela ainda tinha a figura de Alucard em mente quando pensava no rapaz. Alucard cuja cabeça podia ser explodida por uma bomba nuclear e o vampiro simplesmente se refazia, sempre sorridente, sempre pronto para lutar. Mas Vlad não era Alucard. Vlad estava inconsciente em uma cama de hospital, seu corpo se consumindo em febre por causa de um minúsculo corpo invasor alojado em seus pulmões, fragilizados por sabe-se lá quais motivos (não pensaria nas noite em que o conde passou a base de café procurando pelo coronel, se recusava a ligar os pontos).

E Alucard... Bom, Alucard era pó não era? Poeira e cinzas que o vento levou na manhã após a guerra. Pó que jamais se ergueria mais uma vez, que jamais sorriria pronto para lutar.

E então tinha Baron. Baron que não queria viver em um mundo habitado por vampiros.

— Ele não... Não está realmente ali? Mas talvez tua presença possa lhe trazer conforto, Sir Hellsing. - Celas murmurou, deixando quase todo o tom de acusação para trás, mas Integra ouviu um "devia estar do lado dele e não do coronel" escondido em algum lugar. Mas talvez fosse só sua imaginação.

—Se ele está inconsciente, que diferença isso fará? - Integra perguntou, acendendo um cigarro no meio do corredor do hospital.

— Ele recua do meu toque porque é frio. O seu tem calor porque é vivo. - Celas se levantou, mas seus olhos não deixaram o lugar onde estava sentada. - Eu vou fazer companhia para o coronel. Assim poderá ficar um pouco com Vlad, sem se preocupar. Bem sei que Vlad fez o que fez para que a falta do coronel não lhe afetasse.

E assim, mordendo a língua e pensando se tinha ido longe demais, Celas se retirou, deixando Integra sem opções a não ser dirigir-se ao quarto de Vlad. Bom, ela tinha outras opções, mas... Depois de tudo o que tinha acontecido, o que ela menos queria era toda a imprensa mundial dizendo que a dama de ferro da Inglaterra tinha preferido ir para casa a ficar com seu marido no hospital. Pelo menos no hospital ela tinha que ficar.

.

.

.

Da última vez em que esteve naquele cômodo, estava em casa, mas não se sentia confortável. Desta vez, apesar de não poder enxergar absolutamente nada além as brasas quase extintas na lareira, ele estava bem.

— Enquanto nevar, ela vai olhar para a neve. Nunca para de nevar.

A voz grave chamou sua atenção para longe das brasas, em direção à janela que ele sabia onde estava por puro instinto. Agora que prestava atenção, podia ver o vulto de sua mãe olhando para a neve que caia nos jardins do castelo. Para sua mãe que davas as costas para o caixão que sabia estar próximo.

— O que acontece quando parar de nevar? - Vlad perguntou, sabendo que bem ou mal, as estações passam.

— Eu já disse, aqui, nunca para de nevar.

Vlad procurou o homem na poltrona, encontrando-o sentado nas sombras, com sua taça de vinho por entre os dedos. Apenas os olhos e os dentes visíveis em seu rosto. Mas sua atenção foi chamada pelo riso de sua mãe, se divertindo com um floco de neve que caia pela janela.

Esperou acordar, mas desta vez nada aconteceu.

Tentou respirar fundo, para descobrir que não havia ar na sala. Não era surpresa que o fogo não estava aguentando.

Certo, chega de considerações estúpidas.

— Então, o que estou fazendo aqui? - Vlad perguntou, procurando as feições do vampiro por entre as sombras, novamente podendo ver apenas os olhos vermelhos por entre as sombras.

— Onde mais estaria, Milord? Esta é sua alma afinal.

Certo.

— Minha alma? E não a sua?

Os dentes visíveis por entre as sombras formaram um sorriso sinistro. Um arrepio correu pela espinha de Vlad.

— Eu não tenho alma.

Vlad tentou se aproximar mais do fogo, ficar longe daquela figura tão sinistra. Mas as brasas não aqueciam o lugar. Estavam morrendo afinal. Em pouco tempo sua pouca luz não existiria mais.

— É certo alguém se sentir inseguro em sua própria alma? - Vlad perguntou. O porquê de estar se expondo daquela forma para um inimigo em potencial lhe escapando completamente.

Alucard riu. E o riso de Alucard era mais que sinistro: era possessivo. O riso de um caçador que finalmente capturou uma presa que perseguiu por muitos e muitos anos. Quantos séculos?

— Não há segurança nas ruínas, há? - O vampiro perguntou.

— O que você fez comigo? - A pergunta saiu dos lábios de Vlad como que um sussuro, enquanto ele caia de joelhos no chão.

Alucard sorriu mais uma vez. Não respondeu enquanto a mãe deles (deles?) não parou de rir, distraída por um floco de neve:

— O que eu fiz com você? Você nos criou. Você fez de mim o que eu sou.

Vlad não sabia como responder àquilo. Uma lágrima começou a se formar em seus olhos e ele desejou pela primeira vez naquela noite que as brasas apagassem, para que ele pudesse derramar suas lágrimas no escuro, já que sozinho não era uma opção. Seu espírito nunca estava em paz, sua alma estava sempre turbulenta, porque carregava muitos demônios em sua consciência.

Mas as brasas não morreram. Apesar do fim ser iminente, o pouco fogo restante continuava a iluminar fracamente o local. O suficiente para ver o crucifixo ensanguentado no pescoço de Alucard. O suficiente para ver a taça de vinho em sua mão.

— Você já sabe da maldição. No final, estava destinado a se tornar o que somos. - O vampiro murmurou, tomando um gole de sua taça.

Vlad ponderou aquilo por alguns segundos. Ou o que ele achou que seriam alguns segundos. O tempo parecia passar de forma diferente ali.

— Se, no momento de minha morte, eu me render mais uma vez, ainda vou virar você?

Aquilo fez com que os movimentos de Alucard cessassem. Ele afastou o cálice de seus lábios, assumindo um tom mais sério pela primeira vez:

— Tua alma é boa garoto. O que apenas fez com que sofresse mais ao longo do caminho. Toda tua vida, tentando manter o equilíbrio. O que obviamente, apenas fez com que se esforçasse mais para ser "bom", o que fez com que sofresse mais. O que no final, me criou.

Se Vlad pudesse esboçar alguma reação, provavelmente riria da situação. Uma vida tentando conter o demônio e foi exatamente isso o que o criou. A ironia da vida dele era quase que palpável.

— No final, a maldição é só o que fizeram dela. Sempre tivemos escolha. - Alucard murmurou por entre as sombras. Vlad tentou olhar para ele, mas a fraca luz que as brasas produziam não era o suficiente para ver qualquer coisa além dos olhos vermelhos. Da última vez, conseguiu identificar o rosto do monstro, tão parecido, mas tão diferente do seu.

— Todos sempre tem uma escolha.

— E se eu escolher você? - Vlad perguntou, a voz rouca e baixa conseguindo se fazer ouvir por cima do riso agudo de sua mãe, ainda olhando pela janela.

— Quando devemos separar dois corpos que estão entrelaçados, devemos escolher se um deles é puro demais para ser contaminado, ou se é valioso demais para se perder parte dele. - Alucard murmurou, os olhos vermelhos se fechando por entre as sombras.

— O que...

— Um pouco de mim ficou em você, porque o que restava de alma em nós era valioso demais para se perder com Schrödinger.

— Pensei que você não tinha alma.

— Não tenho.

Vlad ficou em silêncio. Alucard continuou tomando seu vinho. Depois de muito tempo, Alucard voltou a falar:

— Há apenas uma sombra de mim em você. Uma sombra que está fadada a sumir com o tempo.

— Como as brasas. - Vlad retrucou, sem ao menos pensar no que dizia.

—Se desistir, se escolher a rendição, só a morte lhe aguarda.

Vlad olhou para sua mãe, na janela, rindo de um floco de neve. Segurando o crucifixo ensanguentado por entre as mãos enrugadas, o sangue já seco na jóia e por entre seus dedos. Aquilo lhe chamou a atenção. Voltou os olhos para o vampiro, enxergando apenas o crucifixo ensanguentado em seus pescoço, o sangue manchando suas roupas, brilhando em contraste com seus olhos e a taça de vinho... Não, a taça de sangue que o vampiro levava aos lábios mais uma vez. Uma taça que nunca se esvaziava.

— O crucifixo... Como o conseguiu? - A pergunta foi dita com uma voz falha que Vlad não sabia como controlar.

— A sede... A sede é incontrolável...

— Minha mãe...

— Bem vindo ao nosso inferno particular. Sempre acontecendo de novo, e de novo, e de novo...

— As brasas que nunca morrem, porque eu continuo... Vivo?

Vlad olhou uma última vez para o vampiro, finalmente podendo identificar suas feições. A pele seca, enrugada por cima dos ossos finos. Um cadáver dentro de seu coração.

— Aqui nunca para de nevar. - O monstro disse. E Vlad sentiu pena de si mesmo.

.

.

.

Integra estava há quase duas horas no quarto de Vlad, observando-o se contorcer em sua cama de hospital. Pela milésima vez, considerou a possibilidade de se levantar e pegar a mão do conde por entre as suas. Será que seu calor lhe traria conforto? Será que o que a vampira havia lhe dito tinha algum fundamento?

Será que Vad estava realmente morrendo?

A porta se abriu, mas ela não deu atenção à pessoa que abriu a porta até que a voz nada familiar, mas muito feminina soou no quarto. Uma voz preocupada, cheia de emoção, surpresa e um certo alívio. Uma voz que carregava um leve sotaque romeno. Uma voz que conseguiria abalar o mundo de Integra com apenas uma palavra:

— Vlad...

Let the sky fall (Let the sky fall)

When it crumbles (When it crumbles)

We will stand tall (We will stand tall)

Face it all together

Let the sky fall (Let the sky fall)

When it crumbles (When it crumbles)

We will stand tall (We will stand tall)

Face it all together

At skyfall (At skyfall)

(When it crumbles)

(We will stand tall)

(Let the sky fall)

(When it crumbles)

(We will stand tall)

Where you go, I go

What you see, I see

I know I'd never be me

Without the security

Of your loving arms

Keeping me from harm

Put your hand in my hand

And we'll stand

Let the sky fall (Let the sky fall)

When it crumbles (When it crumbles)

We will stand tall (We will stand tall)

Face it all together

Let the sky fall (Let the sky fall)

When it crumbles (When it crumbles)

We will stand tall (We will stand tall)

Face it all together

At skyfall

Let the sky fall

We will stand tall

At skyfall


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