Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 51
Capítulo 51. Desistência


Notas iniciais do capítulo

Olá.

Desculpem a demora, este capítulo me deu trabalho por vários motivos. Sinceramente, ainda não ficou da forma como eu gostaria, mas acho que ficar segurando o texto por muito mais tempo também não vai resolver.

Música de hj é "Space Oddity", do genial David Bowie.

Espero que gostem.



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Ground control to Major Tom
Ground control to Major Tom
Take your protein pills and put your helmet on

Ground control to Major Tom
(10, 9, 8, 7)
Commencing countdown, engines on
(6, 5, 4, 3)
Check ignition, and may God's love be with you
(2, 1, liftoff)

This is ground control to Major Tom,
You've really made the grade
And the papers want to know whose shirts you wear
Now it's time to leave the capsule if you dare

Celas cumpriu as ordens de Vlad. Ela cumpriu sim. Só que do jeito dela.

A policial ficou a primeira noite de olho em Integra, até que na manhã seguinte a Hellsing se cansou dos olhos vermelhos da vampira sobre si durante todo o tempo e ordenou que ela saísse do quarto.  Celas saiu, mas ficou sentada na porta, atenta a qualquer som estranho. Tudo o que ela ouviu, no entanto, foram as batidas do coração de Integra se acalmarem e sua respiração se tornar mais profunda. Enquanto ouvia os sinais de vida de uma Integra adormecida, Celas já ia quase dormindo também, sentada no corredor. Até que o trovão das batidas do coração de Vlad lhe chamaram atenção.

A policial nunca ficou em pé tão rápido em sua vida. Correndo para perto do conde para descobrir o que havia acontecido ela percebeu um som muito mais alto, mais preocupante e que provavelmente tinha começado primeiro. Tosse.

Quando a vampira o encontrou, Vlad estava tentando se manter em pé, apoiado no sofá, tentando pegar o telefone caído no chão, parar de tossir, cobrir a boca, não cair e respirar ao mesmo tempo. Não estava conseguindo fazer direito nenhum deles. Sua atitude imediata foi se aproximar do conde, segurando seu torso e cabeça de forma a facilitar sua respiração. Sem a preocupação com o telefone ou em manter suas pernas firmes, aos poucos Vlad conseguiu parar de tossir e respirar.

E Celas naquele momento odiou e agradeceu sua natureza vampiresca, porque se não fossem seus sentidos aguçados quanto a tudo que é relativo ao sangue ela teria ouvido a tosse antes das batidas e poderia ter reagido antes, mas jamais teria sentido no ar o cheiro das pequenas gotas de sangue que Vlad, inutilmente tentava esconder na palma de sua mão. Foi quando Celas encostou a cabeça nas costas de Vlad, ouvindo as batidas ainda aceleradas de seu coração, buscando outros sons mais sutis, ouvindo a dificuldade com que o outro respirava, um chiado forte em seus pulmões. Se não fosse sua natureza, quando Vlad disse que estava tudo bem ela teria acreditado.

Mas Vlad precisava continuar tentando, precisava salvar o Coronel, precisava garantir que tudo estava bem na vida de Integra, e Celas, mesmo sem querer, mesmo não aceitando, mesmo não entendendo, deixou que Vlad continuasse a trabalhar, conformada em prestar mais atenção no rapaz, a verificar o motivo da tosse, a saber se o sangue não era apenas resultado de uma tosse mais violenta.

Se não fosse a natureza vampiresca da policial, ela teria percebido o corpo queimando em febre do conde e jamais teria deixado que ele continuasse sua busca.

Vlad não tossiu mais, concentrado como estava em mobilizar meio país. E Celas se deixou enganar em sua falsa esperança de que talvez, só talvez estivesse tudo bem. Foi quando Integra começou a atirar qualquer coisa que ela pudesse levantar, primeiro nas paredes da mansão, depois em Vlad.

Depois de quase meia hora, os dois conseguiram sedar a Hellsing, mas Vlad começou a quase que literalmente fritar de preocupação de que Integra pudesse fazer algo realmente estúpido quando acordasse. Foi quando Celas ficou confinada a vigiar a loira inconsciente, enquanto Vlad continuava a procurar pelo coronel.

Celas não viu que Vlad estava sobrevivendo a base de café há dois dias. Celas não viu que Vlad estava cada momento mais pálido. Celas não viu que Vlad não parava mais de tremer, suar e tossir. Celas não viu o olhar febril de Vlad.

Tudo o que Celas viu foram os olhos de Integra se abrindo, no mesmo momento em que ouviu pelo rádio que a operação tinha falhado e que Vlad havia sido feito prisioneiro, e o mesmo olhar queimar com a notícia.

Integra estava furiosa com o ocorrido, e uma Integra furiosa era uma Integra cujo caminho nem Alucard se atrevia a atrapalhar. Em menos de um dia, a Hellsing tinha meia Europa aos seus pés, e se seu nome não lhe garantisse a abertura das portas que ela desejava, seu olhar com certeza o faria. Porque ela era Integra Fairbrook Wingates Hellsing Dracul e nada nem ninguém seria o suficiente para lhe desafiar e sair impune.

O ataque foi planejado com cuidado e executado de forma eficiente. O governo queria uma prova de que ambos estavam vivos, Integra iria massacrar os terroristas de qualquer forma. A única diferença seria o tempo em que os olhos deles continuariam a brilhar.

E então o líder cometeu o erro de ameaçar a vida deles, exigindo mais velocidade, mais regalias, mais. Ia explodir a cabeça de um deles em plena televisão nacional do contrário, quem iria primeiro? Um herói nacional? O conde romeno? Quem o país escolheria?

Foi quando Integra ordenou o ataque e a parte da Europa que vivia ignorante do poder da organização Hellsing entendeu que a Inglaterra não era um país que tolerava ameaças. Para cada terrorista dentro do prédio havia pelo menos vinte homens que apenas miravam suas pistolas, mantendo as figuras trêmulas no chão. Porque se Alucard no Brasil fora um show de horrores, Celas procurando por Vlad era a encarnação do pior dos pesadelos. Nenhum único terrorista que cruzou seu caminho continuou acreditando em sua própria lucidez.

A vampira cobriu os prédio de sombras, destruindo portas ao longo do caminho, seus olhos vermelhos brilhando contra a escuridão das paredes. E então ela parou atrás de uma porta diferente, permitindo-se sentir a presença daquele que era sem dúvida o ser mais importante em toda sua existência, uma presença que há muito não sentia. Alucard?

As sombras aos poucos se dissiparam e as lâmpadas voltaram a funcionar. Celas mal viu um dos soldados contar até três e a porta ser arrombada.  Quando voltou a si, aquela presença tinha se dissipado no ar, mais uma vez, e a única coisa a preocupar Celas eram as batidas fracas do coração de Vlad, inconsciente no chão.

Não foi Celas, mas a equipe de paramédicos que levaram Vlad da sala úmida. Celas acabou por, a mando de Integra, libertar o coronel e ajudá-lo a chegar até a ambulância que o aguardava até o hospital. O coronel estava em choque, não havia a real necessidade de um hospital. Celas seguiu com ele de qualquer forma, a ambulância era o caminho mais rápido até Vlad. E se Integra ficou para trás, fumando seu charuto... Bom, não havia nada que ela pudesse fazer.

A recuperação do conde era mais importante.

.

.

.

Sentia-se leve. Ridiculamente leve, apesar da sensação de que algo estava errado, que estava se esquecendo de alguma coisa. Mas isso não era importante. Ele só estava nervoso. Mas ele não tinha motivos para estar nervoso, tinha? Bom, ele só tinha que ficar quieto, respirar fundo e aguardar, ela não ia demorar muito. Era simples, ela entraria na igreja. Sozinha. Ela não merecia entrar sozinha, mas com o pai morto, o que se pode fazer?Jamais a deixaria sozinha outra vez. Entraria na igreja e iria até ele. Ele levantaria o véu e a conduziria até o altar. Depois era só seguir as ordens do bispo. Ajoelhar, levantar, aguardar o sim, trocar as alianças. Ela diria sim, certo?

Bom, ela tinha dito sim quando ele propôs, estava vivendo sob o mesmo teto que ele desde que o pai faleceu na guerra, tinha respondido sim todas as vezes em que ele perguntou se ela tinha certeza que queria fazer isso. Não havia motivo para negar agora, havia? Ela diria sim, eles trocariam alianças e estaria feito. Estariam finalmente casados.

E então eles teriam sua primeira noite juntos. Céus. Por que ele foi se lembrar disso? Isso só o deixava mais nervoso. Calma Vlad, não pode ser tão difícil. E depois, ela vai estar mais nervosa que você. É nela que você tem que pensar. É ela quem tem poucas escolhas. Ela não vai te condenar se não der certo, vai? Ela nunca te julgou por nada na sua vida. Ela vai estar nervosa também, você tem que ser forte por ela. Mas... Nada disso, o casamento será em poucas horas, é natural que ele acabe por amar a esposa com o tempo, não é?

Respirou fundo, tentando se acalmar mais uma vez. Era essa a vida que ele queria: ele admirava profundamente Doamnei, e já possuia por ela uma afeição profunda. Vão formar uma família feliz, seus filhos serão... Filhos? Ele gostaria sim de ser pai mas... Por crianças neste mundo em guerra? Era justo?

Se ele não se acalmasse logo, desmaiaria e todos estes pensamentos não teriam sentido, já que bispo nenhum casaria um rei inconsciente.

Mas Doamnei entrou, com seu vestido branco e o rosto visível por detrás do véu ridiculamente delicado, quase transparente. Em poucos passos, ela chegou até onde ele estava parado. Quando ele ergueu o véu, viu o sorriso de sua noiva, tão puro, tão feliz em vê-lo, em estar em sua companhia... E seus olhos límpidos o acalmaram, como sempre era o caso.

- Branco, meu senhor. Para que possa pintar-me da cor que desejar.

E não importava o que acontecesse, enquanto ela estivesse a seu lado, tudo estaria bem.

.

.

.

Celas não saiu do lado de Vlad durante os primeiros dois dias em que ele ficou no hospital. Pulmões fracos, os médicos disseram. Já há algum tempo. Uma gripe que tinha progredido a ponto de se tornar uma pneumonia em um corpo incapaz de lutar contra qualquer tipo de ameaça. Vlad estava desnutrido. Anêmico.

O que mais preocupava os médicos era a febre. Alta e devastadora demais para deixar que o rapaz descansasse por entre o tremor, calafrios e delírios. Vlad não parecia ficar confortável de forma alguma, e cada toque da vampira tentando lhe trazer conforto causava um grito de dor pela máscara que o ajudava a respirar. A pele da vampira era fria demais para seu corpo em chamas.

O ferimento causado pelo tiro em sua perna quase esquecido em meio ao caos que era observar o corpo exaurido de Vlad lutar contra a infecção. E Celas mal sabia como reagir por ter quase certeza de que essa luta, mais que a infecção, estava de fato matando o rapaz. Cada acesso de tosse fazendo com que o corpo fragilizado se contorcesse na cama.

E então Vlad deu a real oportunidade para Celas definitivamente não saber o que fazer quando parou de tossir, porque tinha parado de respirar.

.

.

.

Olhos azuis, tão claros, tão puros. Olhos que permaneceram abertos enquanto as águas escuras engoliam o corpo de sua esposa. Não o corpo. Sua esposa.

Uma flecha que devia ter atravessado seu coração, alojada no frágil abdômen de Doamnei. Ele não tinha o direito de estar com mais medo que ela, mas o que ele poderia fazer? Tinha que salvá-la, se ele fosse rápido o bastante ele poderia ajudá-la, já tinha visto soldados se recuperarem de ferimentos piores em condições muito mais adversas das que ela teria. Era possível! Era só ele se acalmar, observar mais uma vez aqueles olhos que sempre lhe deram força e reagir. E então, sempre sabendo o que ele precisava antes dele mesmo, Doamnei agiu primeiro. Ele sentiu a mão dela, já tão fria em seu rosto, acariciando de forma tão gentil a pele abaixo de seu olho esquerdo.

- Meu amor... Tua vida é tão mais valiosa que a minha... Eu não poderia viver sem... E eu não posso deixar que eles consigam... Espero que me perdoe um dia.

Ela fechou os olhos e a luz do mundo se apagou. Ele mais tentava aceitar que entender aquelas palavras. Mas Doamnei jamais fora covarde, abriu os olhos uma vez mais, olhando para os olhos amedrontados dele antes de recuar, jogar-se no lago, lhe dar uma chance de sobreviver pela simples distração de seus agressores.

E ele não se lembrava de como tinha saído dali. Quem tinha arrastado seu corpo imóvel pela Valáquia. Só se lembrava dos olhos sem vida de sua esposa. Desfocados. Congelados. Azuis. Mais azuis do que ele jamais viu.

Mas nada disso realmente importava. Sentia-se leve. Sentia-se vazio.

This is Major Tom to ground control
I'm stepping through the door
And I'm floating in the most peculiar way
And the stars look very different today

For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do

Though I'm past 100,000 miles
I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go
Tell my wife I love her very much, she knows

Ground control to Major Tom,
Your circuit's dead, there's something wrong
Can you hear me Major Tom?
Can you hear me Major Tom?
Can you hear me Major Tom?
Can you...

Here am I floating round my tin can
Far above the moon
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do....


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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