Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 47
Capítulo 47. Erro


Notas iniciais do capítulo

Pois é, muito tempo longe daqui. Como posso dizer? Não, não a nada para dizer, na verdade.
Só que fazia tempo, muito tempo que eu queria usar essa música, e espero que gostem do capítulo.
"A Maçã", de Raul Seixas. Ela mexe muito comigo. ^^
Com vocês, o capítulo 47 de anjo. Com esperanças de que o próximo saia em breve.



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Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...

Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...

Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Trinta e duas horas. Trinta e duas horas entre ouvir sobre o ataque, remanejar as tropas, descobrir que não descobriram o vampiro, descobrir o vampiro, aniquilar o maldito e poder finalmente voltar para casa. Trinta e duas horas e quase uma cidade dizimada. Quatro batalhões enviados, menos da metade dos homens retornaram. Quando Celas finalmente derrotou o vampiro, desmaiou, derrubando três soldados no processo. Um caos. E Integra acordada há quase cinquenta horas, seus cigarros esgotados há pelo menos sete. Isso poderia significar toda Londres dizimada. Mas o vampiro estava propriamente morto desta vez, Celas voltando para a mansão, um esquadrão de limpeza a caminho.

Sua mansão. Finalmente podia ver sua mansão ao horizonte. Poderia mergulhar em sua banheira, com um copo de whiskey, um charuto. Poderia ficar horas mergulhada em água quente, com sais, com espuma. Quente, escaldante. E cheio de bolhas.

– Bom, está entregue. – O coronel balbuciou, destrancando por dentro do carro a porta do passageiro para que Integra pudesse descer.

Integra fechou o olho muito azul, tentando não dizimar metade da população do carro simples, mas caro, do coronel. Aquela era de longe a situação mais plebeia pela qual Integra já passou. Acontece que depois de vinte horas esperando o desfeche do caso, Scott foi dispensado, ganhou o dia de folga (porque Integra não aguentava mais aquele barrigudo tentando xeretar o assunto). Ou seja, Integra estava sem motorista de prontidão.

Quando o coronel se ofereceu para levá-la para casa, a perspectiva de não ter que esperar nem mais um minuto, pelo táxi, por Scott, pelo papa, pela Rainha, por quem quer que fosse lhe foi muito tentadora. E ela aceitou.

Plebeu, como ela mesmo disse. Porque Integra foi no banco da frente, distraída (de propósito) com seus pensamentos enquanto o coronel forçosamente se concentrava em suas músicas (Pink Floyd e Queen, principalmente). E quando chegaram à mansão, quando finalmente o carro parou bem em frente à entrada, o plebeu condecorado simplesmente destravou a porta.

Integra virou-se para agradecer pela “carona” (argh) e o coronel se atreveu a sorrir, dizer que não lhe custou nada e curvar o tronco o suficiente para lhe dar um beijo na bochecha. Correção, aquela era a situação mais plebeia de sua vida. Ou talvez abrir a própria porta para sair.


Ainda ponderando sobre todo aquele momento “além da imaginação” em sua vida, a Hellsing adentrou sua mansão, com o firme intuito de tomar uma dose dupla de whisky. E foi quando deu de cara com um conde romeno, parecendo extremamente irritado, tentando interromper outra pessoa falando do outro lado do celular que tal conde afastava ligeiramente do ouvido, provavelmente incomodado com o volume da voz aguda que Integra podia ouvir mesmo à distância.

Primeiro Integra se perguntou quem que, tendo o número de telefone de Vlad, o deixaria daquela forma. Integra já o tinha visto irritado daquele jeito antes: quieto, como se o mundo não o estivesse afetado em nada, mas com os olhos vibrando em um amarelo intenso, os ombros ligeiramente tensos, a postura impecável mais rígida que o normal.

O segundo pensamento que cruzou sua mente o fez quando ela olhou para o celular e percebeu que os cabelos de Vlad estavam úmidos. Foi quando percebeu que a roupa também não estava lá muito seca. Teria ele tomado chuva?

E o terceiro pensamento... Bom, que Vlad não tinha o menor direito de ficar tão ridiculamente bem em uma calça de linho branco e uma camiseta de um tom claro de violeta. Porque a roupa simples, úmida, acabou colando em sua pele (bom, a camiseta pelo menos, a calça tão bem quanto linho consegue), evidenciando os contornos do rapaz. E Integra acabou ficando na dúvida se admirava os traços longos e esbeltos, se ficava preocupada com o quão magro seu marido estava (ah sim, foi exatamente essa a palavra que lhe veio a mente durante a dúvida : “ele ainda é o seu marido”), ou se deveria indagar o porquê de Vlad estar discutindo (ouvindo ainda, na verdade) com alguém no celular enquanto ensopado pela chuva (que exagero...).

– Eu... Pode me escutar por um minuto? Eu não sei de onde tirou essa ideia absurda mas...

Interrompido outra vez, cada momento mais irritado.

– Não me interessa a foto ou a repercussão, eu não estou interessado em modelar...

Vlad fechou os olhos, respirando fundo.

– MUITO MENOS FOTOGRAFAR NESSE ESTILO! Olha, se continuar insistindo serei obrigado a tomar providências legais... – Pausa. – Estou desligando, se continuar a ligar serei obrigado a chamar a polícia!

E desligar o telefone Vlad desligou. Integra ficou o encarando por um tempo, até que o conde respirou fundo mais uma vez, sentando-se no sofá branco.

– Christina... Caroline... Chrissie... Alguma coisa assim Brown. Viu uma foto minha na internet e não pára de me importunar.

Integra riu. Ah, agora ela entendeu.

– Camile Brown. Jornalista, trabalha para um site de fofocas. Que foto ela viu?

Vlad coçou a nuca, um gesto que Integra não se lembrava de ter visto antes.

– Do aniversário da rainha... Uma foto da criança, com o chiclete...

A realização sobre qual foto Vlad estava falando veio rápido para Integra. Ela tinha visto aquela foto inúmeras vezes, quando ainda era notícia por causa da perda de seus longos cabelos. Tirando a criança e o incidente com o chiclete, Vlad estava... Qual o adjetivo? Delicioso. Jeans escuros e apertados, camiseta regata branca com uma camisa azul clara por cima. Naquela foto em específico, com a manga um pouco dobrada deixando a tatuagem a mostra. O olhar sereno e alegre, ainda não percebendo o que estava acontecendo. Feliz em estar com as crianças barulhentas. O único pensamento que Integra havia tido era que ele teria sido um ótimo pai, se tivesse tido a chance.

Mas aquele ar todo se dissipou há muito tempo. Agora Vlad estava tenso, irritado, tremendo de raiva e frio.

E Integra mesmo não estava muito melhor. Não depois de tanto tempo sem dormir. Não sem sua tão sagrada liberdade. Não sem conhecer plenamente suas vontades e sentimentos. Não com as próximas palavras de Vlad.

– Ela quer que eu tire algumas fotos... Eróticas eu acho. Fez várias perguntas sobre nossa vida. Perguntas indecentes. Disse que seria “quente”, que as “Fãs” iam adorar ver um pouco mais de mim... Se isso continuar vou ter que chamar a polícia.

Integra passou a mão enluvada pela testa. Quem aquela prostituta letrada pensava que era? Que direito ela achava que tinha?

– O que você disse para ela?

– Como assim o que eu disse para ela? Ela não parava de falar. Acho que Milady ouviu quase tudo o que eu disse para ela.

– Pois devia ter se imposto, daqui a pouco vão começar a falar, a criar histórias! Não acredito que...

– Que o quê? Que eu tenha ameaçado processar uma mulher me importunando?

– Pois quer apostar que já existem vários comentários? – Ela murmurou, enquanto pesquisava o próprio nome em um site de buscas em seu celular.

E então seu único e muito azul olho se arregalou tanto que tirou Vlad de sua posição entediada no sofá.

– O que foi? – Ele perguntou, ainda saindo de seu estado mental de irritação e entrando em um de preocupação.

– Estão falando de nós. Estão falando muito de nós. Estão dizendo que nosso casamento é de fachada, que na verdade você tem um caso com a policial e que eu, como também tenho necessidades, estou tendo um caso com o coronel Baron. Uma outra versão alega que é você quem está tendo um caso com o coronel e que eu sou uma “esnobe frígida” que não é capaz de satisfazê-lo sexualmente, motivo pelo qual Joseph não quis se casar comigo e então eu precisei encontrar um nobre homossexual que precisava de um casamento badalado para manter as aparências. Também tem gente especulando se você é incapaz de satisfazer uma mulher, com as alegações de uma certa “enfermeira particular” de que você teria, bom, não teria conseguido ser “estimulado” o suficiente durante um ato sexual.

Vlad já estava deixando de ficar preocupado para ficar irritado de novo. De tudo o que ele conheceu nesse século, uma das coisas que ele mais odiava era a internet. Poderosa e imparável intenet, onde as fofocas as quais ele estava exposto toda sua vida ganhavam força e as mentiras se propagavam sem limites.

– MAS QUE MERDA TODA É ESSA? COMO VOCÊ DEIXOU AS COISAS CHEGAREM A ESSE PONTO? – Integra finalmente explodiu.

– Eu? EU? COMO DIABOS EU POSSO TER ALGUMA COISA A VER COM ISSO?

Integra ficou surpresa por alguns segundos em ter finalmente conseguido tirar Vlad do sério. Logo deixando o cansaço e estresse dos últimos dias dominar seus pensamentos, ações e palavras.

– Claro que não tem nada a ver com isso não é? E não deu motivos para eles pensarem isso? Nunca realmente deu motivos para que aquela maldita enfermeira desse em cima de você?

– Rose? Eu tinha levado um tiro, por Milady se bem me lembro, incapaz de fazer o que quer que fosse, completamente desorientado nesse século e dopado. Ela tenta me estuprar e a culpa é minha? – Vlad continuou, incrédulo, os ombros tensos, o olhar vibrante, perto de explodir de forma espetacular. Claro que Integra percebeu e isso só a deixou mais irritada.

– Dopado? Então o herói que ia dar sua vida por sua dama indefesa não teve iniciativa nenhuma? Pois eu bem me lembro dela em seu colo Milord, com a língua enfiada em sua garganta. E Milord não parecia estar resistindo, ou em nenhum tipo de desconforto. – Integra acusou, enquanto servia seu tão amado e necessário whiskey.

– Bom, pois como deve ter visto nessas notícias que despertaram tanto sua preocupação, eu não fiz nada demais, porque não pude ser “estimulado o bastante e sou incapaz de satisfazer uma mulher”, coisa que nem posso argumentar já que como todo mundo menos os jornalistas dessa era parecem saber, eu continuo virgem. Já Milady não tenho mais tanta certeza.

– DO. QUE. DIABOS. ESTÁ FALANDO? - Integra disse por entre os dentes, segurando o copo com tanta força que quase quebrou o copo.

– Coronel Baron. – Vlad respondeu, por pouco evitando o copo que Integra atirou em sua cabeça.

– CORONEL BARON? POIS SAIBA QUE EU JAMAIS FUI INFIEL, SEU BASTARDO!

– Não. Não mesmo. Ainda é fiel àquele maldito vampiro, monstro que...

– Não fale do que não conhece. Alucard podia ser um vampiro, mas jamais foi um monstro. Você não tem o direito de...

– Claro que não. Meu único direito é ficar aqui, como uma estátua perfeita, um objeto da decoração, para lhe lembrar como era o rosto do vampiro. Às vezes eu realmente acho que só me mantém sobre esse teto para se divertir às minhas custas.

– Divertir-me? Seu rosto me atormenta todos os dias, impedindo-me de seguir em frente. – “De decidir se o que eu sinto por Baron é real, se tem potencial, se seria bom”. - Não sendo...

Vlad se aproximou de Integra, seus olhos finalmente se encontrando propriamente.

– Eu tentei, com toda a minha alma, ser alguém inteiro. Ser alguém que a fizesse feliz. Ser o suficiente, ser digno. Mas só posso prometer me fazer inteiro. Não posso tentar ser algo que não sou. Não posso trocar todas as minhas cores, não importa o quanto eu esteja disposto a desistir por ti. – “Vai apenas decepcioná-la ter uma mentira.”

– Às vezes eu preferia que continuasse morto. – Integra deixou escapar um de seus pensamentos mais secretos, mais assustadores.

Quando percebeu o que havia dito, a Hellsing congelou onde estava. Vlad, chocado, ferido, ainda gastou alguns segundos procurando a veracidade daquelas palavras no olhar da Hellsing, uma expressão de aceitação e pesar em suas feições quando finalmente respondeu:

– Morto é um estado em que ainda posso estar. Milady.

E Integra não encontrou palavras para remediar a partida do conde quando este resolveu que era melhor ir para seu quarto, após dar um beijo demorado e suave na bochecha da Hellsing e acariciar a pele macia, o queixo, brincar com uma mecha do cabelo curto, apreciando as feições com um tom de absoluta despedida. Como se aquela fosse a última vez. Como se tivesse percebido que não pode terminar o que de fato nunca houve.

E Integra percebeu que não importava o quanto ainda estivesse confusa, ou cansada, não importava o que decidisse, algumas escolhas não dependiam mais dela. Não quando ela mesma havia corrompido uma das poucas coisas boas que tinha.


Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...

Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...

Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...



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Notas finais do capítulo

Deixem um review. Com menos de um mês para o fim do mundo, quem sabe isso não garanta mais sorrisos?
A propósito, a Celas vai ganhar mais enfoque nessa fic mas, como me foi deixado um pedido especifico para uma fic... Podem ser mais específicos? O que exatamente querem ver?
bjocas



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