Anjo da Noite escrita por MsWritter


Capítulo 24
Capítulo 24. Repulsa


Notas iniciais do capítulo

Estava assistindo o retorno da múmia enquanto escrevia a parte final deste capítulo, e não pude deixar de pensar em como confiamos em nossos pais. Não é engraçado como parece que até o bicho-papão tem medo do nosso pai, e como nos sentimos protegidos quando estamos com ele por perto? Tá, nem todo mundo é filho do Rick OConnel, mas também, não é todo mais que tem que matar uma múmia né? Bom, por que eu to falando disso? Também não sei... que cena me deu esse pensamento? O menininho lá gritando Papai, atrás de você!...vai saber...¬¬

Bom, agora ao capítulo: escrevi a primeira parte e o final em um estalo, me divertindo de verdade. Vocês vão reparar que eu brinco com uma nova forma de diálogo no começo, e um jogo de palavras bem bocó no final. Mas ai enrolei semanas para fazer o meio... caramba, foi realmente dificil de escrever... e confesso que me deu náuseas. Acho que o título ilustra bem esse sentimento em mim... Bom, achei que ficou ridiculamente comprido,mas acho que me perdoarão por isso!

A música é "codinome beija-flor" do poeta Cazuza. Boa leitura!



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Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou...

            Quando Integra o encontrou na manhã seguinte, no jardim puxando alguma coisa de uma árvore, o café da manhã já estava servido. Ela mesma foi chamá-lo, numa tentativa de entender se eles estavam bem ou não. Com o céu nublado e ainda escuro da manhã, não foi capaz de identificar à distância o que Vlad estava fazendo, mas ao se aproximar dele, que agora estava a quase quinze metros da árvore em questão, Integra entendeu o que era. Também, de arco e flecha na mão era um tanto quanto óbvio.

            – Vlad, o café da manhã está servido. Não quer comer?

            –Já vou. – Ele disse, simplesmente, soltando a flecha que voou direto na árvore. Belo tiro.

            Integra o observou atentamente enquanto ele pegava outra flecha solta no chão, alinhava no arco e a atirava, acertando meros milímetros abaixo de onde a primeira tinha atingido. A árvore podia não ter um alvo desenhado, mas ele parecia saber onde estava atirando. Integra pegou uma das flechas, analisando o formato diferente delas. Eram de madeira, em estilo antigo, mas a extremidade era incomum, uma ponta perfurante esculpida na madeira revestida de metal. As que Integra conhecia ou eram de plástico, ou tinham uma ponta moldada a parte e presa na madeira.

            –São flechas bastante incomuns...

            – Eu que fiz, o arco também. – Vlad disse, finalmente baixando o arco e recolhendo a flecha da mão de Integra. Ao observar a expressão curiosa dele, ergueu a flecha na altura dos olhos e passou dedo pela ponta. – As pontas foram mergulhadas em prata. A propósito, espero que não nutrisse nenhum tipo de afeição especial por aquelas colheres jogadas nas masmorras.

            – Aquilo era de Alucard, de qualquer forma. Mas eu sempre achei que flechas de madeira precisassem ter a ponta um pouco mais larga...

            – É interessante. A parte mais larga atrás faz com que o ato de tirar a flecha do corpo aumente o tamanho da ferida. Eu não quero ferir ninguém de qualquer forma.

            Integra ergueu a sobrancelha, em uma expressão incrédula. Vlad alinhou a flecha no arco, disparando-a novamente. Foi quando Integra percebeu que, na distância em que estavam e na altura que Vlad atingia, se a árvore fosse uma pessoa provavelmente as flechas estariam transpassando o coração.

            – Eu pretendo matar os alvos com um único disparo. – Ele mencionou, abaixando-se para pegar uma quarta flecha.

            Integra ponderou um pouco sobre a frase de Vlad, em parte surpresa pela mira dele, em parte se sentindo uma imbecil por esse pensamento (caramba, a mira de Alucard devia ter vindo de algum lugar, e depois, era óbvio que Vlad saberia manejar um arco e não uma pistola), em parte chocada com a frase dele, em parte em êxtase por saber exatamente o que eram os alvos, e outros sentimentos confusos que ela não se daria ao trabalho de especificar agora.

            – Então, além de fabricar suas próprias armas e falar aramaico, o que você sabe fazer?

            Vlad ponderou por alguns segundos, quando resolveu erguer o arco mais uma vez e disparar outra flecha, acertando novamente a milímetros de onde a anterior havia atingido.

            –Eu sei tocar violino, viola e um pouco de violoncelo. – Pegou outra flecha. – E temperar a caça antes de assar, o que era muito útil no século XV. – A flecha atingiu novamente o ponto exato na madeira.

            Integra achou graça do comentário. De fato, ela sempre achou o arco do violino ridiculamente parecido com uma espada, e a imagem de repente fez todo o sentido na cabeça dela.

            – Eu também sei domar cavalos, e se estiver com tempo e paciência posso moldar minha própria armadura. – Outra flecha atingiu o tronco. – Uma vez esculpi uma carruagem em madeira, não ficou tão ruim.

            –Parece que é um homem de muitos talentos, caro conde.

            Vlad parou o que estava fazendo, olhando fixamente para Integra agora. Seu tom era agressivo, e ela definitivamente não gostava disso:

            –Sei falar e escrever em quatro idiomas, sendo que dois deles já estão mortos e um está tão antigo que provavelmente ninguém mais compreende. Sei dançar mais de quinze músicas que não são mais tocadas hoje em dia. Sei onde e como acertar um homem de tantas formas que sinceramente me deixa preocupado. Sei como tratar a maioria dos ferimentos não fatais em uma batalha, mesmo que esteja em mim mesmo. Sei como medicar um homem adulto contra veneno e infecções utilizando apenas ervas naturais, facilmente encontradas no chão. Também sei fazer um exército sobreviver semanas, senão meses, em um deserto, e ainda ter força para lutar quando atingirmos nosso destino. Sei torturar um soldado bem treinado a ponto de ele me dizer o que quer que eu queira saber, e ainda permanecer vivo tempo o suficiente para enlouquecer pela dor.

            Vlad aproximou os dedos retos e enfileirados aos botões de madrepérola da camisa de Integra, a alguns centímetros de distância, na altura do peito. Lembrando Integra imediatamente quando Alucard transpassava um coração com as mãos.

            – Sei parar um coração sem espirrar uma única gota de sangue.

            A Hellsing olhou da mão de Vlad para seus olhos, encontrando-os fixados no chão. Tanto o olhar quanto o tom de voz já tristes conforme ele ia listando aquilo que sabia fazer. Tudo ou inútil agora, ou relacionado aos seus afazeres de guerra.

            Segurando a mão dele entre as suas, Integra sussurrou:

            – E sabe defender uma mulher de um beijo que ela não quer, sabe quebrar o nariz de um perfeito idiota e sabe irritantes boas maneiras na mesa, que a propósito, está esperando por nós.

            Vlad se abaixou para recolher umas outras poucas flechas que estavam no chão, desvencilhando-se do toque de Integra. Deu alguns passos em direção à arvore para recolher as outras, virando-se para olhar as costas da loira, que agora voltava para a mansão.

            – Milady, sabe o que mais eu sei?

            Integra parou, virando-se para olhá-lo, permitindo que seu cabelo liso e platinado se movesse com o vento.

            – O que?

            – Que a rainha acha que devemos nos casar.

            Integra sorriu ao vê-lo dando as costas para ela, e indo buscar as malditas flechas. Depois de tudo aquilo, era desse jeito que ele ia lhe pedir em casamento? Bom, e o que ela esperava? Flores e chocolates? Com certeza Vlad já tinha ficado traumatizado demais com a experiência antes do baile.

            Integra olhava fixamente para o seu chá, rodopiando na xícara após ser misturado ao açúcar.

            –Como a vida hã? – Sussurrou.

            Foi tomada de seus pensamentos quando percebeu Vlad sentando-se à mesa, de frente para ela, discretamente servindo uma xícara de chá para si. Ficou observando-o a tomar seu chá, finalmente percebendo que ele realmente o tomava sem açúcar. Estranho.

            – Do jeito que gosta de doces, achei que não seria de sua escolha tomar o chá assim, insosso. – Ela comentou, voltando a bebericar o próprio.

            – A vida é assim. Temos que compensar em algum lugar. – Ele respondeu, fechando os olhos e procurando as notas amargas do chá, insosso como a Hellsing afirmou.

            – Não entendo o que quer dizer. – Ela afirmou, após dar um leve sorriso.

            – Bom, Milady. Se o chá estivesse mais doce que estes, creio que não teriam sabor algum. – Disse Vlad, apontando para uns biscoitos cobertos de chocolate que estavam na mesa.

            Integra acabou concordando, concentrando toda, bom, quase toda, sua atenção em uma torrada com geléia a sua frente.

            – Milady? – A voz de Vlad se fez presente novamente após minutos de silêncio, e ela apenas ergueu uma sobrancelha em sinal de ciência da presença dele. Como Vlad não continuou, respondeu. – Milord?

            – Quanto ao pedido. – Respirou fundo, e continuou, corrigindo-se da palavra mal empregada. – Quanto à sugestão da Rainha, gostaria de saber sobre sua opinião.

– Bom, não vejo necessidade de discutir o assunto agora. – Integra respondeu, secamente.

– Agora que as cartas estão na mesa, peço gentilmente que não subestime minha inteligência Milady. – Vlad respondeu, olhando-a seriamente desta vez.

            – O que quer dizer? – Integra não conseguiu evitar que uma veia saltasse em sinal de irritação com o comentário.

            – Por favor. Eu bem sei que chegou aos seus ouvidos o fato de que o próximo pretendente da lista é o nosso já conhecido Senhor Mitchell.

            –“...”

            –“...”

            – Senhor Mitchell?

            – Joseph.

            – Como é que você se lembra o sobrenome dele?

            – Estou surpreso que a senhorita não...

            – “...”

            – “...”

            – Você percebeu que eu estava lá?

            – Sim, Milady.

            – E por que não disse antes?

            – Disse o que Milady?

            – Sobre a “sugestão” da Rainha...

            – Porque a senhorita já sabia disso Milady.

            – E por que disse agora?

            – Porque agora a situação é diferente.

            – Por que a situação é diferente?

            – “...”

            –“...”

            – Milady?

            – Sim Vlad?

            – Por que tem uma arma apontada na minha direção?

            – Por que agora a situação é diferente?

            – Porque agora eu quero.

            – “...”

            – “...”

            – Vlad?

            – Milady?

            – Você está me pedindo em casamento?

            – Ainda não, Milady.

            –“...”

            –“...”

            – Mas vai?

            –Sim, Milady.

            – “...”

            – Milady, tens a real intenção de atirar em mim?

            – Não.

            – Então por que essa arma continua apontada para mim?

            – Hábito.

            – “...”

            – “...”

            – Eu não sou a prova de balas, Milady.

            – Eu sei.

            – Então?

            – Um minuto.

            – Milady?

            – Estou pensando.

            – Não me interprete mal, mas estou começando a ficar realmente desconfortável aqui.

            – Ainda estou pensando.

            – “...”

            – E por que eu me casaria com você?

            – Com todo o respeito Milady, seria uma ótima escolha.

            – Pretensioso!

            – Não é nesse sentido Milady.

            – “...”

            – Não mudaria sua vida em absolutamente nada. Digo, a menos que desejasse.

            –“...”

            –“...”

            –Estou ouvindo.

            – Bom, creio eu que uma vez que a Rainha parece resoluta em relação ao seu casamento, não desistirá da ideia tão fácil. E também acredito que Joseph não fará objeções em ser seu marido.

            – Ainda ouvindo.

            –Ele vai exigir seus direitos.

            –Que direitos?

            – Seus direitos de marido.

            – Que direitos de marido?

            –Milady, eu realmente estou em uma situação muito desconfortável.

            – QUE DIREITOS DE MARIDO?

            – Milady, abaixe essa arma, por favor.

            – Vlad... que direitos de...

            –“...”

            –“...”

            – Sim Milady, esses direitos.

            – Isso não seria nada agradável...

            – Creio que não Milady.

            – E então?

            – Então o que?

            – E com você?

            – Milady?

            –Digo, e os SEUS direitos de marido?

            – Por favor Milady, não faça isso comigo.

            – Isso o que Vlad?

            – Uma pergunta dessas com essa arma apontada para a minha testa.

            – “...”

            –“...”

            Integra finalmente abaixou a pistola, e Vlad murmurou um “muito obrigado”, continuando a encarar Integra com os olhos âmbares. Apesar da postura ainda rígida, Integra percebeu que os ombros dele relaxaram um pouco. A Hellsing pensou em repetir a pergunta, mas sem a arma na mão ela finalmente percebeu o quanto aquilo era inapropriado e... O QUE DIABOS DEU NA CABEÇA DELA? Sentiu o rosto começar a queimar e imediatamente levantou-se, dizendo que já estava na hora de eles saírem para tentar proteger o quinto ponto do pentagrama. Vlad sorriu, seguindo-a em seguida.

            Quando chegaram ao local, uma escola infantil, Integra não pode deixar de ficar extremamente aliviada. Nenhuma única criança estava no local. Olhou em volta, imaginando suas tropas se alinhando e se camuflando pelos cantos da construção. Vlad lhe garantiu minutos antes que o sangue a ser derramado deveria ser virgem para ter efeito, mas Integra não queria saber. Não correria o risco de ter qualquer tipo de sangue derramado naquele local, nem que isso significasse a captura do vampiro. As tropas estavam de prontidão, mas distantes o suficiente do local para que o sangue derramado não participasse do pentagrama, se fosse o caso. Vlad permaneceu lá fora, sob ordens incisivas da Hellsing. Ela queria analisar a situação sozinha. Celas estava na entrada do colégio, os olhos fixos nos arredores, os ouvidos prestando atenção em qualquer ruído alarmante. Estava exatamente entre Integra e Vlad, e sairia ao socorro de qualquer um dos dois.

            Alguém percebeu isso.

            Ao ouvir o som de alguma coisa se locomover pelo mato, a atenção de Celas foi imediatamente atraída para Vlad. Instinto e cuidado, que foram um erro. Muito antes de a vampira poder virar-se em sua direção, Vlad já tinha o vampiro na mira de sua flecha. Celas podia ter sentidos superiores, mas nada superaria os instintos do conde, treinados exaustivamente durante dez anos nos campos de batalha. Foi o tempo de ver a criatura virar pó ao longe e o de um suspiro aliviado e um som realmente preocupante assolou os ouvidos sensíveis de Celas. Alguém estava no casarão. Droga, e não era exatamente a função dela impedir que isso acontecesse? Voltou-se para Integra, vendo-a com a arma em riste, com uma bala de prata já atravessando a testa do vampiro.

            – Assustador, não? – Vlad disse ao lado de Celas, que nem havia percebido que ele estava por perto.

            – Vampiros?

            – A mira, a fúria com que ela atira. O brilho nos olhos. – Vlad respirou fundo e calmamente, com a flecha preparada no arco para atirar, enquanto um tiro passava por cima de seu ombro, atingindo um vampiro pronto para atacá-los. Celas se assustou, não havia percebido.

            – Se vocês ficarem ai parados, vão perder toda a diversão. – Integra disse, em um sorriso.

            A flecha de Vlad passou por pelo vão formado entre o corpo de Integra e seu braço erguido, pregando a cintura de um vampiro na parede. Virou pó com a segunda flecha.

            –Temos trabalho a fazer, policial. – Vlad respondeu, chamando-a daquela forma propositalmente e Celas por um momento viu seu mestre falando.

            Ajeitou a arma, e avançou.

            Em algum momento, algum instinto de Vlad o fez avançar contra Integra, propositadamente colocando-se entre ela e uma bala. Celas não percebeu o tiro, mas percebeu Vlad se movendo, posicionando sua mão enluvada na trajetória do projétil. Segurou a bala entre a carne exposta de seus dedos, e antes que percebesse um tiro vindo da arma de Integra já havia derrubado o vampiro. O último.

            Vlad murmurou um “obrigado”, enquanto Integra esmurrava o braço dele e gritava alguma coisa por ter propositadamente se colocado na trajetória de uma bala. Mas Vlad não estava ouvindo, atento demais ao som das gotas de sangue que pingavam distraidamente da mão já recuperada de Celas. Uma. Duas. Três. Quatro gotas. O mundo movia-se mudo aos ouvidos do conde, até que em um baque, o som de uma chuva fina tamborilando no telhado velho da construção chamou a atenção dele, e os sons voltaram todos ao mesmo tempo, fazendo o mundo à sua volta girar ridiculamente rápido. Em pouco tempo, formaram-se pequenas poças no chão, e a gravidade fez seu trabalho. Sem esforço, as poucas gotas de sangue se uniram a chuva, e seguiram seu curso, naturalmente, para um ponto mais baixo.

            – Celas- san. – Vlad murmurou, não se dando ao trabalho de silenciar Integra, que a propósito, calou-se no instante em que o rapaz babulciou as primeiras palavras. – A senhorita ainda é virgem. Não?

            Celas fez menção de corar, depois de responder, mas não houve tempo. Vlad já havia passado por ela com pressa, Integra não demorou muito para segui-lo. A vampira deu uma última volta na construção, verificando se não havia mais nenhum vampiro (ou ghoul) por perto. Satisfeita com a busca, saiu em direção aos dois.

            – Vlad! Você acha que foi suficiente? – Integra perguntou, aproximando-se de Vlad, postado contra a parede de uma, que irônico, de uma capela, à margem do rio.

            – Com a quantidade que eles já tinham derramado antes? Certamente.

            – Quanto tempo até todo o sangue chegar aqui?

            – Trinta, quarenta minutos, levando em consideração o tempo de concentração e a quantidade de água necessária para lavar o sangue seco dos primeiros ataques.

            Integra não quis saber como Vlad chegou àquela conclusão. Pretendia entrar e atacar, acabar com o vampiro que estava tramando aquilo tudo e ir embora dali. Cinco minutos teriam sido o suficiente.

            Em um ímpeto, deu a volta na parede e entrou na capela. Vlad tentou segurar seu pulso, mas a pele suave dela escapou por entre as pontas de seus dedos. Amaldiçoando toda e qualquer forma de existência sobre ou sob a terra, Vlad a seguiu. Sabia que entrar não era a melhor opção, mas definitivamente não deixaria que Integra o fizesse sozinha.

            Uma vez dentro da construção, sentiu seu corpo paralisar, perdendo toda e qualquer noção de equilíbrio, mas mesmo assim ficando firme sobre suas pernas sobrenaturalmente unidas. Ao mesmo tempo em que tentava conter um grito desesperado de susto e dor, percebia que sua mandíbula cerrada não o obedecia. E então, pânico. Seu peito não o obedecia. Sem conseguir criar espaço para oxigênio em seus pulmões, tudo o que ele conseguia era respirar em rajadas curtas e insuficientes. Felizmente, ele desmaiaria antes daquilo provocar dor suficiente para ser agonizante.

            Tentou se concentrar nas batidas de seu coração, que agora batia acelerado pelo pequeno ataque de pânico que teve momentos antes, de olhos fechados. Ao abri-los, percebendo que a única parte do corpo que ele ainda tinha controle era suas pálpebras, tentou focar no lugar onde estava, tento seus pensamentos congelados ao perceber os cabelos lisos de Integra a sua frente. Provavelmente paralisada como ele. Mas que diabos era aquilo?

            Celas bateu os punhos uma última vez contra a porta da capela, totalmente frustrada e incapaz de entrar. Ela conhecia aquilo, já tinha visto antes. Era uma barreira mística. Nenhum vampiro entraria ou sairia da capela. Mas... que droga! Não teve tempo, no entanto, de lamentar por muito tempo, sendo aos poucos cercada por ghouls e midians. Aquilo ainda iria longe, com certeza.

            Plack. Plack. Plack. Três palmas. Vlad sempre odiou tudo que era feito em três partes, alguma coisa sobre isso significar morte em algumas culturas. Quais culturas, no entanto, ele não tinha a menor ideia.

            Procurando com sua visão periférica, pode identificar um vulto negro por entre as sombras:

            – Esplêndido! – O homem disse. Meia idade. 1,80m de altura. Talvez 1,85m. Mancava, perna esquerda. Sotaque pesado, preso. – Não esperava que viesse pessoalmente, Senhorita Hellsing.

            “Sir Hellsing!” Vlad corrigiu mentalmente. Mas que droga. Ele queria olhar o desgraçado, ver se o que tinha aferido pela voz era verdade. Entender o que o prendia e, principalmente, se libertar.

            – Esplêndido! – Ele repetiu,aproximando-se. – Poderá ver quando eu trouxer seu servo de volta à vida! Bom, ou quase isso!

            Vlad não viu, mas os olhos dela se fecharam em pesar. Era isso que ele ia evocar? Alucard? Tanto sangue para trazer Alucard de volta ao mundo dos vivos?

            Sua respiração acelerou, mas seu peito também foi incapaz de suportar a quantidade de oxigênio que seu corpo pedia. Desmaiou em poucos minutos.

            – Mas já? – O homem lamentou-se, aproximando-se do corpo ainda ereto de Integra. – Assim ela não vai ver, não vai ver nada! Nadinha!

            Vlad então analisou melhor aquele maldito que se postava à sua frente, aparentemente totalmente alheio à sua presença. Realmente mancava da perna esquerda. Uma lesão recente no joelho, não. Ferimentos auto infringidos? Aquele maldito era católico? Espera, ele não era um vampiro então? Vampiros não manteriam o ferimento por tanto tempo... Voltou a analisar o (agora certo da expressão) homem à sua frente. Cabelos grotescamente negros, sujos com algum tipo de graxa. Uma grande cicatriz que cruzava o rosto na diagonal, distorcendo a sobrancelha esquerda e fazendo a parte de cima do lábio ficar grotescamente separada do resto do rosto, marcas agravadas por algum tipo de infecção, em contraste com a pele pálida. Nojento.

            Quando aquele protótipo de fim do mundo se aproximou mais da forma inconsciente, mas em pé de Integra, fazendo menção de colocar uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha dela, Vlad se agitou tanto que o homem percebeu sua presença. Seus olhos se abriram de forma arregalada, notando com alegria e loucura a presença dele. Ignorando com veemência a Hellsing, aproximou-se de Vlad, contornando com as mãos o corpo dele, sem jamais tocá-lo, como que com medo de que ele fosse quebrar ou qualquer coisa assim.

            – Fabuloso!

            “Pelo menos parou de dizer esplêndido!” Vlad pensou.

            – Em toda a minha vida, jamais sonhei com tal sorte. Esperava encontrar alguém forte o suficiente para acomodá-lo, mas já havia me conformado com a possibilidade de que ele não teria mais do que quatorze anos. Mas virgem aos trinta? Forte, treinado? Fabuloso! ESPLÊNDIDO!

            “E lá vem o maldito esplêndido outra vez e... trinta? Estou tão envelhecido assim? E como é que todo mundo nessa porcaria de cidade sabe que eu ainda sou virgem? Por acaso isso está tatuado na minha testa? E por que eu estou pensando nisso? FOCO!”

            – Pois é meu caro rapaz, se chegou até aqui, deve ter percebido meu propósito! Então sabe que isso tudo precisa de sangue virgem para funcionar? Sim sim sim! Para o receptáculo também!

            “E lá vem a porcaria do três outra vez”

            – Pena! Uma pena enorme que a Srta. Hellsing não verá nada! Nadinha! Nada mesmo! Mas você meu caro, é um grande presente! Um presente enorme mesmo! Um presentão! – Ele continuava, animado. E por um momento Vlad se perguntava como ele conseguia falar tantas palavras de forma tão rápida e entusiasmada se aquele claramente não era o idioma natal dele. Afinal, aquele sotaque era o que? Vlad já tinha ouvido antes... era turco? Árabe? EGÍPCIO! Merda, aquilo era egípcio. Tudo o que ele não precisava era lutar contra algum feitiço egípcio antigo.

            – Nem vou mais precisar daquela criança patética ali! Patética! Ridícula! RI-DÍ-CU-LA! – E apontava para uma figura quebrada que Vlad não tinha percebido ainda, mas que ele foi capaz de focar com sua visão periférica. Uma menina, com seus doze anos. Loira, cabelos cacheados que batiam na cintura. A pele branca de porcelana de seu rosto marcada em vinho de um sangue ressecado. Seguiu o filete de sangue seco, observando o peito exposto e claro dela, os seios ainda em formação, ostentando um grotesco corte em forma de pentagrama. Ela não parecia respirar melhor do que Vlad, mesmo não parecendo estar paralisada. Seus olhos verdes estavam sem foco, nublados pela vida e a sanidade que já lhe tinham abandonado.

            Vlad fechou s olhos com força, tentando focar o pensamento no que estava acontecendo agora, e não na menina. Não no que ocorreu com ela, e definitivamente não no que teria acontecido à criança. Magia negra. E pelo que ele viu até agora, magia negra de várias épocas e lugares, reunidas em um único ritual macabro.

            – E quando eu vi Integra! A própria entrando nessa capela! Esplêndido! Não não não, meu caro jovem! Não evocaria nela jamais! Ela já me causou muitos problemas como bem sabe, sabe sim! Sabe mesmo! Agora, imagine que delicioso momento quando ela visse Alucard retornar no corpo dessa repugnante criatura, sob o meu domínio claro, metamorfosear o corpo dela sob o meu comando! Quem sabe não! Não não não! Melhor ainda! Tocar-se diante dos olhos puros da virgem de ferro da Inglaterra! Gemer de prazer sob o próprio toque! Ou ainda, sim sim sim, o olhar que essa mulher de moral tão forte ostentaria quando essa figura infantil a violasse? Uma duas três vezes? E depois como o próprio servo que ela tanto confiou? Sim sim sim! Esplêndido!

            Se Vlad conseguisse se mexer, teria claramente vomitado com o comentário. Se um olhar matasse, estaria agora vendo o corpo fétido daquela criatura à sua frente entrando em combustão espontânea.

            – Mas então a vida me trouxe você! Um presente! Ah meu belo jovem! Não se sente honrado? Seu corpo abrigará os poderes das trevas, e sob o meu comando serás a criatura mais temida da noite! Não se preocupe, não não não! Acho que ficará um pouco consciente antes de enlouquecer em, sei lá. Quatro anos? Então poderá curtir o suficiente do poder! O ritual pode ser um pouco desconfortável... está começando a esfriar não? Mas logo logo logo os céus trarão a chuva que tanto aguardamos, e poderemos lavar seu corpo nas águas purificadas pelo sangue virgem! Sim sim sim! Ah! Temos que te preparar!

Ditas estas palavras, deu um longo passo para trás, voltando suas mãos para Vlad. O corpo de Integra caiu mole no chão, e apesar do baque doloroso e do crack que Vlad ouviu quando ela tocou a madeira fria da capela, ele se sentiu aliviado. Livre da magia, o peito dela movia-se de forma mais ampla. Inspirando. Expirando. Dentro. Fora. Sobe. Desce. Isso, respire Integra.  

            Do lado de fora da capela, mais e mais ghouls cercavam a vampira, como que pressentindo o que estava acontecendo lá dentro, atraídos como baratas. O barulho dos tiros, no entanto, atraíram as tropas da Hellsing.

            Vlad sentiu seus braços erguendo-se involuntariamente, formando uma cruz. O homem se aproximou dele, desabotoando os botões da camisa:

            – Não se preocupe. Não se preocupe. Não se preocupe! Você se preocupa com ela não? Você a ama não? – Droga, ele tinha percebido o alívio de Vlad? Ele era tão óbvio assim? – Em troca do seu corpo, prometo que terá seus desejos realizados! Sim sim sim! Se sua consciência sobreviver à cerimônia prometo que a primeira atitude de meu servo será possuí-la! – Ele falava, enquanto afastava o tecido da pele, puxando a roupa para seus braços, passando as pontas dos dedos distraidamente sobre seu peito. – Diga-me, como quer possuí-la? Responda! Sim sim sim! Diga-me!

            O homem ficou em silêncio, esperando que Vlad respondesse alguma coisa, mas a mandíbula de Vlad ainda não o obedecia, nem seu peito, e por um instante nem seu coração.

            – RESPONDA! – Ele berrou, acertando em cheio um tapa bem dado no rosto de Vlad, que nem virar o rosto conseguiu. – RESPONDA! RESPONDA! RESPONDA!

            Mais três tapas. Vlad, se não tivesse outras coisas para se preocupar, teria ficado louco como tudo o que aquele maldito fazia tinha um três no meio. Caramba, até bater na porta ele cuidava para fazer isso apenas duas vezes, ou quatro...

            – Certo, certo, certo. Não vai responder, vai ter que se contentar com a forma como eu escolher... hum, vou fazê-la participar? Ou será estupro? Seria bom ouvi-la gritar? O que você acha?

            “Nojento...” Vlad já não conseguia manter um pensamento coerente. Não tinha planos, não via saída.

            – Ah ah ah! A chuva! Vai chegar vai chegar vai chegar! Você precisa estar pronto e dentro do rio quando as águas estiverem purificadas pelo sangue virgem! Sim sim sim! Não se preocupe, não não não. A dor purifica a alma!

            Dito isso, ele retirou uma faca das vestes negras, e começou cortar profunda e vagarosamente o peito claro, mas marcado por muitas cicatrizes, de Vlad. Um corte lento e fundo, doloroso, sádico.

            – Esse vai deixar uma cicatriz profunda, profunda mesmo! Bem funda e grossa! Então precisamos fazer bem certinho não é? Não se preocupe, não não não! Já treinei bastante no corpo daquela inútil ali. Viu como ficou bonito? Quase equilátero! – Ele apontava para o pentagrama no peito da menina, que agora Vlad percebeu, mal respirava, estaria viva ainda? – UOU! Olha olha olha! Os ossos do filho do dragão atraem o seu sangue!

            O homem dizia com uma curiosidade sinistra, enquanto apontava para umas poucas gotas de sangue que faziam um caminho nada natural, dirigindo-se quase que para cima, pelos braços do conde.

            “Ossos de quem?”

            – Deu muito trabalho encontrar a lápide de Radu, sabia? É preciso alguma ligação real com o corpo da vítima para controlá-lo, e todos sabemos que Alucard partiu sem deixar corpo... Como eu sei? Eu fazia parte da Milennium, fazia sim, mas não queria virar vampiro... chato chato chato! Mas até tentamos invadir a mansão Hellsing para pegar alguma coisa, mas o ataque não deu certo... mesmo sem o vampiro lá. Foi você quem impediu o ataque? Você parece o tipo de pessoa que usaria uma espada para lutar... parece sim parece sim parece sim!

            A cabeça de Vlad doía de uma forma intolerável agora, se não estivesse sendo forçado a ficar em pé, provavelmente suas pernas o teriam traído naquele momento.

            – Meu jovem? Por acaso você é descendente dos Dracul? Isso seria maravilhoso, fabuloso, ESPLÊNDIDO!

            Vlad não tinha forças para rir da ironia dos fatos. Ele, justo ele abrigaria novamente Alucard para que mais uma vez o vampiro caminhasse sobre a terra? Integra e Celas iam adorar... não, ele não podia fazer isso.

            Mais um corte fundo, doloroso, lento. Vlad não sabia o que fazer, não sabia se livrar do encanto, não sabia. Sem forças e sem esperanças, fechou seus olhos, tentando não focar na dor.

            “Eu sei que Você não me ama mais. Tudo bem, mas será que não me ouve também? Eu peço por Seus filhos. Permita que eu impeça esse homem. Permita...”

            E nesse meio tempo o homem terminou o corte, mais profundo que o outro, mais grotesco que o outro.

            Vlad fechou novamente os olhos, quase desmaiando pela dor e por não mais conseguir respirar. Então um fleche vermelho passou por sua mente, e ele ouviu uma voz grossa, arrastada, grave, como um trovão, ecoar em sua mente. Sussurrando palavras que atravessavam sua alma. E olhos vermelhos brilharam no escuro. Ele podia sentir uma névoa molhada e obscura se formando ao seu redor, que apesar de assustadora lhe era estranhamente familiar. Sem esperanças, ele começou a repetir mentalmente as palavras. Aos poucos elas saíram como sussurros incoerentes de sua boca, e depois altos como uma ordem dada.

            O homem a sua frente se assustou. Largou a faca no chão e recuou vários passos, enquanto Vlad por vontade e força se contorcia em suas amarras invisíveis, libertando-se de sua prisão. Ele direcionou as mãos mais uma vez ao rapaz, mas sua magia não teve efeito.

            Livre, Vlad se aproximou dele, acertando um soco forte e firme no rosto do homem. E depois outro.

            – Como? Quem é você? – O homem perguntou, do chão.

            – Aquele que tenta em vão recriar. – Vlad respondeu, pegando a arma de Integra, caída no chão.

            – Como? Como pode ser? – O homem olhava apavorado, procurando por qualquer coisa. – Então sobreviveu? É por isso que seu sangue foi atraído? Não quer seus poderes de volta? Podemos fazer um acordo!

            – Não sou Alucard. Não ainda. – Vlad respondeu, olhando para a Hellsing desacordada aos seus pés.

            O homem então sorriu, como que captando algo no ar.

            – Mas ela está contigo por isso não? Não deseja ser o que ela quer? Hein hein hein?

            – O que desejamos não lhe diz respeito! – Apontou a arma.

            – Hey hey hey! Meu jovem! Não caças apenas demônios? – O homem se arrastava pelo chão, indo o mais longe possível de Vlad, que continuava andando em sua direção, os olhos com um estranho brilho avermelhado.

            – Não me pareceis diferente de um.

            – SOU HUMANO AINDA! Teria coragem meu jovem? Viraria um assassino? Carregaria sangue humano nas mãos pelo resto da vida? – Levantou-se, usando o batente da janela como apoio.

            – Não seria o primeiro. – Vlad respondeu, fechando os olhos e vendo milhares de rostos à sua frente.

            – Não quer nem saber meu nome? O que vai escrever em minha lápide?

            – Não terá uma.

            O disparo foi seco, único, atingindo em cheio o coração corrompido do monstro. O impacto jogou o corpo para trás, quebrando a madeira podre daquela parte da capela. Com um barulho forte e único, o corpo inerte afundou nas águas do rio, sumindo sob águas escuras, manchadas de sangue virgem.

            Vlad baixou a arma, tendo sua atenção roubada por um suspiro fraco, que vinha da menina, esquecida no canto. Seus olhos verdes pareciam ter recuperado o foco, mas o brilho era de medo e lágrimas.

            O conde caminhou até ela, puxando o que sobrou do vestido rasgado, tentando dar um pouco mais de dignidade. Pelo tempo e estado das feridas ela não sobreviveria muito tempo:

            – Eu não quero morrer! Não... Eu.. Eu não...

            –Vai ficar tudo bem... – Vlad disse, ajeitando um cacho ensanguentado.

            – Sozinha... Não... Não quero ficar... Sozinha.

            – Estou aqui. – Ele disse em um sussurro suave, forçando um sorriso triste para a garota. – Qual o seu nome?

            –Eli...Za..Beth... – E seus olhos perderam novamente o foco.

            Vlad fechou delicadamente os olhos delas com as pontas dos dedos.

            – Esse era o nome da minha irmã. – Disse num tom tão baixo que mais parecia sua respiração. – Descanse em paz, Elizabeth.

            Uma vez o mago morto, sua barreira de desfez. Celas entrou com fúria na capela, apena para ver Vlad se afastar de uma criança e se dirigir para o corpo desmaiado de Integra, pegando-a no colo. Abriu passagem entre os ghouls que agora já eram poucos, permitindo que eles atravessassem o campo.

            A primeira coisa que Integra entendeu quando recobrou a consciência era que a gravidade não existia mais. Foi quando ela sentiu a pressão característica nas pernas e nas costas de estar sendo carregada. Respirou fundo, afastando o sono da mente antes de finalmente abrir os olhos e sentiu o cheiro forte de ferro e cobre. Sangue. A constatação a fez recobrar os sentidos mais rapidamente. Foi quando ela sentiu o peito frio de quem a carregava.

            Abriu os olhos, encarando a figura pálida e encharcada de sangue de Alucard. Por alguns instantes ela não soube o que pensar. Não sabia se ficava feliz, se lamentava, se podia confiar nele mais uma vez. E os olhos vermelhos dele perceberam aquela movimentação diferente em seus braços.

            Integra esperava que seu sorriso costumeiro aflorasse, mas o conde lhe deu uma expressão preocupada no lugar, preocupação que mostrava cuidado, e que rapidamente foi mascarada de ternura. E então os olhos vermelhos foram aos poucos se tornando âmbares, a peça que sua mente lhe pregava desaparecendo aos poucos, até ela finalmente entender:

            –Estamos quase lá, Milady.

            –Vlad? O que... O que aconteceu? – Ela perguntou, fechando novamente os olhos.

            –Calma. Já está tudo bem. Acabou. – Ele respondeu, simplesmente. Mais para si mesmo do que para ela. Integra segurou na camisa dele, percebendo-a encharcada de sangue.

            – Vlad? Esse sangue...

            –Não se preocupe. – Integra pôde sentir um sorriso na voz dele. – Não está contaminado.

            – Como sabe?

            – Não é de vampiro. É meu.

            –Hum. – Foi tudo o que a mente novamente sucumbindo ao cansaço de Integra conseguiu formular no momento. – Então, onde estamos indo?

            –Está indo, Milady. A senhorita vai ou para casa ou para o hospital.

            – E você?

            – Terminar as coisas por aqui. Eu pego uma carona com alguém para a mansão depois. – Ele respondeu, não se dando ao trabalho de explicar, ou de contar sobre o corpo de Elizabeth.

            – Ou para o hospital. – Ela completou.

            – Ou para o hospital.  – Ele repetiu.

            Integra permitiu que a cabeça se recostasse no peito de Vlad, finalmente sendo capaz de ouvir seu coração batendo, e aquilo foi um alívio. De repente, começou a rir.

            – Do que está rindo Milady? – Vlad perguntou, achando um pouco de graça no ataque de riso sem forças de Integra.

            – Estou sem forças até para exigir que você me coloque no chão. Isso é inédito. – Ela respondeu.

            – Bom, não que me agrade vê-la assim, mas fico feliz em poder ajudar.

            – Parece que você é meu príncipe encantado Vlad.

            Vlad franziu as sobrancelhas com aquilo, não deixando de achar graça no comentário da Hellsing, quase dormindo em seus braços.

            – Que no lugar da armadura brilhante vem coberto de sangue? Que belo conto de fadas.

            – É o meu conto de fadas, tinha que vir deturpado como todo o resto na minha vida. Veja só, pedi um príncipe e acabei ganhando um mero conde.

            Com essa Vlad deixou um riso alto escapar de sua garganta. Depois, já na mansão, Integra perceberia que aquele era um dos sons mais belos que ela já tinha ouvido.

            – Não seja cruel. Eu era um príncipe. Bom, seu cavalo branco a espera, Princesa Aurora. – Ele respondeu, sentando-a delicadamente no banco de trás do Rolls Royce negro. Deturpado como o resto do conto.

            – Não sou essa dorminhoca. Sou a Bela.

            – Ah é? – Ele disse, simplesmente, colocando uma mecha de cabelo suja de sangue para trás da orelha dela, podendo assim observar o rosto de uma Integra já quase dormindo.

            – E a Fera é o Alucard.

            Os olhos de Vlad perderam o foco, mas seu tom de voz não mudou, refugiando-se atrás da falsa brincadeira:

            – Parece que não tem lugar para mim nesse conto, então. Pelo menos eu sou de verdade.

            Integra respirou fundo, e quando Vlad já estava quase saindo do carro, continuou:

            – Você é o príncipe, o príncipe que a Fera vira quando encontra o amor verdadeiro.

            –Gostei disso. – Um pouco do peso sobre a decisão tomada minutos atrás pareceu sair de seus ombros. Pensar sobre isso provavelmente faria com que a expressão e o tom de brincadeira que ainda tentava manter desmoronassem, então disse a primeira coisa que lhe veio à mente. – A propósito, e a fada que o transformou em fera? Quem seria?

            – Hum... Victória.

            –Milady, o que Celas-san tem a ver com isso?

            “Doamnei definitivamente não vai participar!” – Pensou. – É o meu conto de fadas Vlad, funciona do jeito que eu quiser. – Respondeu no lugar. – E o Scott é aquele relógio gordo que cai da escada.

            – Claro que é. Descanse então, alteza.

            Antes que Vlad efetivamente saísse do carro, Integra agarrou seu pulso:

            – Condessa! – Corrigiu, em tom autoritário.

            Naquilo Vlad parou, batendo a cabeça no teto do carro.

            – Milady, isso significa que aceitará...

            – A vida é assim, temos que compensar em algum lugar. – Ela murmurou, escondendo o rosto no banco do carro. – Mas só se o pedido for muito bem feito.

            – Verei o que posso fazer. – Ele respondeu, sorrindo bobamente, enquanto fechava a porta do veículo.

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor


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Notas finais do capítulo

tempo de concentração (tc)é aquele correspondente ao tempo que a gota que cai no ponto mais distante da bacia leva para atingir a seção em estudo, contando a partir do início da chuva. O.o' MsWritter também é cultura!

Eu se que o nome da irmã de Vlad era Elizabeta... em inglês? Duh! Curtiram o site novo? Eu ainda não me acostumei! Rsrsrsrsrs

Ah sim, reviews fazem o Vlad respirar, então se vocês quiserem saber a extensão dos ferimentos dele (e quem vai passar a noite cuidando dele), não deixem de comentar! Reviews Reviews Reviews! (Viu Vlad? 3! Você não morre de orgulho?)



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