Dias se passaram depois disso, e não sonhou com a voz novamente, nem com nada mais, tudo que conseguia era cair em uma noite sem sonhos, coisa que implorava para ter na época em que viveu em Rutledge, mas que nunca teve, ao menos isso ela agradecia.

Estava dormindo e ainda era de manhã quando ouviu. –Alice, Alice!—A voz chamava, ela se assustou abrindo os olhos quase que no mesmo instante, sentou-se na cama, deparando-se com sua tia entrando no quarto. –Alice! Vamos Alice, acorde, como você é dorminhoca menina.

—Ah era a senhora.—Disse com um sorriso, nervoso no rosto, realmente havia pensado que era a voz do sonho, e sem saber o porque estava estranhamente desapontada por não ser.

—Mas porque me chamou?—Perguntou esfregando os olhos.

—Ora Alice, não acredito, porque, nos vamos ao parque, falei isso ontem, combinamos durante o jantar fazer um piquenique as margens do rio com sua irmã. Como você anda desligada menina, vamos se levante depressa e se troque, logo estarão aqui. –Dizia com seu ar autoritário e se retirando do quarto, ela se levantou indo pegar uma roupa ao passar próxima a penteadeira viu a fita, lembrou do que a irmã havia dito e sorriu, foi até o armário abrindo-o, haviam muitas roupas novas ali, e mesmo assim ela manteve uma parte das do tempo em que viveu no Rutledge, agora procurava um vestido quando apenas um outro tecido azul lhe chamou a atenção ela o puxou quase que mecanicamente, um vestido azul, na verdade o vestido azul, aquele mesmo que havia feito há pouco mais de três anos no Rutledge, a versão maior de seu vestidinho o pegou em mãos com os olhos arregalados, pois nem mesmo se lembrava dele, perguntando a si mesma, como havia se esquecido? Lembrou-se de usá-lo durante seus “humores” e riu consigo mesma, e ela decidiu que iria usá-lo hoje.

Sem hesitação o vestiu, lhe servia naturalmente, como da ultima vez, vestiu também uma meia-calça branca e calçou sapatos pretos com saltos um pouco baixos pareciam de boneca, mas ela não gostava de saltos altos e cansativos, foi até a penteadeira, aquele seria apenas um piquenique não precisava de jóias então por fim amarrou a fita no cabelo como Margaret havia feito só deixando o laço caído um pouco para o lado, não era tão habilidosa, os escovou depois indo se olhar no espelho, fez uma pose colocando as mãos na cintura, mas esta logo se desfez e os braços penderam nas laterais do corpo, ficou imóvel, parecia estar vendo algo nostálgico novamente, sorriu depois.

—Essa parece talvez aquele eu de muito tempo atrás...se eu realmente me lembrasse!—Dizia a desatava a rir. —Que é isso, ela disse para você não deixar aquela Alice sumir, não para que você quisesse voltar a ser ela! –Dizia a si mesma ainda rindo, mesmo assim sentia-se bem, quando a porta do quarto se abriu novamente.

—Alice!—A tia entrou no quarto para chamar a menina quando viu o que ela vestia.

—Mas que roupa é essa? Por acaso é alguma criança, para se vestir feito uma? E pensei que já tivesse se livrado dessas roupas!

—Ah não...tia, eu gosto desse vestido, mas se não estiver bom eu não vou sair assim posso me trocar...ou então eu posso ficar...

—Não, você já se atrasou demais quem mandou por isso, logo hoje que deveria vestir-se mais apresentável, agora fique assim e vamos, eles já chegaram, ande logo!—A tia falou e saiu, ela ainda podia ouvi-la chamando enquanto descia as escadas, não tinha jeito ela não poderia argumentar, mas de certa forma sentiu-se vitoriosa em poder ir como queria, teve de sair correndo, desceu as escadas saltando degraus chegando a varanda disfarçou o maximo que pode indo até carruagem.

 De lá partiram em direção ao rio, um pouco menos que trinta minutos já estavam parando próximos a ponte, desceram caminhando em direção ao parque, por sorte ninguém havia reparado na roupa dela, não que ela realmente se importasse, uma toalha de piquenique foi estendida sobre a grama na sombra próxima a uma arvore quando mais duas pessoas chegaram era um homem de cabelos castanhos bem escuros e barba bem desenhada acompanhado de um rapaz, o mesmo rapaz da festa que havia dançado com ela, e agora Alice começava a perceber que rumos as coisas estavam tomando.

“Eles foram bem rápidos”.

Pensou disfarçadamente, todos se sentaram, conversando, Ralph vez ou outra dava um jeito de que Alice prestasse atenção a ele com perguntas ou assuntos que poderiam ser interessantes, mais tarde desfrutando das guloseimas das fartas cestas de piquenique, eles voltariam as suas conversas e Alice dessa vez não estava interessada, aproveitando que os homens falavam de coisas que interessavam a eles apenas, se levantou discretamente e saiu um pouco para caminhar próxima a margem.

—Queria trazer Cicy...—Murmurava consigo mesma, mas a gata não havia dado indícios de que queria ir a lugar algum, tanto que se escondeu em algum lugar que Alice não conhecia, já fazia tempo que não vinha ao parque a ultima vez havia sido antes do casamento de Margaret, caminhou pelas margens do rio e voltou, ao menos se lembrava de já ter ido muitas vezes aquele lugar quando era criança, corria por aqueles campos colhendo flores e atrás de animaizinhos, era estranho mas ela somente conseguia se lembrar de algumas poucas coisas, mas nada de ruim ou estranho .

—Coelhos!—Falou parando de caminhar, por que havia se lembrado disso agora? Perguntava-se, não via mais coelhos por ali há muito tempo, aquilo pareceu que a faria lembrar de alguma coisa, mas não veio nada a sua mente, o bosque fechado havia diminuído bastante de tamanho, pensou observando todo o lugar, até ver no chão marcas de rastros de patinhas, poderiam ser de cães ou gatos, mas olhando melhor pode ver que poderiam não pertencer a nenhum dos dois, e curiosa as seguiu, passando por uma trilha recente que havia sido aberta no bosque, rapidamente chegou a uma grande área aberta em um lugar quase escondido pela grama alta havia um buraco, andou até lá, não era grande mas também nem tão pequeno uma criança poderia passar, ela apenas inclinou o corpo um pouco para frente olhando lá dentro, tudo escuro, imaginava o quão fundo poderia ser, pensando também se não seria uma toca de algum animal grande, e se surpreendeu quando sentiu uma leve brisa morna vir de dentro dele, curiosa tentou olhar um pouco mais em seu interior, talvez houvesse uma outra entrada por onde o vento estivesse entrando mas não via nada somente uma escuridão infinita, era algo curioso para alguém que não tinha nada melhor para fazer, quando deu um passo mais a frente o chão sobre deu pé afundou um pouco perto do buraco ela estranhou e iria recuar quando a terra cedeu de vez e acabou indo junto.