Maka finalmente havia encontrado um lugar para ficar sozinha, próximo da floresta local. Respirou fundo, sentindo-se um pouco melhor por causa da suave brisa que dançava por ali. Apesar de gostar muito da companhia de todos os seus amigos, naquele momento o que ela mais desejava era ficar sozinha. Mas, ao deitar-se sob a sombra de uma grande árvore, percebeu que não desejava ficar longe de todas as pessoas, ao avistar em outra árvore próxima, o jovem de curtos cabelos rosados.

- Chrona... - Maka abriu um singelo sorriso ao ver o amigo se escondendo timidamente atrás da árvore. Ao ouvir seu nome, o garoto desviou o olhar um pouco sem jeito, pensando se era sensato ou não se aproximar da loira naquele momento. Havia visto o triste semblante da artesã antes dela ter o notado. Mas Maka apreciava a companhia do tímido garoto, principalmente naquele momento. O silêncio de Chrona e o jeito mais receoso com que ele lidava com as coisas era o que a artesã mais precisava, era o que ela pensava. - Sente-se aqui ao meu lado, vamos conversar.


Chrona ficou com a face levemente ruborizada com o simples convite da garota de marias-chiquinha. Hesitou por alguns instantes, mas ele sabia que, no fundo, queria sentar-se ao lado dela. Aproximou-se lentamente da sombra da árvore onde a garota estava deitada e sentou-se um pouco atrás dela, mantendo uma certa distância. Maka olhou docemente para o amigo ao vê-lo ao seu lado e logo voltou sua atenção para as verdes folhas da grande árvore, que combinavam perfeitamente com o belo azul claro do céu. Chrona ficou observando a artesã durante todo o tempo, um tanto perdido pela beleza silenciosa da garota que estava do seu lado. Mas também notou tristeza vinda daqueles grandes olhos de esmeralda. Ele desviou o olhar, encarando a grama enquanto mordia os próprios lábios. Queria perguntar se havia acontecido algo, mas tinha vergonha de fazer tal pergunta, talvez fosse muito indelicado. Mas ele precisava perguntar. Se fosse algo ruim, depois ele mesmo pediria para Ragnarok encher sua cabeça de socos.


- M-Maka... por que você está triste? - Chrona sentiu-se mais aliviado ao perguntar, mas logo seu nervosismo voltou ao encarar os olhos esmeralda. Eles o fitavam. - A-Ah, me desculpe, talvez eu tenha feito uma pergunta ruim...

- Está tudo bem, Chrona. Eu confio em você. Acho que será até bom pra mim falar sobre isso com alguém... - Maka respirou fundo novamente, retornando seu foco de visão anterior. Ela hesitou um pouco antes de abrir os lábios novamente, mas decidiu ir em frente. - Os meus sentimentos acabaram afetando a minha razão e eu acabei ficando em sétimo lugar na última avaliação. Pensei por alguns segundos que o mundo inteiro tinha sumido, e só existisse eu e a minha vergonha no universo. -  Chrona sentiu seu coração bater um pouco mais forte, mas tinha quase certeza absoluta que era por causa do nervosismo e da ansiedade, como sempre.

- S-Seus sentimentos? - O fato de Maka ter ficado em sétimo lugar não assustou Chrona pelo fato dele não ser muito focado nesse tipo de avaliações e pressões. Ele nem se importava com elas. Mas o fato dela ter ficado daquele jeito por um desequilíbrio sentimental chamou a atenção do garoto de cabelos rosados. Maka ficou um pouco corada, ao pensar no que iria responder ao amigo.

- É... bem... no dia anterior à avaliação, eu fiquei revisando a matéria durante a noite. Mas numa certa hora, eu ouvi um barulho estranho vindo da cozinha e fui ver o que era. - Maka olhou de canto para Chrona, mas desviou o olhar. - Soul e Blair estavam se beijando. Eu me assustei, mas eles não notaram a minha presença e eu saí imediatamente. No momento que eu os vi, era um selinho. Mas só Deus sabe o que eles fizeram depois disso. - Maka levou um dos braços até o rosto e cobriu a região dos olhos. Chrona ia dizer algo, mas a artesã continuou. - No dia seguinte, não consegui pensar direito quando fiz a avaliação. E para piorar, Soul agiu como se nada tivesse acontecido. Isso me tirou do sério! - Chrona percebeu que a voz de Maka estava sumindo aos poucos. Ela estava chorando. O jovem ficou nervoso, não sabia o que fazer direito. Acabou colocando uma das mãos de forma tímida sobre o ombro de Maka, sem dizer absolutamente nada.


Maka sentiu o leve toque do amigo e tirou lentamente seu braço de cima do rosto, para encará-lo. Ela percebeu a preocupação estampada no rosto de Chrona, apesar de seu silêncio, enquanto ele pode ver as brilhantes lágrimas que escorriam pelos cantos dos olhos de esmeralda. Chrona não era um conselheiro como Tsubaki, mas demonstrava sua enorme preocupação através de seu ingênuo silêncio, e Maka entendia isso perfeitamente. E agradeceu pelo amigo ser assim, era realmente o que ela precisava naquele momento. Maka se levantou, virando-se e encarando Chrona de cima, que ainda estava sentado, enquanto pensava nervosamente na melhor forma de consolar a loira.


- Chrona... eu posso te abraçar? - A artesã perguntou desajeitadamente. Chrona não precisava dizer nada, apenas sua presença era o suficiente para que Maka se sentisse melhor. O garoto de cabelos rosados encarou a grama por longos segundos, enquanto as maçãs de seu rosto ficavam com a cor de cereja. Ele não tinha palavras de consolo para oferecer, mas se a garota estava pedindo apenas uma demonstração de afeto, isso ele podia dar a ela. Chrona balançou a cabeça afirmamente, o que fez a loira abrir um pequeno sorriso. Ela estendeu sua mão para o amigo, que a segurou quase que no mesmo instante. Ela o puxou, fazendo com que Chrona também ficasse de pé. Quando soltou a mão dele, Maka se aproximou e envolveu os ombros do amigo de forma delicada, apoiando sua cabeça no ombro esquerdo dele, sentindo o cheiro suave daqueles cabelos rosados. Chrona demorou um pouco para voltar a si, mas retribuiu o abraço timidamente, colocando seus braços em volta da cintura da artesã.

- Obrigada, Chrona... - Sussurrou Maka, próximo à orelha do jovem. Chrona, apesar do nervosismo, estava feliz por se útil para Maka, de alguma forma. Os dois estavam tão distraídos, aproveitando completamente a presença e o contato um do outro, que nem perceberam que, um pouco distante de onde eles estavam, os grandes olhos cor de sangue de Soul os encaravam fixamente, demonstrando uma mistura de ódio e ciúme.