Silent Night?

   Ouvi ao longe o rugido do motor do carro de Matt. Ele estava saindo... Logo essa noite... Ele devia estar com Mello, que ia embora amanhã com a mãe.

   Meu estômago revirou e a garganta doeu quando lembrei disso. Não podia fugir mais... Ela ia levá-lo... Quem era ela?

   Por que estava preocupado com isso? Ele passou por mim no corredor sem dizer nada... Nem olhou para mim... Nem mesmo para dizer “saia da frente, pirralho”. Sentia falta disso... Era como se eu fosse mais ignorado do que já sou. Todos me ignoravam... Não ligava... Mas logo ele...

   Levantei e senti a brisa noturna passando por debaixo da porta de meu quarto. Peguei um casaco e fui até a cozinha, procurar algo para me distrair. Foi quando eu lembrei do chocolate...

   Será que ele sentiria falta? Acho que não... Tinham tantas outras...

   Senti-me como aquela maciça barra de chocolate ao leite que segurava nas minhas mãos pálidas.

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   Segui o mesmo percurso de sempre. Queria logo uma barra de chocolates... Não agüentava mais essa maldita abstinência... A água crescia na minha boca só de pensar.

   Empurrei a porta pesada de mogno maciço da cozinha, que curiosamente já estava meio aberta. Quem poderia ser?

   Ele estava sentado sobre a mesa. Os pés balançando a alguns centímetros do chão branco, tão branco quanto... Ele. Comia uma de minhas barras de chocolate e tinha um sorriso um tanto quanto sádico.

   Near... MEU chocolate... Near... Sorriso... Como...?!

- Mello? – Disse ele suavemente virando seu rosto esbranquiçado para mim. Suas mãos estavam lambuzadas do doce e ele tinha um olhar que parecia querer me atravessar.

   Senti um volume crescer entre minhas pernas. Meu coração pulava e eu senti um arrepio correndo pela minha espinha. Não conseguia me mover, só ficava ali olhando aquele pequeno ser esbranquiçado olhar para mim.

- Você veio buscar... Isso?

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   Mordi mais um pedaço do pecado e olhei no relógio. Já passara das duas horas...

   O corredor estava silencioso... Imaginei que os vigias tinham ido dormir mais cedo. Aproveitei e fui andando calmamente pelos corredores.

   Evitei um vigia que subia para o segundo andar da casa tomando um rumo um tanto quanto diferente do normal... Uma volta e tanto, mas não importava. Não ia conseguir dormir mesmo...

- Near...

   Meu coração disparou ao ouvir aquela voz... Era... Mello?! Com uma voz extremamente sexy mas... Era ele? E dizia o meu nome...

- Hmm... Near... hn

   Fui até a porta do quarto dele (A qual eu estava em frente e nem havia percebido) e encostei meu ouvido na mesma, ouvindo alguém se mexer na cama.

   Matt havia saído... Empurrei a porta devagar, tomando o máximo de cuidado para não fazer barulho nenhum.

- Neaaar... Ah... hm... Nea...r

   Ele se contorcia na cama... Sonhando (ou seria um pesadelo?)... Metade da coberta estava no chão e era visível o volume que tinha se formado entre suas pernas.

   Um arrepio passou pelo meu pescoço e eu senti uma sensação estranha no estômago.

   Queria saber com o que ele sonhava... Apesar de já imaginar...

   Senti meu rosto corar e desviei o olhar daquele que dormia não tão calmamente.

- Ora, ora, ora... Tem um prodígio fora da cama...!

   Meu coração disparou e eu virei já preparado para dar a desculpa mais esfarrapada que viesse na cabeça na hora.

   O ruivo riu ao ver minha reação...

- M...MATT!?

- Não... O bicho-papão... Bú! – respondeu ele puxando um cigarro do bolso e acendendo – Se aproveitando da polução noturna dos outros, é? Nucna pensei que veria isso vindo de você.

   Fiquei em silêncio, sentindo o cheiro da fumaça impregnar o ar que respirava.

- Ele fica assim agora, desde que você agarrou ele no corredor. – Falou o ruivo entre os gemidos de Mello – Curioso... Nunca pensei que teria que compartilhar ele com alguém... Ainda mais com você, Nate River.